Capítulo 9: Estranho depoimento

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Calafrios percorriam a espinha de Aria enquanto ela adentrava o distrito de Sombralume. A luz ali parecia mais fraca, as sombras mais profundas, alongando-se sobre os prédios de pedra cinzenta que dominavam o horizonte. Gárgulas de aparência ameaçadora espreitavam dos pontos altos dos edifícios, seus olhares de pedra fixos em quem ousasse passar por baixo. Estavam na beira do vale, onde a cidade de Sombra Alta começava a descer em direção ao Rio Veladouro, que fluía sombrio no centro do vale. À medida que a inclinação do terreno aumentava, as sombras se adensavam, caindo pesadas devido às grandes árvores petrificadas, cujas folhas eram de um cinza desolador. Ali embaixo, oculto nas trevas, estava o bairro dos vampiros, o Crepúsculo.

O ar gélido parecia se arrastar do vale, envolvendo Sombralume em um manto de frio e penumbra. Esse distrito era a transição entre o território humano e o domínio dos vampiros, e é também onde se erguia a imponente sede dos Lúminis.

Aria saltou do bonde, acompanhada de homens e mulheres em trajes formais—ternos escuros, sapatos lustrados, e gravatas impecáveis—todos com ares de pressa e seriedade. Ela sentiu-se deslocada entre eles, com seus jeans pretos e tênis igualmente escuros de cano alto. Sua camisa branca justa, coberta por um casaco bege, contrastava com a formalidade ao redor. E como se não bastasse, a mochila onde carregava Raptor atraía olhares curiosos e desaprovadores; o gato sibilava para qualquer um que ousasse se aproximar, chamando ainda mais atenção indesejada.

Caminhando rápido pelas calçadas largas, feitas de mosaicos escuros e brancos, Aria desviava das pessoas apressadas, que carregavam pastas e falavam ao celular, quase sem perceber sua presença. Não demorou muito para que ela chegasse a um prédio que, embora não se destacasse em altura, impressionava pela largura, ocupando um grande quarteirão do distrito. A arquitetura era diferente, com grandes colunas e um design geométrico que contrastava fortemente com as fachadas antigas e sombrias dos edifícios ao redor. A pintura azul estava pontilhada por símbolos de estrelas metálicas, agora enferrujadas pelo tempo.

Oficiais Lúminis iam e vinham da entrada—a grande escadaria levava a um salão amplo e aberto. Para a irritação de Aria, também havia figuras pálidas de olhos rubros transitando pelo local. Vampiros, carregando guarda-chuvas escuros, protegiam-se da fraca luz solar que mal penetrava o distrito.

— Droga... — resmungou Aria, enquanto começava a subir as escadas. O Lúminis, outrora o símbolo da resistência humana contra as criaturas que assolavam o mundo, agora parecia ter se submetido a um desses monstros.

O hall de entrada era vasto, com duas grandes portas laterais por onde oficiais iam e vinham, às vezes sozinhos, outras vezes acompanhados por prisioneiros, algemados ou não. Alguns gritavam, xingavam, e se debatiam, resistindo contra o destino que os aguardava. Aria não conseguia afastar o pensamento de que aqueles oficiais, responsáveis por impor a lei sobre os humanos, eram, de certa forma, marionetes dos vampiros. A lembrança de seu plano com Julian fez o suor brotar em sua testa. Conseguiriam mesmo obter informações sob o nariz daqueles que agora a cercavam, sem sofrer as terríveis consequências?

— Não! Não me mandem para o Fosso! — um prisioneiro gritava desesperado ao fundo, sendo arrastado por dois oficiais para uma das portas laterais. Ele se debatia freneticamente, as lágrimas escorrendo pelo rosto.

— O que deseja? — A voz quase robótica trouxe Aria de volta à realidade. Ela se virou rapidamente e encarou o secretário atrás da recepção, que a observava com um olhar cansado, mas crítico.

— E-eu... Eu vim dar meu depoimento. Fui convocada. Meu nome é Aria Thorne — disse, as palavras saindo rápidas demais, a gagueira traindo seu nervosismo. "Controle-se!" ela se repreendeu mentalmente, tentando acalmar os batimentos acelerados de seu coração.

— Hum... — O rapaz, de aparência tão desinteressada quanto sua voz, começou a digitar algo no computador, os segundos se arrastando com uma lentidão torturante, aumentando ainda mais a ansiedade de Aria.

— Ah, sim. Siga pela porta à direita... Guichê 14. Uma oficial está esperando — informou ele finalmente, apontando com a caneta para a porta em questão. Pelo menos, era a porta onde as pessoas não estavam sendo arrastadas em algemas, o que trouxe um leve alívio a Aria.

Ela assentiu rapidamente e praticamente correu para a porta indicada, quase colidindo com uma vampira no caminho. A mulher, alta e imponente, usava um vestido curto e vermelho que se moldava ao corpo como uma segunda pele, deixando pouco espaço para a imaginação. O tecido cintilava com a luz fraca do hall, enquanto os corações escuros costurados em sua sombrinha negra eram um toque macabro que completava seu visual.

— Cuidado, criança — disse a vampira, ajustando a sombrinha com um movimento fluido e gracioso. Seus lábios se curvaram em um sorriso, revelando longos caninos afiados. Ao seu redor, um séquito de humanos a acompanhava, todos com expressões vazias, sorrisos abobalhados estampados em seus rostos. Um segurava outra sombrinha, outro carregava uma caixa de bombons, e ainda outro segurava um cachorrinho que latia incessantemente. Aria reconheceu os sinais de mesmerismo, sentindo um arrepio de repulsa.

— Desculpe. Estou atrasada — respondeu Aria apressada, já se afastando. A vampira ergueu uma sobrancelha, surpresa pela indiferença da garota. Claramente, ela esperava uma reação de adoração ou medo, não uma simples desculpa apressada.

— Ei! Espere aí! — A vampira ordenou, sua voz gélida e imperiosa, mas Aria, sem perder o ritmo, se esgueirou entre um grupo de oficiais que acabava de sair pela porta, discutindo acaloradamente. Ela se mesclou ao grupo, aproveitando o caos momentâneo, e logo se viu do outro lado, mais próxima da porta que levava ao interior do prédio.

Com um último olhar por sobre o ombro, Aria adentrou o edifício, sentindo a tensão em seus ombros diminuir ligeiramente.

O interior da sede dos Lúminis surpreendeu Aria pela organização meticulosa. O teto abobadado parecia se erguer sem fim, enquanto o chão era pontilhado por inúmeros cubículos de madeira, cada um funcionando como pequenos escritórios, formando uma espécie de labirinto. Placas de madeira, com números pintados em azul, estavam posicionadas acima das entradas de cada cubículo, facilitando a identificação dos guichês. Aria rapidamente localizou o número 14 e se dirigiu até ele, sentindo uma leve ansiedade crescer em seu peito.

Ela inspirou fundo antes de bater na porta, tentando acalmar os nervos e, ao mesmo tempo, preparar-se para o que estava por vir. Apesar de sua roupa simples, ela havia se esforçado para parecer atraente. Seus cabelos negros estavam soltos, caindo em cachos ondulados sobre os ombros, e ela havia aplicado uma maquiagem sutil para destacar os olhos verdes e as maçãs do rosto. Se tivesse que lidar novamente com o Oficial Blackwood, estava preparada para usar seu charme como uma arma, na esperança de extrair mais informações sobre o assassinato de Maria e possíveis conexões com outros casos. Embora não gostasse de recorrer a essas táticas, lembrava-se sempre do conselho da sua tia—mãe de Julian—que dizia: "Os Vespera são lindos, e tal beleza deve ser utilizada como arma!"

— Entre... — uma voz esganiçada soou do outro lado, fazendo Aria franzir o cenho em surpresa. Ela abriu a porta, e sua expectativa se desfez em decepção ao encontrar, em vez de Blackwood, uma mulher de mais de 60 anos, sentada atrás de uma estreita escrivaninha. A oficial usava óculos de aros cor-de-rosa que contrastavam com o uniforme azul dos Lúminis, e um sorriso amigável se desenhou em seus lábios ao ver Aria hesitar na entrada.

— Senhorita Thorne? Pode se sentar — pediu a oficial, indicando a cadeira à sua frente com um gesto acolhedor.

— Eu pensei que o Oficial Blackwood iria tomar o meu depoimento... — Aria confessou, um pouco desapontada, enquanto se dirigia à cadeira e colocava a mochila no colo.

— Oh, não, querida. O Oficial Blackwood está ocupado com outras linhas de investigação. Ele é mais voltado para a ação, sabe? Sou a Oficial Jeane Blaime — apresentou-se a mulher com um tom gentil, enquanto se levantava para ir até uma bancada atrás dela, onde um bule de café e xícaras já estavam prontos.

— Um pouco de café? — ofereceu a oficial, vertendo o líquido quente e escuro em uma xícara antes mesmo que Aria pudesse responder, a confusão ainda clara em seu rosto.

Aria aceitou a xícara, sentindo as bochechas corarem de vergonha e frustração. Todo o seu plano parecia ter desmoronado diante daquela simpática senhora. Como poderia aplicar qualquer estratégia de sedução ou manipulação com Jeane Blaime, que mais parecia uma avó amável do que uma oficial endurecida? Tentando esconder sua decepção, Aria sorriu de volta, tomando um gole do café quente enquanto procurava desesperadamente uma nova abordagem.

— Sei que o Oficial Blackwood deve ter feito muitas perguntas quando a visitou. E sei como deve ser difícil revisitar tais memórias... — começou a Oficial Blaime, enquanto servia a si mesma uma xícara de café.

— Vocês têm mais informações sobre o que de fato ocorreu com Maria? Quem fez isso com ela? — Aria interrompeu, tentando controlar a veemência em sua voz, mas ainda assim transparecendo a urgência de sua pergunta.

A oficial levantou os olhos por cima dos aros de seu óculos cor-de-rosa, enquanto mexia o açúcar em seu café, o som da colherinha tilintando contra a porcelana preenchendo o silêncio.

— Bem, eu não posso te informar muita coisa, pois a investigação está sob sigilo — começou Blaime, com um tom ponderado. — Mas posso dizer que existem algumas hipóteses que sugerem que ela possa ter atentado contra a própria vida. Sendo uma garota solitária, vinda de outra cidade, tendo poucos amigos...

Aria piscou várias vezes, surpresa e indignada com aquela sugestão. Aquilo era uma completa loucura.

— Maria nunca faria isso! E as filmagens da cena do crime... A violência... Como ela teria feito aquilo consigo mesma? Isso não faz sentido! — protestou Aria, colocando a xícara sobre a escrivaninha com mais força do que o necessário, fazendo com que um pouco do café transbordasse e manchasse alguns papéis.

A oficial Blaime manteve a calma, puxando um paninho rosa de dentro de uma gaveta para limpar a mancha, enquanto falava com uma voz serena, mas firme.

— Como disse, isso é apenas uma hipótese, não uma conclusão da investigação, que, como enfatizei antes, está sob sigilo. — Ela limpou a mancha com precisão, sem se abalar pela reação de Aria, que sentiu uma ponta de culpa pela sua impetuosidade.

Blaime colocou o pano de lado e voltou seu olhar tranquilo para Aria.

— Para nos ajudar e talvez afastar hipóteses inválidas, seria útil se você pudesse relatar tudo o que se lembra da última vez que teve contato com a senhorita Alunnis — pediu a oficial, em um tom encorajador.

Aria soltou um longo suspiro, sentindo o peso esmagador de ter que reviver aquelas memórias dolorosas. Ainda assim, ela começou a narrar os eventos, desde o turno no restaurante até o momento em que se separaram na estação de trem. Enquanto falava, sua mente começou a conectar pontos que até então estavam desconectados. Ela percebeu que, desde o ataque, havia evitado organizar os eventos de forma lógica, mas agora tudo começava a ganhar um novo contorno.

Um detalhe que se destacou foi que, no dia em que Maria foi atacada, os vampiros haviam visitado o Lunaris. Isso a fez lembrar dos outros casos que Julian havia mencionado. Todos os ataques envolviam funcionários de estabelecimentos comerciais humanos ligados a alimentos—restaurantes, lanchonetes, bares. Será que esses lugares também haviam recebido visitas estranhas de vampiros antes dos ataques?

Outro ponto perturbador surgiu em sua mente, algo que ela evitou mencionar para a Oficial: Maria havia dito que precisava contar algo para Aria. A insistência de Maria naquela noite agora parecia cheia de significado. O que será que ela queria dizer? Teria relação com o ataque?

Aria sentiu um calafrio ao pensar nas possíveis implicações, mas permaneceu em silêncio sobre esse detalhe, deixando a oficial continuar a conduzir o depoimento enquanto sua mente fervilhava com as novas suspeitas.

— Bem, se é tudo isso que você se lembra... — A Oficial Blaime disse, enquanto fazia algumas anotações rápidas em sua caderneta. Aria percebeu, com um leve sobressalto, que havia um dispositivo de gravação sobre a pilha de papéis na mesa. Ele estava ligado desde o momento em que ela havia entrado no cubículo, e ela sequer notara.

— Sim, isso é tudo — respondeu Aria, bebendo o restante do café. Tentava acalmar o nervosismo que a dominava, especialmente pelo fato de ter omitido várias informações em seu depoimento. Como poderia confiar nos Lúminis, quando parecia que eles já estavam inclinados a concluir a investigação sem sequer considerar a possibilidade de um ataque vampírico? Ela sabia que teria que investigar por conta própria e torcia para que seu primo Julian estivesse tendo mais sorte.

— Oh! Agora lembrei por que seu nome não me era estranho — subitamente comentou Blaime, fazendo Aria encará-la com uma expressão de surpresa e desconfiança.

— Você provavelmente não se lembra de mim, não é? — continuou a Oficial com um leve sorriso. — Bem, já faz uns dez anos. Naquela época, eu ainda trabalhava nas ruas, antes de ser transferida para funções mais burocráticas. E, devo admitir, eu era mais magra naquela época... O tempo sentado atrás de uma mesa, sabe como é...

— Desculpe, mas realmente não lembro — respondeu Aria, a confusão evidente em sua voz.

— Oh, tudo bem, querida. Não espero que você se lembre, especialmente considerando a natureza traumática do evento... O desaparecimento de sua mãe, Marine Thorne.

As palavras atingiram Aria como um balde de água gelada. De repente, imagens começaram a inundar sua mente. Ela se lembrou de uma Aria mais jovem chegando da escola para encontrar a casa mergulhada em um silêncio assustador. Seu pai estava ocupado com mais uma sessão fotográfica, como era comum perto do Baile Escarlate. Mas sua mãe deveria estar lá, pelo menos para preparar o almoço. Ao invés disso, encontrou um vazio sinistro.

Os miados insistentes de Raptor a guiaram até o segundo andar, onde sentiu o frio percorrer sua espinha ao ver o gato arranhando freneticamente a porta do escritório de sua mãe. Quando abriu a porta, deparou-se com um cenário de pesadelo: o quarto estava completamente destruído, como se uma luta feroz tivesse ocorrido ali. Sangue respingava nas paredes, formando símbolos estranhos e perturbadores. Não havia sinal de sua mãe, por mais que ela gritasse e chamasse por ela.

— Eu sinto muito em ter que te fazer lembrar disso — disse Blaime, interrompendo as memórias de Aria, percebendo o efeito devastador que suas palavras tinham causado. Aria permanecia em silêncio, as mãos apertando a xícara com tanta força que quase poderia ter quebrado a porcelana.

— Não, tudo bem... — murmurou Aria, tentando recuperar o controle.

— Fui a primeira Oficial a chegar naquela cena. Foi, sem dúvida, algo muito estranho... — Blaime suspirou, sua voz carregada de pesar.

— Minha mãe não nos abandonou — disse Aria subitamente, sua voz carregada de uma mistura de dor e raiva enquanto fixava os olhos na oficial. Ela se lembrou de como os Lúminis haviam encerrado o caso, alegando que Marine havia simplesmente fugido, cansada de sua vida mundana, buscando novas aventuras. Eles ignoraram completamente os sinais de luta, o sangue, os símbolos perturbadores. Alegaram que tudo era uma encenação, uma artimanha de Marine para mascarar sua fuga. Era uma conclusão insana, absurda.

Blaime se levantou de sua cadeira e foi até Aria. A oficial, embora de baixa estatura e um pouco rechonchuda, manteve um sorriso suave nos lábios enquanto colocava suas mãos sobre as de Aria.

— Lembro-me bem de como você, ainda criança, acusou os vampiros pelo que aconteceu com sua mãe... Foi uma acusação muito perigosa, considerando o contexto em que vivemos — murmurou Blaime, retirando delicadamente a xícara das mãos tensas de Aria.

— É realmente uma infelicidade que você esteja diante de outro caso que, novamente, pode estar ligado aos vampiros.

As palavras da oficial fizeram Aria arregalar os olhos de surpresa. Ela não havia mencionado a Blaime suas suspeitas sobre o envolvimento de vampiros no caso de Maria.

— Tome cuidado. Sim? — acrescentou Blaime com um tom sério, mas antes que Aria pudesse processar aquilo ou fazer mais perguntas, a porta do cubículo foi batida.

— Oh! Tenho outra entrevista marcada... — disse a oficial, afastando-se com o mesmo sorriso amigável e cordial. — Sinto muito, Senhorita Thorne, mas você terá que sair.

Aria ficou boquiaberta, paralisada por alguns segundos. Levantou-se lentamente, ainda tentando entender o que acabara de acontecer, enquanto a oficial Blaime continuava a sorrir, como se nada de anormal tivesse sido dito.

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