01 ५ 𝖚m zoológico cruel

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CAPÍTULO 01
𝖚m zoológico cruel

; 26 de novembro de 2221

O TREM CHACOALHAVA-SE de um lado pro outro sem espaço pro sossêgo. No escuro, Malia podia sentir o calor do olhar de sua mãe sendo seguido de alguns flashes de luz que invadiam o vagão pelas frestas que havia do lado de fora.

Ela estava sentada de maneira desconfortável ao lado de um homem três vezes maior que ela e que usava roupas como as do exército, ele não ousou relaxar sua postura nem por um instante.

Malia se sentia como um animal, sendo transportada daquela maneira; uma zebra enjaulada sem escolha de seu destino. Aos seis anos já se imaginava abrindo a porta e se jogando nos trilhos numa tentativa de escapar dali.
Mas era claro que falharia.

Havia mais dos ‘animais’ sendo levados com ela àquele lugar. Gally, um tigre filhote separado de sua ninhada. Chuck, o ursinho fofinho. Minho, o guepardo. Newt, Annabeth e Sônia faziam parte dos passarinhos que caíram do ninho e que a mãe não voltou para buscar. Já os outros estavam distantes demais para que Malia pudesse denomina-los.

Ela sabia o nome de todos eles. O nome verdadeiro deles, mas, estes, não cabiam mais.

Malia tinha os estudado na presença de sua mãe antes da seleção para quando todos se tornassem meros ratos de laboratório.

Stephen era o rato com mais potencial. Ava determinara isso assim que o nomeou por conta própria de uma nova forma. Thomas. Apenas Thomas.

E não havia um dia sequer em que a mulher não tentasse transpassar o legado científico, heróico e medicinal para sua filha. Falhando em todas as vezes porque Malia era tão resistente quanto uma muralha.

A garota não concordava em prender crianças numa sala gelada de laboratório, não aceitava que roubassem suas memórias e os tirassem de suas famílias. Ela não queria ter que mata-los para que outras pessoas pudessem viver.

Ninguém deveria decidir quem é mais merecedor, isso não cabia ao C.R.U.E.L.

Malia chorava toda vez que Ava se aproximava com líquidos coloridos de soro. Correndo e se negando a participar dos planos maquiavélicos que envolviam "a cura do planeta".

Certa vez, correu tanto que parou em uma das salas onde corpos já não tão úteis em vida eram pendurados de cabeça para baixo em uma espécie de drenagem.

Naquele dia, Mary Cooper estava trabalhando naquela sala, e assim que avistou a criança, correu para tapar seus olhos e ouvidos. Malia não teve forças para gritar, mas sua garganta sufocou tanto que desmaiou aos pés da mais velha.

— Vou tirar você daqui, peixinha — a de cabelos escuros assegurou, enquanto levava Malia no colo para seu quarto. — Vou tirar nós duas desse lugar inteiro, eu prometo.

Mas então, um ano se passou e Malia ainda dormia e acordava no mesmo inferno em que nasceu. Ainda pegava o trem com sua mãe, e ainda fazia amigos para perde-los depois.

Ao menos podia se distrair um pouco antes da tragédia, por uns três anos, ou quatro se tivesse sorte. Tempo suficiente para criar laços com os outros e tudo se tornar cinco vezes pior.

Ainda no vagão, Malia notou os olhos amedrontados de todos, mas um em específico a chamou atenção. Thomas era o único que na escuridão observava cada canto daquele pequeno espaço como se pudesse sair voando por alguma das minúsculas frestas, ou arrebentar a porta com um sopro. Ela o encarou por um tempo, esperando até que ele a enxergasse.

Quando Thomas a viu, se manteve em seu silêncio absoluto, a observando com curiosidade porque, dentre todas as outras crianças ali, ela era a única que não parecia ter perdido uma família. Era a única com um jaleco branco perfeitamente ajustado para seu pequeno tamanho, e com as letras C.R.U.E.L bordadas no bolso.

Malia piscou com seus dois olhinhos de jabuticaba tão abertos quanto os dele, e fez o que qualquer outra criança faria enquanto tenta ajudar.

— Não se preocupe, amanhã você não se lembrará de mais nada!

O que, na verdade, só piorou as coisas. Porque a respiração de Thomas se tornou pesada e ele começou a cantarolar alguma coisa inventada.

Stephen, Stephen, Stephen. Meu nome é Stephen.

Thomas sabia tanto quanto Malia, que roubariam suas memórias. Que roubariam seu nome. Ele relutou contra isso naquele momento, e continuou relutando nos próximos dois dias.

Até ser torturado.

•    •    •

; 03 de dezembro de 2221

NENHUMA PALAVRA SAIU da boca de Malia desde o instante em que entrou no quarto com a placa 30K. E já se faziam uns seis minutos.

Ela não tinha permissão para estar naquele lugar, mas já estava acostumada a infringir leis sem se preocupar com as consequências. Ela sabia que seria protegida.

"...se ela está se interessando pelas crianças, talvez mais tarde possa se interessar pela causa! Malia será tão boa quanto todos nós.". Afirmava Ava.

O último quarto invadido tinha sido naquele mesmo dia, pela manhã, o de Newt. Malia o via pelo menos três vezes a cada semana. E desta vez levara livros para colorirem juntos.

Estava familiarizada a ver Minho, Sonya e Annabeth também, mas no quarto com a famigerada placa 30K, nunca. Nunca sentiu coragem, só medo.

Thomas ficava ali. Sozinho. Sendo retirado todos os dias por médicos que o levavam a exames rotineiros e a testes esgotantes até que se provasse bom o suficiente para se tornar um dos deles.

Malia teve medo de iniciar uma conversa porque a última — e primeira — entre eles não havia sido nem de longe agradável, entretanto Thomas não agiu como se se lembrasse.

— O que é isso na sua mão? — perguntou ele depois de um tempo, sentado no canto da cama, curioso. Não interagia com outras crianças e ansiava desesperadamente por um amigo.

Ela olhou para o objeto que carregava e só então percebeu que ainda não o havia escondido dentro dos bolsos de seu casaco. Ou seja, tinha andando por inúmeros corredores como se aquilo fosse liberado.

— É só uma vela — deu de ombros, guardando o mais rápido possível. — Não é importante.

— Parece importante — Thomas insistiu, receoso. Tinha medo de que se soasse incoveniente demais, ela o deixasse sozinho novamente, e ele não aguentava mais ficar sozinho.

Desta forma, Malia notou que se não conversassem, não se tornariam amigos, e ele aparentava ser especial demais para não se tornar amigo dela — especial porque Ava dizia que dentre todos os outros, ele era o mais inteligente, mais até que sua filha.

— Eu uso quando me escondo em lugares muito escuros, mas você não pode contar para ninguém — a garotinha se aproximou devagar, sentando-se na outra ponta da cama. Ela sabia que ele não contaria a ninguém porque ele não tinha ninguém para contar. — As vezes, eles vem me buscar porque tenho um problema. Mas a solução deles é dolorosa e eu não quero passar por ela, então me escondo em lugares que alguém projetou para mim — Thomas ouvia tudo atentamente sem tirar os olhos dela. Ele queria memorizar os detalhes de seu rosto caso precisasse fingir conversar com alguém quando ela o deixasse para sempre. — O escuro me deixa sem ar, então, com o fósforo, eu acendo a vela. Ela manda embora a escuridão.

Thomas pensou bem antes de responder. Era uma história legal e ele não tinha uma dessas para contar. Queria poder ter algo interessante a dizer para mante-la ali, mas não tinha.

— Eu queria ter tido uma vela para me esconder do Randall — respondeu por fim.

Randall Spilker havia usado em Thomas um simulador de dor para que ele aceitasse seu novo nome e abandonasse de vez o antigo. E funcionou, mas o garoto teve de sofrer muito antes da conquista do homem.

Malia sabia, ela sabia de tudo. Sabia o que queriam dela, de Thomas, de Teresa e de mais alguns. Ela sabia que podia lutar contra isso, era protegida, eles não. Eles eram forçados.

Eles dizem que os loucos estão lá fora, e que os venceremos, mas é mentira. Os loucos estão aqui dentro — sussurrou ela, retribuindo o olhar do garoto que ainda não havia vacilado. — Eles são os loucos.

Thomas quis sorrir mas se conteve. Ele se sentiu compreendido já que pensava da mesma forma.
Um calor confortável cresceu em seu coração, como se a chama de uma vela estivesse o aquecendo numa noite de inverno.

— Você quer brincar? — ele perguntou e ela assentiu de imediato.

Malia retirou lápis coloridos e papel do outro bolso. O entregou uma folha e se sentaram no chão. Combinaram que desenhariam um ao outro.

Thomas terminou primeiro e esperou até que Paige concluísse o cinza de sua camiseta sem estampa.

— Por que meus cílios ficaram desse tamanho e eu estou de batom? — ele encarou o desenho dela com uma sobrancelha levantada em tom de curiosidade.

— Não entendi — ela puxou o desenho contra seu corpo, escondendo a imagem. — Você está normal! Agora me deixa ver como eu fiquei.

Thomas revelou o que tinha feito e arrancou gargalhadas da garota que rapidamente pos as mãos sobre a boca para abafar o som.

— Do que você está rindo? — indagou o de cabelos negros, franzindo o cenho.

— Por que eu tenho asas? — perguntou, ainda rindo.

Porque você parece um anjo. Foi o que ele pensou. Porque você falou comigo como um anjo. Porque dizem que anjos são as criaturas mais lindas de todo o universo. Porque me mostrou que ainda há algo bom por aqui. Porque é uma criança e todas as crianças são anjos.

— Porque sim — ele deu ombros, sentindo as bochechas corarem quando ela estreitou os olhos, desconfiada.

— Não tem problema se você acredita em fadas — Malia riu, genuína. — Eu acredito em sereias, apesar de nunca ter visto uma. Nem o mar eu nunca vi.

— Não acredito em fadas, nem em sereias — respondeu, guardando as informações recebidas sobre ela. Não poderia jamais esquecer de sua única amiga. Essa memória não deixaria C.R.U.E.L roubar. — Eu desenhei as asas porque parecia legal, igual você com os meus cílios do tamanho dos meus cabelos que você pintou de rosa.

Malia sorriu com os dentes, travessa, e pela primeira vez Thomas retribuiu, com um sorriso de canto mínimo, mas retribuiu.

— Você não me disse o seu nome — disse ele, desenchavido quando a garota recolheu os desenhos e os materiais, e se levantou.

— Malia — ela abriu a porta e saiu, depois voltou, mostrando só os olhos e o nariz pela fresta. — Você pode me chamar de 'Lia.

Ele assentiu, feliz, porque ela respondeu como se fossem se ver de novo. E então, a porta se fechou.

— Eu não vou esquecer do seu nome, Malia — cochichou Thomas, prometendo a si mesmo. — Não vou me esquecer de você.

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