Parte 2

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E lá vamos nós! @allthsecuban me obriga estar aqui novamente
Espero que gostem.


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Narrador PoV

Páscoa de 62, família Cabello

Camila Cabello, em seus radiantes 17 anos, trazia em seu coração não apenas o calor da Cuba que pouco conheceu mas as vivências compartilhadas através das histórias de sua família. O México, terra dos avós paternos, tornara-se o cenário de suas mais queridas memórias familiares, especialmente durante as celebrações de Páscoa, nas quais anualmente a família viajava de Miami para Cidade do México, devido aos preços do verão serem exorbitantes.

Havia mais de uma década desde que sua família se vira obrigada a deixar Cuba, fugindo de um regime que negava a liberdade de ir e vir, aprisionando não apenas corpos, mas sonhos e aspirações.

O México, com sua tapeçaria cultural rica e vibrante, oferecia a Camila um refúgio, uma extensão do lar que ela sabia pertencer à sua herança, mas que lhe era fisicamente distante. Era neste ambiente acolhedor que Camila alimentava seu sonho audacioso: dominar completamente a língua inglesa. Para ela, o inglês não era apenas um idioma a ser aprendido; era a chave para desmontar as barreiras da xenofobia, um instrumento para provar que uma mulher latina tinha o poder de alcançar o sonho americano. E qual lugar melhor para forjar este sonho do que na prestigiada Brown University?

Numa tarde saturada pelas cores do pôr do sol mexicano, a cozinha da casa dos avós de Camila transformou-se num palco para um diálogo fervoroso entre gerações. Camila, com a paixão que lhe era característica, defendia a importância de sua jornada acadêmica para além das expectativas tradicionais impostas às mulheres em sua família.

-Mas, mamãe- Camila argumentava, suas palavras carregadas de convicção e fervor juvenil- um diploma é mais do que um pedaço de papel. É a afirmação de nossa força e capacidade. É desafiar e transcender os estereótipos e limitações que tentam nos impor.

Sinu, marcada pelo tempo e pela sabedoria que os anos trazem, olhava para Camila com um misto de preocupação e admiração.-Mi hija -em sua voz um bálsamo de ternura- compreendo teus sonhos e a chama que arde em teu coração. Mas, o caminho que escolheste está repleto de desafios. Estás pronta para enfrentá-los?

-Estou mais do que pronta, mamãe. Estou determinada- respondeu Camila, sua determinação iluminando seu rosto jovem.- Desejo que nossa família veja uma de suas filhas conquistar um diploma superior, para provar a nós mesmas nossa inteligência e capacidade, não apenas ao mundo.

A conversa entre mãe e filha fluía, entrelaçando sonhos antigos com novas promessas. Sinu, apesar dos receios sobre o futuro incerto, não conseguia negar o ardor inextinguível de Camila, a promessa viva de que os sonhos, uma vez sonhados, estão destinados à realização.

-E quando dominar essa língua e fizer calar os xenófobos- disse Sinu, um sorriso de orgulho suavizando as linhas de seu rosto, com a fala mansa e carregada de sotaque- estarei aqui, aplaudindo mais alto que todos.

Esse momento, tecido de esperança e juras, selou o compromisso de Camila com seu futuro. Enquanto a escuridão abraçava o México, as estrelas acima sussurravam seu consentimento, testemunhas silenciosas do poder e da determinação de uma jovem pronta para desbravar o mundo.

Na manhã de Páscoa, a casa dos Cabello-Estrabao despertava sob a suave luz do amanhecer mexicano. O ar estava preenchido com os aromas de café fresco e pan dulce, enquanto Sinu, já em pé, preparava um desjejum festivo para a família. Alejandro, com sua presença calma e sorriso amável, ajudava a preparar as "cascarones", ovos coloridos e cuidadosamente esvaziados, agora cheios de confetes, prontos para serem quebrados sobre as cabeças dos desavisados, trazendo risadas e alegria, conforme a tradição mexicana.

Camila, vestindo um leve vestido de primavera que ecoava as cores vibrantes da estação, ajudava sua irmã caçula, Sofia, a se preparar. Aos 7 anos, Sofia estava imersa na magia da Páscoa, seus olhos brilhando com excitação e maravilha a cada nova descoberta. Juntas, elas teciam coroas de flores, um gesto que celebrava a renovação e a vida, enquanto Alejandro capturava esses momentos com sua câmera, eternizando memórias de uma simplicidade tocante.

A casa pulsava com a preparação para a missa de Páscoa. Trajes eram escolhidos com cuidado, refletindo o respeito e a reverência pela celebração que estava por vir. Antes de partirem, a família se reunia em um círculo, de mãos dadas, oferecendo uma oração de gratidão e proteção, um momento de conexão profunda e silenciosa, que falava diretamente aos corações.

Caminhando juntos à igreja católica local, os Cabello-Estrabao uniam-se à comunidade em uma procissão solene, marcada pela serenidade e pelo significado profundo da Páscoa. A igreja, adornada com flores e luzes, recebia todos com portas abertas, o interior ressoando com cânticos e orações que subiam como incenso até o céu.

Durante a missa, enquanto o padre compartilhava mensagens de esperança e renascimento, Camila sentia uma conexão profunda com suas raízes e com a terra que agora chamava de lar. Era um momento de reflexão, de reconhecer os sacrifícios feitos e as bênçãos recebidas, uma ponte entre o passado e o futuro que ela estava determinada a construir.

Após a celebração, a família voltava para casa, carregando consigo o espírito renovado da Páscoa. O restante do dia era marcado por risadas, pela quebra dos cascarones, e por um almoço festivo que reunia pratos tradicionais mexicanos e cubanos, uma fusão que celebrava a rica tapeçaria cultural da família Cabello-Estrabao.

Ao cair da noite, enquanto Sofia adormecia, cansada mas feliz, nas almofadas da sala, Camila e seus pais compartilhavam um momento de silêncio, observando as estrelas que cintilavam no céu mexicano. Era um lembrete de que, não importa os desafios, a fé e a família permaneciam como faróis de esperança e força.

Nesse dia de Páscoa, entre tradições e celebrações, os Cabello-Estrabao reafirmavam seus laços, tecendo novas memórias na trama de suas vidas, marcadas pela união, pela fé e pelo amor incondicional que os unia, uma bênção que transcenderia o tempo e as fronteiras.

Dois dias depois, era hora de voltar para Miami. A família Cabello-Estrabao carregava consigo as memórias alegres da celebração e a serenidade que a fé renovada trazia. No entanto, para Camila, a volta também marcava o início de uma jornada crucial: o último ano do ensino médio e a preparação para a aplicação à Brown University.

Durante o voo de retorno, Camila encontrou-se ao lado de Alejandro, compartilhando pensamentos e sonhos. O diálogo entre pai e filha fluiu naturalmente, revelando a profunda conexão e respeito mútuo que possuíam.

-Papai- Camila começou, hesitante- eu... eu realmente quero fazer a diferença. Quero que minha jornada na Brown seja mais do que apenas sobre mim. Quero usar minha educação para lutar pela liberdade de expressão, igualdade de gênero, e apoiar as minorias.

Alejandro olhou para a filha com um sorriso caloroso, seu coração enchendo-se de orgulho. -Mi hija- ele respondeu- sua mãe e eu sempre acreditamos na importância de lutar pelo que é justo. Nossas ideias podem ter raízes no marxismo, mas acima de tudo, somos discípulos da liberdade. Você cresceu em uma casa que acolheu amigos que foram rejeitados por serem quem são. Sua compaixão e desejo de fazer a diferença são o que o mundo precisa.

-Papai, mas... e se eu falhar? E se eu não for capaz de...- Alejandro interrompeu, segurando a mão de Camila.

-Camila, falhar faz parte do crescimento. O importante é continuar lutando, continuar acreditando. Não importa o quão difícil seja o caminho, sua mãe e eu estaremos sempre ao seu lado. Sua voz é poderosa, e a educação será sua ferramenta mais forte. Lembre-se, o verdadeiro fracasso seria não tentar.

As palavras de Alejandro fortaleceram Camila, infundindo nela uma renovada determinação. Ao pousarem em Miami, ela sabia que os desafios que a aguardavam eram apenas o começo de sua jornada para se tornar uma força de mudança no mundo. E com o apoio inabalável de sua família, Camila estava pronta para enfrentar cada obstáculo, armada com os ideais de liberdade e justiça que formavam o núcleo de sua existência.

Horas após o desembarque, a família Cabello-Estrabao finalmente chegou em casa, trazendo consigo as lembranças calorosas e o espírito rejuvenescido de uma semana no México. A casa, que permanecera silenciosa e imóvel em sua ausência, parecia despertar com a energia vibrante da família. Enquanto Sinu e Alejandro cuidavam das malas, Camila e Sofia encontraram um momento de calmaria em meio ao caos do retorno.

Sofia, com seus olhos ainda brilhando com a maravilha das festividades de Páscoa, puxou Camila para o quarto que compartilhavam, um espaço repleto de sonhos e segredos entre irmãs. -Camila - ela começou, sua voz carregada de um misto de admiração e curiosidade infantil- você vai mesmo para uma universidade grande e importante? Você vai me deixar?- Camila, sentindo um aperto no coração com a pergunta de Sofia, ajoelhou-se para ficar no mesmo nível da irmã.

-Oh, Sofi - ela disse, com um sorriso doce- eu vou, sim. Mas isso não significa que vou te deixar. Estarei sempre aqui para você, não importa o quão longe eu esteja. E vou te ligar todas as noites de Domingo para te contar todas as histórias, como sempre fazemos.

Sofia, encorajada pelas palavras da irmã, envolveu Camila em um abraço apertado. - Promete que não vai esquecer de mim?- ela murmurou.

-Prometo, pequena. Nunca poderia esquecer de você- Camila assegurou, selando a promessa com um beijo na testa de Sofia.

Enquanto isso, na cozinha, Sinu e Alejandro encontravam-se em uma conversa mais séria. A preocupação com as finanças familiares pesava no ar, especialmente com a iminente partida de Camila para a Brown University.

-Sinu, eu sei que os próximos anos serão desafiadores- Alejandro começou, segurando as mãos de Sinu entre as suas.- Mas eu estive pensando... talvez eu possa trabalhar um turno a mais a partir de setembro. Isso deveria ajudar a cobrir os custos da universidade da Camila.

Sinu, com um olhar preocupado, acariciou o rosto de Alejandro.- Você já trabalha tanto, Alejandro. Não quero que se sobrecarregue ainda mais.

-Eu faço o que for necessário pela nossa família, Sinu. E pela Camila- Alejandro afirmou, sua determinação clara em seus olhos.- Quero que ela se concentre apenas em seus estudos, em alcançar seus sonhos. Ela tem um futuro brilhante pela frente, e faremos o que for preciso para apoiá-la.

Sinu assentiu, a gratidão e o amor transbordando de seu coração. - Juntos, podemos enfrentar qualquer coisa- ela disse, a confiança em sua voz refletindo a força do laço que unia a família Cabello-Estrabao.

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Narrador PoV
Memórias de Lauren Jauregui

Páscoa dos Jauregui-Gastonne
Abril de 62

Enquanto a manhã avançava, a chegada de mais membros da família Jauregui enriquecia ainda mais o tapear do piquenique de Páscoa. Michael, o pai silencioso e amoroso de Lauren, supervisionava a cena com um sorriso tranquilo, apreciando a união de sua família sob o sol primaveril. O momento ganhou um novo brilho com a chegada de Taylor, o irmão de Lauren, que havia feito a viagem de Boston a Nova York especialmente para a ocasião. Acompanhando-o estava Celine, uma jornalista francesa de espírito livre e futura noiva de Taylor, cuja presença trouxe uma lufada de ar fresco à reunião familiar.

Celine, com seu charme parisiense e olhar curioso, foi imediatamente atraída pela aura pensativa de Lauren. As duas encontraram um terreno comum na paixão pela literatura, e não demorou muito para que se vissem imersas em uma discussão vibrante sobre as obras de Virginia Woolf.

-Você já leu 'Orlando'?- Celine perguntou, seus olhos brilhando com entusiasmo.- É uma das minhas obras favoritas de Woolf. A maneira como ela explora a fluidez de gênero e a imortalidade... é simplesmente fascinante.

Lauren, surpresa e encantada com a profundidade da conversa, sorriu.- Sim, eu li. Woolf estava à frente de seu tempo, não acha? Sua habilidade de tecer questões complexas de identidade e tempo de maneira tão poética é incrível.

A conversa entre Lauren e Celine floresceu, cada uma compartilhando suas interpretações e admiração mútua pelas nuances das narrativas de Woolf. Nathan, que tentava encontrar um espaço na conversa, logo se viu relegado ao esquecimento, a complexidade e o fervor da discussão literária estando além de seu alcance.

Enquanto isso, Clara puxava Taylor para um canto mais reservado do parque, a expressão carregada de uma mistura de preocupação e curiosidade materna.- Taylor, eu preciso perguntar... você acha que... bem, que Lauren pode ser um pouco... frígida em relação a homens?- Clara murmurou, a palavra soando estranha mesmo em seu próprio ouvido.

Taylor, surpreso pela franqueza da mãe, soltou uma risada divertida.-Mãe, a Lauren não é frígida. Ela simplesmente não se deixou levar por convenções. Ela é inteligente, apaixonada por suas crenças e, honestamente, muito à frente de muitos de nós em termos de compreensão de si mesma e do mundo.

Clara, ainda não totalmente convencida, mas aliviada pela perspectiva de Taylor, assentiu lentamente.- Suponho que você tenha razão. Só quero que ela seja feliz, Taylor. Que encontre alguém que a compreenda e a ame pelo que ela é.

-Não se preocupe, mãe. Lauren encontrará seu caminho, do jeito dela- Taylor tranquilizou-a, colocando um braço carinhoso ao redor dos ombros de Clara.

Enquanto o piquenique de Páscoa prosseguia, a família Jauregui compartilhava momentos de alegria, risadas e reflexão, tecendo ainda mais os laços que os uniam. E, no meio de tudo isso, Lauren descobriu uma nova amiga em Celine, uma aliada no vasto mundo da literatura e das ideias, reafirmando a crença de que conexões verdadeiras surgem das mais inesperadas conversas.

Clara observava a interação entre Lauren e Celine, uma mistura de resignação e pragmatismo se formando em seu coração. Ela havia esperado, talvez ingenuamente, que Lauren mostrasse algum interesse por Nathan, mas a evidente conexão intelectual e emocional entre Lauren e Celine — ainda que apenas platônica — deixava claro que suas esperanças estavam mal colocadas.

Com um suspiro pesado, Clara virou-se em direção a Alexa, que observava as crianças brincando à distância, ainda mantendo uma postura reservada depois da conversa anterior. -Alexa! - Clara chamou, sua voz mais suave, tingida de uma nova decisão.- Querida, por que você não vai fazer companhia a Nathan? Parece que ele está se sentindo um pouco... excluído.

Alexa, surpresa pela mudança de tom de Clara, virou-se para encará-la, buscando sinais de repreensão. Em vez disso, encontrou um olhar de resignação e um leve aceno de cabeça, uma espécie de bênção não verbal. -Mas, tia Clara, eu pensei que...

Clara interrompeu, colocando a mão no ombro de Alexa.- Eu sei o que eu disse antes, mas... às vezes, precisamos nos adaptar às circunstâncias. Lauren claramente tem outros interesses, e bem, Nathan é um rapaz encantador. Seria bom tê-lo mais próximo da família, de qualquer forma. Quem sabe vocês dois não encontram algo em comum?

Alexa, embora inicialmente hesitante, não pôde deixar de sentir um lampejo de esperança e excitação com a perspectiva. Com um sorriso tímido, ela assentiu. -Está bem, tia Clara. Vou tentar.

Com passos leves, Alexa se aproximou de Nathan, que observava a cena familiar de uma certa distância, claramente se sentindo um pouco deslocado. -Oi, Nathan- ela começou, sua voz carregando uma mistura de nervosismo e cordialidade- Que tal explorarmos um pouco o parque? Ouvi dizer que tem uma linda vista do lago daqui.

Nathan, visivelmente aliviado por ser incluído, sorriu. -Isso soa ótimo, Alexa. Obrigado.

Enquanto Alexa e Nathan se afastavam, conversando amigavelmente, Clara observava de longe, um sentimento de contentamento crescendo dentro dela. Talvez as coisas não estivessem seguindo exatamente como ela havia planejado, mas a possibilidade de Nathan se tornar parte da família, de uma forma ou de outra, trazia-lhe um conforto inesperado. A vida, Clara sabia, estava cheia de surpresas, e aprender a navegar suas águas imprevisíveis era uma arte que ela estava disposta a dominar.

O piquenique de Páscoa seguia, cada membro da família Jauregui encontrava sua própria pequena felicidade naquele dia de celebração, lembrando-os de que, no final das contas, o que realmente importava era o amor e a união que compartilhavam.

À medida que a tarde se desdobrava, Clara observava sua família com um misto de alegria e reflexão. Seu olhar, sempre atento às dinâmicas e interações entre seus filhos, captou um momento particularmente sereno que a fez pausar e reconsiderar suas percepções.

Lauren, usualmente reservada e absorta em seus próprios pensamentos, estava de pé à margem do aglomerado familiar, seus olhos fixos em Celine, a noiva francesa de seu irmão. Havia algo no modo como Lauren a observava que capturou a atenção de Clara. Não era mera admiração ou a curiosidade que se esperaria pela futura cunhada; era algo mais profundo, uma espécie de fascinação luminosa que Clara nunca vira antes nos olhos de sua filha.

O olhar de Lauren brilhava com uma intensidade silenciosa, traçando cada gesto e sorriso de Celine com uma apreciação quase palpável. Clara, vendo isso, sentiu uma onda de compreensão e incerteza invadir seu coração. Por um momento, tudo o que ela sabia sobre sua filha parecia balançar nas fundações de suas expectativas.

Instintivamente, Clara levou a mão ao crucifixo que pendia de seu pescoço, um gesto de fé e busca por orientação. Enquanto seus dedos acariciavam o metal frio, seus pensamentos giravam tumultuados. Estavam nos anos 60, uma época de mudança e desafios aos padrões tradicionais. Clara sabia disso, apreciava até certo ponto as novas liberdades e ideias que floresciam ao redor. Mas, quando se tratava de sua própria família, de sua própria filha, a incerteza a fazia ansiar por algo mais familiar, mais seguro.

"Tudo bem se Lauren for para a faculdade, abrir sua mente, explorar o mundo," Clara murmurou para si mesma, uma prece silenciosa misturando-se com suas reflexões. "Mas, por favor, deixe que ela encontre um caminho para a maternidade... Não peço muito, apenas um neto... Ela até pode se casar com um 'comunistinha de universidade', desde que seja um homem... Que a faça mulher...mãe."

Esse desejo, nascido mais do amor do que da rigidez, refletia o conflito interior de Clara. Ela queria que Lauren fosse livre, mas também ansiava por vê-la seguir um caminho que lhe fosse familiar e reconfortante. A mãe sabia que o amor não escolhia forma ou direção, e ainda assim, a ideia de desviar-se muito dos padrões conhecidos lhe causava inquietação.

Enquanto Clara contemplava o futuro, a tarde lentamente cedia lugar ao crepúsculo, envolvendo a família Jauregui em sombras suaves. E naquele momento de transição, Clara fez uma promessa silenciosa a si mesma: manter seu coração e sua mente abertos, permitindo que o amor, em todas as suas manifestações, fosse o guia na jornada de sua família, mesmo quando esse caminho a levasse para terras desconhecidas.

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Narrador PoV
Passagem de Tempo (Abril, Maio e Junho de 62)
Camila Cabello

À medida que as últimas reminiscências das férias de Páscoa desapareciam no retrovisor do tempo, o final de abril e o início de maio trouxeram consigo um período de intensa dedicação e foco para Camila Cabello. A jovem, cujo coração ainda pulsava com os ritmos e cores do México, agora se via imersa em um mar de livros, notas e prazos. Os SATs, um marco temido por muitos estudantes em seu caminho para a universidade, estavam no horizonte, e Camila enfrentava esse desafio com a mesma determinação e paixão que definiam sua essência.

As manhãs começavam cedo para Camila, frequentemente antes mesmo do sol lançar seus primeiros raios dourados sobre Miami. Seu quarto, um santuário de sonhos e aspirações, transformou-se em uma sala de estudos. Pilhas de livros de preparação para os SATs, flashcards cobertos de fórmulas matemáticas e regras gramaticais, e um caderno constantemente aberto com práticas de leitura e escrita se espalhavam por toda a mesa. Camila mergulhava nesse universo acadêmico com fervor, guiada pelo farol de seu sonho de ingressar na Brown University.

Os finais de semana não eram diferentes, exceto pela presença constante e encorajadora de Sinu e Alejandro, que faziam questão de fornecer a Camila não apenas suporte moral, mas também sessões de estudo improvisadas, onde compartilhavam conhecimentos de suas próprias áreas de expertise. Sofia, sempre curiosa, às vezes se juntava à irmã, admirando a dedicação de Camila e prometendo seguir seus passos um dia.

À medida que maio avançava, outro evento significativo se aproximava no calendário de Camila: sua formatura do ensino médio em junho. Entre as sessões de estudo para os SATs, Camila e sua família também começaram a preparar-se para essa celebração. O vestido de formatura foi cuidadosamente escolhido, um símbolo tanto de conclusão quanto de novos começos. As discussões sobre a cerimônia e a festa subsequente enchiam a casa de uma energia palpável, um misto de nostalgia pelo que estava terminando e expectativa pelo que estava por vir.

Alejandro, sempre o jornalista, documentava cada momento, capturando não apenas em fotos, mas em palavras, a jornada de sua filha. Sinu, com seu olhar de arquiteta, imaginava a formatura como um espaço cuidadosamente projetado para celebrar a conquista de Camila. Sofia, embora jovem, entendia a importância do momento e planejava sua própria contribuição, uma dança especial para a festa.

Em meio a essa frenética preparação, Camila encontrava momentos de reflexão. Cada página virada, cada resposta marcada em um teste prático, cada detalhe da formatura, era um passo em direção ao futuro que ela sonhava para si mesma. E enquanto o mês de maio se desdobrava, Camila Cabello, apoiada pelo amor e pela força de sua família, avançava firme em direção aos seus sonhos, pronta para fechar um capítulo de sua vida e começar outro, repleto de promessas e possibilidades infinitas.

***

Abril de 2018

Diário de Lauren Jauregui
Horas após a palestra na Brown

Enquanto me preparava para a aula show na Brown University, sentia uma mescla de expectativa e nervosismo. O tema "Memória e Tempo" é um dos pilares do meu trabalho acadêmico, e a oportunidade de dialogar sobre isso com alunos de doutorado era tanto um desafio quanto um privilégio.

O auditório estava cheio, e entre os rostos atentos, um em particular me chamou a atenção: um aluno de doutorado, cuja presença emanava uma curiosidade ardente. Ele levantou a mão, dando início a um diálogo que se tornaria o cerne da nossa aula.

-Drª. Jauregui- ele começou- seu trabalho sobre a interseção entre memória e tempo, especialmente através das lentes de Deleuze, é fascinante. Poderia elaborar sobre como essa interseção afeta nossa percepção da realidade?"

Eu sorri, acenando com a cabeça. - Claro, é uma excelente questão. Deleuze nos desafia a repensar a memória não como um repositório estático do passado, mas como algo dinâmico, que se entrelaça com o presente e o futuro. Ele sugere que o tempo não é linear, mas composto por múltiplas camadas que coexistem e se influenciam mutuamente.

O aluno assentiu, incentivando-me a continuar.

-Isso significa- prossegui- que cada momento vivido não é apenas um ponto isolado em nossa linha do tempo pessoal. É, ao contrário, parte de um continuum, onde o passado, o presente e o futuro se dobram e se moldam de maneiras complexas. Isso nos dá uma liberdade incrível; a liberdade de reinterpretar nossas memórias, de resignificar nossas experiências.

Havia um brilho de compreensão em seus olhos.- Então, na sua visão, a memória tem o poder de transformar nossa experiência do tempo?

-Exatamente- eu concordei.- A memória não é passiva. Ela atua ativamente sobre nosso presente, influenciando nossas decisões, nossos sentimentos, e até mesmo nossas expectativas para o futuro. Por meio da memória, podemos navegar pelo tempo de forma não linear, revisitando e reimaginando nossas experiências.

Ele se inclinou para frente, claramente envolvido.-E como isso se aplica à prática? Como podemos utilizar esse entendimento em nosso dia a dia, ou mesmo em nossa pesquisa?

-Isso abre um campo vasto para exploração- eu respondi, entusiasmada com sua pergunta. -Na prática, isso significa que podemos abordar problemas antigos sob novas perspectivas, permitindo uma forma de pensamento mais flexível e criativa. Na pesquisa, isso nos encoraja a questionar as narrativas estabelecidas, a buscar entender a multiplicidade de vozes e perspectivas que compõem qualquer evento ou história.

O diálogo se estendeu, com mais alunos se juntando à conversa, mas foi essa troca inicial que definiu o tom da aula. Saí do auditório sentindo uma profunda gratidão pela oportunidade de compartilhar, aprender e crescer juntos em nossa compreensão da complexidade humana.

Esse encontro, e especialmente o diálogo com aquele aluno de doutorado, reafirmou minha crença no poder da educação como uma ferramenta para explorar a vastidão da experiência humana, atravessando as barreiras do tempo e da memória.

Hoje, enquanto revivia a aula show na Brown, meu pensamento se desviou para um momento crucial de nosso passado, um daqueles pontos de inflexão que alteram a trajetória de uma vida. Lembrei-me do dia em que a carta da Brown University chegou em casa. É uma memória que, até hoje, ressoa com uma intensidade quase palpável, uma intersecção de caminhos que definiu tanto do que viria a seguir.

Aquele dia começou como qualquer outro, com a rotina familiar de sempre. Mas, ao abrir a caixa de correio, algo parecia diferente. Havia uma aura de possibilidade, um sussurro de mudança no ar. E ali estava ela: uma envelope grosso, selado com o emblema da Brown. Meu coração batia tão forte que podia ouvir seu eco em meus ouvidos, e minhas mãos tremiam ao segurar o futuro literal em minhas mãos.

Abrir aquela carta foi um ato carregado de esperança e medo. Esperança pelo que poderia ser, medo pelo que significaria se o sonho não se concretizasse. E então, as palavras saltaram para mim, claras e incontestáveis: "Parabéns!" Eu havia sido aceita. Naquele momento, senti como se todo o universo tivesse se alinhado para sussurrar um encorajamento silencioso, um reconhecimento de todas as lutas, dúvidas e triunfos que me trouxeram até ali.

Lembro-me de correr pela casa, a carta firmemente presa em minhas mãos, procurando por meus pais. A alegria e o orgulho em seus olhos quando compartilhei a notícia são memórias que guardo como tesouros, lembranças que me lembram do amor incondicional e do apoio que sempre recebi da minha família.

Aquele momento mudou tudo. Abriu um mundo de possibilidades, lançando-me em um caminho que estava repleto de desafios, sim, mas também de crescimento, aprendizado e, acima de tudo, de tornar-se. Tornar-se quem eu era destinada a ser, explorar as profundezas de minha própria mente e coração, e contribuir, de alguma forma, para o vasto tapeçar da humanidade.

Através destas páginas, não posso deixar de refletir sobre como aquele momento foi mais do que apenas a realização de um sonho pessoal. Foi um lembrete de que os momentos de transformação vêm carregados de potencial, não apenas para alterar o curso de uma única vida, mas para tocar as vidas daqueles ao nosso redor, para inspirar e ser inspirado, para ensinar e aprender.

Enquanto continuo nesta jornada, carrego essa memória comigo, um farol que ilumina tanto o passado quanto o caminho à frente. E, onde quer que essa estrada me leve, sei que os momentos que compartilhamos, as lições que aprendemos, e o amor que temos são os verdadeiros pontos de luz que guiam nossos caminhos.

***

Narrador PoV
Junho de 62

No momento em que a carta da Brown chegou, a atmosfera na casa dos Jauregui transformou-se. Era um dia como qualquer outro, até que Lauren, com as mãos tremendo levemente, abriu o envelope que selaria seu destino. As palavras "Parabéns!" saltaram para fora do papel, desencadeando uma onda de emoção tão palpável que preencheu cada canto da casa.

Clara, ao ouvir o grito de alegria de Lauren, correu para ver o que havia acontecido. Ao perceber a aceitação de sua filha na Brown, seus olhos se encheram de lágrimas de orgulho e alegria. -Minha querida, eu sabia que você conseguiria!- ela exclamou, abraçando Lauren apertado.

Sem perder um segundo, Clara pegou o telefone, a excitação borbulhando em cada palavra que dizia. -Vamos celebrar! - ela anunciou- Um jantar neste final de semana, para comemorar a conquista de Lauren. Vou ligar para todos!

Lauren, ainda absorvendo a realidade de seu sonho tornado realidade, sorriu, um pensamento cruzando sua mente. -Mama, você poderia convidar o Taylor e a Celine também?- ela pediu-Seria especial tê-los conosco.

Clara assentiu, sua expressão suavizando ao mencionar o irmão e a futura cunhada de Lauren. -É claro, querida. Eles ficarão encantados.

O jantar de celebração foi um evento repleto de risadas, histórias e brindes à futura jornada de Lauren. Quando Taylor e Celine chegaram, a atmosfera se enriqueceu ainda mais. Celine, com seu charme e elegância parisiense, irradiava felicidade por Lauren.

Após o jantar, enquanto ajudavam a limpar a mesa, Lauren encontrou um momento para conversar com Celine.-Estou tão feliz que vocês puderam vir- Lauren disse, seu coração ainda batendo forte pela emoção do dia.

Celine sorriu, colocando uma mão gentil no ombro de Lauren. -Laurrren, eu estou incrivelmente orgulhosa de você- ela expressou sinceramente.- Sua dedicação e paixão são inspiradoras. A Brown é afortunada por ter alguém como você.

As palavras de Celine aqueceram o coração de Lauren, e quando as duas se abraçaram, Lauren sentiu algo que não esperava. Seu coração disparou, não apenas pelo orgulho e alegria, mas por uma conexão que ela lutava para entender. Lauren recuou um pouco, um sentimento de culpa misturando-se à gratidão pelo apoio de Celine. -Obrigada, Celine. Significa muito para mim- ela conseguiu dizer, escondendo a confusão que o abraço havia despertado.

A noite terminou em notas altas de celebração e promessas de futuros brilhantes. No entanto, para Lauren, além da alegria indiscutível de sua aceitação na Brown, uma nova jornada de autodescoberta estava apenas começando, uma jornada onde o coração e a mente muitas vezes navegam por águas desconhecidas.

Nos dias que se seguiram à celebração da aceitação de Lauren na Brown University, uma preocupação crescente começou a tomar conta de Clara. A ideia de sua filha caçula, e única filha, se mudar para Providence - uma cidade desconhecida e repleta de ideais que ela considerava radicalmente libertários e comunais - enchia seu coração de mãe com uma ansiedade quase palpável.

Numa noite tranquila, após o jantar, Clara decidiu compartilhar suas inquietações com seu marido, Mike. Sentados no sofá da sala de estar, o silêncio confortável entre eles foi quebrado quando Clara começou a falar, sua voz trêmula revelando o tumulto interior que sentia.

-Mike, estou preocupada com a Lauren- ela confessou, entrelaçando seus dedos nervosamente.-Providence é tão distante, e com todos esses ideais...libertinos demais, comunistas em excesso. Como vamos garantir que ela esteja segura e focada em seus estudos, sem se perder nessas influências?

Mike, sempre o pilar de calma e razão na família, ouviu atentamente, seus olhos gentis encontrando os de Clara. -Eu entendo suas preocupações, Clara- ele disse, apertando a mão dela em sinal de apoio.-Mas eu já pensei nisso. Encontrei uma solução que pode aliviar nossas preocupações.

Clara olhou para ele, uma centelha de esperança acendendo-se em seus olhos.-O que você encontrou? ela perguntou, ansiosa.

-Uma casa dentro do campus da universidade-Mike revelou.-É uma residência apenas para moças, longe da perturbação masculina constante. E o melhor de tudo, é supervisionada por duas professoras do curso de administração. Elas têm uma reputação excelente por manter um ambiente seguro e focado nos estudos.

A preocupação no rosto de Clara começou a se dissipar, substituída por um alívio visível. -Isso soa... perfeito, na verdade- ela admitiu, um sorriso grato começando a formar-se em seus lábios.-Você já falou com a Lauren sobre isso?

-Não ainda- Mike respondeu.-Queria ter certeza de que você estaria a bordo com a ideia primeiro. Mas tenho um bom pressentimento de que Lauren vai gostar. Vai dar a ela a liberdade de explorar essa nova fase da vida dela, enquanto nos dá a tranquilidade de saber que ela está em um ambiente seguro e propício para o estudo.

Clara assentiu, sua mente mais tranquila. -Você sempre sabe como acalmar meus medos, Mike. Vamos falar com ela amanhã. - ela disse, apoiando a cabeça no ombro dele, sentindo-se agradecida por ter um parceiro tão atento e previdente.

A solução encontrada por Mike não apenas aliviou as preocupações de Clara, mas também preparou o caminho para que Lauren embarcasse em sua jornada universitária com confiança e segurança. Era um compromisso perfeito entre proteger e dar liberdade, permitindo que Lauren crescesse e aprendesse, não apenas academicamente, mas como pessoa, em um ambiente que respeitava tanto sua independência quanto a preocupação amorosa de seus pais.

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