𝟭𝟵. 𝗟𝗜𝗚𝗛𝗧 𝗔𝗡𝗗 𝗗𝗔𝗥𝗞𝗡𝗘𝗦𝗦

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Gwyn se remexeu na cama, estava tentando dormir a tanto tempo que não conseguia nem sequer contar a quantas horas estava ali. Algo apertava seu peito, um pressentimento que cutucava sua intuição, como se quisesse dizer que algo estava extremamente errado.

Ela engoliu em seco, virando de costas na cama e encarando o teto. Se livrou do cobertor, procurando alguma maneira de aliviar aquela sensação que se espalhava em todo seu corpo.

A respiração se tornou mais pesada, os membros começaram a formigar, fazendo com que a sacerdotisa tocasse a própria pele para checar se ela ainda estava ali.

Sentiu um gelado familiar em suas canelas, o que a fez sentar de supetão na cama, acendendo a lamparina em cima da mesa ao seu lado com rapidez. A valquíria não precisou checar duas vezes para saber do que se tratava.

As sombras de Azriel se enrolavam em seu pé, a cor nanquim agora perdidas em um cinza escuro, como se estivessem enfraquecidas. Tão agitadas, que Gwyneth entendeu de imediato que alguma coisa havia acontecido.

Ela se levantou de pressa, sentindo sua cabeça rodar.

— Tem algo de errado? — As sombras demoraram mais que o normal para reagir, mas depois de alguns segundos rondaram em volta do seu corpo.

Gwyn sentiu seu corpo ser levemente empurrado em direção à porta. Ela não esperou mais nenhum minuto, andou em passos rápidos até sair do quarto. As sombras do encantador deslizaram para o chão, guiando o caminho mais lentas do que o normal, como se estivessem com dificuldade até mesmo de se movimentarem.

Gwyneth sentiu o ar faltar nos pulmões, aquela sensação de que algo estava errado crescendo a cada passo que ficava mais perto do quarto de Azriel. As sombras passaram pela fresta da porta fechada, e se fosse em qualquer outro momento ela provavelmente hesitaria até mesmo em bater na porta, mas seu coração gritava para que ela praticamente arrombasse-a.

Gwyn girou a maçaneta com rapidez, e o que encontrou fez suas pernas tremerem, quase a jogando no chão.

O quarto estava tomado por sombras, algumas crescendo cada vez mais em volta da cama de Azriel. Aquelas não pareciam suas sombras.

A sacerdotisa escutou o grunhido de dor do encantador, fazendo com que sem nem sequer pensar se jogasse no meio daquele casulo desconhecido e tenebroso.

Seu coração quase saiu pela boca, quando conseguiu enxergar a cama do encantador no meio daquele poder sombrio e estranho que parecia tanto com o do Mestre-Espião. Azriel se contorcia na cama, o rosto preso na mais pura expressão de dor, suas costas praticamente curvadas, enquanto ele emitia os piores grunhidos de dor.

Não parecia que o encantador estava consciente.

— Azriel! — correu até chegar na cama, subindo rapidamente no colchão.

Ela se ajoelhou ao seu lado, segurando seu corpo, olhando para as sombras incomuns que rastejavam pelo tronco e pernas de Azriel, como se quisesse o prender e impedir que ele se mexesse.

— Azriel, acorde, por favor. — Gwyn olhou desesperada para o Mestre-Espião. — Azriel, sou eu. Acorde, por favor.

Seu corpo deu outro solavanco, a respiração agora ainda mais desgovernada do que antes, como se ele estivesse lutando contra algo dentro da sua mente, Gwyneth apertou as mãos no seu rosto, tentando fazer com que o encantador acordasse.

— Azriel! — elevou o tom de voz. — Azriel, é só um sonho, acorde, por favor.

Ela virou o rosto adormecido do Mestre-Espião em sua direção, seu corpo se contorceu novamente. Gwyneth balançou de leve sua cabeça, chamando seu nome mais uma vez, incansavelmente. O corpo de Azriel estava suado, os cabelos grudados na testa.

Gwyneth deslizou as mãos pelo seu rosto, fazendo um carinho sereno, tentando manter a calma. Se concentrou, tentando focar apenas no encantador, tentando esquecer das sombras que envolviam o corpo deles, tentando se conectar de alguma forma com Azriel, aquela conexão inexplicável que ela sentia com ele.

— Acorde, Azriel. — abaixou o tom de voz. — Por favor.

O encantador abriu os olhos subitamente, o rosto agora neutro. Mas, para a surpresa de Gwyneth, os olhos de Azriel estavam totalmente tomados por um preto assustador.

Ela caiu no colchão assustada, se lembrando do sonho que teve depois da cerimônia de Nestha e Cassian, o ar pareceu se perder de seus pulmões.

As sombras que estavam envolvendo-o se dissiparam. E agora as sombras pertences ao encantador voltavam para o mestre, ainda lentas e cinzentas. Se enrolando no corpo de Azriel.

Antes que pudesse pensar no que havia visto, Azriel puxou o fôlego, assustado, enquanto o corpo tremia, os olhos agora já de volta ao avelã costumeiro, mas completamente amedrontados.

— Não! Não! — gritou desesperado.

Ele levou sua mão para debaixo do travesseiro rapidamente, quase no automático. Gwyneth engatinhou até ele com pressa, tocando seu braço. Azriel recuou, a respiração ainda ofegante e o corpo ainda trêmulo.

Gwyn nunca tinha visto ele tão... vulnerável.

— Sou eu, sou eu. — Gwyneth apertou seu braço. — Está tudo bem, Azriel. Sou eu.

— Gwyn... — A expressão suavizou e a voz vacilou.


𓆩*𓆪

Você pertence à mim, Encantador de Sombras.

Aquela voz medonha e arcaica que já conhecia invadiu seu sono. Sentiu aquele gelado incomum tomar conta de seus membros, primeiro imobilizando suas pernas, depois subindo por todo seu corpo.

Mesmo dormindo, conseguiu sentir aquele cheiro de morte. O cheiro pútrido de carne e sangue.

Sombras envolveram sua mente, borrando flashes de imagens que se embolavam em outras. Memórias. Medos. Como se vasculhassem e violassem suas lembranças e as partes mais obscuras do seu ser.

Uma dor descomunal invadiu seu corpo, fazendo com que ele se contorcesse de novo.

Tantas lembranças, Encantador de Sombras... Tantos medos.

Junte-se á mim, e nenhum deles se concretizará.

Venha até mim e nada de ruim acontecerá.

— Eu não quero voltar para lá.

— Azriel...

— Por favor, não me deixa voltar para lá.

— Meu amor, a gente já conversou sobre isso. Se não voltar eles vão te machucar mais.

— Por favor, mamãe. — Seus olhos se encheram de água. — Por favor, não me deixa aqui. Por favor!

— Eu te amo, Azriel. — Sua mãe sussurrou, beijando sua testa. — Lembra do que eu te disse... Você é forte. Você é digno. Você é o meu guerreiro, e vamos superar isso juntos.

Ele escutou passos descendo as escadas. Os olhos acastanhados voltaram para Aisha, o rosto tomado por medo e desespero. A illyriana se levantou e se abaixou na sua altura, passando a mão nos cabelos de Azriel.

— Eu te amo, Azriel. — Sua mãe sussurrou. — Lembre-se.

O menino agarrou a mãe em um abraço apertado, envolvendo os bracinhos no pescoço de Aisha. A illyriana respirou fundo, abraçando o filho na mesma intensidade.

— O tempo acabou. — Uma voz grossa tomou seus ouvidos.

Azriel sentiu a garganta apertar, os olhos arderam, o que fez ele apertar a mãe ainda mais forte, se negando a soltá-la.

— Um minuto, por favor. — Aisha tinha o tom de voz baixo. — Ele já vai me soltar.

— Eu disse que o tempo acabou. — A voz foi firme.

Azriel apertou os olhos, as lágrimas escorrendo de seu rosto, enquanto ele tentava se apertar em Aisha de alguma forma que não pudessem tirá-lo dali.

Os passos duros ficaram mais próximos, Azriel sentiu quando sua mãe foi arrancada de seus braços com força. Abriu os olhos, enxergando Aisha ser segurada por um homem.

— Mãe! — O menino correu na direção da illyriana.

— Azriel, não.

Sua mãe tentou impedir que ele continuasse, ele não deu ouvidos. Antes que pudesse chegar até Aisha, sentiu um impacto forte no rosto, que fez com que ele caísse no chão.

— Não, por favor, ele é só um menino... Não fez por mal.

Um tapa. Tão forte quanto os socos que ele já havia levado. O menino se encolheu no chão, tampando a bochecha com a pequena mão, os olhos lacrimejando com a dor e o ardor que se instalava na bochecha machucada.

— Bastardo insolente e idiota, eu disse que o tempo acabou. — O macho grunhiu, apertando as mãos nos pulsos presos de sua mãe e a levando em direção a escada com brutalidade.

— Mãe! — Azriel gritou, um soluço escapando da garganta.

— Eu te amo, Az. — Aisha chorou, olhando para o filho. — Nos vemos semana que vem, eu prometo. Seja forte, meu filho.

O homem a arrastou pelas escadas. A voz de sua mãe foi se perdendo, ficando cada vez mais longe. Se encolheu no chão, apertando os olhos com força, se permitindo molhar o concreto com suas lágrimas.

Aquilo era um sonho. Estava sonhando, e só precisava acordar. Só precisava acordar.

Sua mente gritou, mas sentiu uma fincada em sua têmpora, fazendo com que ele se contorcesse em resposta. As sombras invadiram sua mente, borrando outras imagens e o impedindo de  raciocinar.

Tanta dor... Finge não sentir nada, mas sente mais que o necessário, Encantador...

A voz sussurrou, parecendo uma mas ao mesmo tempo muitas. Azriel tentou se mexer, tentou lutar contra aquela voz tentadora, mas sentiu sua mente congelada.

Eu posso fazer a dor passar. Não sentiria mais nada, Encantador... Junte-se á mim, e não sentirá mais nada.

Azriel grunhiu, a dor de cabeça se intensificando ao ponto de se tornar insuportável.

As sombras desconhecidas e incomuns se acumularam em volta . Mais flashes e imagens passaram em sua frente.

Tantos medos... Tantas inseguranças.

Você quer impedi-los de se tornarem realidade, Encantador?

As sombras se dissiparam. Ele se viu agora em Rosehall, a casa estranhamente silenciosa e escura. Sentiu a coluna arrepiar, fazendo com que ele desse um passo relutante, a madeira rangendo debaixo de seus pés.

— Mãe?

Nenhuma resposta. Sua visão embaçou, mais sombras passando em sua frente, como se tentasse mudar o curso das coisas. Ele continuou caminhando relutante, subiu as escadas de madeira com cuidado. O lugar silencioso demais para uma casa lotada de crianças.

Continuou andando pelos corredores, parando subitamente quando sentiu seus pés pisarem em algo líquido e viscoso. Ele olhou para o chão, as botas agora sujas de um vermelho escuro e brilhante.

Recuou um passo, notando que estava em uma enorme poça de sangue que escorria da fresta de um dos quartos. Sua respiração pesou, sentindo o desespero tomar conta de seu peito.

Caminhou até a porta, abrindo-a apressadamente. Quando seus olhos encontraram o motivo daquele sangue, precisou se apoiar no batente da porta, quase caindo no chão. A náusea em seu estômago se intensificando.

A pilha de corpos no meio do quarto acumulava sangue. Corpos das crianças que sua mãe cuidava com tanto carinho. Sentiu que poderia vomitar, levou a mão até o estômago, recuando em passos cambaleantes, o barulho das botas pisando no sangue acumulado.

— Azriel?

A voz de sua mãe invadiu seus ouvidos. Ele levou os olhos perturbados até o som, enxergando Aisha caminhando em sua direção com uma camisola branca.

— Mãe...

O encantador desceu os olhos para a mão da illyriana que se apoiava na barriga. Uma mancha vermelha surgindo aos poucos e sujando o tecido. Os olhos de Azriel saltaram,  correu em direção à mãe.

— Não, não, não! Mãe! — Ele correu até ela antes que seu corpo caísse no chão, segurando-a e se sentando no chão. — Mãe, por favor.

A respiração de Aisha vacilou, ela olhou para o filho com os olhos perdidos na mais límpida dor. Azriel negou com a cabeça desesperado, colocando a mão em cima da ferida.

— Mãe!

Aisha respirou fundo, procurando pelo ar, os lábios agora pálidos e secos. Ela tentou formular uma frase, mas os lábios tremiam como árvores em uma tempestade.

— Por que... Por que fez isso? — Aisha conseguiu dizer.

— O quê? — Azriel engoliu em seco, negando com a cabeça desesperadamente, tentando entender o que a mãe queria dizer.

Os olhos de Aisha desceram para a mão de Azriel. O encantador seguiu o olhar, encontrando Reveladora da Verdade agora envolvida pelo seus dedos, a lâmina banhada em vermelho brilhante.

Azriel soltou a arma de supetão, deixando o corpo cair completamente no chão.

Não. Não. Ele não fez aquilo.

Ele se arrastou para trás, o sangue de sua mãe manchando suas roupas. As sombras desconhecidas surgiram, engolindo o corpo inerte de Aisha e o resto do cômodo.

Azriel sentiu mais uma pontada de dor na cabeça, quando voltou a ser abraçado pelo vazio, o corpo contorcendo com a dor que latejou em suas têmporas.

Sente culpa, Encantador?

As sombras ondularam, mais flashes e mais imagens borradas, passando entre a névoa sombria e gelada.

Não. Não. De novo não. Era um sonho. Tudo era um sonho. Não era real e ele precisava acordar.

Sente medo do inevitável? Da verdade?

A névoa se moveu, tomando a forma de uma silhueta que ele conhecia muito bem. Seu fôlego escapou quando a imagem de Gwyneth surgiu em sua frente.

— Gwyneth...

— Não chegue perto de mim. — A voz da sacerdotisa soou como um eco em sua cabeça. — Você é um monstro.

Ele sentiu seus lábios tremerem quando notou que a valquíria se afastava, os olhos saltados e o corpo tremendo de leve.

— Gwyn, sou eu... — Azriel deu um passo em sua direção, mas Gwyneth recuou, negando com a cabeça.

— Fique longe de mim. — exasperou, a respiração agora descompassada. — Eu não quero... Não quero você em minha vida.

Azriel engoliu em seco, balançando a cabeça negativamente e fechando os olhos.

— Você me machucou. — A voz de Gwyneth ficou mais firme. — Você... Você não pode fazer bem para ninguém. Você nunca vai conseguir fazer bem para ninguém.

— Gwyn, por favor.

— Isso tudo é culpa sua. — Os olhos azuis da sacerdotisa lacrimejaram.

Azriel negou com a cabeça. Não. Não.

Gwyneth começou a tossir, perdendo o ar, como se estivesse se afogando. Ela caiu no chão de joelhos, tossindo ainda mais fortemente, a água agora saindo de sua boca em quantidades exuberantes.

Ele sentiu o peito apertar, o corpo tremer e o coração acelerar. Não. Ele não poderia perder ela também.

Azriel correu em sua direção, enquanto ela perdia o ar a cada segundo que se passava, o rosto empalidecendo e arroxeando. Mas, antes que ele pudesse chegar até ela, as sombras a engoliram, fazendo com que ele caísse naquele vazio novamente.

Outra pontada em sua cabeça. Ele se contorceu, grunhindo, sentindo que ficava cada vez mais difícil de respirar.

Você pertence à mim, Encantador.

Junte-se á mim e não sentirá mais dor, não sentirá mais nada.

Venha até mim e poderá evitar o inevitável.

Azriel rangeu os dentes, tentando lutar contra a vontade que sentiu de seguir aquela voz, de pertencer àquela voz. Seu corpo se encolheu quando a dor o atingiu novamente, seus joelhos ameaçando falhar.

Então, ele escutou. Aquela melodia doce, aquele som que pareciam vindo dos Deuses, chamando o seu nome, pedindo para que ele acordasse.

Você pertence à mim, Encantador.

A voz arcaica tentou sobrepor aquela angelical, aquele som que parecia a música que tocava em sua alma.

"Acorde, por favor"... Ela dizia.

Azriel lutou contra aquele escuro, lutou contra aquela névoa que o puxava para o buraco infinito de escuridão e se forçou a seguir a luz que vinha daquela voz angelical.

"Azriel..." Escutou seu nome e aquilo foi como se tivesse aberto a janela de seu peito. Abriu os olhos, mas não enxergou nada. Sentiu, então, um puxão no peito, como se algo o empurrasse para a realidade, como se o jogasse de volta para a vida.

Recuperou o fôlego que nem sabia que havia perdido. O corpo suado e trêmulo recuando e se encolhendo na cama, a mente tão confusa que não conseguia formular um pensamento sequer, não conseguia nem compreender o ambiente que estava.

— Não! Não!

Sua mão correu em direção a arma que estava debaixo do travesseiro, automaticamente. Mas, uma mão tocou o seu braço, o impedindo. Ele recuou assustado, correndo os olhos pelo cômodo.

— Sou eu, sou eu... — Aquela voz angelical tomou seus ouvidos, fazendo com que ele levasse os olhos em direção ao som. — Está tudo bem, Azriel. Sou eu.

Seus músculos relaxaram, mas o corpo ainda tremia.  Ele sentiu que poderia chorar quando reconheceu o rosto de Gwyneth, quando se afogou naquela imensidão azul, quando sentiu o cheiro reconfortante de mar e lírio.

— Gwyn...

— Sim, sou eu, Az. — Gwyneth chegou mais perto. — Foi só um sonho.

Ela estava bem.

Os olhos do Encantador se perderam em seu rosto, sentindo o peito apertar, a garganta secou e ele sentiu aquele ardor em seus olhos, a respiração se perdeu novamente.

Não foi só um sonho.

O encantador negou com a cabeça, sentindo que o ar começava a faltar em seus pulmões. Levou a mão no peito despido.

— Azriel... Olhe pra mim. — Gwyneth o chamou, levando as mãos até o seu rosto. — Está tudo bem agora.

— Eu... Eu...

Não foi um sonho. Mas, Gwyn ali era real. Ela era real e estava bem.

Ele não pensou muito, apenas envolveu os braços no torso da sacerdotisa, escondendo o rosto em seu pescoço deixando que aquele cheiro inundasse seus sentidos, permitindo sentir a pele dela contra a dele, apertando-a contra os braços para que ela não saísse dali.

Gwyneth o abraçou de volta, tentando fazer com que o corpo do encantador parasse de tremer, mas as imagens ainda passavam em sua cabeça, o sangue de sua mãe ainda parecia estar agarrado em seu corpo.

Sentiu seu estômago revirar.

— Estou aqui, Az. — sussurrou contra seu ouvido. — Estou aqui.

Ele arfou, tentando engolir o choro que estava preso na sua garganta. A sacerdotisa passou a mão pelo cabelo do encantador em um carinho singelo.

Continuou com a cabeça ali na curva do pescoço dela, tentando recuperar o ritmo normal da sua respiração. Seu corpo aos poucos parou de tremer.

— Vou preparar um banho para você, tudo bem? — Ela se afastou um pouco para encará-lo.

Azriel concordou, suas sombras agora rondando em volta do seu corpo. Gwyn sorriu de leve e apertou a mão de Azriel antes de sair da cama, caminhando em direção ao banheiro do quarto.

Ele notou que nunca havia deixado ninguém entrar no seu quarto, no máximo Rhysand ou Cassian, raramente. Mas, ele diferente do normal, não se sentiu desconfortável com Gwyneth ali, na verdade, estava aliviado.

Se sentou na beirada da cama, tentando entender o que havia acontecido. Se aquilo tinha sido um sonho, se tinha acontecido realmente, se era loucura de sua cabeça.

Tudo pareceu tão real, todas as lembranças, todas aquelas imagens perturbadoras... Ele não sabia se conseguiria esquecer aquilo tão cedo. Aquele sangue pegajoso em suas mãos e suas roupas, a água que Gwyn se afogava, as palavras dela quando ele tentava se aproximar..

Monstro. Ele era um monstro.

— Azriel — A silhueta de Gwyn surgiu contra a luz do banheiro. — Venha, já está pronto.

Ela estendeu a mão, aquele sorriso reconfortante no rosto. Azriel levantou com dificuldade, um pouco ainda aéreo de tudo. Pegou em sua mão e caminhou até o banheiro.

— Vou deixar você se despir. — Ela o soltou. — Me chame se precisar, tá bom?

Engoliu em seco, concordando.

Gwyn saiu do banheiro, fechando a porta em seguida. Azriel olhou para a banheira que estava cheia com água quente, do vapor dela saía um cheiro gostoso de alfazema e eucalipto, provavelmente alguns sais de banho que Gwyneth havia colocado ali.

Ele sorriu de leve, se despindo devagar, sentindo o corpo doer. Azriel entrou na banheira, deixou o calor tomar conta do corpo e relaxar os músculos. Apoiou a cabeça na beirada e respirou fundo, tentando deixar o seu corpo se tranquilizar.

— Gwyn? — elevou o tom de voz.

— Sim? — escutou o som abafado pelo outro lado da porta.

— Preciso de você.

Ele admitiu, não demorou muito para que a porta se abrisse e a figura da valquíria se fizesse presente no cômodo.

— O que foi? Aconteceu algo?

Negou com a cabeça, os olhos baixos.

— Eu só preciso de você aqui. — respondeu. — Pode ficar?

Ela sorriu fraco, caminhando até a banheira. Um pequeno banco surgiu no canto da pia, e ele soube que tinha sido a Casa. Gwyn pegou a cadeira, sentando-se do lado do encantador.

— Quer me contar o que aconteceu? — A sacerdotisa tinha um sorriso amigável nos lábios. — O que te assustou tanto?

Azriel entortou a boca, levando as mãos até os cabelos e os molhando. Engoliu em seco voltando a olhar para Gwyn.

— Eu não sei o que aconteceu... — Ele respirou fundo. — Faz... Faz um tempo que venho escutando uma voz, como se estivesse me hipnotizando.

Desviou o olhar, não queria parecer um louco.

— Acho que hoje de alguma forma foi mais intenso, e os sonhos que eu tive... As imagens que eu vi... — passou a mão no rosto. — Eu sinceramente não quero... Não quero nunca mais lembrar delas.

Gwyn estava calada o olhando. Só a imagem dela ali, tranquila, bem e viva, fez com que algo no seu peito se completasse.

Ela havia reorganizado tudo. Todas suas coisas, todos os seus pensamentos, toda sua mente e todas suas palavras. Tão complexo, mas ao mesmo tempo tão simples. Todo momento com ela era um tesouro.

— Você pode conversar comigo se quiser, Azriel. — Gwyn lhe ofereceu um sorriso triste. — Eu te disse que estou aqui.

O encantador sentiu os lábios tremerem. Não, ele não poderia chorar. Ele não iria chorar.

— Eu só preciso de você aqui. — Azriel respondeu. — Saber que você está bem, que está viva, que está inteira. Só isso já me conforta e me tranquiliza.

— Não vou a lugar nenhum. — Gwyn ajeitou a postura no banco.

— E é só disso que eu preciso. — reafirmou. — Obrigada pelo banho, Gwyn.

— Não foi nada. — Se levantou, caminhando até a toalha e pegando-a. — Melhor sair ou se não vai derreter.

Riu fraco, estendendo a toalha para ele, o encantador não hesitou em pegá-la

— Vou te esperar lá fora.

Ela saiu do banheiro, antes que ele pudesse agradecer. Azriel saiu da banheira, sentindo a água escorrer pelo corpo. Se secou de leve, enrolando a toalha na cintura em seguida.

Jogou o cabelo para trás e abriu a porta, deixando o vapor sair do banheiro. Gwyneth estava sentada em uma das poltronas, observando o quarto, seus olhos se voltaram para ele no momento que saiu do banheiro, e Azriel conseguiu enxergar o exato momento em que suas bochechas ficaram vermelhas.

— Me desculpa, eu esqueci de pegar as roupas. — Se justificou, caminhando até o closet.

— Não precisa se desculpar. — Ela riu de leve.

Ele vestiu uma calça de pijama de algodão e uma camisa rapidamente, voltando para o quarto e encontrando Gwyn em pé de braços cruzados.

— Já está se sentindo melhor?

— Sim. — sorriu de leve, dando um longo suspiro. — Graças á você. Obrigada, Gwyn. Eu realmente não sei o que aconteceria se não fosse por você.

— Não precisa me agradecer. — Ela chegou mais perto dele. — Na verdade, você deveria agradecer essas coisinhas.

Gwyn apontou para as sombras que passeavam em volta de suas asas. Ele franziu o cenho, as sombras agora rondaram em sua mão, como se quisessem chegar mais perto da sacerdotisa. Ela pareceu perceber sua confusão.

— Elas foram até o meu quarto. — continuou. — Me avisaram que você estava em perigo.

Aquilo o pegou de surpresa. Ele sabia que suas sombras tinham um certo apreço por Gwyneth que não tinham por nenhuma outra pessoa, e sabia que elas interagiam com a sacerdotisa, mas pensou que isso acontecia somente quando ele estava por perto.

— Até o seu quarto?

— Sim.

Ele desceu os olhos para as sombras que agora se enrolavam no cabelo da sacerdotisa. Engoliu em seco, ainda confuso com aquela informação.

— Isso não acontece frequentemente?

— Não. — respondeu — Na verdade, acho que essa é a primeira vez.

Gwyneth olhou para ele, os olhos azuis perdidos como se processasse o que ele havia falado. Ele sorriu fraco para a sacerdotisa tentando acalmá-la, mesmo aquilo ainda sendo uma surpresa para ele também.

— É melhor eu ir. — A valquíria sorriu de leve.

Azriel pegou em seu braço, Gwyneth olhou para ele, os olhos brilhando tão fortemente que ele sentiu que poderia o cegar.

— Fique. — pediu carinhosamente. — Por favor.

Gwyneth deixou o fôlego escapar em surpresa, ele fez um carinho na mão dela em resposta. A valquíria demorou um pouco, mas concordou acenando com a cabeça.

Ele caminhou até a cama, segurando a mão da sacerdotisa. Se deitou, Gwyn fez o mesmo ao seu lado, um pouco tímida, mas não parecia estar desconfortável.

— Posso te abraçar, Gwyneth? — Ele sussurrou, alongando as asas, enquanto se virava de lado.

— Sim. — respondeu sem hesitar. — Você pode me abraçar, Azriel.

Ela se virou de costas. Por algum motivo ele respirou aliviado, como se aquela permissão fosse tudo que ele.  precisava.

Azriel puxou Gwyn para mais perto do seu corpo, encaixando o dela no dele, o rosto agora escondido na curva do seu pescoço, absorvendo o seu cheiro e a textura de sua pele. Seu braço descansou na cintura dela e sua asa a cobriu por completo.

A valquíria suspirou, relaxando os músculos. E ele jurou  que poderia ficar ali para sempre.

Gwyneth o movia, quando ele estava completamente parado. Ela fazia parar o tempo, quando ele estava com pressa. Ela respirava vida até ele, ao mesmo tempo que arrancava todo o seu fôlego.

E Gwyn havia encontrado as cores para pintá-lo, onde o mundo havia o deixado cinza.



Esse capítulo tinha mais coisas e mais depressa, mas eu separei ele pela metade porque estava dando mais de 8.000 palavras kkkkkkkkkkkk então no próximo capítulo a gente vai ver Gwyneth finalmente dando seus primeiros passos para o mundo real. Estou animadinha :)

O que acharam do capítulo de hoje? Gostaram? Foi mais curto que o normal por causa disso, mas espero que tenham gostado mesmo assim.

Se gostaram já sabem, não é? Curtem e comentem bastante que isso me motiva muito a continuar. Obrigada pelo carinho de sempre, eu amo vocês! Até o próximo capítulo amores! <3

Ps: desculpa pelos errinhos

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