As paredes me apontam dedos
Mas, minha alma está 
Em alto-mar
A chuva é fria,
Mas chamusca como fogo
Incendiando as esperanças
Faiscando-me de lembranças,
O barco balança em meio
A tempestade
E há tempestades,
Há tempestade,
Há tempos
Não descanso
Meu coração
Batendo
Inclemente
Contudo,
Impotente,
Suspirando
Fútil
E inútil,
Gritando
Sensível
E invencível,
Chorando
Sempre abalável
Porém, também
Impenetrável
Clama meu mau,
Mau coração,
Que, ainda assim, ama
A muitos
Com sofreguidão
Embalada em armadura,
Dura como pedra,
Que dura como a chuva,
Mas não dura o amor,
Que nunca atravessou-o

Chora, chove, chora, chove
Chove e chora e chove e chora
A tempestade
De meu pranto
De arrependimentos,
De mágoas,
De meus olhos,
De minha prisão
Em que guardo
Tudo,
Tudo que sou
Em vão

Julho de 2024