Capítulo 5: O Ataque

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Peso. Um forte peso pressionando seu peito. Foi a primeira coisa que Aria sentiu naquela manhã. A sensação de sufocamento a fez despertar com um sobressalto. Com apreensão, ela abriu os olhos, apenas para se deparar com um par de grandes olhos amarelos brilhando a poucos centímetros de seu rosto. Raptor, seu gato gigantesco e temperamental, a observava, estendido confortavelmente sobre seu peito como se fosse um trono.

Aria grunhiu, irritada, empurrando o felino para o lado. Raptor soltou um sibilar descontente antes de saltar graciosamente para o chão, como se ela o tivesse ofendido pessoalmente.

Ela se sentou, sentindo o corpo protestar com uma série de estalos desconfortáveis. Percebeu que não havia adormecido na cama, mas sim no pequeno e desgastado sofá de sua quitinete. Livros, jornais velhos e anotações estavam espalhados por toda parte, cobrindo o sofá e o chão ao redor dele. Dormir em cima daquele caos não tinha sido nada agradável. Seus músculos estavam rígidos, a dor persistente em seu pescoço lembrando-a de que precisava urgentemente de um descanso decente.

— Droga... — resmungou, passando uma mão pelos cabelos bagunçados, tentando domar a massa desordenada. Seus olhos cansados passearam pelo amontoado de papéis e símbolos rabiscados à sua volta.

Os mesmos símbolos que a assombravam desde aquela noite fatídica. Desenhados em um papel amassado à sua frente, eram cópias exatas dos que ela havia visto naquele quarto da sua infância. Janela estilhaçada, cortinas rasgadas, móveis revirados, e aqueles símbolos terríveis pintados em sangue nas paredes. Ninguém conseguia decifrá-los. Assim como ninguém conseguia explicar o desaparecimento de Marine, que havia sumido sem deixar vestígios naquele mesmo quarto.

Um miado estridente cortou o silêncio denso da sala estreita, trazendo Aria de volta à realidade. Raptor, de algum canto sombrio do aposento abarrotado, a chamava com a impaciência de um predador faminto. Aria balançou a cabeça, tentando dissipar a névoa que ainda envolvia sua mente.

Ela se levantou com um gemido, afastando livros e jornais com os pés descalços enquanto caminhava para a pequena cozinha ao lado. O ambiente era modesto, para dizer o mínimo. Uma geladeira antiga, que gotejava água ocasionalmente, ficava encostada na parede manchada. Ao lado, um fogão que parecia ter saído de uma outra era, com queimadores enferrujados e botões desgastados pelo tempo. A bancada de madeira estava coberta de arranhões profundos e manchas antigas, testemunhos das batalhas diárias da vida em uma quitinete apertada.

Aria abriu um armário no canto, procurando a ração de Raptor. Assim que encheu a tigela, o gato atacou a comida com uma ferocidade impressionante, quase derrubando o recipiente com a força de sua fome. Seus dentes afiados cravavam-se no alimento com tal intensidade que Aria teve que se afastar para evitar ser pega no meio do frenesi.

— Pela Santa Luz, um dia desses você vai devorar a minha mão! — resmungou ela, observando o gato com uma mistura de exasperação e afeto. Raptor ignorava suas palavras, perdido no prazer simples de devorar o que quer que estivesse em sua tigela.

Agora era a vez de Aria se alimentar. Ela abriu a geladeira com uma expressão de cansaço, retirando uma garrafa de suco cuja procedência ela não conseguia recordar. No momento em que abriu a tampa, o odor acre e pungente a atingiu com força, fazendo-a recuar de imediato. Claramente, aquele não era um mistério que valia a pena desvendar.

Ela deixou o suco escorrer pela pia, o líquido turvo desaparecendo pelo ralo, enquanto seus olhos pousavam no controle remoto sobre a bancada. Com um suspiro, ela o pegou e, com a outra mão, ligou a TV na sala. O som do noticiário matutino — ou quase matutino, já que a luz do sol atravessava as janelas, indicando que passava das 10 horas — encheu o pequeno ambiente.

Aria vasculhava os armários em busca de algo comestível, enquanto ouvia fragmentos do programa de notícias. As palavras do repórter chegaram até ela, tingidas com uma emoção que era ao mesmo tempo tensa e sensacionalista, como se ele estivesse saboreando o drama enquanto relatava:

— ... A manhã em Sombra Alta não poderia começar de maneira mais sombria! Um crime devastador chocou o distrito de Arco de Luz durante a madrugada. A vítima foi descoberta pelos faxineiros matutinos durante sua ronda habitual. Mas o que sabemos sobre a vítima? Bem, as autoridades de Lúminis ainda estão investigando a cena, mas já temos algumas informações...

Aria encontrou um pacote de biscoitos esquecidos no fundo do armário, em formato de pequenos morcegos ridiculamente fofos. Ela fez uma careta ao se lembrar de ter comprado aquilo por pura ironia, mas sem a intenção de realmente comê-los. Agora, pareciam ser a única opção. Com um suspiro resignado, ela os colocou sobre a bancada, pensando que talvez realmente tivesse que almoçar com seu pai, como haviam combinado. Era evidente que precisaria fazer compras em breve.

O repórter continuava, sua voz carregada de um entusiasmo contido, quase excitado por ter em mãos um furo de notícias:

— ... Sabemos que a vítima era uma jovem, entre 17 e 18 anos, residente do distrito. Aparentemente, ela estava voltando do trabalho para casa quando o ataque ocorreu.

Aria congelou por um segundo, os biscoitos esquecidos sobre a bancada enquanto seu estômago se revirava. Um crime no Arco de Luz? Perto de onde Maria morava. Isso não podia ser coincidência.

— Caramba... Que loucura! — murmurou para si mesma, sentindo uma onda de preocupação. — Preciso ligar para ela, com certeza ela deve saber de algo. Isso pode assustá-la um pouco... Mas bem, ela queria conversar comigo ontem sobre algo...

Deixando os biscoitos de lado, Aria se apressou em direção à sala, seus pensamentos agora fixos em Maria. Ela começou a procurar o celular entre os livros e papéis espalhados pelo sofá. Foi então que, pela primeira vez, seus olhos caíram nas imagens transmitidas pela TV.

Ela conteve uma exclamação de choque ao ver as imagens que mostravam a cena do crime. No meio da rua de paralelepípedos, uma jovem jazia inerte, estendida sob um poste cuja lâmpada havia sido estilhaçada. Os vidros quebrados espalhavam-se pelo chão como fragmentos de estrelas mortas. Mas não foi isso que prendeu sua atenção. O casaco da vítima, grande e desgastado, parecia completamente desproporcional ao corpo frágil e pequeno da garota. Rasgado em vários lugares, pendia sobre ela como uma mortalha improvisada.

Mas o detalhe mais perturbador era o sanduíche de lagosta, parcialmente esmagado ao lado da cabeça da vítima, seus cachos castanhos encaracolados encharcados de sangue. Aria sentiu o mundo desabar ao seu redor quando reconheceu o cabelo, o casaco, o sanduíche...

— Maria...? — sussurrou, atônita, sua voz quase inaudível.

Seus olhos estavam fixos na tela, a realidade começando a se distorcer ao seu redor. Nem percebeu que havia encontrado seu celular, agora vibrando intensamente em sua mão. Notificações piscavam na tela, inúmeras chamadas perdidas e mensagens não lidas, mas nada disso a alcançava. A imagem de Maria, caída no chão sob o poste quebrado, era tudo o que ela conseguia ver.

~**~

As lágrimas não caíam. Aria sentia como se estivessem presas, congeladas em algum lugar profundo dentro dela, incapazes de escapar, enquanto seu corpo permanecia paralisado de choque. Sentada no sofá, os olhos vidrados na tela da TV, ela mal conseguia processar o que via e ouvia. A reportagem continuava a se desenrolar, sem piedade, expondo mais detalhes do crime. O nome da vítima ainda não havia sido divulgado oficialmente, mas as poucas imagens do corpo, a localização, e as dezenas de mensagens no celular — de colegas de trabalho e até de seu chefe — inundavam sua mente.

Tinha que ser Maria. Não queria acreditar, mas todos os sinais apontavam para isso. O coração de Aria se apertou de maneira quase dolorosa, uma tensão crescente em seu peito. E, no entanto, uma parte dela, por mais cruel que fosse, desejava que não fosse Maria.

Por fim, uma lágrima solitária se libertou, deslizando pela sua bochecha antes que ela a enxugasse com rapidez. Nada fazia sentido. Por que Maria foi atacada? Por quem ou pelo quê? Enquanto as cenas do corpo de Maria eram mais uma vez exibidas sem qualquer decência pela TV, algo chamou a atenção de Aria. O ataque fora brutal — os rasgos no casaco, a lâmpada estilhaçada no poste acima da garota, um cenário de violência... E, no entanto, não havia tanto sangue. Apenas um pequeno fluxo ao redor da cabeça de Maria. Aria franziu o cenho, um lampejo de compreensão cintilando em sua mente. Por que tão pouco sangue?

Uma ideia perturbadora começou a se formar, algo que acendeu uma centelha em seu interior. Não, mais do que uma ideia... uma hipótese.

O som da campainha ecoou pela quitinete, estridente e fora de lugar no silêncio tenso que a cercava. Raptor, sempre irritadiço, miou em protesto, seus olhos amarelos lançando um olhar fulminante na direção da porta. Outra lágrima teimosa desceu pelo rosto de Aria, mas dessa vez ela não se preocupou em limpá-la. Seu olhar se voltou desconfiado para a porta de entrada. Quem seria? Seu pai, talvez? Petrus poderia ter ligado para ele, preocupado com o seu estado... Mas não. Seu pai não tocaria a campainha — ele tinha uma cópia da chave.

Sentindo-se cambaleante, quase como se estivesse em um estado de torpor, Aria se arrastou até a porta, os movimentos lentos, como se estivesse se movendo em meio a um pesadelo. Com um pequeno empurrão, ela entreabriu a porta, apenas o suficiente para vislumbrar quem estava do outro lado.

— Senhorita Aria Thorne? — A voz era profunda, segura. Ela levantou os olhos, encontrando-se com a figura de um homem alto, de cabelos loiros um pouco escuros, vestindo o uniforme impecável dos Lúminis. O azul claro de seu traje contrastava com a capa preta que pendia de seus ombros, presa por broches em formato de estrelas. Ele tinha um porte atlético, com a postura rígida e controlada de alguém acostumado à autoridade. Seus olhos eram de um cinza frio, quase metálico, e, naquele momento, estavam fixos em Aria com uma intensidade desconcertante.

Aria permaneceu em silêncio, sua mente ainda tentando se ajustar à realidade. Mas sua falta de resposta parecia ser confirmação o suficiente para o homem, que ergueu o queixo, formal e impassível.

— Sou o Oficial Antony Blackwood — disse ele, sem se abalar. — Vim fazer algumas perguntas, se não se importa.

— E se eu me importar? — Aria resmungou, a exaustão e o luto eliminando qualquer traço de paciência que ela poderia ter tido. Sua voz estava rouca, como se estivesse sendo arrastada de dentro dela contra sua vontade.

O rapaz não se ofendeu. Pelo contrário, um leve sorriso surgiu no canto de seus lábios, quase imperceptível, mas cheio de uma arrogância calma e controlada.

— Bem, isso soaria... estranho — disse ele, inclinando a cabeça de lado. — Principalmente vindo da última pessoa que viu a senhorita Maria Alunnis viva. E quando digo estranho, quero dizer... suspeito. Não acha?

Ele ergueu uma sobrancelha com uma elegância irritante, como se estivesse jogando com as palavras. O gesto foi calculado, como se soubesse exatamente como provocar uma reação. E funcionou. O sangue de Aria ferveu, uma raiva súbita e irracional subindo por sua garganta. A vontade de socá-lo ali mesmo, naquela expressão arrogante, foi quase irresistível.

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