O homem que estava diante dela não era outro senão Ragnar Lothbrok. Ragnar aparentava ter pelo menos um metro e oitenta de altura e seu cabelo loiro escuro estava preso em um rabo de cavalo. Seus olhos eram cinza-claros e seu rosto tinha uma aparência jovem, mas com leves rugas. Ragnar também tinha barba e bigode louro-escuros que estavam desarrumados. Seu corpo era largo e levemente musculoso, já que não comia há algum tempo; ele parecia um pouco desgastado.

Sophia já tinha ouvido falar de Ragnar Lothbrok. O homem era considerado uma lenda por sua habilidade, sabedoria e linhagem familiar. "Você é Ragnar Lothbrok? Eu nunca imaginaria que teria a honra de conhecê-lo pessoalmente."

Ragnar olhou para ela. "Você sabe de mim. O meu nome e as minhas aventuras se espalham. Podem ser feitas histórias sobre o fracasso em reconquistar meu lar."

"Não seja assim. Ninguém é perfeito. Você acha que as pessoas pensariam mal de você por ter perdido sua casa? Itzvar veio como uma cobra covarde em vez de lutar com você como um homem. Itzvar está muito longe de ser chamado de viking".

Ragnar ficou em silêncio por um tempo. "Ninguém deve falar de mim de uma forma positiva. Veja minha posição. Meu inimigo me capturou. Falhei com meu povo e com meu status de líder. Quem gostaria de seguir um homem assim?"

Sophia se lembrava de ter ouvido as histórias de Ragnar. Ela achava que ele seria um homem mais intimidador. Ao encontrá-lo agora, o homem tinha uma fala mais suave e era sábio. "Você acha que é isso que faz um bom líder?"

Ragnar ficou quieto enquanto olhava para ela. Ele levantou uma sobrancelha. "Você tem experiência como líder?"

A jovem balançou a cabeça. "Sempre fui uma pessoa mais reservada, que entende de medicina. Não sei nada sobre ser um líder." Sophia se mexeu para tentar ficar confortável. "Eu não gostaria de ser uma líder; isso pode afetar muito a mente de uma pessoa."

"Então como você sabe o que é um verdadeiro líder?"

"Existe um líder de verdade? Há muitas percepções do que é e deve ser um líder. Como você sabe qual delas é verdadeira?" perguntou Sophia.

"Como indivíduos, sempre acreditaremos que nossa resposta é uma só; isso nos ajuda a sobreviver. Ajuda um homem a fazer o que precisa ser feito, não importa o quanto isso o prejudique, o quanto isso signifique que ele tenha que se sacrificar", respondeu Ragnar.

Sophia teve que admitir que ele ainda era sábio e que havia passado por mais dificuldades do que ela. "Admito que nunca tive experiência de liderança; sinceramente, nunca quis ter por causa das consequências. Não quero o estresse e não quero sacrificar minha sanidade, minha felicidade; quero viver uma vida confortável." Ela deu uma pequena risada. "Acho que estou seguindo o caminho dos covardes. Eu admiro aqueles que assumem papéis de liderança. Muitos têm escolha, e muitos não têm. O amor por seu povo os motiva a assumir o poder para trazer um futuro mais brilhante para as gerações vindouras." Ela sorriu. "Como você."

Houve silêncio entre os dois. Ragnar continuou olhando para ela. "Você é honesta, até sobre si mesma. Eu admiro isso. Eu, por outro lado, tenho dificuldades em admitir quem eu realmente sou."

"Como você se vê?"

Ragnar olhou para o teto como se estivesse pensando profundamente. "Um homem simples."

Sophia olhou para ele e sorriu. Ragnar Lothbrok é um homem de muitas palavras, não apenas uma lenda.

O dia se transformou em noite, e os prisioneiros sentiram o frio na prisão. Sophia se arrepiou e Ragnar percebeu. "Você está com frio."

"Sim, um pouco, mas sobreviverei. Sobrevivi a Itzvar, o covarde."

Ragnar a encarou um pouco. "Você não sobreviverá se mentir para si mesma ou para Itzvar."

Sophia olhou para ele. Embora estivesse escuro como breu, as tochas do lado de fora lhes davam alguma luz, mas pouco calor. Ragnar suspirou. "Você age com força e coragem, mas é uma fachada. Embora Itzvar fique irritado com sua rebeldia, ele sabe que é uma mentira e encontrará maneiras simples de destruí-lo."

"Como você sabe o que é verdade e o que não é?" Sophia limpou a garganta. "Não quero ser desrespeitosa, é claro."

Ragnar deu uma risadinha ao colocar a cabeça de volta no poste. "Já vi muitos de sua espécie em minha vida, e eles sempre acabam sendo mortos. Costumo aprender com os que caíram. Desde que eu era apenas um garoto, já vi muita morte; meu pai me ensinou a identificar os fracos e os fortes. Suas palavras, seus modos, seu caráter. Você não é diferente dos fracos que tendem a morrer".

Sophia levantou uma sobrancelha e quase se sentiu ofendida. "Você me chama de fraca? Eu não temo a morte; eu temo me perder."

O viking não pôde deixar de se divertir com a jovem. "Você é um entretenimento e tanto. No entanto, admiro sua honestidade. Também tenho que concordar que tenho o mesmo medo que você."

A jovem balançou a cabeça. "Não quero desrespeitá-la, mas você já se perdeu. Como curandeira, já vi os olhos dos doentes e dos que estão morrendo. Eles tendem a se perder quando temem algo que não podem controlar."

"Então você vê isso em meus olhos... Sophia?"

Sophia não sabia por que, mas sentiu um formigamento na espinha quando Ragnar disse seu nome. "Não totalmente. Posso ver que você tem ambição, não por si mesma, mas por seu povo. Você era outra pessoa antes de se tornar um líder. Não sei como você era no início, mas provavelmente ainda tem a parte antiga de você. Você não é corrupto como Itzvar".

"Você diz que eu não sou corrupto?"

A jovem mulher suspirou. "Todo líder precisa ser corrupto para manter seu poder. Pode ser para o bem maior ou não. Nenhum líder é realmente inocente; todos eles têm seus defeitos."

Os dois ficaram em silêncio por um momento. "Posso ver por que Itzvar não consegue domar você. Você está tentando defender seu verdadeiro eu de ser transformado. Você tem potencial, e Itzvar está tentando destruí-lo."

Sophia sorriu. "Itzvar está tentando matar nosso antigo eu, Ragnar. É por isso que não devemos desistir."

Ragnar sorriu. "Descansem. Amanhã, Itzvar chegará. Seria melhor se você recuperasse suas forças. Sua mulher teimosa."