Capítulo 1: Lunaris

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— Droga, droga... — praguejou Aria enquanto entrava pelas portas dos fundos do restaurante Lunaris, de forma sorrateira. Ela olhava constantemente para os lados, mal ousando respirar enquanto se esgueirava por seu local de trabalho. O restaurante estava um caos de pessoas ocupadas em suas tarefas na cozinha caótica, mas Aria só se importava em não ser notada por uma pessoa em particular.

Com passos lentos, ela desviava agilmente dos garçons e garçonetes que saíam com os pedidos recém-preparados, esquivando-se dos auxiliares de cozinha e chefs com seus utensílios, panelas quentes e instrumentos afiados. O barulho dos pratos e a fervura das panelas criavam uma sinfonia que mascarava seus movimentos furtivos. Aria quase alcançou o vestiário, um sorriso tênue de triunfo começando a surgir em seus lábios.

— Qual vai ser a desculpa desta vez? — Uma voz melodiosa e, ao mesmo tempo, firme soou atrás dela, fazendo Aria pular e soltar um tremendo palavrão.

Ela se virou lentamente para encarar Petrus Lunaris, um homem alto, de corpo volumoso, que o fazia parecer um gigante marshmallow. Mas ninguém se deixava enganar pela aparência amigável e sorridente; Petrus era o dono, ou melhor, o tirano daquele restaurante.

— Será que seu gato atacou os vizinhos novamente, a ponto de serem levados para o pronto-socorro? Ou o mesmo gato te atacou para evitar que venha trabalhar na hora devida? — continuou Petrus, com um sorriso crítico.

— Senhor Lunaris, você não deveria subestimar o poder vingativo de Raptor... — sussurrou Aria, tentando forçar um sorriso. Mas o resultado foi mais uma careta sob os olhos miúdos e críticos de seu chefe. — Desta vez, não teve nada a ver com meu gato, foi só...

— Olha, Aria, eu realmente não quero saber... — interrompeu Petrus com sua mão pequena, um contraste com seu corpo grande. — Na verdade, quero sim saber, mas não agora! O restaurante está lotado! E devo enfatizar, lotado de pessoas extremamente importantes, e preciso que você assuma seu posto rapidamente! As garçonetes novas não sabem lidar com os clientes de dentes pontudos...

— Oh! Sim... — Aria assentiu rapidamente, observando seu chefe se afastar, lançando um último olhar crítico a ela antes de se concentrar em algum erro que a cozinha cometia no momento. Ela soltou um suspiro profundo e empurrou a porta com o ombro, adentrando o estreito e abarrotado vestiário.

O som de choro foi rapidamente identificado por Aria, que observou uma garota de cabelos castanhos encaracolados sentada no banco, entre os armários de metal. Com seu corpo pequeno, ela parecia uma criança perdida. Aria logo a reconheceu e, largando sua mochila em um canto, foi prontamente consolá-la.

— Maria, o que houve desta vez? Petrus andou gritando de novo?— inquiriu Aria, sentando-se ao lado dela.

— Oh... Aria, você chegou? — disse Maria, levantando o olhar para a companheira. Seus olhos estavam vermelhos, e a maquiagem escorria pelas laterais de seu rosto redondo e meio infantil.

Maria era conhecida por sua natureza gentil e um coração que parecia carregar mais peso do que deveria. Suas bochechas, sempre coradas, contrastavam com a palidez das garçonetes ao redor, e o uniforme do restaurante parecia grande demais para sua figura delicada.

— Sim, você sabe que posso demorar, mas sempre chego. Como dizem, o que é bom sempre atrasa! — brincou Aria, conseguindo arrancar um leve risinho de Maria.

— Não acho que o senhor Lunaris concorde com isso... — comentou Maria, seu humor um pouco mais leve.

— Pode até ser, mas a questão é: o que aconteceu com você? — insistiu Aria, sua voz suave, mas firme.

— Oh... Não sou só eu que... Bem... Hoje temos vampiros como clientes... — Maria falou em um sussurro tão baixo que Aria teve que se inclinar para conseguir discernir as palavras.

Os "clientes de dentes pontudos" mencionados por Petrus eram, de fato, uma presença singular naquele mundo — os vampiros. Um grupo de indivíduos sobrenaturais com a macabra habilidade de consumir sangue humano para não apenas manter-se vivos, mas também alimentar sua magia. Era através disso que eles dominavam a humanidade há anos.

Para alguns, os vampiros eram governantes benevolentes que exigiam apenas alguns litros do precioso líquido vermelho de seus súditos para protegê-los de outros seres ainda mais perigosos e mortais que assolavam o mundo de Umbraéon. Para outros, eram mestres tiranos que escravizavam todos, eliminando a existência de quem ousasse levantar a cabeça contra tal opressão.

Aria entendia por que Maria, assim como outras garçonetes, estava com medo de servir tais seres. Temiam cometer algum erro e serem punidas, ou pior, atrair atenção demais e se tornarem o prato principal.

— Não se preocupe, Maria. — falou Aria, colocando sua mão sobre a mão trêmula da outra. — Eu estou aqui.

— Como você consegue ficar perto deles? Só de pensar, já sinto calafrios. Será que é a magia de sangue deles? — falou Maria, abraçando o próprio corpo enquanto se desvencilhava da mão da amiga. Aria soltou um suspiro e se levantou do banco para ir buscar sua mochila.

— Alguns dizem isso... Que esses calafrios são o nosso sangue reagindo ao 'chamado' dos vampiros — respondeu, já indo em direção ao seu armário, facilmente identificável pelas figurinhas de gatos pretos com chifres vermelhos coladas na porta.

— Considere-se sortuda por sentir calafrios, Maria. Não acho que seja um chamado; é mais como um instinto que temos contra predadores — disse Aria, enquanto tirava o casaco jeans e vestia o blazer preto que fazia parte de seu uniforme de garçonete. Ao mesmo tempo, ela prendia seus longos cabelos negros em um coque, observando-se no estreito espelho de seu armário. Aria viu sua figura esbelta refletida ali, a postura confiante desmentindo sua aparente fragilidade.

— Outros não sentem calafrios, mas uma atração incontrolável... Tal como coelhos indo de encontro a uma cobra faminta. Isso sim é perigoso. Talvez aí se encaixe o tal chamado... — Aria acrescentou, observando Maria assentir no banco através do reflexo do espelho.

— Mesmerismo... — sussurrou novamente Maria. Aria concordou com um suspiro. Todos os humanos eram instruídos sobre os perigos dos vampiros, suas habilidades que tornavam as presas suscetíveis aos seus ataques. A principal forma que a humanidade encontrava para combatê-los era evitá-los a todo custo.

— O que eles estão fazendo aqui? Não têm restaurantes no Crepúsculo? — resmungou Aria enquanto tirava suas jeans rasgadas, os rasgos evidência dos frequentes ataques de seu gato, Raptor. Rapidamente, ela vestiu a saia preta justa do uniforme, que destacava suas pernas longas.

Maria deu de ombros. De fato, era estranho os vampiros subirem até as Terras das Lâmpadas, os bairros humanos, vindos do Crepúsculo, bairro dominado pelos clãs vampirescos da cidade de Sombra Alta. Aria tinha uma hipótese de que eles faziam isso apenas para se divertir, assustando os humanos. Vampiros eram assim, sádicos.

— Petrus vai ficar chateado se te ver aqui no vestiário? — perguntou Aria enquanto retocava a maquiagem, acentuando as maçãs do rosto e contornando seus olhos de um verde profundo, como esmeraldas ocultas. Esses olhos contrastavam com sua pele pálida, e as sobrancelhas arqueadas conferiam-lhe um ar eternamente curioso. A maquiagem leve realçava suas feições, conferindo-lhe uma beleza quase etérea.

— Oh... Estou aqui porque me ofereci para doar sangue para a cozinha... Sabe, para os clientes — revelou Maria, mostrando seu braço, onde havia um curativo que Aria não tinha percebido antes.

— Boa ideia, assim você escapou de servi-los — piscou Aria, já pronta, para a agora corada Maria.

— Eu só... — a garota parecia querer pedir desculpas por suas ações, mas Aria não deu espaço para isso, acenando com a cabeça e empurrando com o quadril a porta do armário, fechando-o.

— Você foi esperta, parabéns! Agora, deixa que eu salvo outras garçonetes de nossos mestres sugadores de sangue... — declarou Aria, já de saída.

~**~

Mesmerismo. Aria se lembrou da palavra usada por Maria momentos atrás. Era o termo para o poder hipnótico dos vampiros, quase como um feitiço que atraía e fascinava os humanos, tornando-os dóceis e apáticos. Talvez o "chamado" que tantos mencionavam fosse fruto desse mesmerismo. Aria nunca sentiu o efeito desse poder sobre ela; muitos admiravam sua resistência, embora ela mesma não analisasse isso profundamente. Na verdade, achava que o contato constante com vampiros, mesmo contra sua vontade, devido ao emprego de seu pai, a tornara imune ao poder vampiresco.

Mas aquele não era o momento para pensar nisso. Ela caminhou rapidamente rumo às grandes portas vai-e-vem que serviam de transição entre a cozinha e a área dos funcionários para o amplo salão do restaurante, onde os clientes estavam. Aria abriu a porta e entrou na sala, repleta de mesas redondas com suas impecáveis toalhas brancas. Ela avistou diversos grupos sentados ali, todos em comum com suas roupas elegantes e caras, cobertas de joias, além dos cabelos com os mais variados e intrincados penteados. O Lunaris não era um restaurante qualquer nas Terras das Lâmpadas; era, sem dúvida, o melhor, e somente a elite humana vinha ali gastar seu dinheiro. Era evidente que muitos tentavam chamar atenção para si, algo que Aria sempre achou engraçado e fútil. Contudo, em uma grande mesa ao centro, logo abaixo do imenso lustre de cristal, estava o verdadeiro foco de atenção de todos ali.

Os vampiros, dois homens e uma mulher, usavam ternos sofisticados de uma coloração vermelha e preta, enquanto a vampira vestia um longo vestido com a mesma combinação de cores. À primeira vista, poderiam ser confundidos com outro grupo de humanos ricos daquela região, mas, à medida que se aproximava, era possível notar a palidez de sua pele, e os olhos... Seus olhos tinham íris de um vermelho tão intenso quanto o sangue mais fresco. Além disso, havia aquela estranha aura que pareciam emanar, tornando todo o ambiente mais obscuro e tenso.

Aria inspirou fundo e expirou, observando que os garçons e garçonetes tentavam evitar, a todo custo, a mesa no centro do salão. Contudo, havia uma garçonete ali, que, mesmo à distância, Aria podia notar que tremia.

— Bem, aqui vem Aria ao resgate... — murmurou para si mesma, caminhando com passos firmes em direção à mesa dos vampiros.

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