𝟰𝟮. 𝗙𝗢𝗨𝗡𝗗 𝗬𝗢𝗨

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Oii pessoal, queria pedir desculpas pela demora, nas últimas semanas eu estava lotada de trabalho e nessa agora eu acabei indo pro hospital do tanto que estava passando mal. Fazia séculos que não passava mal desse jeito e desde segunda to tomando uma penca de rémedios que basicamente não me deixam ficar acordada, quando acho que vou ter um descanso já tenho que tomar outro e acabo apagando de novo. 

Enfim, espero que entendam, eu acabei avisando da situação no twitter, então quem me segue por lá já tava ciente da situação. Tive que dividir esse capítulo em dois, porque tava gigantesco, então espero que me mimem bastante. HIHIHI

É isso, obrigada pela compreensão e boa leitura para vocês! <3




Gwyn não fazia ideia de onde estava. No vazio existencial da sua mente ou em algum lugar entre o consciente e o inconsciente, não conseguia distinguir visto que a única coisa que enxergava era, de fato, apenas o próprio vazio, o eco da sua própria existência. Não sentia cheiro, não sentia frio, não sentia nada... Abraçou os seus próprios braços, dando os primeiros passos naquela imensidão negra desconhecida.

Talvez fosse um sonho. Talvez estivesse em algum tipo de ponte entre a morte e a vida. Ela tinha realmente batido a cabeça com tanta força? Realmente morreria daquela forma patética?

Engoliu em seco, apertando a pedra em sua mão com mais força. Precisava de um direcionamento, de um norte, e se a Mãe estivesse realmente olhando por ela, então a guiaria novamente.

Os pelos de sua nuca arrepiaram, fazendo com que a sacerdotisa segurasse o fôlego, parando de andar subitamente. Fechou as mãos em punhos, as unhas machucando a palma fazendo com que uma ponta de dor assolasse sua pele, provando que ela não estava imaginando, que aquilo não era um sonho.

— Olá? — Gwyn perguntou hesitante.

— Gwyneth? Consegue me ouvir?

Seu corpo entrou em dormência, seus joelhos ameaçaram ceder. Não... Não poderia estar escutando aquela voz. Suas unhas afundaram ainda mais na palma de sua mão, fazendo com que ela fechasse os olhos. Era um sonho, tinha que ser um sonho.

— Gwyn, abra os olhos. — A voz sussurrou novamente. — Abra os olhos, Gwynnie.

— Catrin? — Ela engasgou, sentindo as lágrimas acumularem em seus olhos.

— Abra os olhos...

Então ela o fez. Abriu os olhos no meio daquele vazio, e a imagem que os tomou fez suas pernas tremerem. Era Catrin ali na sua frente, com os cabelos negros escorridos e o rosto angelical. O coração de Gwyneth galopou contra a parede de seu peito, batendo descontroladamente, fazendo seu sangue bombear fortemente em suas veias. Seus lábios tremeram um contra o outro, os olhos passando pela silhueta de sua irmã.

Estava sonhando, estava sonhando...

— Como...É realmente você? Não...Não, estou sonhando, preciso acordar. — Gwyn fechou os olhos de novo, negando com a cabeça.

Os flashes do acontecimento de Sangravah passaram por sua mente. Os soldados pegando Catrin pelos pulsos, os olhos de sua irmã pedindo silenciosamente para que ela não falasse nada para os machos, mesmo com a espada contra a sua garganta. A aceitação em seu rosto de que já tinha entendido aquele destino fatal, o reconhecimento de que aquele seria o último momento que compartilhariam juntas. Das lágrimas desesperadas que escorriam de seu rosto, enquanto sua irmã bravamente acolhia sua morte iminente e Gwyneth se encolhia contra a parede diante das vozes graves que exigiam saber onde estavam as crianças.

Da espada cortando o pescoço de Catrin, do grito que feriu sua garganta e no mundo que desabou em seus pés no momento em que a cabeça de sua irmã rolou pelo chão, nas risadas dos soldados que assistiam o corpo decepado de Catrin desfalecer em sua frente, em uma cachoeira vermelha e escura.

Não.

Aquilo era um sonho.

Precisava acordar.

Apertou as unhas novamente, sacudindo a cabeça e recuando alguns passos.

— Gwyn! — A voz de sua irmã soou mais firme. — Não está sonhando, eu estou aqui. Eu estou aqui!

A sacerdotisa abriu os olhos desesperados, a respiração se transformando em puro caos. Catrin negou com a cabeça, os olhos iguais aos dela em um brilho acalentado. Os lábios de Gwyneth batiam um contra o outro, levou a mão até o peito, sentindo que o seu coração pararia em algum momento.

— Estou aqui, Gwynnie. — Catrin segurou seu rosto, mantendo o contato visual com ela.

Seu corpo congelou totalmente. Ela conseguia... Ela conseguia sentir o toque de Catrin, conseguia sentir o toque gelado e leve de suas mãos em suas bochechas, como se fosse uma lembrança de como era sentir seu carinho. Seu fôlego escapou, e as mãos desesperadas foram de encontro às de Catrin, sobrepondo-as em uma tentativa de provar se aquela sensação era mesmo real.

— Eu... Eu consigo te sentir. — Seus olhos lacrimejados e perdidos passaram novamente pela imagem de sua irmã, ainda sem conseguir entender como aquilo era possível. Sua voz embargada repetiu em um murmúrio: — Eu consigo te sentir... Eu... Você está aqui, eu consigo te sentir, eu consigo te sentir.

E antes que as lágrimas pudessem cair, Catrin a puxou para um abraço, envolvendo os braços em volta do seu pescoço. Gwyneth não conseguiu impedir o soluço que saiu de sua boca, envolvendo a irmã em seus braços também. O abraço que nunca conseguiram dar antes daquela noite, o abraço que Gwyneth desejou dar todos os dias naqueles dois anos em que havia a perdido para sempre. O choro entalado em sua garganta se libertou, limpando sua alma e lavando seu rosto.

Catrin afastou o corpo de Gwyneth, as membranas entre seus dedos passando no cabelo ruivo da sacerdotisa. Gwyn respirou fundo, em uma tentativa de fazer os lábios pararem de tremer, tirando um tempo para absorver o que estava acontecendo, tirando um tempo para decorar os detalhes do rosto de Catrin novamente.

Ela percebeu que depois de um tempo as feições de Catrin já não eram tão claras quanto antes em sua mente. Não se lembrava do exato tom de sua voz, ou como ela se movia graciosamente. Até agora, até ter ela em sua frente de novo e ser arrebatada pelas memórias.

— Mas como... Como você está aqui? Como posso te sentir? — Sua voz saiu trêmula. — Eu... Eu morri?

— Não, Gwyn, você não morreu. — Catrin soltou uma risada nasalada, ainda tocando em seus braços. — Estamos no limbo.

— Então eu cheguei perto de morrer?

— Não... Mas você não pode ficar aqui por muito tempo. — A irmã apontou para a pedra ainda em sua mão, Gwyneth percebeu que ainda espremia as unhas contra a pele, deixando-a marcada e vermelha. — É a pedra que está ajudando essa conexão após você ter a posicionado em uma das fendas. A Mãe permitiu esse momento, Gwyn e preciso que me escute.

— O que está acontecendo? Você sabe de algo? — Gwyn engoliu em seco. — Eu pensei que você estava em paz... Pelo menos, era o meu conforto imaginar que você e mamãe estavam bem no além-vida.

— Eu estou bem, Gwynnie. Todas nós estamos. — Catrin segurou seus braços. — Mas isso não nos impede de olhar por você e saber o que está acontecendo. Sabemos bem mais do que você imagina.

— O que aconteceu? — perguntou, sentindo o estômago embrulhar.

— Não deixe que cheguem perto dessa pedra, Gwyn. — Sua irmã a encarou seriamente. — Proteja essa pedra com sua vida, e encontre a espada... Encontre a espada. A ajuda está vindo, e é a única forma de libertar todos.

— Eu não sei onde a espada está, como irei encontrá-la sem uma dica, sem um norte? — perguntou afobada. — Catrin o que está acontecendo? O que quer dizer com isso? O que você sabe?

A sua irmã olhou para trás por alguns segundos, como se algo estivesse prestes a acontecer. Seus cabelos negros balançaram quando ela voltou a olhar para Gwyneth, segurando suas mãos e fixando os olhos azuis em seu rosto.

— Use a pedra. — sussurrou, apertando suas mãos. — Semelhante atrai semelhante, Gwyneth. Use a pedra, ela sempre foi mais do que apenas uma jóia e você sabe.

— Catrin... — Os olhos de Gwyneth se perderam em sua irmã, percebendo um leve desespero vindo dela.

— E quando descobrir a verdade, quando descobrir a razão de tudo... Só entenda que tudo foi para te proteger, Gwyn, que mamãe só queria te proteger. — engoliu em seco, olhando para trás novamente. — Eu não tenho muito tempo, e você não pode ficar aqui.

— Catrin! — A sacerdotisa a repreendeu. — O que está acontecendo?

— Você vai descobrir, Gwynnie. — Os dedos gelados de Catrin seguraram seu rosto. — Eu estou orgulhosa de você, minha irmã.

Os olhos da valquíria lacrimejaram, ela negou com a cabeça, abaixando o rosto em direção ao chão daquela escuridão. Catrin ergueu seu queixo, mantendo seus olhos fixos nos dela. A respiração de Gwyneth falhou quando a irmã encostou a testa na sua, respirando profundamente.

— Eu estive sempre com você. — sussurrou, a mão com membrana tocando seu rosto de maneira mais carinhosa. — Em cada dia que ficava mais difícil levantar, eu te estendia a mão... Em cada noite em que a dor se tornava mais forte, eu te oferecia meu colo. Eu vou estar sempre com você, Gwyneth. — As lágrimas desceram no rosto da valquíria. — E eu vou continuar com você, cada vez que você levantar a sua espada e a cada momento que você precisar de forças para continuar essa batalha. Eu estou aqui, Gwynnie... Lembre-se disso.

Gwyneth engoliu em seco, respirando fundo e sentindo a garganta fechar.

— Eu escutei todas as vezes que você desabafou com as estrelas, e tentava te dar forças para cada passo hesitante que você dava em direção a cura, Gwyn. Eu vi você cair e levantar, eu vi você sorrir e chorar... — Ela sorriu abertamente. — Eu estava aqui vibrando quando achou sua família, quando encontrou seu parceiro e quando descobriu o verdadeiro amor. E eu vou estar com você em todos os seus passos, irmã.

— Me desculpe, Catrin... Me desculpe. — chorou entre as palavras, segurando sua irmã em seus braços. — Devia ter sido eu... Era para ter sido eu.

— Não. — Catrin sacudiu a cabeça. — Não era.

— Era...

— Gwyn, não. — negou, olhando para o fundo dos seus olhos. — Não diga isso. Você está no caminho certo, está onde devia estar... Só... Só continue. Viva. Por mim e especialmente por você.

— Catrin...

A respiração de sua irmã ficou mais pesada, os olhos perdidos como se checasse se ainda estava tudo bem.

— Você precisa ir agora, Gwyneth. — sussurrou.

— O que está acontecendo?

— Você vai descobrir.

Abraçou a irmã mais fortemente, escondendo o rosto em seu pescoço e inspirando profundamente. Catrin correspondeu, a abraçando com força, e quando Gwyneth achou que a irmã a soltaria, a escutou sussurrar baixinho em seu ouvido.

— As portas do Inferno estão abertas... — Catrin a afastou, ela percebeu a silhueta da antiga sacerdotisa um pouco mais fraca como se sumisse aos poucos, o toque cada vez menos presente. A irmã segurou a mão em que a pedra repousava. — Você precisa ir, Gwyn, precisa ir agora. Não posso te levar comigo.

— O quê? Catrin!

A sacerdotisa olhou o corpo de sua irmã se transformar em fumaça aos poucos, Catrin sorriu minimamente, tocando em seu rosto, Gwyneth não sentiu o peso de sua mão, não sentiu nada enquanto o corpo de sua irmã se transformava em névoa em sua frente.

— Eu amo você, Gwynnie.

— Catrin!

A valquíria ergueu a mão para alcançar a irmã, mas já era tarde demais, seu corpo já tinha evaporado, sumindo na escuridão. A pedra esquentou em sua palma, brilhando intensamente e queimando sua pele. Sentiu um puxão bem debaixo da sua costela.

Precisava voltar, não podia ficar ali por muito tempo.

Apertou a pedra em sua mão, fechando os olhos e acumulando seus pensamentos no artefato.

Me leve de volta.

Me leve de volta.

Outro puxão em sua costela, e a escuridão a tomou por completo, a cegando por alguns segundos. Sentiu um baque em seu corpo, como se tivesse se encaixado novamente. Despertou em um supetão, puxando o fôlego que não sabia que havia perdido, a cabeça latejando fortemente.

Antes que pudesse absorver onde estava e o que tinha acontecido, sentiu mãos grandes e fortes a envolverem trazendo seu corpo para perto de maneira desesperada. A respiração descompassada e pesada.

— Pensei que tinha te perdido por alguns segundos, Deuses! — A voz de seu parceiro inundou seus sentidos, fazendo com que ela voltasse para realidade. — Olhe para mim, Gwyn.

As duas mãos de Azriel deslizaram em direção ao seu rosto, levando seu olhar para os olhos dele. Gwyneth ainda se sentia fora de órbita, o peito subindo e descendo rapidamente, os olhos azuis perdidos, se esforçando para assimilar tudo que havia acontecido. Ela sentiu algo quente e pegajoso escorrer de uma das suas narinas e levou uma das mãos ainda trêmulas até o líquido. A expressão no rosto do encantador era uma mistura entre o medo e a preocupação.

A sacerdotisa ergueu os dedos, vendo-os brilhar com o sangue vermelho escuro.

— O que... O que aconteceu? — gaguejou, voltando a olhar para o seu parceiro, que a trouxe novamente para dentro de seu abraço, como se ela fosse escapar em algum momento. — Quantas horas? Estamos... Estamos em casa?

Perguntou, a voz vacilando e falhando. Azriel a afastou, analisando se não havia mais nada anormal com ela, suspirando aliviado quando percebeu que ela parecia inteira. O corpo da valquíria, no entanto, estava mole e cansado, como se ela tivesse se exercitado horrores antes de se deitar.

Fraca, se sentia extremamente fraca.

— Eu não sei o que aconteceu, Gwyn... — sussurrou, engolindo em seco. — Você simplesmente ficou inerte em algum momento da noite, a pedra brilhando em seu busto, não conseguia te acordar mesmo fazendo de tudo para tentar. Você simplesmente parecia não estar aqui... Eu... Eu...

O encantador se perdeu em meio às palavras, tudo que Gwyneth conseguiu fazer foi pegar em suas mãos, impedindo que aquele desespero tão anormal inundasse o corpo de seu parceiro novamente. Azriel respirou fundo, exalando o ar em seguida, tentando manter a calma.

— Estou aqui. — disse Gwyn. — Estou aqui, Az.

Ele acenou com a cabeça positivamente, a abraçando mais uma vez. A sacerdotisa aceitou o abraço, fechando os olhos e enterrando o rosto na curva do pescoço de Azriel, deixando aquele cheiro de névoa noturna e cedro tomar suas narinas. O sangramento nasal não parecia cessar, e só percebeu quando notou as gotas vermelhas no ombro despido de Azriel. Ela se desvencilhou, levando a mão até o nariz novamente. Azriel a olhou preocupado, se levantando da cama e caminhando até o banheiro.

Escutou o barulho da torneira abrindo e se fechando em questão de segundos, e quando direcionou os olhos para a porta do cômodo, conseguiu enxergar o encantador voltar com uma pequena toalha molhada, ainda parecendo receoso.

Ele ajudou Gwyneth a se sentar na beirada da cama, e fez o mesmo logo depois, levando a toalha até a sua narina direita que escorria o sangue. Azriel passou a toalha com cuidado, os olhos avelãs passando por todo o rosto de Gwyneth, como se observasse cada mísero detalhe de suas feições, procurando por algo que também pudesse estar errado.

— O que está sentindo? — perguntou, as sobrancelhas unidas e os olhos brilhando em preocupação.

— Estou me sentindo fraca. — confessou, sobrepondo a mão de Azriel que segurava a toalha. — Mas acho que estou bem...

— Você está sangrando, Gwyneth. — Ele parecia embasbacado, soando embargado. — Isso não é normal, eu vou chamar Madja novamente, pedir para ela te analisar de novo e...

— Não. — interrompeu Gwyn, negando com a cabeça. — É madrugada, não precisamos acordar ela por conta disso.

Azriel olhou para a jóia pendendo em seu busto, um brilho fraco ainda emanava dela. O artefato estava morno, indicando que havia ficado aquecido por tempo demais para o calor do poder ainda estar se dissipando aos poucos.

— Eu não acho que isso esteja te fazendo bem, talvez não usá-la por um tempo seja bom. — murmurou, ainda encarando a pedra. — Acho que o poder dela talvez seja muito forte, Gwyn...

— Não posso tirá-la. — respondeu, engolindo em seco.

— Apenas por alguns minutos, meu bem.

— Não posso.

Seus lábios tremeram.

Azriel ficou estático, percebendo que algo estava diferente. A memória do toque de Catrin a atingiu como nunca, o que fez com que a sacerdotisa desviasse o olhar para a parede, se empenhando para esquecer a cena de Catrin evaporando como fumaça em sua frente.

Havia a perdido duas vezes agora. Já era a segunda vez que não conseguia manter Catrin ao seu lado, que tinha falhado em salvar sua irmã.

— O que aconteceu, Gwyn? — perguntou Azriel, mansamente.

Gwyneth sacudiu a cabeça, sentindo os olhos arderem. Ela os levou para o chão, tentando impedir que as lágrimas caíssem. Seu parceiro retirou a toalha do seu nariz, apoiando-a no colchão.

Sentiu os dedos cicatrizados de Azriel tocarem em seu queixo, o erguendo. Gwyn encarou o encantador, espremendo os lábios um contra o outro, fazendo o possível para dificultar que o choro saísse de sua garganta. Az passou o polegar em sua bochecha, a olhando com aqueles olhos acolhedores que só ele tinha.

— O que aconteceu, Gwyn? — repetiu.

— Eu... Catrin... Catrin apareceu para mim. — engoliu em seco, puxando o fôlego. — Eu vi ela, senti ela, conversei... conversei com ela.

Seus lábios trêmulos tiveram dificuldade em formular as palavras, e não conseguiu conter as lágrimas que desceram pelas suas bochechas. Espremeu a boca em uma linha fina, fungando.

— E eu a perdi novamente. — disse com a voz embargada. A expressão no rosto de seu parceiro se suavizou enquanto sacudia a cabeça de leve. — Eu a deixei ir novamente, Az. Eu a perdi outra vez.

As palavras saíram uma atrás da outra, seguidas por um soluço ou outro que Gwyneth não conseguiu impedir. E quando Azriel a abraçou, a valquíria sentiu seu corpo desmoronar, os ombros subindo e descendo com o choro que estava guardado há um tempo. O encantador nada disse, apenas a trouxe para os seus braços, oferecendo o calor de seu corpo e o conforto de seu colo, deixando que ela chorasse compulsivamente.

Gwyneth não se importou se estava sendo barulhenta, só se permitiu chorar e limpar o que estava doendo tanto naquele momento. Ela sabia que deveria agradecer por aquela oportunidade, pela oportunidade de despedir de verdade dela, de sentir o seu abraço e o seu carinho, de escutar a sua voz... Mas, vê-la novamente e saber que ela não poderia estar ali, que não poderia estar com ela uma outra vez, fez com que Gwyneth sentisse aquela perda mais uma vez.

Azriel se deitou na cama, ainda deixando que ela ficasse aninhada em seu abraço. Ele passou a jóia pelo seu pescoço, a retirando com cuidado, colocando-a na mesinha ao lado da cama. A sacerdotisa não protestou, apenas permitiu que ele fizesse isso.

Gwyneth abraçou o corpo de Azriel e escondeu o rosto em seu peitoral, o choro se tornando mais tranquilo e mais leve a cada minuto que passava ali, com seu parceiro fazendo carinho em seus cabelos e em seus braços.

— Quer me contar o que aconteceu? — perguntou Azriel.

A valquíria soltou um longo suspiro, tentando se recuperar de alguma forma.

Então, Gwyn contou tudo. Contou como tinha sido o encontro, como tinha se lembrado daquele dia vividamente antes de se dar conta de que aquilo não era um sonho, que Catrin estava de alguma forma ali com ela. Contou como foi sentir o toque dela de novo, como foi escutar sua voz.

Disse tudo que tinha para falar, entre os soluços que ainda escapavam de sua boca e com a voz embargada. O explicou sobre as informações que havia recebido, e as últimas palavras de Catrin antes de sumir no vazio para sempre.

E Azriel escutou. Escutou tudo que ela tinha para falar, tudo que ela tinha para chorar, enquanto acariciava o corpo da sacerdotisa e massageava seus cabelos.

Quando Gwyneth acabou e respirou fundo, Azriel ainda continuava com os carinhos em seu corpo, fazendo questão de que ela se sentisse relaxada o suficiente para que o choro cessasse. Estava com a cabeça apoiada em um dos seus ombros, sentindo as carícias cuidadosas do encantador pela sua pele.

— Está melhor? — O Mestre-Espião sussurrou contra seu ouvido.

Gwyn acenou com a cabeça.

— Você acha que eu poderia ter feito algo? Que eu poderia ter impedido?

— Não. Não acho. — Azriel respondeu sinceramente. — Catrin está com você de outra forma, Gwyn, mas não pode estar aqui da maneira que você deseja que ela esteja.

— Eu sei...

— Não faça desse encontro um fardo. Você não a perdeu, Gwyn, você a encontrou novamente.

— Parece injusto, ter que contentar com uma vida sem ela, sendo que Catrin sempre foi a parte mais forte entre nós duas. Deveria ter sido eu, ou deveria ter sido nós duas. Não é justo com ela, não é justo eu estar aprendendo a viver sem ela...

— Não diga isso, Gwyn. Não diga isso. — A voz de Azriel era um murmúrio dolorido. — Nada daquilo deveria ter acontecido com vocês, mas não se ressinta por seguir em frente, por ter sobrevivido.

— Eu estava me esquecendo do rosto dela. — Gwyn admitiu, sussurrando. — Da sua voz... Eu não me lembrava claramente mais.

O encantador ficou em silêncio, apenas passando as mãos pelos braços de Gwyneth em um carinho reconfortante.

— Acha que isso é o normal? Acha que em um momento da minha vida vou me esquecer de como ela era de verdade?

Perguntou, engolindo em seco. Azriel soltou um longo suspiro, beijando o topo de sua cabeça.

— Acho que em algum momento você vai continuar se lembrando dela da maneira que deveria se lembrar. — respondeu o Mestre-Espião. — Sem a dor e a tristeza, mas com o coração tranquilo e as boas memórias.

Gwyn se ajeitou no colo de seu parceiro, suspirando em uma tentativa de fazer aquelas palavras se fixarem em sua mente.

— Sei que está se sentindo culpada, meu bem. — O encantador enrolou o dedo nas pontas do seu cabelo. — Mas a aceitação faz parte do luto também. Era isso que Catrin queria para você, você não é uma péssima irmã por permitir se curar.

— E todas as outras coisas que ela me disse...

— Depois pensamos nisso. — Azriel interrompeu.

— Não temos tempo para o depois. — Gwyneth resmungou. — Eu nem sei se temos tempo para o agora.

— Teremos tempo, Gwyn. — suspirou, como se tentasse convencer a si mesmo. — Eu e você teremos tempo.

Ela queria acreditar naquilo. Queria muito acreditar que a Mãe havia separado um momento para eles dentro daquele caos. Mas já não tinha certeza se isso ainda estava nos planos dela.

O silêncio pairou pelo quarto, e tudo que escutava era a respiração tranquila de Azriel batendo contra os fios de seu cabelo, os dedos cicatrizados ainda trilhando caminhos pela sua pele leitosa.

— Queria que tivéssemos nos conhecido mais cedo. — confessou Gwyn em meio a um murmúrio. — Queria que tivéssemos notado a parceria mais cedo.

— Você acha que teria sido a mesma coisa?

A pergunta a pegou desprevenida.

Teria sido? Estariam do jeito que estavam agora se tivessem descoberto de outra maneira? Se tivessem se aproximado de outra maneira?

— Não sei. — respondeu, desviando os olhos da parede para encará-lo. — Mas gosto de pensar que sim. Gosto de pensar que nada seria capaz de nos manter longe um do outro.

— Tenho certeza disso, Gwyneth. — Azriel levou aqueles olhos avelãs em sua direção. — Não importa de que maneira, eu encontraria meu caminho até você. Nada me impediria de te encontrar, meu bem.

Os olhos da sacerdotisa lacrimejaram. Azriel era o sentimento mais puro que ela já havia sentido na vida, o mais puro e o mais verdadeiro. Foi o que a fez se encontrar, foi o que a trouxe de volta a vida, junto com Nestha e Emerie.

— Eu tenho essa sensação estranha quando estou com você... Uma que achei que nunca seria capaz de descrever. Mas, acho que agora sei finalmente explicar o que tentei por tanto tempo. — disse Gwyneth.

— O quê? — Azriel incentivou.

— É como se... Como se tudo que eu tivesse perdido, voltasse para os meus braços.

O encantador a olhou com os olhos brilhando, um sorriso acolhedor se formando em seus lábios.

— Porque eu sei exatamente a sensação de perder algo. — A sacerdotisa continuou. — Mas, também sei qual é a sensação de encontrar o que eu achei que tinha perdido para sempre. E é assim que me sinto quando estou com você, como se tivesse encontrado tudo que perdi pelo caminho que segui até chegar a você.

Azriel beijou a ponta de seu nariz, colocando uma mecha de cabelo ruivo atrás de sua orelha pontuda.

— Quero que saiba que apesar de tudo, eu não mudaria nada. Não mudaria a forma em que descobrimos, nem a hora que descobrimos. Sinto que tudo em minha vida me levou até você... Minhas más escolhas, minhas tentativas falhas de afeto, meus arrependimentos. Tudo. E quando estamos juntos, sinto que meu passado parece mais válido, mais digno.

A sacerdotisa sentiu o peito apertar. Aquele laço que conectava suas almas da maneira mais pura brilhou fortemente em seu âmago.

— Minha história me trouxe até você, e eu não mudaria nem um ponto do meu passado se tivesse me levado para qualquer outro lugar que não fosse para você, Gwyn.

O amor não iria salvar tudo. Era um erro achar que ele sozinho seria capaz de tanto. Mas, ele iria te dar a mão enquanto você salva a si mesmo. E em um mundo onde tudo parece pesado demais para se carregar, é apenas disso que se precisa. De alguém ao seu lado. Alguém que divida o peso do mundo com você, alguém que te veja.

Alguém que fique, mesmo com milhões de razões para ir embora.

— Sou tão grata por ter te encontrado... — sussurrou Gwyneth, se encolhendo no colo do seu parceiro.

— E eu sou grato por ter me permitido te encontrar. — Azriel beijou sua cabeça novamente. — Agora durma, teremos um longo dia amanhã...

Gwyn não contestou, apenas fechou os olhos e deixou o sono a levar para longe, não temendo nada, pois sabia que estava segura ali nos braços de seu parceiro.


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No dia seguinte, Azriel deixou que Gwyneth dormisse mais um pouco, antes de acordá-la para seguirem para a Corte Invernal. Rhysand designou ele e Cassian cedo pela manhã no escritório da Casa da Cidade.

O encantador se aprontou em segundos e despediu de Gwyn com um beijo na testa antes de seguir para a casa do irmão. Suas sombras estavam agitadas, como se sentissem o nervosismo no ar, percebendo que hoje era um dia atípico.

Quando chegara no escritório de Rhysand, Cassian já estava lá, conversando sobre algo em relação aos exércitos de Mahara. Azriel apenas caminhou até os dois irmãos, cumprimentando-os em um aceno de cabeça leve. O encantador não se lembrava qual tinha sido a última vez que os três tinham se reunido tão cedo para decidir questões políticas.

Rhysand explicou resumidamente o porquê de ter chamado os dois ali. Basicamente Mahara havia conseguido interceptar uma parte do exército de Devlon, porém o lorde conseguiu escapar com outra parte da tropa, desviando da rota que era esperado seguirem. A líder da resistência acreditava que ele havia se colocado no céu, imaginando que seriam parados nas fronteiras pelos soldados de Keir.

A boa notícia era que agora Devlon estava mais desfalcado do que antes, a má notícia é que provavelmente havia avisado Beron das emboscadas e encontraria o Grão-Senhor mais cedo do que o esperado.

Mahara irá continuar pelas rotas para checar se existem mais soldados de Devlon espalhados pelo caminho, e irá seguir em direção a Corte Diurna, montando o primeiro acampamento assim que chegar na fronteira com a Corte dos Pesadelos juntamente com os soldados de Keir.

Azriel não tinha certeza do quanto aquilo funcionaria, mas tempos de guerras sempre uniam pessoas que provavelmente nunca se atreveriam a dividir o mesmo espaço antes. Cassian explicou que visitaria a Corte Invernal naquela tarde com eles e que depois marcharia com os soldados illyrianos para a Diurna para preparar os primeiros acampamentos. Ficaria atento com as possíveis armadilhas e com os conflitos que poderiam ocorrer.

O encantador repassou o relatório da missão da noite passada, deixando que Rhysand entrasse em sua mente para rever cada pequeno detalhe que acontecera naquelas florestas.

— Temo que a informação seja verídica. — Azriel disse em um tom de voz baixa. — Assim que voltarmos da Invernal irei checar a veracidade, mas na minha última visita em Vallahan os sons estavam... vivos demais.

O rosto de Rhysand era um mistério, o encantador não se preocupou em desvendá-lo naquele momento. Seu Grão-Senhor apenas negou com a cabeça, esfregando a ponte do nariz com o polegar e o indicador, em uma tentativa falha de aliviar a tensão.

— Meus espiões também relataram um movimento suspeito na Primaveril, mas ainda não tive tempo para fazer o reconhecimento do que poderia ser.

— Coloque seus espiões perto das Terras Mortais e da Primaveril, não acho que você terá muito tempo para avaliar a situação, então melhor deixar a área em supervisão até podermos lidar com isso. — Rhysand olhou alguns segundos para a enorme janela do escritório.

— Precisamos discutir outra coisa... — Cassian chamou a atenção. — Com o quanto de você poderemos contar, Rhys?

Azriel olhou para o irmão mais novo, sabendo exatamente o que Cassian estava se referindo: a barganha de Rhysand e de Feyre de apenas deixar esse mundo juntos. Agora com Nyx, tudo se tornava mais delicado e complicado.

— Lutarei com vocês, como sempre lutei...

— Mas...

— Eu e Feyre estamos pensando em uma forma de reverter a barganha. — confessou, interrompendo Cassian. Azriel apenas continuou encarando o irmão. — Pare de me encarar assim, sei que foi uma decisão inconsequente, mas você entenderia se...

— Eu entendo. — O encantador respondeu antes que o Grão-Senhor tivesse oportunidade de continuar. — Não entendia antes, mas agora eu entendo.

Graças à Mãe não tinha passado por nada parecido com o que Rhysand e Feyre tinham passado. Mas, apenas pensar naquela possibilidade o deixava completamente desesperado. Foi uma atitude inconsequente, não apenas com Nyx, mas com eles e o restante da sua família, com o povo que acabaria ficando sem seus governantes.

No entanto, ele sabia agora que o amor era nada mais que pura inconsequência. Nada racional saía do amor, era sentimento nu e cru e apenas isso.

Rhysand acenou com a cabeça, sentando-se na poltrona e juntando as mãos.

— Peço perdão por não ter avisado vocês, por terem descoberto daquela maneira...

— Já estamos acostumados com você escondendo seus planos de nós. — Cassian resmungou. — Mas espero que dessa vez tenha aprendido a lição e venha até nós antes de tomar uma decisão de vida ou morte.

— Certo. — O Grão-Senhor riu fraco. — Não posso prometer nada, mas darei o meu máximo.

Rhysand engoliu em seco, desviando os olhos para o anel de parceria em seu dedo, rodando-o distraidamente enquanto respirava fundo.

— Só não consigo viver em um mundo onde Feyre não esteja ao meu lado. — murmurou, parando de rodar o anel.

— Nyx precisa de vocês dois... Nós precisamos de vocês. — Azriel disse baixo. — Então, espero que consiga uma maneira de reverter essa barganha.

— Eu também.

Rhys sussurrou, os olhos violetas perdidos no jardim que a janela deixava amostra.

— Amren ficará aqui, enquanto visitamos a Invernal. — O Grão-Senhor trocou de assunto subitamente. — Emerie tinha se voluntariado para ficar em Refúgio do Vento administrando a reconstrução, mas quero apresentar as Valquírias como parte do exército oficial da Corte.

Silêncio perdurou por um tempo antes de Rhysand continuar:

— Como é apenas um dia creio que não haverá problemas, mas Morrigan chegará depois de nós na Corte Invernal para me trazer informações de como anda o acampamento.

Cassian e Azriel confirmaram com a cabeça.

— Alguma novidade sobre os peregrinos? — Rhys perguntou para o encantador.

— Não. — Azriel respondeu. — Ainda não recebi nenhum relatório. Não há movimentos, nem sinais do Capitão da guarda de Thesan.

O Grão-Senhor exalou um suspiro, fechando os olhos por alguns segundos. Azriel não acreditava que o amante de Thesan tinha sido contaminado, mas também não podia dizer que se voltaria contra o próprio marido, era um macho leal demais para abandoná-lo naquela situação, nas garras de Beron.

— Aparentemente o alvo de Beron naquela noite do baile era Helion. Foi o que ele me contou — explicou Rhysand. — Mas, ter conseguido Thesan parece ter sido uma boa troca.

— Faz sentido. — Cassian ponderou. — As criaturas infiltradas no exército de Beron não gostam de luz, e Helion é o Grão-Senhor que controla luz, talvez precisassem de alguém com esse tipo de controle para aprimorar as habilidades delas e torná-las mais resistentes a essa fraqueza.

— Já conseguiram torná-las resistentes ao sol. — murmurou Azriel. — O quão perto estão de conseguirem sumir com suas fraquezas?

— Tudo possui uma fraqueza. — O Grão-Senhor encarou os dois irmãos. — Nada nesse mundo é completamente imbatível. É contra a lei da própria natureza, sempre existirá uma fraqueza.

— Aquelas coisas não parecem nada dentro das leis da natureza para mim. — O General acrescentou. — Não parecem que vieram desse mundo.

A mente de Azriel vagou para longe. Era possível que aquelas criaturas não estivessem sendo feitas aqui? Ele não duvidava de mais nada naquela altura.

Respirou fundo uma vez, prendendo o ar por alguns segundos.

— Pode chamar Gwyneth para conversarmos antes de irmos?

Rhysand interrompeu seus pensamentos, fazendo com que ele despertasse do transe.

— O que quer com Gwyn?

— Ela descobriu uma abertura na biblioteca e acabou recebendo uma onda de poder que a deixou inconsciente, acha mesmo que não preciso conversar com ela?

— Certo, irei buscá-la e podemos conversar...

— É uma conversa particular, Azriel.

O encantador travou o maxilar.

Por quê caralhos Rhysand queria conversar a sós com Gwyneth?

— Sei que tenho um charme irresistível e Gwyneth realmente é muito bonita, irmão, mas sou um macho casado e pai de família, caso não esteja lembrado. — O Grão-Senhor abanou a mão como se o dispensasse. — Guarde esse temperamento de alfa para os machos das outras Cortes, esses talvez você devesse se preocupar.

O Mestre-Espião grunhiu, tentando apaziguar o instinto idiota em seu sangue. Cassian gargalhou, mas Azriel cerrou os olhos em sua direção, fazendo-o calar em instantes, provavelmente se lembrando da ameaça do encantador de usar a adaga em seu rosto.

— Você já avisou para Kallias que está levando um macho recém-emparceirado para Corte dele? — perguntou o General.

Azriel cruzou os braços, revirando os olhos.

— Não. — Rhys esboçou aquele sorriso felino. — Parece divertido, não?

— Vou buscá-la — resmungou, ajeitando a postura antes de caminhar até a porta.


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Gwyn já tinha conversado com Rhysand uma quantidade de vezes favoráveis, mesmo assim, ainda conseguiu ficar sem jeito quando Azriel disse que o Grão-Senhor queria vê-la após o acidente na biblioteca. Seu parceiro parecia levemente emburrado por não poder participar da conversa, mas explicitou que a esperaria na Casa da Cidade depois que acabasse de arrumar os pertences dos dois para seguirem a viagem para a Corte Invernal.

Ela estava mais tranquila quando entrou no escritório de Rhysand e o encontrou tomando uma xícara de café, enquanto lia alguma espécie de relatório. O Grão-Senhor abriu um sorriso amigável para ela, se ajeitando na cadeira.

— Olá, Gwyn. Como está se sentindo?

— Bom dia, Rhysand. Estou bem melhor.

O seu senhor concordou, convidando ela para se sentar na cadeira de frente para sua mesa. A sacerdotisa se sentou, sorrindo timidamente.

— Como foram os dias de férias?

Um sorriso sugestivo surgiu em seu rosto, Gwyn sentiu as bochechas queimarem antes de rir fraco.

— Foram ótimos. — respondeu, passando a mão pelo cabelo. — Obrigada por ter nos dado essa forcinha.

— Sabe, estou começando a me arrepender, Azriel se tornou ainda mais insuportável, como está conseguindo aguentá-lo?

— Ele têm os seus momentos. — Gwyneth riu, negando com a cabeça.

— Aceita café? — ofereceu uma xícara vazia para ela, Gwyn apenas concordou com a cabeça, precisava realmente acordar. — Azriel fez questão de deixar bem claro que você gosta de café com leite, então pedi para esquentarem um pouco para você.

A sacerdotisa riu novamente quando Rhys empurrou o bule metálico para ela, após servir um pouco de café para ela. Ela agradeceu, pegando o leite e completando sua xícara, soprando-a logo em seguida.

— Sinto muito pelo o que aconteceu com você na biblioteca ontem. — Rhysand se apoiou na cadeira, descansando o tornozelo em cima de um dos seus joelhos. — Há séculos Bryaxis estava ali, antes mesmo de eu assumir o título e acredito que antes do meu pai assumir o dele também... Devia ter inspecionado o último nível no momento em que ele fugira.

— Se tem alguém que deve pedir desculpas sou eu. — respondeu, bebendo um pequeno gole do café. — Minha curiosidade ainda vai acabar me matando.

— Quer me contar o que aconteceu de fato? Nestha e Emerie me explicaram, mas estavam muito afobadas para contar os detalhes do porquê decidiram se aventurar no sétimo nível.

A sacerdotisa explicou tudo, desde o momento em que decidiram descer para a biblioteca e dos livros que encontraram no nível seis. Contou da estrela de oito pontas no mármore do chão, e detalhou as visões que a tomaram quando posicionou a pedra na fenda.

Só não mencionou o gato branco, pois não queria se passar como doida depois de tanta informação.

— Foi muito inteligente da sua parte ter feito essa associação, sabia? — Rhys ajeitou a postura. — Sete é realmente um número com estranhas ligações.

— O poder restante de Nestha reagiu a rachadura na parede, eu consegui sentir algo também. Acho que pode ser realmente uma das fendas que os antigos feéricos selararam.

— A estrela de oito pontos era o símbolo dos antigos feéricos, tenho certeza que pouca coisa não é. Não é atoa que Bryaxis esteve ali por tanto tempo.

— Acha que ele era uma espécie de protetor da fenda?

— Creio que sim. — respondeu, servindo um pouco mais de café para ele e a oferecendo logo depois, Gwyneth negou, bebericando o restante do dela. — Existe uma variedade de criaturas em Prythian que não pertenceram a esse mundo. A maioria hoje está presa na Prisão, mas algumas como Bryaxis estavam há tanto tempo no mesmo lugar que me faz perguntar quem os colocou ali e por qual motivo, entende?

— Sim...

Por algum motivo desconhecido, Gwyn achou que seria importante contar para Rhysand sobre o episódio com sua irmã. Sobre o que ela tinha falado sobre a espada e a pedra, e aquela última frase que Gwyneth não tinha certeza se realmente significava algo.

Quando acabou, Rhysand tinha os olhos violetas perdidos em seu rosto. Ele provavelmente estava a chamando de louca mentalmente, e quando estava prestes a se explicar e dizer que era realmente provável ser loucura da sua cabeça, o Grão-Senhor perguntou:

— Como você está se sentindo?

— O quê?

— Como você está se sentindo, Gwyneth?

— Bem... Eu acho. — respondeu, confusa.

Rhys acenou com a cabeça positivamente.

— Imagino que tenha sido... difícil, rever sua irmã.

A valquíria concordou, entortando sua boca e engolindo em seco.

— Fica mais fácil com o passar dos anos, mas nunca vai deixar de estar presente, sabe? Essa sensação de que falta algo, sempre vai estar presente. — Rhys a encarou com um sorriso ameno no rosto.

Gwyneth sorriu triste, entendendo perfeitamente o que o Grão-Senhor queria dizer.

— Sinto muito... Pelo o que aconteceu com sua irmã e com sua mãe.

— Igual eu disse, fica mais fácil com o passar dos anos, Gwyn. — suspirou, ainda com o sorriso estampado em seus lábios.

A valquíria concordou, oferecendo um sorriso mais largo para ele.

— Fico feliz que ela tenha conseguido te fazer uma visita. — Ele coçou a garganta. — Interessante o que ela disse para você antes de ir embora.

— Que as portas do Inferno estão abertas?

— Sim. — O Grão-Senhor se levantou, caminhando até a enorme prateleira de livros que ele guardava no escritório, quase como uma biblioteca particular. — Muitos estudiosos não acreditam que o Inferno seja um plano propriamente dito, acredita?

Ele passou o dedo indicador pelo os livros, desistindo em seguida de procurar com os olhos e estalando os dedos para ativar sua magia. Um livro preto caiu da prateleira diretamente em suas mãos, enquanto a pequena amostra de poder se dissipava pelo ar.

— Você diz não como um plano ligado ao espiritual? Onde sua alma é encaminhada para ser punida?

— Sim. Muitos acreditam nessa versão, a maioria na verdade. — Ele abriu o livro, andando até a mesa novamente. — Mas, existe aquela parte considerada maluca que acredita piamente que o Inferno não é um plano e sim um... mundo.

— Um mundo como o nosso? — Gwyn arqueou a sobrancelha.

— Um mundo como o nosso. — Rhysand colocou o livro na mesa, empurrando-o em direção a sacerdotisa. — Me chamaria de maluco se eu dissesse que acredito nessa teoria?

— Bom, não... Seria hipocrisia minha, já que não posso falar muito quando o tópico em questão são teorias e maluquices, acho que essa são minha especialidade.

Rhys gargalhou baixo, acenando com a cabeça para que ela ficasse do seu lado. Gwyneth se levantou, caminhando até o outro lado da mesa. O Grão-Senhor não demorou para apontar para uma parte do livro, destacando uma passagem.

— Esse filósofo foi um dos primeiros a se aventurar na astronomia, foi ele quem elaborou e aperfeiçoou o primeiro sistema planetário. — Rhysand explicou. — Por algum motivo, o seu estudo sobre o Inferno em si nunca ficou famoso e ele acabou sendo jogado em um dos calabouços depois de ter ficado muito obcecado e foi quando ele se dedicou a escrever esse livro que acabou sendo replicado ilegalmente. Nunca achei outra cópia, acho que os outros acabaram sendo queimados por contrários.

— Então ele não estava no seu melhor quando escreveu esse livro e por isso acha que vou achar que é loucura?

— Sim? — O Grão-Senhor deu de ombros. — Posso te emprestar o livro e você me diz se acha que é uma teoria aceitável. Já que passou grande parte dos estudos de mundo pesquisando com Merril, tenho certeza que vai saber mais sobre o nosso possível sistema planetário do que eu.

— Você é um Grão-Senhor de mais de quinhentos anos, sabe disso, não é?

— Mesmo assim foi você, uma feérica de 28 anos que descobriu a existência de uma fenda no mesmo local que eu vivo a mais de quinhentos anos, não é mesmo?

— Certo. — A sacerdotisa decidiu não questionar seu Grão-Senhor. — O que o livro diz?

— Que existem sete níveis do Inferno, que são descritos como mais escuros que o anterior: o Vazio, a Trincheira, o Cânion, a Ravina, o Desfiladeiro, o Abismo e o pior de todos... o Fosso.

Gwyneth sentiu sua coluna arrepiar. O número sete de novo.

— Como ele descobriu tudo isso sobre o Inferno?

— Não faço ideia. — Rhysand confessou. — Acho que por esse e outros motivos que a teoria foi tão descredibilizada.

— Não acho que queimariam o restante dos livros se não existisse uma ponta de verdade nisso tudo. — Gwyneth pensou alto.

— Concordo. — sorriu de leve. — Muitos dos antigos livros foram queimados, são poucos os que realmente sobreviveram. Creio que grande parte deles estão aqui ou com o estudiosos de Helion, ele detém a maior parte do conhecimento de Prythian, quase uma enciclopédia ambulante.

— Vocês já conversaram sobre essa teoria?

— Não. — Rhys voltou com a postura ereta. — Mas acredito que seja um bom momento para perguntar se ele sabe de algo.

Gwyneth sacudiu a cabeça, desviando os olhos para o livro.

— Acho que as portas do Inferno estarem abertas não significa necessariamente que seja algo bom, não é?

O seu cunhado e senhor soltou uma risada fraca, concordando com a cabeça em um aceno positivo.

— Creio que não, Gwyneth. — Rhys exalou um longo suspiro. — Creio que não. 



Um pouco de depressão servida hoje, e tá tudo bem!  Juro que o capítulo dos aliados tá chegando galera, segura a barra. 

Enfim, não vou manter vocês aqui. Mas uma coisinha, muita gente me pergunta se precisa ler CCITY para ler SOS e não é necessário, não dou spoiler da história em si, só trago algumas referências que são importantes pro PLOT, então se quiserem ler CCITY juro que sua expriência não vai se estragada. E pra quem não leu, sim SOS fica mais imersivo quando você pega as referências, mas não faz diferença você ter lido ou não CCITY, ok?

É isso, pessoal. Se vocês gostaram do capítulo, então comentem bastante e deixem um favorito, isso ajuda muito para incentivar a continuar escrevendo e ajuda a história a crescer. (JÁ SOMOS 155K OMG) 

O capítulo bônus seria de 150k mas como acabei perdendo o time, vai ser de 160k, oks? Beijinhos para vocês e obrigada pelo carinho <3

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