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À Tiffany, uma das belezas de Perfumes de Harém, se é que realmente esse era o seu nom, lhe gostava, ou melhor, ela amava andar nua em torno do lugar. Eu sempre pensei, inspirado pela atmosfera lasciva daquele terrível sítio, que o seu objetivo não era mais que o de cativar-me com o balanço dos seus seios livres e travessos. Era comum durante aqueles dias de sinais profundas e sensuais e de prazeres de mística murmuração intensa, que eu me sentasse em uma das cadeiras do lugar, para desfrutar, durante os encantamentos e os pulsos de vida e morte da insuspeita noite, de vários espetáculos de dança lasciva e provocativa. Era comum, durante a malévola e escura inocência da manhã, que eu me sentasse para tomar um café ou um pequeno-almoço. Algumas vezes, enquanto eu estava sentado, a Tiffany me olhava com profundidade, se aproximava de mim e se sentava nas minhas pernas. Depois me beijava com inescrutável desejo e aos poucos segundos ela se ia, enquanto isso, a minha vida casta e austera do passado, dizia adeus em cada um dos movimentos ligeiros dos seus volumosos e apetitosos seios.

Mas naquele tempo, e naquele lugar sombrio, pérfido e escuro, também costumavam me dizer adeus os dias mesmos. Aqueles dias que, em Perfumes de Harém, caíam sobre mim como folhas de outono. Como folhas ocres e sépias. Até o momento, eu já sentia aquele lugar opaco, sinistro e sensual como a minha casa. Aquele lugar em que não só apareciam delícias e sensações de agradável textura psíquica, mas também, como eu já tinha visto, pesares, lamentos, melancolias e tristezas infinitas. Eu tinha me acostumado, já para esse tempo, às meninas e os seus clientes. Já tinha me tornado até mesmo, amigo de vários dos visitantes mais freqüentes de Perfumes de Harém. Eu tinha me acostumado ao fôlego alcoólico deles e aos seus olhares retorcidos e bizarros em cada uma das conversas que compartilhávamos. Quanto às meninas, eu tinha me acostumado não somente aos seus corpos sedutores, mas também as suas rotinas. Não todas estavam autorizadas pela bela Ruth para escolher os seus próprios clientes. À Cristina e algumas outras, por exemplo, não se lhes permitia. Não se lhes permitia, porque a maior parte do tempo, elas sempre estavam confinadas nos seus quartos, especialmente a Cristina, a quem eu mesmo, como cúmplice no crime abominável que se estava cometendo contra ela, tinha dado a ordem para mantê-la drogada a maior parte do tempo.

Eu não queria vê-la. Não queria falar com ela. Eu sabia que não havia mais nada da antiga e bela Cristina, da sua aura sedutora, da sedosidade aprimaverada e indecifrável do seu ser, ou da sua essência mais particular, duradoura e atemporal. Eu sabia que, como muitas mulheres de Perfumes de Harém, ela não era mais que uma sombra. Uma sombra embaçada, uma branda e desencorajada fantasia consumida pelo desejo de todos aqueles que chegavam com fome de paixão e outras sinergias não menos desenfreadas e eróticas de uma libido corrompida.

Mas como dizia em linhas anteriores, não todas as meninas daquele escuro lugar, estavam autorizadas a sair do seus quartos e não a todas lhes permitia a misteriosa Ruth refrescar as suas peles suadas e cheias de amores recentes na porta daquele prédio de cinco andares. Um costume, essa de sair à porta, que para muitas delas era como um ritual sagrado. É claro, alí, na porta, com mística sensualidade de chuva estática se colocavam elas, é dizer, as meninas que estavam autorizadas a fazê-lo.

Outro dos rituales delas, quando o lugar não tinha clientes e os sons habituais de música, lutas, gritos e gemidos de prazer, a os que, aliás, já havia me acostumado, consistia em jogar cartas ou em pintar as suas propias unhas. Não todas as meninas alí faziam todo aquelo, mas às que sim, se juntava, muito seguidamente e como outra mais delas, a minha  quente e misteriosa amante de nebulosas almas cheias de anelos e sensualidade suprema. A minha amante Ruth Monsiváis.

Certo dia, a Celeste tinha acabado de servir um cliente. Ela saiu então do seu quarto com uma expressão triste, uma expressão abatida. Ela tinha o seu torso nu e as mãos sobre os seus seios suaves, doces e esbranquiçados. Ela, é necessário dizer, os tocava como pensando se era verdade, se era certo que fazia apenas alguns momentos outras mãos de maior tamanho, quentes e viscosas, e muito provavelmente repugnantes, tinham estado sobre eles. Sim, ela tocava os seus seios e os olhava com certa descrença insuspeita e como dizendo lhes que tomassem um merecido descanso. Aquela cena surreal me excitava. A Ruth, certamente, me descobriu observando assim à Celeste, isto é, com um pouco de perversão e luxúria, mas não disse nada. Ela delineou um pequeno sorriso de cumplicidade e foi para o seu quarto, ou seja, para o nosso quarto. Tomei então alguns goles de conhaque, de vermute ou vinho, ou de algum outro licor. Eu parei. Fui para onde estava a Celeste. Levei-a nos meus braços. Comecei a beijá-la, a tocar as suas partes de mulher. Depois levei-la para o seu quarto. Ela não se resistiu.

Era exatamente como eu lo imaginava. A luz incipiente que emerge da escuridão e a essência das trevas tinha apreendido-me. Tudo era dentro de mim um convulso e incierto delírio de extrema irracionalidade. Sim, eu tinha me tornado no demônio.

Esta é a história do demônio, Adrián. Eu quero dizer o primeiro, porque tem havido muitos na aventura da história humana. A lenda mais comum afirma que ele era um anjo híbrido que queria transcender a sua essência, ele queria ser superior a Deus. Devido a esse ato que foi interpretado como egoísta, ele e a outra parte da milícia celestial que rebelou-se contra o Deus único e absoluto, foram condenados a viver como anjos caídos. Essa, é claro, é a história que sempre nos têm contado. A história que sempre acreditamos cegamente. Agora, o meu querido Adrián, eu vou te dizer a verdade. O demônio, Belzebu, Lúcifer, o diabo, ou como você quiser chamá-lo, é alguém que aceitou por si mesmo um destino cruel, uma sentença infinita. Alguém extremamente corajoso que decidiu levar, sem que ninguém o obrigasse, a mais terrível e implacável das condenas que um ser humano pode jamais imaginar. Sim, ele foi condenado, por vontade de sacrifício própia, a não poder amar.

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