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Gwyn queria ter escutado os votos de Cassian e Nestha, mas um zumbido irritante envolvia seus ouvidos.

Ela tinha cantado na frente de todas aquelas pessoas. Pessoas que não eram suas colegas sacerdotisas, pessoas que ela nunca sequer viu na vida.

Seu coração acelerou de maneira incompressível, gerando um aperto no peito que fez sua respiração ficar irregular.

Esta tudo bem, Gwyn. Você conseguiu, você cantou e cantou bem.

Seu subconsciente gritou dentro de sua mente. Mas então porque ela estava se sentindo daquele jeito? Por que suas mãos estavam suando tanto?

Seus pensamentos foram interrompidos pelas últimas palavras proferidas pela sacerdotisa, dando fim a cerimônia. Um sinal de que Gwyn devia cantar novamente, ela tomou fôlego antes de deixar sua voz fluir pela garganta e por todo o jardim.

Gwyn observou Nestha e Cassian trocarem um beijo apaixonado, as palmas dos convidados inundaram todo o templo e os sentidos da valquíria, fazendo com que ela fechasse os olhos e deixasse a música tomar conta de todo seu corpo.

Por mais difícil que fosse cantar na frente de todas aquelas pessoas, a música era algo quase que natural para Gwyneth que não tinha dificuldade nenhuma ao entoar as notas da canção.

Aquilo fazia parte dela, e ela amava cada segundo. Era algo que ninguém poderia tomar dela, pois todo seu ser era composto das mais lindas melodias.

Quando abriu os olhos novamente ao finalizar a canção, Cassian e Nestha já estavam no final do corredor do jardim, cumprimentando os convidados e recebendo felicitações pela união. Mas seu olhar voltou para a primeira fila, onde o Mestre-Espião caminhava em direção aos amigos no final do corredor, as sombras ao redor de suas asas e braços.

Por algum motivo, Azriel olhou pelo ombro em sua direção, um sorriso pequeno nos lábios. Gwyneth sorriu de volta, antes de sair do templo e caminhar em direção a uma parte mais distante do jardim.

Ela precisava respirar.


𓆩*𓆪


Não sabia quanto tempo estava ali sentada em um banco afastado do jardim. Provavelmente já fazia uns bons minutos e mesmo assim nada parecia acalmá-la de fato.

Respirou fundo novamente, levando a mão até a pedra da invocação em seu busto. Pediu a Mãe para que clareasse seus sentidos, para que não deixasse o medo a incapacitar de novo.

Gwyn tinha passado por coisas piores. Por coisas mais difíceis.

— Gwyn? — A voz de Emerie fez com que a sacerdotisa se assustasse de leve. — Está tudo bem?

— Sim... — Gwyneth engoliu em seco. — Estou bem, só precisava de alguns minutos para tomar um ar.

— Tem certeza? — A amiga caminhou até ela, sentando-se ao seu lado. — Se você não estiver se sentindo bem, podemos ir embora...

— Não é isso. — Gwyn interrompeu. — Eu estou bem de verdade, Ems. É só... É só que tudo isso é muito novo para mim.

— Você cantou lindamente. — Emerie apertou sua mão de leve. — Juro, Gwyn... Nunca ouvi nada como aquilo, você é realmente brilhante e especial, uma raridade.

Gwyneth sorriu, sentindo sua visão embaçar. Ela abraçou a illyriana, soltando o ar que nem sabia que estava segurando.

— Obrigada, Emerie. — suspirou. — Eu não sei o que seria de mim sem você, ou sem a Nestha.

Sua amiga sorriu fraco, soltando o abraço e afagando as costas de Gwyn.

— Então venha nos fazer companhia, temos que estar presentes no almoço especial de Nestha. — Emerie levantou, estendendo a mão para ela. Gwyn se pôs de pé arqueando uma sobrancelha. — Isso com certeza não foi ideia dela, já que tenho certeza que está se perguntando isso.

Gwyn riu pegando na mão de Emerie, deixando que ela a guiasse até a Casa do Rio.

— Não estava me perguntando porque também tinha certeza que a ideia não tinha sido dela.

— Tenho pra mim que isso tem um dedinho do Grão-Senhor no meio. — Emerie cochichou quando chegou mais perto da porta da sala onde o almoço "especial" aconteceria. — Me pergunto o quão longe ele pode ir até tirar Nestha do sério.

— Não é tão difícil tirar Nestha do sério, então acho que falta pouco.

As duas riram, parando aos poucos ao adentrar a sala de jantar. Uma mesa enorme enfeitava o salão, a sala estava toda decorada, uma música suave soava pelo cômodo deixando o ambiente mais tranquilo do que realmente aparentava.

Todo o círculo íntimo de Rhysand estava ali. Emerie e Gwyn sendo as únicas duas intrusas naquele momento em meio a família de Cassian e Nestha. Um grande banquete estava servido na mesa, os mais variados pratos, alguns Gwyneth tinha certeza de que nunca havia provado em toda sua vida.

Sentados na ponta, Cassian e Nestha riam e conversavam com a Archeron mais nova sentada ao lado deles, a Grã-Senhora segurava um Nxy agora acordado e agitado. O Grão-Senhor sentado ao lado de sua parceira conversava com Morrigan que tomava uma taça de champanhe com a classe de sempre.

Elain estava na mesa também, quieta e tímida, os olhos pareciam tristes e vazios, como se algo estivesse a incomodando profundamente. Nem Amren e nem Azriel estavam na mesa, o que fez Gwyn percorrer os olhos azuis pelo resto da sala de jantar, encontrando a fêmea pequena sentada em uma das poltronas ao lado de uma lareira.

Azriel por outro lado estava em pé e de costas para a porta, observando a enorme janela do cômodo , aquelas asas lindas e imponentes fechadas, sozinho e solitário como sempre, apenas suas sombras o rodeando.

Emerie e Gwyn se sentaram, atraindo a atenção dos convidados.

— Ah ótimo, todos estão aqui. — Rhysand se levantou. — Primeiro queria deixar claro que isso tudo foi ideia minha, o que imagino que todos já esperavam já que meu irmão nunca conseguiria fazer algo do tipo.

Graças a Mãe, não sou tão brega. — Cassian respondeu, arrancando uma risada de cada um no cômodo, especialmente de sua parceira.

A gargalhada de Nestha foi tão genuína que Gwyneth não conseguiu conter o sorriso em seu rosto.

— Enfim, preparei esse almoço não apenas com o intuito de celebrar a união de Cassian e de Nestha.— O Grão-Senhor botou as mãos dentro do bolso das calças. — Mas também com o intuito de apresentar uma proposta... Talvez Nestha possa considerar isso algum outro tipo de presente, mas acho que significará muito, tanto para nosso círculo quanto para ela.

Nestha franziu o cenho, desviando o olhar para Cassian que apenas deu de ombros, provavelmente sabendo menos do que ela.

Gwyn encarou Emerie, confusão estampada em seu rosto.

— Nosso círculo? — Gwyneth sussurrou.

A Illyriana também parecia confusa, mas voltou a atenção para o Grão-Senhor.

— Eu e Feyre primeiramente gostaríamos de nos desculpar pelo ocorrido do Rito de Sangue. — Os olhos violetas de Rhysand as encararam. Gwyn enrijeceu em seu lugar. — É algo que nunca mais se repetirá.

A sacerdotisa precisou beber um gole da água na taça em sua frente, sem saber para onde aquela conversa seguiria.

— É por esse e outros motivos, que decidimos fazer das Valquírias uma legião do exército da Corte Noturna.

Gwyneth se engasgou com a água que descia em sua garganta, tossindo freneticamente. Emerie bateu em suas costas de leve.

Pela Mãe. Isso era sério?

O cômodo foi tomado por vozes em comemoração, Nestha parecia exalar felicidade e orgulho dos seus poros.

— M-me desculpe. — Gwyn se recompôs.

— Está tudo bem, Gwyneth. — O Grão-Senhor riu fraco. — Sei que foram pegas de surpresas, mas achamos que foi uma decisão bem pensada. É notável o quanto vocês e as sacerdotisas evoluíram, e mesmo que tenha sido um infortúnio que tenham sido obrigadas a vivenciar os horrores do Rito de Sangue, vocês terem conseguido sobreviver e saírem vitoriosas diz muito sobre a dedicação e a força de vocês.

Gwyn e Emerie olharam para o outro lado da mesa, onde Nestha também olhava para as duas, um sorriso leve esboçado no seu rosto.

— A vitória de vocês causaram muitas reações, tantas negativas quanto positivas, mas o que importa é que impulsionou uma mudança que eu e meus irmãos por muito tempo não conseguimos gerar. — Rhysand suspirou. — Fêmeas illyrianas demonstraram interesse em serem treinadas e queremos levar o treinamento até elas.

Gwyn sentiu uma chama de esperança queimar em seu peito.

— Queremos oficializar as Valquírias e queremos que vocês sejam as Legionárias da Corte Noturna. — Rhysand olhou para Nestha, arqueando uma sobrancelha, como se perguntasse se havia se superado. — Agora, cabe a vocês decidirem se aceitam essa responsabilidade, se querem fazer parte do meu círculo íntimo.

A sacerdotisa pôde jurar que sentiu seu corpo congelar. Ela, um membro do círculo íntimo?

De repente, Gwyn sentiu que respirar parecia mais difícil do que se lembrava.

Como ela, uma sacerdotisa que ainda temia sair da biblioteca poderia se tornar uma legionária? Como ela conseguiria liderar parte do exército de uma corte?

Pare. Pare de pensar isso. Você não é mais a sacerdotisa assustada, você não é mais a donzela em perigo, você não é mais indefesa.

Ela era uma valquíria.

Ela era uma Carynthian.

Ela era a rocha contra a qual as ondas se quebravam.

Ela era Gwyneth Berdara. E ela nunca mais seria fraca, vulnerável ou covarde.

— Seria uma honra. — Gwyn respondeu, a voz firme e confiante.

Emerie e Nestha sorriram, concordando.

— Então, sejam bem-vindas à Corte Noturna. — Rhysand levantou a taça em comemoração, todos ali presentes levantaram suas bebidas, brindando as mais novas integrantes do Círculo Íntimo.

Gwyneth levantou o seu copo, depois se permitiu dar um longo gole na água que havia se engasgado minutos antes. Seus olhos azuis pararam na figura sombria encostada na parede ao lado da janela, Azriel provavelmente sentiu que estava sendo observado e voltou os olhos âmbares para Gwyn. Um sorriso de lado estampou o rosto lindo e ousado antes de levantar o copo um pouco em sua direção, o encantador de sombras virou o restante do whiskey e caminhou para fora do cômodo, algumas de suas sombras demorando mais do que o normal para acompanhá-lo.

Quando Gwyneth desviou o olhar do Mestre-Espião de volta para sala, ela pôde jurar que alguém a olhava. Teve certeza quando notou os olhos castanhos de Elain Archeron nela, mais especificamente no cordão em seu busto.

Gwyn tocou no cordão por reflexo, o que pareceu despertar Elain do seu transe. Os olhos arredondados agora levemente arregalados e perdidos. A sacerdotisa franziu o cenho com a atitude da Archeron do meio, mas antes que pudesse formular algo em sua mente a clarividente pediu licença e caminhou para fora do cômodo.

Algo no peito de Gwyneth pesou, como se ela conseguisse sentir que algo estava errado, mas afundou aquela sensação ao máximo tentando não deixar aquilo atrapalhar o restante do almoço.

Quando voltou o olhar para a mesa, pôde perceber que o Grão-Senhor também encarava Elain sair como fumaça pela porta.



𓆩*𓆪



Azriel precisava de um tempo sozinho.

Você está sempre sozinho, encantador. Não está cansado?

Uma de suas sombras sussurrou o fato contra a brisa leve. Ele suspirou, deixando que o restante delas se envolvessem em suas mãos e braços.

Era um milagre que suas sombras estivessem conversando com ele, ultimamente elas estavam mais quietas e silenciosas do que o aceitável, sussurrando apenas quando o Mestre-Espião precisava de informações envolvendo o trabalho, ou em extrema necessidade.

À noite, quando suas dores de cabeça atacavam, Azriel podia sentir suas sombras distantes como se estivessem fracas e relutantes. Seu instinto dizia que algo estava muito errado, e que ainda o traria bastante dor de cabeça.

— Agora decidem falar? — Ele murmurou entrando em um dos enormes cômodos da casa de Rhysand e Feyre.

Você não está entendendo os sinais, encantador.

Você está distraído, encantador.

Enxergue os sinais. Antes que seja tarde demais.

Uma onda de murmúrios o atropelou, várias de suas sombras sussurrando ao mesmo tempo, inundando seus sentidos.

— Já basta. — respondeu, firme. Os pequenos murmúrios aos poucos sumiram, as sombras agora se escondendo em volta de suas asas, mais silenciosas do que antes.

Clarividente.

Uma delas sussurrou, fazendo o corpo do encantador gelar.

Azriel arfou, quando a porta se abriu e uma Elain retraída adentrou ao cômodo. Os olhos perdidos o encarando com um lampejo de dor e confusão. O Mestre-Espião observou suas sombras se camuflarem em suas asas fechadas, antes de voltar os olhos para Elain.

Ela estava linda como sempre, um raio de sol em meio a um dia nublado, tão bonita quanto uma manhã de verão. Azriel sentiu sua respiração pesar, tudo em Elain era tão puro, tão limpo e mesmo assim ele não conseguia parar de pensar em como seria tocar algo tão direito e imaculado quanto seu corpo, como suas mãos sujas e inescrupulosas manchariam sua pele macia e angelical.

— Azriel... — Suas mãos se juntaram e a clarividente caminhou devagar em sua direção. — Precisamos conversar.

De fato. Depois do solstício, Azriel fez o máximo que pôde para ficar longe de Elain, para respeitar as ordens que Rhysand havia lhe dado, não seu amigo e irmão, mas seu Grão-Senhor.

E pela Mãe. Como havia sido difícil esses meses.

Como tinha sido difícil não cola-lá na parede toda vez que passava pelos corredores, como foi difícil suprimir a vontade de enfiar-lá em um quarto nos encontros de sua família e tampar sua boca para que os outros não escutassem os gemidos que tiraria de sua boca.

Mas ele conseguiu.

Porque sabia que não era certo, por mais tentador que parecesse. Porque entendeu que o Caldeirão o considerava tão desonroso a ponto de não merecer nada relacionado a amor. Porque ele sabia que não merecia essa benção, pois por toda sua vida tudo que tinha sido era um macho desprezível e indigno.

Um bastardo miserável e insignificante.

Pare, encantador de sombras.

Uma delas sussurrou contra seu ouvido, fazendo com que Azriel voltasse a atenção para Elain, concordando de leve com a cabeça.

— Certo.

A Archeron do meio suspirou, os lábios tremendo suavemente.

— Sei que tínhamos concordo que aquilo tudo foi um erro... — Ela engoliu em seco. — Mas...

— Não faça isso. — Azriel a parou. — Não diga que não acha que foi um erro.

— Por quê? — Elain deu mais um passo em sua direção. — Por que isso é um erro?

— Você tem um parceiro. — Ele recuou um passo, seus pensamentos ficaram nebulosos.

Elain parou, os olhos agora perdidos no rosto do Mestre-Espião.

— Eu não pedi por um parceiro. — Ela respondeu, a voz vacilante. — Eu não pedi por nada disso.

— Mas você tem. — Azriel engoliu em seco. — E isso é demais para que simplesmente peça para eu ignorar.

— E-eu quero você, Azriel... — Elain gaguejou, as mãos agora paradas ao lado de seu corpo.

Ele precisou de todo controle em seu corpo para não beijar seus lábios ali, para não mandar Rhysand ir a merda com sua ordem.

Precisou de toda coragem no seu corpo para olhar para Elain e dizer:

— Por que continua insistindo então, Elain? — Azriel respirou fundo. — Por que não rejeita o laço de uma vez? Você não é obrigada a aceitá-lo, então porque simplesmente não o rejeita?

A clarividente parou. A boca entreaberta em surpresa, o olhando como se Azriel tivesse atirado uma flecha contra seu peito.

— Sei que você visita Lucien às escondidas. — A voz do encantador saiu mais baixa do que o normal. Elain continuava como se estivesse em choque. — Não lhe culpo por isso, ele é seu parceiro. Mas sei que está confusa, sei que sente algo por mim também.

— Como? — A clarividente arfou em surpresa.

— Sou um Mestre-Espião, Elain. — suspirou recuando mais um passo. — E também senti o cheiro da parceria de vocês. Ele sempre esteve ali, mas fica mais evidente depois de ser...

Azriel não conseguiu finalizar a frase.

— M-me desculpe. — Elain gaguejou olhando para os lados. — E-eu sentia que precisava conhecê-lo melhor, s-sentia que precisava entender o que existe entre esse laço...

— Você não precisa se desculpar. — Azriel foi firme. — Isso é natural.

— Mas eu também queria dar essa chance para você, queria entender o que existe entre a gente, o que podemos ser...

Azriel sentiu seu peito doer quando disse:

— Não poderíamos ser nada. — respirou fundo. — Eu e você, Elain... Não temos nenhum tipo de futuro. Não pode existir nada entre a gente, além de amizade.

Ele enxergou os olhos da garota brilhar, lágrimas se acumulando nos cantos deles.

— Acredite em mim quando digo que você não quer ter a chance de me conhecer de verdade. — Recuou mais um passo, tentando ao máximo ficar longe dela.

As lágrimas que Elain antes segurava agora caíam pelas suas bochechas. E o encantador de sombras sentiu como se tivessem atirado uma flecha de freixo contra seu peito.

— Não chore, por favor. — Azriel pediu, a voz levemente vacilando. — Você é... Você é perfeita, Elain. Uma preciosidade. Mas, não posso ser o que você precisa. Nunca serei o que você precisa.

Ele tinha desistido.

O Caldeirão não tinha cometido um erro fazendo Elain e Lucien parceiros. A única coisa errônea ali era ele, e Azriel já tinha começado a aceitar que ele não era merecedor de ter uma parceria. Que a Mãe não tinha separado nada de especial para ele e que seu destino era continuar sozinho, como sempre.

Suas sombras eram a única coisa que foi dado a ele, que foi permitido a ele.

— Foi por isso que deu meu colar para a sacerdotisa?

Seus pensamentos foram interrompidos pela voz de Elain. Sentiu sua respiração parar.

— Não. — Azriel negou com a cabeça. — Não foi da maneira que está pensando.

— Ela está usando-o.

— Você o devolveu, eu não queria ter que devolver o colar para loja, pensei que alguém poderia fazer bom uso, pedi para Clotho entregar para uma das sacerdotisas.

Você mente, encantador de sombras.

Suas sombras sussurraram. Ele realmente estava mentindo. Mas não queria magoar Elain mais do que já havia magoado.

Azriel não sabia dizer por qual motivo havia pensado em dar o colar para Gwyneth.

Você mente, encantador de sombras.

Talvez porque Gwyn era uma pessoa que ele admirava, de certa forma. Porque sentiu que ela poderia gostar do colar.

— Você deu para Gwyneth, Azriel.

— Sim. — admitiu. — Mas não com as intenções que você está imaginando.

— Pensei que ele significava algo... Para nós dois...

— Eu também pensei. — Azriel suspirou. — Mas você o devolveu.

— E isso faz com que seja tudo bem, dar algo que você já tinha dado para outra pessoa?

A voz de Elain se elevou.

— Não. — Ele respirou fundo. — Suponho que não, me desculpe. Mas não fiz isso com más intenções, Elain.

— T-Tudo bem — Ela passou a mão no rosto, soltando um suspiro alto. — Sei disso.

— Só... Só não diga nada para Gwyn... Por favor. — Azriel soltou o ar que não sabia que segurava. — Ela não sabe que o colar veio de mim. E não quero estragar isso para ela.

Elain negou com a cabeça.

— Você pensa tão pouco de mim ao ponto de achar que eu contaria para ela?

— Isso não foi o que eu quis dizer. — Azriel suspirou, passando a mão no rosto em frustração. — Eu te machuquei, Elain. Estou ciente disso e nunca irei me perdoar, mas não pode simplesmente distorcer tudo que digo.

Ela passou a mão delicada no cabelo, evitando os olhos de Azriel.

— Eu não vou contar. — sussurrou, a voz tão baixa que Azriel precisou se esforçar para escutar. — Eu nunca faria isso.

— Obrigado. — O encantador de sombras engoliu em seco, ajeitando sua postura e levantando o queixo. — Eu deveria ir.

— Certo.

Elain concordou, com as mãos juntas em frente ao corpo.

— Me desculpe, Elain. — Ele conseguiu falar antes de sair pela porta sem olhar para trás, sem se permitir se arrepender de ir embora.

Bom, Azriel, muito bom.

Escutou a voz de Rhysand, sombria como a noite em sua mente. Não percebeu que estava com seus escudos abertos, ele forçou a abaixar as paredes de névoa em sua mente, antes de rosnar para Rhysand:

Saia da porra da minha cabeça, Rhysand.

Seu sangue agora fervia. Fervia de raiva pela audácia de Rhys de parabenizá-lo por aquilo. Pela audácia em duvidar da sua lealdade à sua corte e à ele. E pela audácia em dar uma ordem tão absurda quanto aquela, por mais incorreto que seus pensamentos sobre Elain fossem.

Ele não se preocupou em despedir de ninguém e caminhou em direção a saída, abrindo suas asas e voando pelo céu da tarde segundos depois.



𓆩*𓆪



Gwyn não ficou muito tempo na cerimônia depois do anúncio de Rhysand. Por mais que quisesse, ansiedade e medo começaram a tomar conta de seu corpo. A realidade agora chocando contra ela.

Um membro do Círculo Íntimo. Ela era um membro do Círculo Íntimo e pela Mãe, ela não fazia a menor ideia de como reagir aquele novo fato, do que aquilo significaria para sua vida, que mudanças aquilo causaria.

Mesmo não precisando, Gwyneth retornou ao trabalho na biblioteca, transcrevendo informações de livros em outros papéis para a pesquisa sobre mundos de Merrill. Escreveu e leu até atingir a exaustão, até Clotho passar por ela e aconselhá-la a tirar um tempo, até que a tarde se tornasse noite e ela fosse a última sacerdotisa presente na biblioteca.

Suspirou, sentindo os nós dos dedos doerem, obrigando ela a soltar a pena que segurava a horas. 60 páginas. Ela tinha escrito 60 páginas de pesquisa para Merrill, tudo isso em um período de duas horas.

Quando a sacerdotisa percebeu que já era tarde demais, ela guardou as folhas na gaveta de sua mesa e trancou. A cabeça latejando de leve pela quantidade de informação que havia absorvido. E Gwyneth sabia que não teria parado se não tivesse trombado com páginas de livros escritos na língua antiga, palavras que ela tentou traduzir mas obteve pouco sucesso.

Algumas ela conseguia entender, mas sem conseguir compreender os símbolos e os restantes das palavras foi difícil tirar algum real contexto daquele livro. Ela o guardou também, decidida a fazer daquilo um objetivo até entender o que aquele livro tinha para contar.

Se arrastou para o dormitório, a mente ainda a mil pensando em todos os acontecimentos do dia.

A cerimônia de Nestha havia sido perfeita, repugnantemente ornamentada, como a amiga havia pedido. Ao tirar o vestido novo e colocar sua camisola com cuidado para não acordar a colega sacerdotisa, ela reparou no pingente parado no seu busto, a pequena rosa delicada e espelhada.

O jeito que a Archeron do meio tinha olhado para o pingente a deixou intrigada, não conseguia pensar em algum motivo para que ela tenha reagido daquele jeito. Mas algo em seu olhar machucou Gwyn bem no fundo do peito, algo que Gwyneth decidiu ignorar. Provavelmente a clarividente estivesse se perguntando como alguém como ela poderia ter pagado aquele colar.

Pensou em tirar e guardá-lo como havia feito todo esse tempo depois do solstício. Mas por algum motivo, decidiu ir se deitar com ele no pescoço, nunca havia ganhado nada como aquilo, com aquele valor e Gwyn o achava bonito demais para ficar guardado em uma caixinha longe do mundo.

Perdida em pensamentos, ela permitiu ser levada pelo sono e pela exaustão, dormindo em poucos minutos.


𓆩*𓆪


Gwyn acordou em um supetão. Um grito reprimido na garganta, o corpo tremendo e coberto pelo seu suor, sua respiração estava desgovernada. Ela ainda conseguia enxergar a imagem que tinha feito ela acordar tão desesperada.

Seus pesadelos eram constantes, antes focados em Sangravah, agora pareciam mais diversos, já que ultimamente os dias no Rito de Sangue começaram a se fazerem presentes também.

O pesadelo dessa vez era diferente.

Dessa vez Gwyn se lembrava da sensação de estar se afogando, perdendo o ar aos poucos enquanto seu pulmão se enchia de água, sua herança de ninfa não ajudando-a em nada.

Gwyn tentava se soltar, alcançar algo que brilhava no fundo daquela água escura. Algo que chamava pelo seu nome, que cantava seu nome como uma melodia profunda e antiga. Quanto mais fundo ela chegava mais longe daquele brilho sombrio e ancestral ela ficava, sua visão cada vez mais embaçada e sua respiração aos poucos mais curta, os pulmões ardendo enquanto ela perdia o ar.

Mas apesar da sua visão, ela conseguiu enxergar perfeitamente a imagem que se formou em meio a sombras no fundo daquele mar. Azriel estava amarrado, as sombras que o acompanhavam fracas e acinzentadas, aqueles olhos âmbares antes encantadores tomados por inteiro por um preto nanquim que poderia engolir a luz do mundo.

Ele estava petrificado, a pele amarronzada de uma palidez que Gwyn nunca havia visto. Ela tentou desesperadamente nadar até ele, tentar alcançá-lo e soltá-lo daquelas amarras feitas de... Feitas de sombras. Sombras que não pertenciam ao encantador.

Mas quando conseguiu alcançá-lo, ela sentiu seus pulmões colapsarem, sua garganta se apertar e o oxigênio esvaziar de seu corpo.

Foi quando acordou. Assustada e tremendo.

Era a primeira vez que tinha um pesadelo que não envolvesse o que tinha passado em Sangravah ou no Rito de Sangue, era a primeira vez que não era ela ou sua irmã quem estava em perigo.

E o pânico em seu corpo ao ver o encantador de sombras daquela forma foi tão intenso quanto o pânico que sentia quando o alvo de seus pesadelos era ela mesma.

Não sabia o porquê aquilo tinha a afetado tanto. Ela considerava Azriel um amigo, mas a maneira que seu peito doía e parecia implorar para ter certeza de que o encantador estava bem, era exagerada.

Gwyn engoliu em seco, se levantando da cama e caminhando até o guarda-roupas. Vestiu seu traje de couro illyriano para treinos e saiu do quarto em passos silenciosos, caminhando até o ringue da Casa de Vento.

Parou no arco no mesmo momento ao ver a silhueta de Azriel treinando no ringue. Ele fazia uma série de golpes perfeitos, usando sua adaga enquanto girava o corpo musculoso e usava pernas, braços, mãos e asas para intensificar e incrementar os golpes.

Era uma dança. Uma dança letalmente maravilhosa.

Suas sombras o acompanhavam em todos os movimentos, tornando a cena mais digna de um quadro do que já era.

Gwyn não conseguiu não parar para ver a máquina letal que Azriel se tornava quando lutava, quando botava todos aqueles séculos de treinamento para jogo, quando deixava claro o porquê era um dos machos mais temidos de toda Prythian, porquê era um dos illyrianos mais poderosos de todo continente.

Ele parou, girando a adaga nos dedos e voltando a guardá-la no compartimento na coxa definida, a respiração pesada e irregular.

Gwyneth queria desviar o olhar quando o macho ajustou as faixas brancas nas mãos cicatrizadas, mas seus olhos desceram para o peito musculoso suado, para as tatuagens que adornavam seus ombros e braços.

Ela engoliu em seco, finalmente conseguindo desviar o olhar do que talvez fosse o macho mais lindo que já vira em toda sua vida. Não que ela tirasse tempo para reparar em outros.

— Gostando da vista, Berdara? — A voz do encantador de sombras era baixa e grave, mas ao mesmo tempo tomada por um tom de brincadeira que fez Gwyn rir fraco.

Azriel vestiu uma camisa preta antes que ela pudesse se aproximar.

— Nada de especial, para ser sincera. — Ela deu de ombros, caminhando até o ringue em passos tranquilos. — Dia ruim, Encantador?

— Mais para século ruim. — Azriel deixou uma risada sem humor sair de seus lábios. — O que faz acordada?

Gwyn congelou ao ouvir a pergunta, se lembrando do sonho que teve a alguns minutos atrás. Os olhos pretos de Azriel a atormentaria para o resto da vida.

Mas ali estava ele. Vivo, inteiro e bem. Na verdade, Gwyn não sabia dizer se o bem se encaixava ali, porque fazia um tempo que já tinha percebido que Azriel não parecia nada bem.

— Não consegui dormir. — respondeu, entrando no ringue e encarando o dono dos olhos de avelãs que ela tanto gostava. — E você?

— O mesmo. — Ele a encarou, uma sobrancelha arqueada. — Suponho que agora devo te chamar de Sargento Berdara?

— Pela Mãe, por favor não. — Ela riu, negando com a cabeça. Pôde notar uma sombra dançante rodopiar entre as asas de Azriel quando ele acompanhou sua risada. — Gwyn serve muito bem, obrigada.

— Esse é um grande título. — Azriel sorriu de lado. — Parabéns, Gwyneth, você merece.

— Não tenho muita certeza disso. — Uma risada sem humor escapou de seus lábios, enquanto começava o seu alongamento.

Azriel arqueou uma de suas sobrancelhas.

— Parecia ter bastante certeza mais cedo.

— Eu tinha. — Gwyn esticou o joelho. — Quer dizer, eu acho que mereço, mas não tenho certeza se dou conta de liderar legiões, não tenho certeza se sirvo para esse tipo de trabalho, eu não faço muito o tipo que dá ordens ou que toma iniciativa.

Ela disparou a falar, provavelmente atormentando com a quantidade de palavras que saía facilmente pela sua boca. Azriel cruzou os braços, a sua expressão era quase impossível de ler.

Gwyn respirou fundo, parando de se alongar.

— Desculpe, estou te abarrotando com meus problemas e nem perguntei se poderia dividir o ringue com você. — A sacerdotisa olhou para o illyriano com um sorriso leve nos lábios. — Sei que você gosta de ficar sozinho e não ser perturbado.

Azriel riu de fraco, negando com a cabeça.

— Sua companhia não é nem de longe uma perturbação, Gwyneth. — Ele descruzou os braços. — E discordo de tudo que você acabou de dizer sobre si mesma.

— Por que?

— Por que? — O encantador de sombras engasgou uma risada, parecendo indignado com sua pergunta. — Porque não existiria uma nova legião de Valquírias sem você, Berdara. Porque você convenceu outras sacerdotisas a treinarem, porque você cortou a fita, porque você venceu o Rito de Sangue, eu posso continuar mas ficaríamos aqui o resto da madrugada...

Gwyn parou de respirar, absorvendo as palavras de Azriel.

— Depois disso tudo... — As sombras de Azriel passaram de leve em suas botas. — Vai ser fácil liderar uma legião.

— Queria que fosse verdade. — Gwyn voltou a se alongar, suspirando.

— E por que não seria?

— Porquê eu nem sequer consigo sair daquela maldita biblioteca. — Gwyneth parou de se alongar novamente, sentindo aquele estresse que a cegava correr pela suas veias.

— Não estamos na biblioteca agora. — Azriel a encarou, os cabelos molhados de suor caindo na testa. — Não me lembro da cerimônia de Cassian e Nestha ter sido na biblioteca também. Estranho...

Gwyn deixou uma risada escapar.

— É diferente. — Ela respirou fundo. — Eu meio que tinha uma necessidade nesse caso, uma motivação. Não podia faltar na cerimônia da minha melhor amiga.

Gwyn engoliu em seco antes de continuar.

— E treinar... — pausou. — Treinar tem sido a única coisa que faz minha mente parar por algumas horas, por isso é tão fácil sair de lá para vir aqui, porque sei que de alguma forma não pensarei nisso, nem que seja por poucas horas.

— Entendo. — Azriel afirmou com a cabeça, a olhando com um lampejo de compreensão e solidariedade. Nenhum vestígio de pena naqueles olhos, o que fez Gwyn agradecer mentalmente.

Odiava que sentissem pena dela. Odiava quando as pessoas agiam como se sua vida fosse uma história de tragédia que passaria em algum tipo de teatro famoso.

— Tenho uma proposta para você, Gwyneth. — Azriel interrompeu seus pensamentos, fazendo com que ela arqueasse uma sobrancelha.

— Outra?

— Podemos treinar. — O encantador de sombras começou. — Mais do que já treina de manhã... Te treinar até que você consiga dizer para si mesma que está pronta para liderar uma legião e em troca você vai me prometer que quando esse dia chegar você vai explorar a cidade, conhecer lugares novos.

— Está barganhando comigo, Encantador de Sombras?

Gwyn tinha um sorriso acusatório no rosto, Azriel apenas deu de ombros, esboçando um sorriso de lado.

— Você pode chamar assim se quiser... — Ele deu um passo em sua direção. — Eu gosto de pensar que estou te dando uma necessidade, uma motivação.

A sacerdotisa pôde jurar que sentiu seu corpo todo entrar em dormência. Ele estava dando algo para se apoiar para conseguir enfrentar o medo de sair da biblioteca, para conseguir aceitar que conseguiria ser a legionária da Corte Noturna.

Por um segundo, sentiu seu coração errar uma batida e entrar em estado de euforia.

— E então? — Azriel estendeu a mão tampada pela faixa para ela, arqueando a sobrancelha em desafio. — Temos um acordo?

Gwyn olhou para a mão estendida do Mestre-Espião, e por um momento ela hesitou. Ela sabia como os acordos na Corte Noturna eram levados a sério, sabia como funcionavam, mas ela nunca tinha feito algo parecido em toda sua vida, muito menos com um macho.

— Está com medo, Berdara? — Ele sorriu de lado, o som do atrevimento em sua língua fez com que Gwyneth o fuzilasse com o olhar.

— É um acordo, Encantador. — E sem hesitar mais, Gwyn levou a mão até a de Azriel e a envolveu, selando a barganha.

As sombras de Azriel rodaram em torno de suas mãos unidas, como se estivessem felizes com o toque, fazendo com que os pelos de seu corpo se arrepiassem em resposta.

Sentiu um formigamento surgir no lado esquerdo de sua costela, bem abaixo do seu seio. Aquilo fez com que ela arfasse de leve, a boca entreaberta em surpresa ao sentir aquela magia da Corte Noturna agindo em seu corpo, marcando sua pele com aquela tinta permanente.

Azriel não esboçou nenhuma reação, devia ter passado por aquilo tantas vezes que nem sequer fazia mais cosquinhas. Curiosidade quase a matou quando pensou no que seria o desenho da tatuagem, onde teria sido a tatuagem de Azriel.

Mas antes que pudesse perguntar algo sobre, ele a interrompeu, desfazendo o toque de suas mãos ao dizer:

— Vamos começar?


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— Você precisa firmar sua mão. — Azriel a mostrou como fazer. — Mas não ao ponto de deixar os nós dos seus dedos brancos igual está fazendo. O que importa é a força que você usa no golpe, não na adaga.

Azriel indicou como segurar a adaga e fez o movimento para que Gwyn imitasse, sua mão segurava a adaga firme, mas quando acertou o boneco, mostrou para Gwyneth que o que fez diferença na precisão do golpe era a força do ataque, não de suas mãos.

Gwyn apenas concordou com a cabeça, respirando fundo e corrigindo a adaga em sua mão. Azriel deixou um pequeno sorriso surgir em seu rosto ao observar como a confiança de Berdara emergiu quando se concentrou.

Ela seguiu com a sequência de golpes que ele havia passado, o corpo alto e esbelto fazendo os movimentos com perfeição, a adaga na mão segurando da maneira que ele havia indicado.

Quando a Valquíria chegou no final dos golpes e acertou o boneco com a adaga, Azriel sorriu ao perceber que ela não tinha errado nenhum passo.Tinha acertado o boneco em cheio, causando um furo certeiro no peito.

Ela olhou para ele, a respiração descompassada, o peito subindo e descendo rapidamente, o cabelo preso em um rabo levemente bagunçado, alguns fios ruivos caindo em seu rosto. Aquele rosto que parecia tão angelical, carregava um olhar quase mortal agora iluminado apenas pela luz da lua.

E pela Mãe... Azriel pôde jurar que era um dos rostos mais bonitos que ele já tinha posto os olhos. Naquele momento, Gwyn poderia igualar a beleza das estrelas que brilhavam no céu.

— Então? — Gwyneth tirou o cabelo do rosto, ainda ofegante. A sacerdotisa saiu da posição de ataque e arqueou uma de suas sobrancelhas.

— Isso foi...

Suas sombras passearam pelos seus ombros.

— Incrível. — Azriel admitiu. — Mas você consegue fazer melhor, vamos de novo.

Gwyneth sorriu e concordou com a cabeça, recuperando o ar enquanto voltava para a posição inicial. Ela era uma aluna exemplar, nunca reclamava e estava disposta a repetir os golpes para alcançar o melhor resultado daquilo. Azriel realmente admirava a força de vontade da valquíria.

— Lute comigo. — Gwyneth interrompeu seus pensamentos.

Azriel arqueou as sobrancelhas em surpresa.

— Como?

— Lute comigo. — Ela repetiu, a voz firme carregada de certeza. — Me mostre como alguém se defenderia desses golpes na prática. Um boneco não vai defender nem revidar os meus ataques.

Azriel hesitou por um momento. Não duvidava da capacidade de Gwyneth, mas sabia do... passado dela, estava lá no que foi provavelmente a noite mais traumática de sua vida. E ele já achava a garota forte para caralho de apenas estar ali sozinha com ele, se sentia grato por Gwyn confiar nele a ponto disso.

E não conseguia parar de pensar que para Gwyneth, olhar para ele já devia ser um lembrete do pior dia de sua vida. Lutar com ela... O causava ainda mais dúvidas porque não queria ser o responsável em trazer essas memórias à tona.

Suas sombras se agitaram, causando um arrepio pela sua coluna. Elas voaram entre os dois, trazendo a atenção de Azriel para a valquíria em sua frente. Os olhos azul-mar ainda brilhavam com aquela confiança intimidadora que fez com que o encantador pedisse à Mãe para nunca mais deixar aquela faísca se perder do seu olhar.

— Eu aguento. — Ela respondeu, quase como se conseguisse entender o que se passava em sua cabeça.

— E no final você vai acertar essa adaga no meu peito igual fez com o boneco? — brincou, fazendo com que um sorriso de lado surgisse nos lábios de Gwyn.

— Se você pedir com jeitinho... — Ela deu de ombros, o que fez com que Azriel soltasse uma risada fraca. — Está com medo, Encantador?

Sua voz saiu como uma melodia sussurrada, como se tivesse cantarolado uma música silenciosa, suas sombras até pareceram dançar em resposta rodopiando entre seu peito e braços.

Ele conseguiu enxergar o desafio no olhar da valquíria, aquele sorriso travesso no rosto, o desafiando como tinha desafiado ela mais cedo. E Azriel não conseguiu conter o sorriso quando pegou a Reveladora da Verdade em sua coxa e disse:

— Vamos ver se tenho algo a temer então... Sacerdotisa.

Ele se posicionou em frente a valquíria, que agora mostrava os dentes brancos e alinhados em um sorriso largo. Ela ajeitou a adaga illyriana na mão, Azriel rodou Reveladora da Verdade entre os dedos, um sorriso de lado esboçando seus lábios enquanto arqueava as sobrancelhas.

Gwyneth revirou os olhos e se posicionou. Azriel fez o mesmo antes de dizer:

— Comece.

E sem hesitar, Gwyn atacou, seguindo os movimentos com a adaga em mãos. Azriel defendeu o primeiro golpe com seu antebraço, trocando a sua adaga de mão e contra atacando Gwyneth com seu cotovelo, a sacerdotisa conseguiu se defender, girando e se abaixando. Mas quando se ergueu novamente, acabou deixando sua guarda aberta, e bastou isso para que Azriel envolvesse uma de suas mãos no pulso da garota, virando seu corpo e a prendendo contra seu peito, o outro braço preso contra a garganta de Gwyneth, com a Reveladora apontada de longe para uma artéria de seu pescoço.

— Deixou sua guarda aberta. — Sua voz era baixa contra a bochecha da sacerdotisa. — Precisa ficar atenta ao se erguer, ou dará passagem fácil para o oponente te imobilizar, igual estou fazendo.

Sentiu a respiração de Gwyneth pesar.

Gwyneth soltou um grunhido de frustração e se sacudiu contra seu corpo, Azriel a soltou e a sacerdotisa se virou de frente, o encarando com sangue nos olhos.

— Vamos de novo.

E seguiram assim pelo resto da noite. 


Awwn, já temos uma interaçãozinha desses dois. 

O que acharam do capítulo? Sei que ele ficou um pouquinho grande demais, então peço desculpas. Mas se vocês gostaram, peço que deixem um comentário e um favorito, isso ajuda a fic a chegar em mais gente e me motiva bastante também. 

É isso, muito obrigada pessoal. Vejo vocês no próximo capítulo. 

Beijos! :)

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