𝟭𝟮. 𝗖𝗢𝗡𝗡𝗘𝗖𝗧𝗜𝗢𝗡

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Gwyn tinha tomado um banho no chalé de Refúgio do Vento. A água quente da banheira a ajudou a amenizar um pouco das dores que sentia no corpo, depois daquela coisa repugnante ter se apropriado de sua pele daquela maneira.

Ela ainda se lembrava da sensação de ser sufocada por aquele líquido nanquim, enquanto o ar parecia sumir da sua garganta cada vez que a criatura rastejava pelo seu corpo.

Gwyneth ainda não tinha entendido muito bem o que havia acontecido. O calor latente que sentiu em suas veias, o brilho que aquela pedra emanou... Não conseguia enxergar nada, mas sentiu, e o que havia sentido era como se sua pele já estivesse debaixo do sol há muito tempo, como se algo estranho e arcaico quisesse se libertar de dentro dela e tomar toda a floresta.

A sacerdotisa não tinha certeza se a pedra era capaz de causar aquela sensação. E também, não tinha certeza se era algo que ela queria descobrir.

Saiu do banho melhor e mais relaxada, Azriel tinha a mostrado mais cedo algumas roupas de Morrigan que pareciam servi-la. Gwyn escolheu uma calça e uma blusa preta, que serviu perfeitamente.

Quando voltou para a sala principal do chalé, Azriel estava agachado em frente a lareira, tentando acendê-la.

— Talvez pudéssemos pedir para Nestha dar vida a todas as casas. — Ela murmurou enxugando o cabelo. — É bem menos trabalhoso.

Azriel levantou, voltando os olhos avelãs para a sacerdotisa.

— Está se sentindo melhor? — O rosto do encantador estava tomado da mais pura preocupação, aquilo de alguma forma esquentou o coração da valquíria.

— Estou. — Gwyn sorriu fraco. — Muito obrigada por ter preparado o banho.

— Sente-se aqui perto da lareira, você estava gelada quando encostei em você. — Azriel estendeu a mão tampada pela luva e o sifão para ela.

Gwyneth não hesitou, apenas caminhou em sua direção e pegou em sua mão, aceitando a ajuda de Azriel. Ele a ajudou a sentar no tapete em frente a lareira e a indicou um cobertor ao lado para se enrolar.

Por alguns segundos, Gwyneth sentiu seus olhos arderem e a garganta secar, como se fosse chorar a qualquer momento. Aquele gesto, por mais pequeno que fosse, tocou seu coração de maneira profunda, fazendo com que ela fosse grata por ter Azriel ali.

— Quando se sentir melhor podemos atravessar. — Ele disse ainda em pé.

— Você está ferido. — Gwyn respondeu, engolindo em seco.

— Isso não é um problema. — respondeu firmemente. O rosto irreverente cheio de pequenos arranhões.

— É um problema para mim. — Gwyn o encarou, o illyriano parecendo bem mais alto do que o normal visto daquela posição. — Por favor, tome um banho também, posso esperar suas feridas cicatrizarem, posso esperar você estar forte o suficiente.

— Gwyn...

— Por favor, Azriel. — Ela o interrompeu.

Azriel exalou um longo suspiro, balançando a cabeça positivamente. Gwyn sorriu de leve, se enroscando no cobertor e apreciando o calor da lareira. A primavera poderia estar acabando mas Refúgio do Vento era sempre gelada.

— Não vou demorar. — murmurou, caminhando em passos lentos até o quarto onde Gwyn havia acabado de tomar banho. 

Quando Azriel desapareceu de vista, a sacerdotisa se levantou com cuidado, caminhando em direção a cozinha. Ela não conhecia o lugar, mas imaginava que Rhysand cuidava daquele lugar com carinho e que nada ali estava abandonado.

Ela abriu a porta da cozinha que dava em direção a área de fora, notando um quintal pequeno, porém bem cuidado, provavelmente com magia. Gwyn correu os olhos pelo jardim, até encontrar uma pequena horta.

Passou os olhos pelas plantas e sorriu de leve quando encontrou uma muda de camomila, calêndula e milefólio. Colheu um galho de cada flor e voltou para dentro da cozinha com as plantas em mão.

Procurou algum tipo de pote pelos armários, pedindo licença educadamente, mesmo se aquela casa não fosse encantada, talvez fosse o costume. Achou um pequeno pote e um amassador, junto com uma pequena garrafa de mel.

Ela jogou as flores das plantas dentro do pote, derramou um pouco de mel e completou com algumas gotas de água. Usou o amassador para macerar bem a mistura, até que formasse uma pastinha, quando sentiu que estava em uma consistência boa, Gwyn parou de macerar.

Isso serviria como uma pomada.

Sabia disso por causa da sua mãe, que sempre teve um conhecimento vasto sobre receitas curativas. Ali no pequeno quintal não tinha nenhuma das flores que sua mãe costumava fazer o remédio mas, Gwyn já pesquisou sobre todos os tipos de assuntos possíveis, e a magia dos curandeiros estava incluída em muitas das suas pesquisas.

Apenas trocou alguns ingredientes com as plantas que poderiam gerar o mesmo resultado. E aparentemente havia dado certo.

— Gwyn? — Escutou a voz de Azriel.

— Estou aqui.

Ela caminhou de volta para a sala, onde encontrou o encantador com roupas casuais. Uma camisa preta - como sempre - e uma calça da mesma cor.

As luvas, no entanto, ainda estavam nas mãos.

— O que está fazendo? — Azriel franziu o cenho, olhando para o pote em suas mãos.

— Me deixe ver esses cortes. — apontou para o sofá, mas o encantador não moveu um músculo. — Estou falando sério, Azriel.

— Não tem necessidade, Gwyn. — negou com a cabeça. — Vão cicatrizar sozinhos, aliás já estão cicatrizando.

— Azriel... — A sacerdotisa respirou fundo. — Você vai sentar naquele sofá e vai me deixar ver os cortes.

— Gwyn...

— Não é um pedido. — interrompeu, o olhando com seriedade.

O encantador entreabriu a boca, como se fosse dizer algo, mas fechou ao nota a expressão no rosto da valquíria. Ele apenas exalou profundamente e caminhou em direção ao sofá, se sentando nele.

Gwyn sorriu fraco, seguindo Azriel com o pote em mãos e parando em sua frente. Ele ergueu uma de suas sobrancelhas, a sacerdotisa bufou irritada.

— Tire a camisa. — O illyriano continuou parado. — Azriel, eu não estou brincando, dá para parar de ser teimoso? Estou tentando te ajudar.

O Mestre-Espião pareceu pensar por alguns segundos, antes de arrancar a blusa com pressa e tacá-la no chão do lado. Gwyn não conseguiu nem aproveitar a visão, pois o corte em seu peito estava horrível, além de estar demorando mais que o normal para cicatrizar.

— Isso está terrível. — negou com a cabeça. — Pensei que tinha me falado que estava cicatrizando.

— Não sei porquê está demorando mais que o normal. — Sua voz era grave. — Os seus cortes já estão cicatrizando.

— Os meus foram superficiais, isso está fundo, Azriel. — Gwyn sentou do seu lado. — Me deixe cuidar disso.

Ela pegou um pouco da pasta descansada no pote. Mas Azriel a interrompeu perguntando:

— Onde conseguiu isso? 

— Eu fiz.

— Você fez?

— Sim. — A sacerdotisa deu de ombros. — É uma receita muito simples. Vi que você estava sangrando muito e achei que isso poderia ajudar a estancar o sangue e acelerar a cicatrização natural.

A expressão no rosto de Azriel se suavizou, um brilho diferente se instalou naquelas orbes acastanhadas que tanto a hipnotizava. O Mestre-Espião engoliu em seco. Naquele momento Gwyn queria muito poder saber o que se passava na sua cabeça.

Ele apenas concordou com a cabeça, o que fez Gwyneth sorrir de leve, aplicando levemente a pomada caseira em cima dos cortes mais profundos em seu peito.

— Não sei porque é tão relutante em deixar os outros cuidarem de você. — murmurou enquanto se concentrava em espalhar o remédio com cuidado.

A respiração de Azriel se tornou irregular, mais pesada e mais longa.

— Isso... Isso é novo para mim. — respondeu, os olhos fixos na mão de Gwyn que passava a pomada com delicadeza.

— O quê? Ser cuidado?

— Sim. — Azriel coçou a garganta, encostando a cabeça no sofá. — Não acho que preciso também.

— Todo mundo precisa de cuidado, Azriel. — Gwyn levou os olhos azuis em sua direção. — Não sei como pode dizer coisas como essas.

— Minha mente é um lugar sombrio, Gwyn. — Ele suspirou fundo. — Você entenderia se passasse alguns minutos dentro dela.

— Eu gostaria disso. — A sacerdotisa espalhou o remédio em outra ferida. — Talvez desse jeito eu poderia fazer algo para convencê-lo de que tudo que você pensa sobre si mesmo está completamente equivocado.

— Fico feliz por você não conseguir fazer isso. — Os olhos de avelãs procuraram pelo de oceano. — Não quero que você fuja.

— Você está tão enganado em pensar algo desse tipo. — Gwyn negou com a cabeça. — Você pode me mostrar as partes mais escuras e sombrias que você diz cultivar dentro de você, Azriel... Eu não vou a lugar nenhum.

Azriel a encarou por um momento, ela desviou os olhos do peitoral machucado para o rosto do encantador. Aqueles olhos castanhos ficaram perdidos em seu rosto por alguns segundos, ele entreabriu os lábios, mas fechou em questão de instantes, desviando os olhos para a lareira atrás deles.

— Tenho medo... Medo de lhe contar os meus segredos e... — O encantador engoliu em seco. — E você nunca mais olhar para mim dessa maneira.

— E como acha que eu te olho, Encantador?

— Como se eu valesse a pena. — voltou a olhá-la. — Como se tivesse algo dentro de mim que valesse a pena ser salvo, ser apreciado e... Ninguém nunca me olhou desse jeito.

Gwyn sorriu de leve, a mão ainda descansando em seu peito que subia e descia lentamente, como se eles estivesse com dificuldade de respirar. Nunca esteve com o rosto tão perto do dele, e nunca quis tanto desejar acabar com um espaço, igual quis acabar com aquele entre eles.

— Então, me desculpe, se eu quero prolongar a sensação.

Um sorriso triste surgiu no rosto do encantador. Gwyn quis passar a mão no cabelo molhado, quis fazer um carinho no seu rosto perfeito, mas se conteve. Ao invés disso, se ajeitou no sofá.

— Tente. — Foi tudo que ela respondeu.

— O quê?

— Tente me contar. — pausou em meio um sorriso tranquilo. — Estou aqui... Você pode conversar ou não conversar comigo, mas eu vou continuar aqui, então tente...

Azriel respirou fundo, mordendo o interior de sua bochecha direita. Gwyn se atentou em outra de suas feridas, o deixando livre para escolher se contaria ou não, mas mesmo assim se surpreendeu quando ouviu ele dizer:

— Você sabe... — ele pausou. — Sabe o que faço?

— Proteje sua Corte? — Gwyn pegou mais um pouco de pasta no pote. — Proteje sua família e as pessoas que você ama?

— Gwyn... Eu... — O encantador negou com a cabeça. — Eu machuco, torturo e mato. E... E na maior parte das vezes eu não me sinto mal por isso.

— Essas pessoas eram inocentes?

— Não, mas...

— Essas pessoas eram ameaças para Corte? Para seus irmãos? Sua família?

— Sim. — respondeu apressado, mas negou com a cabeça. — Mesmo assim...

— Você está protegendo o que você ama. — Gwyneth o olhou. — Você estava lutando contra os monstros que cercam esse mundo, e eu já disse que nunca vou julgar a maneira que você escolhe sobreviver.

— Mas como? Como eu destruo um monstro, sem me tornar um? — Ele franziu o cenho, travando seu maxilar. — Você não pode simplesmente me transformar no herói, Gwyn. Eu não sou isso, esse tipo de bondade não está em mim. E é por isso que as pessoas olham para mim como se eu fosse um... Como se eu fosse uma besta enjaulada pronta para atacar a qualquer momento.

A sacerdotisa ficou em silêncio, deixando que ele desabafasse, falasse o que estava preso em sua garganta.

— E eu não os culpo. Eu fiz isso comigo mesmo, é culpa minha. Tudo isso é culpa minha. — Azriel passou as mãos no cabelo, sua respiração agora um pouco mais acelerada. — Eu prometi para mim mesmo, quando era muito novo, que eu nunca mais seria indefeso, nunca mais deixaria acharem que poderiam fazer o que quisessem comigo, nunca mais me permitiria sentir medo...

Gwyn sentiu vontade de abraça-lo quando ele fechou os olhos respirando fundo, como se estivesse controlando algo grande demais dentro do seu interior.

— E eu fiz questão de matar aquele antigo eu. — A voz dele vacilou. — Mas essa nova versão não é melhor, e eu não tenho certeza se em algum momento chegará um dia que eu irei começar a gostar dela.

— Azriel...

— A verdade é que eu estou aterrorizado, Gwyn. Estou aterrorizado e finjo que sei o que estou fazendo, mas a verdade é que eu não faço a menor ideia. — Aquela voz grave pareceu vacilar novamente, algo dentro de Gwyn se quebrou em mil pedaços, perfurando todos os seus orgãos. — Não faço a menor ideia do porque estou aqui, porque vivi 537 anos, se não fiz nada de bom todos esses séculos?

— Não diga isso.

A sacerdotisa negou com a cabeça chegando mais perto dele.

— É por isso que não falo o que sinto, ou o que eu penso... Que diferença vai fazer eu falar, Gwyn? Não vai mudar nada, não vai me fazer ser bom. — Ele não voltou a abrir os olhos. — Não vai mudar o que eu sou, ou quem eu sou.

— Azriel, olhe para mim. — A sacerdotisa tocou no seu rosto, fazendo com que o encantador a olhasse. Ele abriu os olhos brilhantes, algumas lágrimas se acumulavam ali, e ela nunca tinha o visto tão vulnerável, tão aberto. — Não te dei a liberdade de me falar isso porque quero mudá-lo ou concertá-lo.

O polegar de Gwyneth fez um carinho em sua bochecha definida, o encantador fechou os olhos como se respondesse ao toque delicado.

— Estou aqui para aceitá-lo. — Ela murmurou. — Eu te disse que não vou a lugar nenhum, que eu estou aqui... E isso significa que eu não estou aqui apenas para as partes boas e as partes bonitas.

Seu rosto se entortou em uma expressão quase como dolorosa, seus lábios formaram uma linha fina.

— Você não precisa de concerto. — Gwyn negou com a cabeça. — Você não precisa mudar, por nada, nem por ninguém, apenas por você mesmo. E quem quer estar do seu lado vai aceitar, todas as partes remendadas, tortas e erradas, porquê é isso que faz você ser quem você é.

Ele voltou a abrir os olhos, e por alguns segundos, Gwyn jurou que ele ia chorar. Mas ele engoliu o choro, e se inclinou em sua direção, o coração dela acelerou como se fosse saltar pela sua boca a qualquer momento.

Azriel simplesmente beijou sua bochecha. Um beijo longo e demorado, muito perto de seus lábios para a sua própria sanidade. A sacerdotisa fechou os olhos com o gesto, querendo que a sensação dos lábios do encantador se prolongasse ali, que o seu toque fosse duradouro o suficiente para que ela sentisse aquele calor em sua bochecha no dia seguinte.

Ele voltou a antiga posição, a expressão séria. Mas Gwyneth gostava como suavizava de leve quando olhava para ela, como se o jeito que ele olhasse para ela fosse diferente de como ele olhava para qualquer outra pessoa.

— Tem algo em você, Gwyneth... — O encantador pausou, a analisando. Suas sombras passearam entre o espaço entre eles. — Algo em você, que me faz sentir um pouco mais vivo e bem menos perdido. Quero que saiba disso.

Sua voz baixa e grave saiu como uma melodia arcaica e sedutora, como notas musicais que fizeram seu coração cantar, suas borboletas dançarem e sua alma sorrir como se fosse a melhor música que ela já tinha escutado na vida.

— Obrigado. — Ele pegou em sua mão, fazendo um carinho de leve. — Obrigado por me enxergar, por não fugir. Queria fazer por você o que você fez por mim.

— Você faz, Azriel. — Gwyn murmurou, erguendo os dedos para as sombras se enrolarem entre eles. — Você nem imagina o quanto.



𓆩*𓆪


Passaram o resto da noite ali. Se esqueceram que tinham que ir embora, pois Azriel se perdeu completamente nas palavras e nos olhos de Gwyneth.

Ele não sabia explicar o que estava sentindo. Não sabia dizer o que estava acontecendo no interior dele, mas Deuses... Como era boa a sensação e tudo que ele queria era que prolongasse o suficiente para que ele pudesse acordar no dia seguinte com aquela sensação de estar cheio dos sentimentos mais tranquilos e acolhedores.

Se esqueceu completamente daquelas criaturas de mais cedo, se esqueceu completamente do horário, da realidade e de que existia um mundo lá fora.

Pois a gargalhada que Gwyn soltava naquele sofá, enquanto segurava uma caneca de chá nas mãos e se enrolava em uma manta antiga era tudo que passava em repetição na sua mente.

— Então, o motivo que Cassian não pode entrar em Adriata, é porquê ele destruiu um prédio?

Gwyn riu de novo, Azriel sorriu deixando uma risada fraca escapar de seus lábios enquanto a olhava como se Gwyneth fosse responsável por colocar as estrelas no céu.

— A ideia foi minha. — Ele admitiu. — Estávamos tão entendiados com aqueles deveres da Corte, e começamos a nos desafiar.

— Machos e os seus egos enormes... — Gwyn rolou os olhos, bebericando o chá.

— Eu duvidei que ele conseguia levantar uma pedra enorme, e ele só não levantou como disse que conseguia arremessar e eu como um bom amigo mandei ele demonstrar. — Azriel segurou uma risada. — Ele não mirou muito bem e acertou uma pilastra.

Gwyn gargalhou novamente e ele não conteve a risada que saiu de seus lábios, lembrando do dia em questão.

— E vocês contaram para alguém, ou fingiram que nada aconteceu?

— Rhysand estava em uma reunião com Tarquin, e os dois vieram no mesmo instante que viram o prédio desabando. — Ele coçou a nuca, lembrando da expressão de Rhys. — Eu apenas disse que tínhamos entrado em um consenso de que não era uma boa ideia levar Cassian para reuniões diplomáticas.

Ambos riram novamente, o encantador cutucou um pouco a lenha na lareira, impedindo o fofo de apagar.

— Eu e Catrin também já fizemos algo parecido. — Gwyn riu sozinha como se lembrasse dos acontecimentos. — Eu iria cantar e Catrin disse que achava que devíamos ensaiar antes, então fomos para o local antes da cerimônia começar. Eu e ela discutimos sobre algo completamente bobo, sobre o tom da música, Catrin me deu um empurrãozinho de nada para me implicar, e eu empurrei ela de volta, mas aparentemente eu não sei de fato brincar...

Gwyn riu na xícara, rolando os olhos.

— Resumo da história, Catrin tentou se apoiar em uma das estátuas soltas para decoração da cerimônia de uma primeira Grã-Sacerdotisa e a derrubou, quebrando em mil pedaços. — Gwyneth negou com a cabeça enquanto ria de leve, Azriel a acompanhou. — Mas diferente de vocês, saímos correndo e fingimos que nada aconteceu.

— Achei que não gostava de mentiras, Berdara.

— Não menti... Apenas omiti que a culpa era minha. — A sacerdotisa riu ajeitando o cobertor nos ombros.

O silêncio se instalou por alguns segundos, enquanto os dois se olhavam. A valquíria levou a bebida a boca de novo, bebericando o chá, e Azriel a observou atentamente, tentando memorizar cada centímetro de pele que estava exposta.

— O que foi?

— Quero te mostrar uma coisa. — Se levantou, estendendo a mão para a sacerdotisa. — Me acompanha?

Gwyn esticou a mão em sua direção, segurando com firmeza e se levantando. Ele sorriu de leve em como ela não hesitou nem por um segundo em segui-lo.

Azriel caminhou pelo chalé, até entrar na pequena sala  onde o escritório da mãe de Rhysand ficava. Costumava a fazer suas roupas ali, enquanto os três nunca largavam de seu pé.

Gwyneth paralisou ao ver o piano preto parado no canto direito de uma das paredes, andando até lá com fascínio. Ela passou os dedos por ele, como se o admirasse, talvez nunca tivesse visto um tão velho igual aquele.

— Ele é lindo. — Gwyn sorriu. Azriel caminhou até ela, as mãos no bolso enquanto a observava. — Faz anos que não toco um.

A sacerdotisa se sentou no pequeno banco, teclando uma ou duas teclas timidamente. O encantador sentou ao seu lado, voltando os olhos para aqueles tons de azul que ele tanto admirava.

Pode cantar para mim?

Perguntou em um sussurro. Gwyneth tirou os olhos das teclas do piano para encara-lo a expressão de surpresa estampada em seu rosto.

— Mesmo?

— Sim... — Azriel respondeu, ainda a encarando. — Não consigo esquecer a última vez que você cantou, sua voz... Continua sendo uma das coisas mais bonitas que já escutei na minha vida.

Os cabelos de Gwyn caíram em seu rosto e Azriel se apressou para coloca-los atrás da sua orelha pontuda.

— Então, canta para mim?

Sorriu de leve. A valquíria estremeceu por alguns instantes, como se o seu toque tivesse causado algo á ela.

— Você vai cantar para mim algum dia? — Gwyneth perguntou, a sobrancelha arqueada.

— Abro essa exceção por você. — Suas sombras pareceram concordar, pois dançaram em volta de ambos, como se esperassem em expectativa.

— Certo. — Gwyn rolou os olhos, mas respirou fundo.

E antes que Azriel pudesse se preparar, Gwyneth tocou nas teclas do piano, começando uma melodia calma e doce. O encantador se ajeitou no banco, observando seus dedos finos e longos as apertarem com delicadeza enquanto formavam aquela linda música.

A valquíria cantou então. A primeira nota já perfeitamente harmonizada com a música, no tom exato da melodia que seus dedos produziam naquele piano.

Sua voz se elevou, enquanto ela acompanhava com perfeição a música que tocava. Ele nunca havia escutado, mas de repente havia se tornado sua música preferida, ainda mais quando era cantada por ela. Ele desviou os olhos de seus dedos agéis para volta-los para Gwyneth, que cantava com tanta paixão que sua voz pareceu inundar seus sentidos, fazendo com que ela fosse a única coisa ali no meio daquele quarto.

Tudo que ele enxergava era ela. Tudo que ele escutava era ela e tudo que ele sentia era ele. Estava completamente hipnotizado, em como Gwyn parecia um anjo ali na sua frente, tão dedicada e devota a algo.

Sentiu seu peito apertar, fortemente, como se fosse perder o ar a qualquer momento. Algo dentro dele quis cantar e acompanha-la, mesmo que nunca tivesse escutado a música em sua vida. Suas sombras dançaram alegremente em resposta, sussurrando algo no seu ouvido que foi incapaz de escutar, foi incapaz de entender.

Mas aquilo dentro do seu peito quis se libertar, quis se fazer presente naquele cômodo, quis se juntar  e se fazer dela, pertencer a ela e aquela música que entoava em seus ouvidos.

Ela parou então, respirando fundo, enquanto teclava a última nota. Virou o rosto em sua direção, oferecendo aquele sorriso brilhante e único que ele nunca rejeitaria.

— Então?

A respiração do encantador ficou curta, ele sentiu seu estômago revirar, suas mãos suarem. Suas sombras sussurraram o mais alto que podiam:

Beije-a.

Reivindique-a.

Nossa.

Azriel sentiu que ia explodir a qualquer momento, quando sua mão calejada e cicatrizada deslizou em direção ao pescoço fino da sacerdotisa, envolvendo seus dedos na sua nuca e em meio aos seus cabelos acobreados.

Gwyn o olhou, o busto descendo e subindo devagar com a respiração completamente pesada.

Deuses... Ela seria a morte dele. E ele ficaria feliz em morrer em seus braços.

— Azriel...? — Ela engoliu em seco, olhando para seus lábios e voltando para seus olhos. — Você está bem?

— Não. — Foi sincero. — Não estou bem e estou prestes a estragar tudo...

Ele sussurrou chegando perto o suficiente dela para sentir o seu hálito quente de camomila bater contra seus lábios.

— O-O quê? — Azriel moveu os dedos na nuca de Gwyn, ela fechou os olhos em resposta e aquilo foi o seu fim. — Qual o problema?

A sacerdotisa sussurrou e a voz dela... Pela Mãe, a voz dela o levou para o céu em questão de segundos.

— Eu... Eu não consigo parar de pensar em seus lábios. — admitiu em um ato de coragem, engolindo em seco. — Não consigo parar de pensar em tocar a sua pele. Não consigo parar de pensar em enrolar meus dedos no seu cabelo... Eu acho... Acho que você está me matando aos poucos, Berdara.

Gwyn deixou escapar o fôlego, seus narizes se encostaram de leve e Azriel fechou os olhos, absorvendo aquele cheiro de mar e lírio tomar suas narinas e anestesiar todo seu corpo.

— I-Isso é um problema? — Gwyn perguntou.

Ele reprimiu um grunhido e precisou de toda força do mundo para não colar a boca naqueles lábios tão apelativos e convidativos, para não puxar seus cabelos para trás e toma-la de todos os jeitos.

— Me fale você, Gwyneth... — Ele se afastou um pouco. — É um problema?

— Não. — respondeu rapidamente. — Não... Não consigo parar de pensar nisso também.

Caldeirão.

Ele iria pegar fogo e ela seria a responsável.

Seus dedos se firmaram no cabelo em sua nuca, e faltava pouco para que ele acabasse com aquilo, que acabasse com aquela distância entre os dois.

Beije-a.

Reivindique-a.

Nossa.

Mas faltava algo. 

— Me diga... — A sua voz saiu rouca e grave, como se tivesse saindo da parte mais faminta de seu ser.

Ele não precisou dizer o que ele queria, pois Gwyneth de alguma forma entendeu perfeitamente o que ele quis dizer.

Eu quero isso, Azriel. — Gwyn abriu os olhos, e aquela imensidão azul pareceu engoli-lo por alguns segundos.

E quando se curvou novamente, quando seus lábios roçaram de leve os de Gwyn, ele sentiu um par de garras arranhar de leve suas paredes mental. E ele quis ignorar, quis matar Rhysand por aquela interrupção.

Se afastou de Gwyn, a olhando como se pedisse desculpas.

Azriel?

O que foi? Respondeu.

Está tudo bem? Você não voltou para Casa, nem Gwyneth, Emerie não os achou mais, estávamos preocupados.

Merda. Ele tinha esquecido completamente de tudo que tinha acontecido antes disso.

Estamos bem, aconteceu algumas coisas... Amanhã te passo todas as informações.

Não vai voltar?

Ele iria? Não sabia dizer. Mas se fosse falar a verdade, queria dizer não, a ideia de ficar ali com Gwyneth era tentadora demais para ele.

Não sei. Respondeu sinceramente.

Oh. Rhysand pareceu entender. Tudo bem... Me desculpe pela interrupção.

Rhysand sumiu, fazendo Azriel abaixar suas barreiras novamente, voltando os olhos para Gwyn que parecia preocupada.

— Tudo bem?

— Me esqueci de avisar Rhysand que estávamos bem. — Ele suspirou, deslizando a mão que antes estava em sua nuca para seu pescoço. — Quer ir para Casa?

Azriel perguntou, no fundo torcendo para que ela dissesse não para que pudessem continuar sozinhos ali.

— Você já está bem suficiente para atravessar?

— Estou bem o suficiente para qualquer coisa que decidir fazer. — respondeu. Gwyneth concordou de leve, sorrindo.

Ficou em silêncio por alguns segundos, desviando os olhos de avelã para o piano, como se estivesse pensando.

— Acho melhor irmos. — Um tom de voz triste inundou sua voz. — Nestha deve estar um poço de preocupação e fomos atacados por uma coisa que nunca vimos em Prythian antes, eles precisam saber disso.

— Você está certa. — sussurrou, desfazendo o toque.

Ele estendeu a mão para ela, e Gwyn como sempre não hesitou em pega-la. Quando suas sombras o envolveram, como se estivessem chateadas por nada ter acontecido, ele sentiu a mão de Gwyneth o apertar de leve.

E quando acumulou seu poder para atravessa-los de volta para Casa, tudo que ele conseguia pensar era naquele quase toque entre suas bocas, em como sua respiração se misturava com a dele.

E o quanto Gwyneth era a mistura perfeita de paz e caos que ele precisava para sua vida.

NÃO ME MATEEEEEEM EU AMO VOCÊSSSS!
EU não tenho nada a pronunciar sobre esse capítulo então vou apenas deixar ele aqui e sair correndo.

Mas antes de fugir, quero saber! O que acharam? Gostaram? Se sim, já sabem né? Comentários e curtidas me motivam muito então, por favor deixem o de vocês aqui, para a palavra de Gwynriel chegar em mais gente!

É isso pessoal, vejo vocês no próximo capítulo! Vamos ver como que esses dois vão agir a partir de agora rs

Muito obrigada pelo carinho de sempre, já temos 7k de views em menos de um mês, to chocada, amo todes vocês!

Até a próxima! Beijinhos <3

PS: desculpa qualquer errinho.

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