𝟬.𝟯 𝗖𝗥𝗢𝗦𝗦𝗙𝗜𝗥𝗘

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Gwyn acordou na manhã seguinte dolorida e com pouco descanso. A primeira coisa que fez foi tirar a camisola e correr para o banho, para não se atrasar para o treino com as sacerdotisas.

Quando vestia o traje novamente, ela parou de frente ao espelho para olhar a tatuagem que não teve tempo para reparar na noite anterior. Debaixo do seu seio esquerdo o desenho de uma adaga deitada horizontalmente em volta de diversas constelações e arabescos marcava sua pele.

Ela deixou escapar o ar quando observou melhor a adaga.

Era a Reveladora da Verdade, a arma de Azriel. As runas illyrianas escritas na lâmina e o cabo de obsidiana não deixava dúvidas que aquela era realmente a adaga do encantador de sombras.

Caldeirão... Ela não conseguia parar de imaginar que aquilo estava agora marcado em seu corpo. Curiosidade a inundando para saber o que estava marcado no corpo do illyriano também.

Acabou de vestir o traje, colocando aquelas perguntas para serem respondidas mais tarde. Sem delongas, Gwyn subiu até a Casa do Vento, cumprimentando-a quando pisou na sala que levava até o ringue do lado de fora.

Nestha e Emerie já estavam ali alongando junto com outras sacerdotisas, mas não havia nenhum sinal de Cassian ou de Azriel.

Suas amigas pararam de conversar quando chegou até elas, Nestha sorriu largamente para ela. Gwyn ainda não tinha se acostumado com o quanto a irmã ficava linda sorrindo daquela maneira. Emerie se ergueu, também sorrindo para ela quase da mesma maneira que Nestha.

— Você está um pouco atrasada. — Emerie disse.

— Eu sei, acabei dormindo mais que a cama. — Gwyneth riu fraco. — Do que estavam falando?

— Nestha estava me obrigando a escutar todas as coisas indecentes que ela e Cassian fizeram depois da cerimônia.

Gwyn sentiu seu rosto queimar, provavelmente ficando vermelho, mas deixou uma risada escapar de seus lábios.

— Sua mentirosa, você que me pediu para contar em detalhes. — Nestha fuzilou Emerie com o olhar, o que fez com que a illyriana soltasse uma risada fraca. — Também estávamos conversando sobre o livro que Emerie está lendo, tem algum interessante para indicar a gente?

— Bem que eu queria, não estou tendo tempo para ler nenhum, estou ocupada demais com as pesquisas de Merrill para me permitir dar ao luxo de ler um romance. — Gwyn suspirou alongando seus braços. — E onde estão Cassian e Azriel?

— Rhysand precisou dos dois para uma reunião importante. — Nestha explicou. — Estamos por conta de treinar as sacerdotisas hoje.

Gwyn sentiu seu coração bater forte contra o peito.

Sozinhas?

Emerie afirmou com a cabeça, e Gwyneth precisou respirar fundo para acalmar a ansiedade que crescia dentro dela, fazendo-a duvidar que era capaz de fazer aquilo.

— Certo. O que pensou? — Gwyn olhou para Nestha, sabendo que provavelmente ela já tinha pensado em algum plano de treino para hoje.

— Pensei em deixar você com as mais novas porque você tem paciência e gosta de ensinar. — Gwyneth concordou, sorrindo de leve. Nestha a conhecia muito bem. — Eu e Emerie ficamos por conta das mais velhas, reforçando os exercícios que elas já sabem.

— Ótimo. — Ela sorriu fraco. — Vamos começar então.


𓆩*𓆪


Ensinar e ajudar as novatas foi mais fácil do que Gwyn esperava. Ela não tinha percebido o quanto realmente gostava de ensinar os outros até aquele momento. As novatas também pareceram gostar bastante da aula e do treino, então Gwyneth se deu como satisfeita.

As três valquírias estavam agora sozinhas perto do cantil, tomando água e tentando de alguma forma amenizar o calor que sentiam.

— Eu estou atrasando a leitura só para o livro não acabar. — Emerie continuou contando sobre o livro para as duas. — Tem partes de alguns capítulos em que fico me perguntando se realmente é possível fazer aquele tipo de coisa, vocês deviam ler.

— Que tipo de coisas? — Gwyn perguntou deixando o copo de água na mesa ao lado.

— Como... Prolongar e atrasar certas... Sensações, entende?

— Não. — Gwyn foi sincera. Não fazia a menor ideia do que a amiga estava falando.

— Você pode falar orgasmo, Emerie, não é um palavrão e acho que Gwyn já está familiarizada com o assunto já que ela lê os mesmos livros. — Nestha tocou no braço de Emerie.

A illyriana riu, mas Gwyn sentiu suas bochechas corarem de novo. Ela odiava aquilo, odiava como apenas tocar nesse tipo de assunto a deixava vermelha. Gwyn adorava os romances picantes que Nestha e Emerie a indicavam, ela não iria negar aquilo, mas todo aquele...conhecimento, ainda era novo demais para ela.

— Bom, eu sei o que é, mas não tenho certeza se estou... familiarizada com o assunto... — Gwyneth riu fraco. — Quer dizer, eu nunca...

Ela não conseguiu terminar a frase sem se embolar.

— Você nunca teve um orgasmo? — Nestha pareceu chocada. E Gwyneth quis se esconder com a altura com que a amiga havia soltado aquele fato.

— Nestha! — Emerie a repreendeu, mas a sacerdotisa apenas balançou a mão como se dissesse que estava tudo bem.

— Desculpe. — A Archeron mais velha se recompôs. — Mas é verdade? Você nunca teve um orgasmo?

— Como você esperava que eu tivesse tido? Não é como se eu fosse muito experiente ou entendesse muito sobre o assunto, Nestha. — Gwyn resmungou ainda envergonhada.

Flashs do acontecimento em Sangravah passaram em sua mente, fazendo com que ela se encolhesse em reflexo. Fez o máximo para tirar aquelas imagens da cabeça quando voltou a olhar para suas irmãs, que agora a olhavam com um sorriso amigável no rosto.

— Você não precisa de... alguém, para ter um orgasmo, Gwyn. — Emerie pareceu cuidadosa ao falar. — Você pode fazer sozinha.

A sacerdotisa franziu o cenho, completamente confusa com o que Emerie havia acabado de falar.

— Sozinha? — Gwyn soltou uma risada nervosa e sem graça. — Como isso é possível?

Nestha e Emerie se entreolharam e depois riram, deixando Gwyn ainda mais confusa.

— Se tocando. — Nestha deu de ombros, como se tivesse falado a coisa mais normal do mundo.

— Você quer dizer... — Gwyn engoliu em seco, os olhos se arregalando aos poucos. — Lá?

— Sim. — Emerie riu. — Não tem nada de estranho, Gwyn, é muito natural e pode te ajudar a descobrir o seu corpo e do que você gosta e não gosta.

— E as pessoas realmente têm orgasmos apenas se tocando? — Gwyneth negou com a cabeça, ainda confusa. — Vocês já tiveram?

Nestha soltou uma gargalhada, e Emerie a acompanhou. Gwyn olhou para as duas, a expressão de dúvida ainda estampada em seu rosto.

— Ai, Gwyn... — A Archeron riu fraco. — Se você soubesse quantas vezes provavelmente me acharia uma tarada.

— Digo o mesmo. — Emerie riu fraco, bebendo um copo de água.

— Mas... Como pode ser prazeroso você fazer algo... sozinha? Me parece muito estranho você sentir algo por você mesma. — Ela negou com a cabeça.

— Você não vai se tocar pensando em você mesma. — Nestha tinha um tom de voz doce. — Você pode imaginar o que você quiser, com quem você quiser. É só pensar naquilo que te deixa excitada, com desejo... As cenas dos livros nunca te causaram nada?

Gwyn sentiu seu rosto ficar vermelho novamente. Ela poderia dizer que não, mas seria mentira. A sacerdotisa tentava ignorar aquele peso que se instalava no seu baixo ventre quando lia as cenas, na pressão que parecia esmagar sua intimidade e a vontade instintiva de fechar as pernas uma contra a outra.

Nunca entendeu muito bem aquela sensação, que era gostosa mas ao mesmo tempo incômoda, que a fazia querer buscar algum tipo de fricção e alívio ao mesmo tempo.

Ela automaticamente se lembrou de ontem, de como o peito de Azriel estava colado contra suas costas, da respiração do macho contra seu ouvido e de sua voz baixa e grave inundando todos seus sentidos, fazendo seu corpo gelar. De como seus corpos estavam colados naquele momento que duraram pouquíssimos segundos.

Pela Mãe, Gwyneth!

Gwyn balançou a cabeça, tentando tirar a imagem de sua mente e impedir o calor que começava a querer emergir em suas veias.

— Eu acho que sim... — Gwyn deu de ombros. — Mas, ainda me parece estranho.

— Apenas tente e depois nos conte. — Emerie soltou uma risada fraca, mas Gwyneth apenas negou com a cabeça, tentando encerrar aquele assunto antes que voltasse a ficar vermelha como o pôr do sol da Corte Crepuscular.

— Tenho que ir para biblioteca. — Ela respirou fundo, se preparando para encontrar Merrill e seu mau humor diário. — Vejo vocês mais tarde?

— Claro, precisamos combinar uma noite de pijama novamente. — Nestha concordou. — Bom trabalho, Gwynnie.

A sacerdotisa revirou os olhos com o som daquele apelido horrível.

— Odeio quando me chamam assim.

— Eu sei. — Nes riu, levando Emerie junto com ela.

Gwyn seguiu para fora da varanda do ringue, caminhando para dentro da Casa do Vento ainda pensando no que as meninas tinham falado.

Ela balançou a cabeça, tentando focar na pesquisa que teria que fazer agora, na quantidade de livros que teria que tentar decifrar.

Antes que pudesse suspirar de frustração ao pensar no trabalho que tinha que fazer, ela escutou um baque grave na mesa de centro da sala, fazendo ela se virar.

Parado na mesa havia um livro. Gwyneth franziu o cenho enquanto caminhava até o centro da sala, se abaixando para pegar o livro que a Casa havia colocado ali.

A capa de couro era escura e o título estava escrito na língua antiga, Gwyn rodou o livro entre as mãos, sem entender a intenção da Casa.

— Quer que eu leia isso? — perguntou baixo. — Eu entendo pouquíssimo da língua antiga.

A Casa deixou outro livro cair em cima da mesa. Gwyn não hesitou em pegá-lo. O livro era grande e estava envolvido em uma capa preta, desenhos de sombras adornavam o título que estampava um "Encantadores de Sombras" em letras cursivas.

A sacerdotisa deixou o ar escapar.

Por que a Casa queria que ela lesse sobre encantadores de sombras?

Ela rodou o livro na mão livre. Parecia uma leitura bem densa, com informações que provavelmente ela não obteria em nenhum lugar, nem do próprio encantador que vivia ali. Gwyneth não deixou de se perguntar o porquê a Casa tinha dado aquele livro em suas mãos, e ela não achava que tinha sido por acaso ou pela vontade que Gwyn sentia em entender melhor o mestre-espião.

Tinha um motivo, e talvez lendo-o ela entenderia o que a Casa queria tanto que Gwyneth soubesse.

— Você realmente não está facilitando nem um pouco. — A sacerdotisa juntou os livros no braço.

Outro livro caiu na mesa, e dessa vez a valquíria sentiu as bochechas queimarem ao ver a capa com uma pintura sugestiva e nem um pouco discreta. Ela pegou o livro rapidamente, com medo de que alguém chegasse ali.

— Engraçadinha. — murmurou, antes de acelerar o passo e seguir para o dormitório, para guardar os livros a sete chaves na gaveta da cômoda ao lado de sua cama.


𓆩*𓆪


Azriel tinha dormido bem e tranquilamente, por incrível que pareça, apesar de ter dormido pouco. Acordou cedo com Rhysand batendo contra suas paredes mentais, o fazendo bufar em frustração antes de deixar o irmão passar pelas barreiras de névoa em sua mente.

Antes mesmo de levantar, Rhysand já estava o amontoando com tarefas do dia. Primeiro pedindo para que colocasse seus espiões perto da fronteira da Corte Outonal para monitorar possíveis movimentos de Beron, e o segundo pedido foi aquele que tirou a tranquilidade da noite bem dormida de Azriel, já que Rhysand decidiu o contar que visitariam Refúgio do Vento para conversar com Devlon que estava se recusando a deixar as meninas treinarem as fêmeas illyrianas.

Deuses... Ele odiava aquele lugar.

Odiava tudo que ele representava e ainda não conseguia entender como Rhysand não acabava com aqueles acampamentos de uma vez por todas.

Ele se permitiu levantar, o mau humor já se instalando no seu corpo grande enquanto vestia suas calças de couro e se arrumava.

Parou no espelho do quarto, encarando as costas onde a tatuagem nova estava estampada, ainda sem entender o significado dela. A espada desenhada em cima de sua coluna chegava quase até o fim de suas costas e apenas o desenho dela fazia Azriel arrepiar. A tinta preta preenchia a lâmina, o que fez ele deduzir que a espada tinha a lâmina negra, assim como o cabo que parecia emanar alguma energia sombria.

As constelações e os arabescos rodeavam a espada. Por algum motivo, ele pode jurar que a arma era familiar.

Colocou os pensamentos de lado quando vestiu o couro trabalhado pelos braços, colocando seus sete sifões e ajeitando as armas pelo traje, Reveladora da Verdade já pronta e afiada em sua coxa.

Ele respirou fundo antes de sair do quarto da Casa do Vento. Era cedo demais para ter sinal de Nestha ou de qualquer outra valquíria acordada para treinar, então se permitiu sair e ir até a sala de jantar, onde um café da manhã reforçado já o esperava junto a um Cassian com a aparência cansada.

— Bom dia. — cumprimentou o irmão e se sentou, agradecendo a Casa pelos ovos e bacons a sua frente.

— Bom dia, maninho. — Cassian cruzou os braços enquanto bocejava. — Rhys deve aparecer em qualquer minuto.

Azriel acenou com a cabeça, colocando um dos bacons na boca.

— Dormiu bem?

— Por incrível que pareça... Sim. — respondeu, sincero. — Acho que você e Nestha não fizeram tanto barulho igual eu esperava.

Cassian gargalhou.

— Ah, acredite irmão, nós fizemos. — ele se inclinou sobre a mesa. — Mas Nestha foi generosa com você e pediu para que a Casa encantasse o quarto para que você não tenha que escutar mais nada.

— Que benção. — Azriel revirou os olhos. — Pergunte para Nes se a Casa também consegue abafar o cheiro...

— Filho da puta. — Cassian resmungou, rindo logo depois. Azriel deu um pequeno sorriso vitorioso.

Antes que o encantador pudesse responder o irmão, Rhysand surgiu em meio ao seu poder no meio da sala. As roupas de Grão-Senhor bem arrumadas e o cabelo devidamente penteado.

— Já estão prontos? — perguntou, Azriel notou que o irmão também tinha a aparência cansada, provavelmente por consequência de ter um recém-nascido em casa.

— Esperando Azriel acabar de comer. — O General apontou para ele. — Melhor você ordenar ele a comer mais rápido, pois na velocidade que está comendo vamos chegar nas montanhas apenas amanhã.

Azriel demorou o máximo que pôde para colocar outro pedaço de bacon na boca, fazendo questão de irritar Cassian.

— Posso esperar. — Rhysand suspirou se jogando na cadeira da ponta.

— Você parece cansado. — Cass voltou o olhar para Rhysand, o coque no alto de sua cabeça deixando alguns fios do cabelo negro escaparem.

— Ninguém me avisou que ter um bebê era tão difícil.

— Acho que todo mundo avisou. — Azriel disse, fazendo Cassian confirmar em meio a uma risada.

— Nyx realmente não nega suas raízes e parece se negar a dormir de noite. — Rhys coçou os olhos. — Passei a madrugada na varanda tentando fazer ele dormir para que Feyre pudesse descansar um pouco e ele simplesmente não fechava os olhos.

— É, Rhys... Você e Feyre, geraram um morceguinho. — Cassian riu fraco. — Não vejo a hora de sentir isso que você está sentindo.

Azriel engoliu em seco a comida em sua garganta, colocando o prato de lado e se levantando.

— Podemos ir. — ajeitou o traje. Cassian e Rhys também se levantaram.

Ele não tinha de fato acabado, mas tinha se dado por satisfeito, na verdade, ele só não queria escutar mais. Aquela pontada de inveja o acertando como um soco no estômago. Estava feliz pelos irmãos, por Cassian ter encontrado paz com a parceira e por Rhys ter achado Feyre e colocado Nyx no mundo depois de tudo que havia passado e sofrido.

Mas ele precisava trabalhar aquela dor em seu peito, precisava trabalhar para aceitar que não teria aquilo que os amigos tinham e conseguir apenas ficar completamente feliz com a felicidade dos irmãos. Algo sempre o impedia, talvez o fato de que seus irmãos seriam um eterno lembrete de tudo que Azriel quis e não conseguiu.

O encantador sabia que pensar daquela forma era ridículo, que sentir esse desespero era ridículo, mas não era como se Azriel fosse bom o suficiente para tentar de fato parar. Ele também sabia que não era um macho bom. O Mestre-Espião matava e torturava, suas mãos cicatrizadas estavam sujas com o sangue de centenas de feéricos, humanos e criaturas. O pior disso tudo era que diversas das vezes ele havia gostado da sensação, e aquele sentimento provavelmente nunca passaria pela cabeça de uma boa pessoa, de um macho correto e bondoso.

— Você não acabou de comer. — Rhys apontou para o prato.

— Já estou satisfeito. — respondeu, sem animação. — Vamos?

— Certo. — Seu amigo e Grão-Senhor o olhou de maneira desconfiada. — Vamos atravessar, preciso lidar com isso o mais rápido possível.

Rhysand pegou no ombro de Cassian que apenas afirmou com a cabeça, Azriel também concordou. Poucos segundos depois Rhys e Cassian tinham desaparecido entre poeira de estrelas e noite, as sombras então o envolveram respondendo ao poder de Rhys antes de Azriel usá-las para atravessar para as Montanhas Illyrianas.

Quando chegou pôde observar Rhysand ajeitar seu casaco, enquanto Cassian ajeitava uma das espadas em seu coldre. O encantador permaneceu em silêncio seguindo os irmãos até o escritório de Devlon, com as mãos atrás das costas e o queixo erguido. Já estava tão acostumado com os olhares de desprezo dos outros machos naquele acampamento que nem sequer reconheceu a presença de nenhum deles.

— Devlon... — A voz de Rhysand saiu firme quando entrou no escritório do lorde.

— Grão-Senhor... — O illyriano respondeu. — Vejo que trouxe seus cães.

Cassian grunhiu, fazendo Devlon soltar uma risada fraca enquanto sentava na cadeira de couro em frente a mesa de mogno a sua frente.

— Deixe-me adivinhar, estão aqui para me convencer a deixar aquelas fêmeas que supostamente venceram o Rito de Sangue treinar as nossas fêmeas?

O sangue de Azriel ferveu ao escutar o tom de desdém na voz daquele cretino, suas sombras se espreitaram pelo cômodo deixando a sala mais escura e fria. Devlon pareceu notar a mudança no ambiente pois se ajeitou na cadeira, olhando de canto de olho para ele.

— Não vim te convencer, Devlon. — Rhysand caminhou com uma calma letal até a mesa do illyriano. — Você não precisa ser convencido e não dou a mínima se vai concordar ou não, isso é uma ordem e você vai respeitá-la.

O lorde trincou o maxilar e o Mestre-Espião conseguiu sentir a raiva emergir no corpo do desgraçado.

— As fêmeas já estão sendo treinadas por guerreiros illyrianos como você havia exigido. — A voz do macho saiu como um veneno. — Não precisamos de mais treinamento.

— Chama aquela merda de treino? — Cassian grunhiu entredentes. — Não conseguem nem sequer fazer o trabalho direito, as treinam com má vontade, violência e nem sequer as motivam.

O lorde olhou para Cass com desprezo, como se olhar para o seu irmão e vê-lo possesso de todo aquele poder e glória o enfurecesse.

— Aquelas fêmeas já causaram tumulto o suficiente aqui. — Devlon contestou voltando a olhar para Rhysand. — Quer mesmo transformar o acampamento em um caos? Que os guerreiros comecem a se revoltar contra sua corte?

— As Valquírias irão treinar as fêmeas illyrianas, Devlon. — O Grão-Senhor ainda tinha aquela calma que Azriel admirava. — E você vai aceitar sem contestar.

— Valquírias... — Ele riu com desdém, negando com a cabeça, incredulidade estampada no seu rosto.

— O que te assusta tanto, Devlon? — O General tinha um sorriso provocativo no rosto. — É o fato de que três fêmeas treinadas por menos tempo que seus guerreiros conseguiram vencer o Rito de Sangue e se tornarem Carynthians? Ou o fato de que você não consegue controlar seu próprio acampamento?

O illyriano grunhiu se levantando e apontando o dedo indicador para o rosto de Cassian.

— Se acha que vai vir no meu escritório e me insultar você está enganado seu bastardo de merda. — A voz do macho se elevou. — E se acha que vou reconhecer que uma bruxa odiosa, uma fêmea aleijada e uma vadia mestiça...

As palavras rondaram na mente do encantador, algo sombrio e violentando se instalando em seu corpo. Azriel sentiu seu peito inflar e antes que pudesse raciocinar o que tinha escutado, ele já estava com a mão ao redor do pescoço de Devlon. O macho não conseguiu nem sequer finalizar. Suas sombras se acumularam entre os dedos enquanto ele forçava o macho illyriano de volta à cadeira com força.

Os olhos do lorde se arregalaram.

— Você vai fechar a porra da boca. — A voz do encantador saiu gutural, quase mortal. — Antes que eu corte sua língua e a dê de alimento para aqueles animais que você chama de guerreiros.

Azriel. — Rhysand o repreendeu, mas o Mestre-Espião não soltou o pescoço do macho, ao invés disso suas sombras rastejaram contra aquela passagem de ar, ameaçando sufocá-la.

Ele sentiu as garras de Rhysand contra seu escudo mental, tentando passar pelo nevoeiro negro de sua mente, mas Azriel não subiu. Tudo que ele conseguia pensar era no insulto hediondo que ele havia dirigido para Gwyn... Para Nestha e para Emerie.

Deuses, ele queria girar o pescoço daquele idiota e o quebrar em pedaços.

— Estamos claros? — Azriel perguntou, a voz ainda em um tom ameaçador.

Devlon apenas confirmou com a cabeça, desesperado por ar. O encantador então o soltou voltando ao seu lugar e encarando o lorde com o olhar mortal rezando para que o cretino morresse engasgado na tosse que ele agora soltava devido ao aperto de Azriel em sua garganta.

— As Valquírias começam semana que vem. — Rhysand disse firme. — Você ainda está na minha corte, Devlon, e se quiser viver aqui vai ter que respeitar as minhas regras. Se eu ficar sabendo que você está negligenciando o treino dessas fêmeas mais uma vez, se verá comigo.

A raiva que emergiu no rosto do lorde foi quase palpável, mas Rhysand não disse mais nada e também não olhou para trás quando saiu do escritório.

Mas Azriel fez questão de encarar o desgraçado antes de sair, para que ele tivesse certeza que o encantador não estava brincando quando disse que arrancaria aquela língua imunda de sua boca.

Os três irmãos saíram da cabana e Rhysand o encarou com um olhar repreensível, o qual Azriel não aguentava mais receber.

— Que merda foi aquela?

— O necessário. — respondeu, simples e direto. — Ele iria mais longe se não tivesse o parado.

— Isso não te dá o direito de atacá-lo e ameaçá-lo. Devlon ainda é um lorde illyriano, Azriel e ainda precisamos da aliança dele.

— Então eu devia ter deixado que ele falasse qualquer porcaria sobre as garotas? — Ele parou de andar encarando Cassian e Rhysand. — Quanto mais convenientes formos com a imundice que ele despeja mais esses idiotas vão entender que não existem consequências para o que ele fala ou faz.

— Quando fomos convenientes com o que ele falou ou fez, Az?

Azriel riu sem humor, desacreditado.

— Dá uma olhada para esse lugar, Rhysand. — Os dois irmãos suspiraram. — Esse lugar continua a mesma merda desde quando éramos crianças, nada mudou, e não é como se não soubéssemos o que acontecia aqui.

Rhysand ficou calado e Cassian cruzou os braços, disposto a escutar.

— Por que acha que esses idiotas acreditam que podem fazer qualquer coisa? — O encantador também cruzou os braços. — Porque eles podem. Porque nada nunca aconteceu com eles.

— Eu concordo com você, irmão. — Rhys caminhou para mais perto dele. — Mas atacar Devlon daquele jeito só o dá mais motivo para que ele lidere uma revolta no acampamento.

— Ainda existe salvação, Az. — Cassian o olhou com um lampejo de esperança. — Mudanças levam tempo.

— Quanto tempo, Cassian? — O encantador o olhou, uma fúria surgindo do seu peito para a sua garganta, quase fazendo-o engasgar. — Deuses, olhe para as asas de Emerie... Olhe o que aconteceu com sua mãe, para qualquer fêmea naquele treino, olhe para a porra das minhas mãos.

Ele se exasperou, as sombras agitadas ao redor de seu corpo. Seu irmão o encarou como se Azriel tivesse acabado de perfurar um de seus pulmões.

— Eu tenho 537 anos, Cassian. — engoliu em seco. — Quanto tempo mais vai demorar?

O General abriu a boca para dizer algo mas Rhysand o interrompeu dizendo:

— Você está certo. — Sua voz era calma. — Nunca fomos rígidos o suficiente, estávamos sempre hesitantes, preocupados com uma possível revolta. Isso vai acabar.

Azriel respirou fundo.

— As Valquírias vão trazer uma nova era para o povo de Illyria. — Rhysand afirmou e Cassian concordou.

Mas o encantador ainda tinha as palavras de Devlon ecoando em sua cabeça. Ainda tinha a lembrança do dia em que as garotas foram jogadas no Rito de Sangue, ainda tinha cada detalhe que elas contaram gravados, ainda conseguia ver o olhar de tristeza da sua mãe e ainda sentia a dor das queimaduras em suas mãos em sua mente.

Aquilo nunca iria mudar e aquelas memórias estariam para sempre com ele, mesmo se queimasse aquele lugar até as cinzas.

Mesmo se realmente tivesse o começo de uma nova era.

Aquilo dentro dele, aquela coisa sombria e escura... Nunca mudaria.


Primeiramente, tadinha da Gwyn quase virando um pimentão KKKKK e que pensamentos são esses, Berdara? Achei que você era crente! 

Segundo, Azriel puto, amamos muito ver, não vou mentir. E essa braveza toda veio de onde hein? 

E aí, o que acharam do capítulo? Gostaram? Se a resposta for sim então comentem muito e deixem um comentário, isso ajuda a espalhar a palavra de Gwynriel pro mundo e me motiva bastante. 

Fiquei muito feliz com a repercussão e com os comentários que vocês deixaram no último capítulo <3 muuito obrigada pelo carinho de vocês, isso me deixou bem mais animada para continuar a escrever. 

É isso pessoal, vejo vocês no próximo! Até o próximo capítulo. :) 

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