A chave
Quando já estavam dentro do edifício, Dominik fechou a porta. Procuraram um sítio onde ficar. Encontraram um rapidamente e caíram no chão. Estavam molhados e cansados.
— Estais todos bem? — perguntou Luke.
Todos murmuraram um sim. A chuva podia ouvir-se, a embater violentamente contra as janelas. O céu estava tao escuro que lembrava o carvão. A temperatura era fria, em volta dos 5Cº.
Kennedy apertou o braço de Darwin e começou a murmurar coisas baixinho. Apontava para a perna, que tinha um pouco de sangue a rodeá-la.
— Calma — sussurrou ele.
Toucou na perna dela, e Ken contorceu-se. Levantou o tecido de fato preto e examinou a ferida.
— Está apenas um pouco inchada. — disse Jace por trás dele — Fui a umas aulinhas de medicina.
Ela estava um pouco tímida. Olhou mais uns segundos para a perna e depois saiu em direção da casa de banho. Quando voltou tinha nas mãos alguns materiais de primeiros auxílios. Colocou-os no chão e começou com o seu trabalho.
— Pronto!
Tinha a perna vendada por um tecido branco e já não se via qualquer resto de sangue. Dominik deu-lhe a mão, ajudando-a a levantar e sentou-a depois com cuidado numa cadeira junto de uma grande mesa de madeira. Os outros também se sentaram.
Ouve um largo silêncio, até Jace o interromper.
— Vamos morrer?
A sua voz notava-se trémula. Luke suspirou e fixou os olhos da irmã. Agarrou-lhe nas mãos e disse:
— Não te vai acontecer nada Jacy
Jace sorriu, mostrando as suas duas covinhas nas bochechas. Fazia muito que o irmão não a tratava por Jacy. A última vez que se lembrava de Luke tê-la chamado assim fora há uns anos, depois de Nonna, a sua avó materna ter falecido de um terrível câncer. Ouviu-se um relâmpago, e um segundo depois o céu iluminou-se.
— O que vamos fazer agora? — perguntou Luke.
— Não sei. Quer dizer... — Kennedy humedeceu os lábios — é suposto fazer-mos alguma coisa?
Ninguém respondeu de seguida. Ouviu-se outro relâmpago.
— Precisamos de armas. — a voz de Luke era um pouco rude, marcada pelo cansaço.
— E onde á que as arranjamos?
— Está a chover muito, o mais provável seria ficarmos com uma gripe.
Todos riram.
— Então o que sugeres? Ficarmos aqui até a chuva parar?
Notava-se algum nervosismo na voz de Dominik.
— Calma. É melhor procurarmos comida.
— Sim, eu estou a morrer de fome.
— Vou contigo Luke. — disse Dominik Luke.
Ele não estava a fazer aquilo para ser amável, era apenas uma questão de segurança e prevenção. Saíram da sala, ficando apenas Kennedy e Jace na sala.
— Parece que ficamos sozinhas. — disse Jace. — Ainda te dói a perna?
— Não, apenas um pouco. E...obrigado.
Ela sorriu e assentiu. "Que fofa" pensou Kennedy.
— Então, hum, sois casados? — perguntou Jace.
— Huh? Quem?
Ela riu-se.
— Tu e o Dom!
Agora foi Kennedy quem se riu, as gargalhadas.
— Claro que não!
Jace mordeu o lábio inferior.
— Namorados?
— Não.
— Certeza? — insistiu Jace.
— Absoluta.
Jace mexeu no cabelo loiro e depois ficou a olhar para Ken.
— O que foi? — perguntou Kennedy.
Ela pareceu ficar surpreendida pela reação de Ken.
— Oh, nada. Só que és linda.
"Que fofura" pensou Kennedy.
— Falou a modelo perfeita.
Ambas riram.
— E mudando de assunto... Tu és um...sobrevivente?
Kennedy apenas a encarou, confusa.
— Sabes o que aconteceu? Sabes se...
— Não Jace, não faço a mínima ideia. — Kennedy suspirou — Estou tao confusa como tu.
Jace abaixou a cabeça.
— Quer dizer, eu sinto como se me tivesse apagado a mente. Apenas de lembro de pequenas coisas...Quando me tentou lembrar de alguma coisa fico com uma dor de cabeça infernal.
— Eu também sinto o mesmo Kennedy.
Jace suspirou.
— E por acaso... não acordas-te no meio de um lago certo?
Kennedy ficou surpreendida com a pergunta rápida dela.
— Como assim?
Jace desviou uma madeixa loira do rosto, fechando os olhos por alguns segundos como se o que fosse contar lhe causasse ainda dor.
— Quando abri os olhos de repente, não conseguia ver nada. Parecia que a minha visão estava turba. Era como se me tivessem tapado os olhos com um pano transparente, mas não completamente. Sentia o corpo flutuar, e depois quando me lembrei de respirar, foi água o que senti, e não ar. Ao início pensei que estava apenas num sonho, num daqueles mesmo maus, mas quando fechei os olhos e os abri novamente, ainda estava lá. — Jace suspirou — Depois olhei para cima e vi uma espécie de luz. Olhei em volta, e foi então que percebi que estava no fundo de um lago. Nadei até ao cimo, estava quase a perder a consciência mas graças a Deus, lá consegui. Quando cheguei ao cimo, vi o Luke em cima da areia, ainda molhado, pelo que percebi que também tinha acordado como eu.
— Wow — murmurou Kennedy. — Eu acordei... desorientada. Sentia-me também flutuar. Então percebi que tudo o que via estava ao contrário. Olhei para cima e vi que o meu pé estava preso a uma corda. Estava literalmente pendurada de uma árvore.
Jace fitou o chão, não sabia o que dizer.
— Sabes Jace, por vezes penso que tudo isto é...impossível.
Jace ia responder quando os seus olhos captaram uma luzinha azul. Kennedy ia perguntar-lhe o que se passava mas ela pôs o dedo indicador nos lábios. Levantou-se e Kennedy foi atrás dela. Dirigiu-se até um pequeno armário de madeira velha, com as janelas feitas de vidro que conseguiam mostrar uma luzinha azul. Jace abriu a porta lentamente e o brilho foi ficando menos intenso, até desaparecer. Agora via-se um objeto. Uma chave.
Jace pegou nela. Parecia antiga. Era de um tom entre prateado e dourado. As duas examinaram o objeto. Tinha diferentes símbolos por todos lados. Enigmas e símbolos.
— Kennedy?
Uma voz masculina vinha de trás delas. Luke e Dominik estava à entrada junto da porta, mas não só. Seguravam um homem. Alto, com cerca de um metro e oitenta e cinco, musculado e de cabelo preto. Olhou para elas. Tinha olhos verdes e escuros.
— Encontramo-lo no apartamento do lado. — disse Luke.
— E tinha isto. — Dominik elevou uma arma na mão direita.
— Diz que se chama Gabriel, e quando lhe perguntamos como chegou aqui, disse que tinha acordado de cabeça para baixo, pendurado de uma árvore.
Kennedy avançou até eles.
— Soltai-o!
Os dois se entreolharam, deixando o homem por fim cair no chão de joelhos. Gabriel massageou os braços doridos e levantou-se.
— Onde encontras-te a arma? — perguntou Jace.
— Num quarto. Apartamento doze.
Jace acenou e disse:
— Rapazes, olhai o que encontramos.
Jace estendeu a mão, mostrando a chave. Os três a observaram atentamente.
— É uma chave dos tempos antigos. — disse Gabriel pensativo. — Diria que entre os anos mil setecentos e mil oitocentos, feita à mão pelos gregos.
Todos o olharam.
— Como sabes isso? — perguntou Dominik apontando-lhe com a arma. Gabriel suspirou.
— A minha mãe era arqueóloga, chegou a ir um mês a Grécia e Egipto, a explorar os templos antigos. E o meu pai era uma espécie de cientista, examinava os objetos antigos, eu por vezes ajudava-os. — explicou ele.
Seguiu-se um silêncio.
— Sabes o que querem dizer estes símbolos? — perguntou Jace.
— Jace! Ainda não sabemos se ele é de confiança.
— Se não fosse, não tinha dito nada daquilo.
— Se calhar até tavas a mentir — disse Luke.
— Parai de discutir. Talvez não acreditais no que vou dizer mas eu quero sair daqui tanto como vocês. — disse Gabriel, estendendo a mão — Por isso, acho que esta chave nos vai ser muito útil. E pelo que percebi, sou o único aqui que percebe disto. Então, ou confiais em mim, ou vou-me embora e ficais aqui a tentar perceber o que dizem esses símbolos.
Luke suspirou e acenou a Jace, que ainda desconfiada, colocou a chave na mão de Gabriel.
— Okay...— ele começou a dar-lhe voltas à chave.
— Aqui — Gabriel apontou para o símbolo no cimo da chave. — Quer dizer Poder. Neste — apontou para o lado direito. — Enigma. Este, Dominio.
— E este aqui? — Jace apontou para o símbolo do meio, que mais espaço ocupava.
— Hum este... — examinou o símbolo e arregalou os olhos, parecendo assustado. — Este diz, Inferno.
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