Capítulo 1

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Depósito de cadáveres, Canadá.

Destinie Brown tremia descontroladamente. Estava desconsolada, com o rosto molhado e vermelho devido às inúmeras lágrimas derramadas. Aproximou-se da cama de ferro e acariciou o rosto sem vida da irmã mais velha. O seu corpo pálido estava coberto por um lençol acinzentado. Fechou os olhos e sentiu como a raiva tomava conta dela.

O cabelo preto de Dianne fora delicadamente escovado, rodeando o seu rosto magro. Os contornos dos olhos eram de um azul-escuro e os lábios em forma de coração estavam roxos e gretados. Destinie culpava-se pela morte dela. "Se tivesse ficado em casa com ela em vez de ir ao maldito e estúpido cinema" repetia ela mentalmente. "A culpa é minha, se eu não a tivesse deixado sozinha ela estaria agora viva".

- Senhorita Brown? - perguntou um homem atrás dela. - Sinto muito pela sua perda.

- Não sente nada. - respondeu-lhe numa voz seca.

Virou-se, apertando os dois botões do seu casaco.

- Sou o inspetor Roger. - disse estendendo a mão.

- Já apanhou o assassino?

Roger não pareceu ficar ofendido por ela não ter correspondido o aperto de mão. Suspirou e juntou as mãos atrás das costas, encarando os olhos de Destinie.

- Não.

Ela encolheu os ombros, já contando com a resposta do inspetor.

- Aposto que nem se deu ao trabalho de o procurar. - aproximou-se dele, fixando-o atentamente. - Porque têm tanto medo dele? É só um filho da mãe que não tem mais nenhuma ocupação se não torturar pessoas inocentes, porque sabe que a policia não faz para o impedir.

Destinie sabia que não valia de nada atirar a sua dor contra o inspetor. Ninguém se atreveria a investigar os homicídios. Todos eles andavam com uma venda nos olhos quando se tratava deste tipo de casos.

- Sinto muito pela sua perda. - repetiu ele, desviando o olhar.

Ela deu uma última olhada ao corpo da irmã e foi-se embora. Já fora do edifício, subiu ao Toyota cinzento e meteu a chave, mas não a rodou. Começou, sem nem dar por conta, a chorar desconsoladamente, entre gritos e murmuros, mais uma vez.

A imagem do corpo de Dianne ficaria para sempre gravada na sua memória.

Encostou a cabeça ao volante e ouviu a chuva a cair contra a chapa do carro. Tentou respirar devagar, parar de chorar e começar a conduzir. Ela sabia o que aconteceria: o assassinato seria imputado a bandidos aleatórios com outros antecedentes para assim se livrarem de investigar, ou podiam também simplesmente arquivar o caso e esquece-lo por "falta de provas". Alguns dos homicídios até eram declarados como suicídios. Era de facto uma vergonha, eles, que deveriam representar o país fazendo boas ações e protegendo a população, apenas olhavam para outro lado enquanto o assassino continuava a matar sem piedade.

Destinie estava a perguntar-se se a irmã teria sofrido, ou se morrera sem dor quando alguém bateu no vidro. Deu à manivela e abriu a janela um par de centímetros, fazendo algumas gotas de chuva entrar e molhar o seu cabelo.

- Não pode estar aqui. - disse o homem com farda de segurança.

Destine fechou o vidro e por entre lágrimas, saiu dali, deixando para trás apenas uma fumaça cinzenta.

۞ ۞ ۞

Roger olhou em volta. Estava a sós com o cadáver.

"Não sente nada" dissera-lhe.

Nada mais longe da verdade. Ele queria apanhar o assassino tanto como ela, mas o que podia fazer? Ele sabia que se começasse sequer a pensar em investigar o caso, morreria. Roger ainda sentia a dor da recente morte.

A sua irmã mais nova.

Tal como no caso de Dianne Brown, não havia provas nem informações suficientes para começar a investigação, nem uma única ponta solta, implemente nada.

Olhou para o cadáver. Durante alguns segundos conseguiu ver as semelhanças. A mesma cor de cabelo, a mesma palidez, mesma cor de olhos, o mesmo buraco no peito. Não era preciso ser um génio para perceber que seguia um padrão.

Afastou-se um pouco do corpo e fechou os olhos. Massajou as têmporas e suspirou. Doía-lhe a cabeça devido às poucas horas de sono nos dias anteriores. Sentiu passos pesados atrás dele e virou-se de imediato para a porta.

- Outro assassinato?

Era o seu Coronel Jordan Casey.

Vestia um elegante terno preto, simples mas que inspirava poder. De facto, todo ele o inspirava. O cabelo castanho estava penteado para trás num penteado casual. Media cerca de um metro e oitenta, alto e bem constituído para a sua idade.

- Temo que sim, senhor.

Jordan Casey inspecionou o corpo. Olhava para ele como se de um quadro se tratasse, uma obra abstracta e de difícil compreensão.

- Alguém a identificou?

- A irmã mais nova, Destinie Brown. A vítima chamava-se Dianne Brown, uma jovem que levava uma vida simples numa pequena casa perto da floresta.

- Dianne Brown. – repetiu Jordan num sussurro.

O Coronel meteu as mãos aos bolsos, com o rosto inexpressivo.

- Senhor, penso que seria boa ideia investigar este assassinato.

Jordan olhou-o, perplexo.

- Está louco?!

- Mas senhor...

Ele levantou a mão, pedindo silêncio.

- Parece que não conhece as consequências de tal ato, senhor Roger. Se quer morrer, investigue. Mas eu não quero perder mais um dos meus homens.

Ele entendia-o. Eram poucas as pessoas que se atreviam a aceitar o cargo de inspetor.

- Não faça uma loucura dessas, Roger.

Ele não respondeu. Jordan Casey, entendendo o sei impasse, apenas suspirou e saiu.

Roger deu uma olhada rápida para a porta, tirando o telemóvel do bolso. Desbloqueou-o e tirou uma fotografia do corpo de Dianne.

- Ah e Roger, acho que alguém lhe deixou um recado na recepção.

Engoliu em seco e acenou com a cabeça, implorando mentalmente que o coronel não tivesse visto tal ato. Contou até dez e depois desceu as escadas até a recepção. A mulher de meia-idade disse-lhe que a mãe estivera ali, perguntando por ele. Saiu do edifício e meteu-se no humilde Ford*. Olhou em volta e quando confirmou que não havia ninguém por perto abriu a imagem de Dianne.

Inspecionou o pouco que se podia ver, o rosto pálido e uma pequena parte do pescoço.

A pele pálida e sem marcas significavam que não houvera sinais de agressão, pelo menos naquela parte do corpo. Pela palidez e veias salientes azuladas, também percebeu que o frio acelerara a sua morte.

Guardou o telemóvel e limpou o suor que lhe corria pela testa.

۞ ۞ ۞

Peter Holler respirava ofegante. Corria o máximo que podia mas ainda assim parecia não ser o suficiente. Não se atrevia a olhar para trás. Sentia cada músculo do seu corpo dorido, sem fôlego e sem forças. Há quanto tempo estaria ele a correr? Vinte minutos? Talvez mais.

Cada vez que respirava, emitia um som agudo, libertando um bafo de ar condensado. Estava na floresta, talvez a correr em círculos mas sabia que nada disso importava, apenas tinha que fugir dela. Sabia também que ela sempre o encontraria, mesmo que se escondesse debaixo das pedras, ela levantaria cada uma delas até o encontrar. De repente lembrou-se das notícias que vira no dia anterior, a probabilidade de nevar naquela noite era gigantesca, o que queria dizer que Peter tinhas altas probabilidades de, morrer congelado ou, morrer assassinado.

Parou por uns instantes, não conseguindo manter a respiração devido ao problema de asma. Sentia-se completamente sufocado, com os pulmões em chamas. Como era de esperar, começou o ataque de tosse. Tentou afagar o barulho com as mãos mas a noite estava deasiado silenciosa. Encostou-se a uma árvore enquanto a tosse parecia crescer dentro dele. A garganta estava inflamada e parecia ter uma pena a fazer-lhe comichão. Ouviu um barulho. Era baixo mas assustador. Todo o seu corpo estremeceu assim que viu a sombra à sua frente. O corpo magro da jovem com a irregularidade na parte superior. A cabeça.

Parecia uma máscara. Focou o olhar na escuridão.

Era uma mascara.

Peter tentou correr, mas os seus pulmões ainda não tinham a força suficiente. Sentia-se cada vez mais débil, precisava da sua bomba de ar. Quando olhou novamente para a sombra, tinha desaparecido.

Foi então que algo embateu violentamente contra a sua cabeça.

۞ ۞ ۞

Peter acordou. Estaria ele no céu?

Tentou olhar em volta mas o único que viu era escuridão. Já não sentia os pulmões arderem e a tosse sufocante havia desaparecido.

Mas algo não batia certo. Ele ainda não abrira os olhos. Ou sim?

Tentou abri-los. Não conseguia. Levou as mãos até eles. Tentou gemer de horror assim que percebeu o que se passava.

Ele não tinha olhos. Tinha buracos onde outrora eles estavam.

Em pânico, com vozes frenéticas a gritarem na sua mente, ele concluiu: "não tenho olhos"

Tentou acordar-se mentalmente. Sentia o frio agarrar-se ao seu corpo como se fossem mãos a puxá-lo para o abismo.

Os olhos continuavam sem se abrir. Ele não estava a sonhar, aquilo era real. Tentou gritar, mas foi-lhe impossível. Simplesmente não podia abrir a boca. Levou as mãos ao rosto, tentando não passar os dedos pelos orifícios onde os olhos foram arrancados. Desceu até ao nariz. Estava tudo bem até agora, o nariz estava no lugar e ele respirava ao ritmo normal. Desceu mais u pouco e sentiu novamente o horror por todo o seu corpo.

Tateou com as pontas dos dedos algo muito fino, apercebendo-se de seguida que se tratava de um fio de costura, fino e firme.

Tinham-lhe cosido a boca.

Tentou chorar, mas engasgou-se.

Tentou tossir mas apenas serviu para se agoniar ainda mais. Ouviu alguém pisar a neve. Alguém leve, pois as pisadas eram quase inaudíveis.

Ela estava de volta.

Tentou levantar-se, apoiando-se as costas no tronco da árvore. Sentiu um par de mãos frias no seu rosto. Parecia estar a ... acariciá-lo?

Não, não era isso. Ela estava a identifica-lo, a examinar a sua cara.

Depois disso ela levou as mãos ao cabelo dele, enrolando-o nos seus dedos e brincando com ele. Peter conseguiu cheirar o cabelo dela, era uma mistura de coco e amêndoas. Sentia o calor do seu corpo muito perto do dele. Por uns segundos quase ficara enfeitiçado por ela. Preso na confortabilidade da morte.

Levantou a mão e tocou na mascara dela. Estava fria como o gelo. Sentiu-se sonolento, e se não fosse por a boca estar cosida ele teria bocejado. Tentou abanar a cabeça para se acordar mas ela aproximou-se mais dele. Aliás, ela sentou-se praticamente no seu colo. Sentiu a cabeça dela encostar-se ao seu peito, enquanto a máscara o arranhava no pescoço. Mas não lhe importava. Ela parecia-lhe doce.

Tentou mexer as mãos e afastá-la, mas ele não queria realmente fazer aquilo. Era uma loucura, mas ele queria aproxima-la ainda mais, senti-la mais perto dele.

O seu corpo começou a tremer mas ele nem se pareceu importar. Os batimentos do seu coração começaram a ficar mais lentos. O seu corpo incapaz de se mexer. E a respiração foi ficando mais lenta até parar.

Ela ficou mais um pouco enroscada no corpo dele, até ficar frio. Depois levantou-se e mexeu outra vez no cabelo.

Olhou em volta, e respirou fundo durante alguns segundos. Encarou o corpo sem vida e aproximou-se novamente, empurrando-o.

"Porque não se mexe?" perguntava-se ela quase a soluçar. "Estava morto?"

E então tudo voltava na sua mente em flash-back.

Ela queria chorar mas não podia, já não havia mais lágrimas para derramar. Tirou a mascara, fazendo o seu cabelo longo e loiro ondular pelo vento. Ajoelhou-se junto de Peter e acariciou a cara dele de novo.

"Como te sentes ao não poder ver, Peter?

Como te sentes ao não poder gritar por ajuda?"

 Deu-lhe um pontapé no estômago com toda a sua força.

- Está alguém aí?

Era um homem, aparentemente velho pela voz. Ela calculou estar a sete metros. Procurou a mascara, tacteando na neve até a encontrar. Colocou-a na cabeça e começou a correr na direção oposta.




________

Ford* - marca de carro, fundada em 1903

Ola. Sei que este primeiro capitulo está um pouco confuso e talvez demasiado forte. Mas na minha mente, eles são mesmo assim, sem limites e assustadores. E quero dar a conhecer, desde já, que este livro vai ser assustador até ao ultimo capitulo.

Outra coisa que queria deixar clara, eu imagino esta historia numa época mais antiga, por volta dos anos 1960, onde a população era mais reduzida e nem tinham esta tecnologia toda para investigar nem nada disso (do tipo analisar o ADN e em minutos tinham o nome da vitima), por isso era necessário ir alguém identificar a vitima. Como tal, policia e detetives também eram menos...

Espero que estejam a gostar :)

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