𝟰𝟭. 𝗦𝗢𝗨𝗡𝗗𝗦 𝗢𝗙 𝗪𝗔𝗥

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Oii pessoal, passando aqui apenas para dar um breve recadinho. Para quem me segue nas redes sociais sabe que eu fiquei bem desanimada na última semana por conta do bug que o Wattpad deu tirando o capítulo do ar do nada na madruga. 

Isso fez com que meu alcance diminuísse muito, e acho que muita gente acabou não lendo o último capítulo. Enfim, estou passando aqui apenas para avisar que você que lê a história não custa nadinha deixar um comentário ou uma curtida. 

No último capítulo foram quase dez horas que eu me dediquei apenas para tentar escrever algo que realmente agradassem vocês. Eu reconheço que o capítulo não foi o melhor, e nem o mais bem escrito, mas me esforço muito nessa história, mesmo as vezes desanimada ou com alguns outros probleminhas na minha vida. Por isso acabei postando só uma vez na semana. 

SOS é meu xodó e eu realmente adoro escrever e fico animada para ver as reações de vocês e o que vocês estão achando do plot e de tudo mais. E de verdade, vocês não sabem o quanto as palavras nos ajudam a continuar escrevendo. Eu escrevo porque me faz bem e porque me ajuda lidar com os problemas e porque gosto de trazer isso paras as pessoas. 

Então, peço que vocês se manifestem em algum momento, eu leio todos comentários, mesmo não conseguindo responder todos. É isso, muito obrigada pelo carinho e boa leitura para vocês. 





Dois dias haviam se passado desde que Gwyn e Azriel voltaram para a Casa do Vento. E o caos que Rhysand tinha os alertado chegara mais rápido do que esperavam. A reunião com os aliados aconteceria no dia seguinte, na Corte Invernal, já que no momento aquele era o lugar mais seguro para se encontrarem. A reestruturação de Refúgio do Vento após a batalha continuava a todo vapor, e Cassian trabalhava arduamente com as informações de outros acampamentos, assim como fazia o possível para preparar as legiões illyrianas para marcharem em direção a Corte Diurna daqui alguns dias.

Azriel precisou de um dia inteiro para conseguir ler todos os relatórios que não se permitira olhar naquele período de três dias de férias, mesmo com Rhysand insistindo que não havia nada para ele se preocupar toda vez que se atrevia a chamar o irmão mentalmente enquanto descansava na Casa da Cidade.

A realidade, no entanto, era outra.

Havia muita coisa com o que se preocupar. E Azriel sentiu uma vontade genuína de esmurrar os rostos dos dois irmãos por não terem tido a coragem de avisá-lo. Mesmo entendendo suas motivações para mantê-lo despreocupado.

Vocês dois mereciam um descanso. Era o que Rhysand respondia toda vez que o encantador o repreendia por não ter o avisado da situação. Conseguimos lidar bem com tudo. Foi o que Cassian insistiu em repetir quando Azriel o questionou o porquê de não terem dito que precisavam de ajuda.

E por mais que aqueles três dias tenham sido um sonho para ele, Azriel não conseguia evitar a consciência pesada por não ter participado das últimas decisões e resolução de problemas com o restante do Círculo Íntimo. Gwyneth se sentia da mesma forma que ele, e nos últimos dias parecia se dedicar três vezes a mais que o normal.

As três valquírias se recusaram a parar o treino com as sacerdotisas, já que os treinos com as illyrianas não estavam acontecendo em Refúgio do Vento. Com a possibilidade do primeiro batalhão de Valquírias que Cassian e ele havia treinado no último ano irem para a batalha na Corte Diurna, as três não pararam por um segundo sequer naqueles dois últimos dias. Os treinos tornaram- se ainda mais longos e pesados.

O encantador não questionou sua parceira, nem aconselhou ela a diminuir o ritmo, já que o frenesi ainda continuava insuportável. Ficar horas separados preocupados com outra coisa, se dedicando a outra atividade que não envolvia os dois entrelaçados nos lençóis em seu quarto, os ajudavam a diminuir aquela vontade irrevogável que pairava entre eles toda vez que se encaravam.

Aquilo uma hora iria acabar matando ele de alguma forma. E Azriel não fazia a menor ideia de quando se tornaria mais suportável, mas definitivamente não parecia melhorar com o passar do tempo.

Ele duvidava que algum dia melhoraria.

E mesmo que Azriel e Gwyneth não conseguissem se segurar quando finalmente voltavam para o quarto depois de um dia cansativo, eles ainda não pareciam satisfeitos de manhã quando enrolavam o máximo para levantar. Azriel só considerava que o dia havia começado depois que tivesse se enterrado nela de novo, e de novo, e de novo.

Isso quando não era Gwyn que acordava sedenta por qualquer parte dele. Não que ele achasse ruim de acordar com as mãos de sua parceira passeando pelo seu abdômen ou com seu pau envolto na linda boca dela — pelo o contrário —, mas ainda sim era uma surpresa para ele o quão insaciável os dois se tornaram depois que o laço se encaixara de fato.

Por esse e outros motivos, o Mestre-Espião não protestou quando foi designado para uma missão. Ele precisava realmente se manter focado, ou enlouqueceria em algum momento.

Nos relatórios, seus espiões o informaram que haviam conseguido detectar os passos das tropas de Devlon e que eles realmente estavam protegidos pela magia de um dos príncipes da Corte Outonal. Além de relatarem um movimento estranho em Vallahan e na Corte Primaveril.

Ainda não tinham informações sobre os peregrinos, mas afirmaram que ainda estavam investigando.

Ele partiu naquela tarde para checar as rotas e ter a certeza de que as informações estavam corretas para que pudesse passar para Cassian, assim ele poderia colocar a legião de Mahara em movimento nas coordenadas certas, e avisar os Precursores da Escuridão para se prepararem nas fronteiras com a Corte Diurna.

Não conseguiu se despedir de Gwyneth, mas escreveu um bilhete explicando que havia partido para uma missão simples e que voltava assim que possível. Grifou o simples um número considerável de vezes para destacar e deixar ainda mais claro que ela não precisava se preocupar em relação a ele.

Mesmo sabendo que provavelmente seria inútil e que voltaria para casa encontrando sua parceira com o rosto revolto naquela expressão que indicava nada menos que pura raiva por não ter se despedido ou avisado de maneira adequada.

Apesar disso, Azriel não conseguiu conter o pequeno sorriso que surgiu em seu rosto enquanto ajeitava suas armas e seu traje, conseguindo imaginar perfeitamente a imagem de Gwyneth brava. Ela ficava linda quando ameaçava acabar com a vida dele.

E foi com aquele pensamento ainda intacto na sua mente que ele se jogou nos céus e seguiu para a missão.


𓆩*𓆪


Os músculos das asas de Azriel estavam doloridos. Voou durante algumas horas camuflado em suas sombras e quando as asas pediam descanso ele atravessava ou deixava as sombras guiarem ele. O rastro não estava muito visível e o cheiro não estava evidente, Azriel conseguia sentir mais acentuadamente apenas por conta de suas sombras. Aquilo fez com que o encantador deduzisse que Cassian estava certo ao dizer que a tropa estava sob proteção da Outonal, confirmando a informação dos seus espiões.

Ele não demorou muito para encontrar um grupo de soldados de Devlon que vigiavam parte do caminho, fazendo rondas. Haviam quatro machos, que aproveitavam o começo da noite para comerem a carne de algum animal que Azriel não conseguiu identificar. O Mestre-Espião ficou em cima dos galhos de um pinheiro, observando silenciosamente o movimento dos illyrianos.

Quatro machos. Ele poderia acabar com aqueles quatro com facilidade, antes deles sequer pensarem em atacá-lo de volta.

Mas não mataria. Se fizesse isso estaria arriscando revelar parte da estratégia de Cassian, Devlon provavelmente mudaria a rota, ou alertaria a Corte Outonal e Beron teria conhecimento que não estavam tão atrasados quanto ele imaginava.

Os quatro illyrianos não acenderam uma fogueira, e com a noite caindo, Azriel teve uma leve dificuldade em fazer o reconhecimento do rosto deles. Um deles tinha dois Sifões roxos nas costas da mão.

— Já estamos há muito tempo aqui, precisamos começar a nos mover ou nosso cheiro ficará impregnado.

Um deles reclamou.

— As ordens foram claras: devemos patrulhar a rota essa noite.

— Eles não vão vir essa noite, o acampamento ainda está destruído demais para que se preocupem em vir nos caçar. Se ficarmos aqui hoje iremos demorar a alcançar a tropa.

— Ordens são ordens. — O que comia a carne igual a um troglodita respondeu, o macho com dois Sifões. — Faça o seu trabalho e feche a porra da boca.

— Você deve ter merda no lugar dos miolos se acha que se algum dos cães do Grão-Senhor decidir vir atrás de nós estaremos vivos no dia seguinte para contar a história.

— Está com medo, Bran?

— Você quer que sua cabeça seja a próxima? Não ficou sabendo das mortes de Heytch, Gray e Tyson? César nesse momento deve estar definhando em um dos calabouços do Grão-Senhor.

César... Azriel se lembrava daquele nome. Ah, como se lembrava.

O macho que tinha tentado encostar em Gwyneth há alguns meses atrás. O capanga de Devlon que Cassian havia rebaixado de patente. Fôra ele que Azriel deixara vivo para interrogar quando invadiu as masmorras do lorde.

E era ele que Azriel faria implorar pela vida naqueles calabouços, deixando o sangue escorrer e manchar as pedras da Cidade Escavada.

— Devia ter pensado nisso quando decidiu virar um guerreiro. — Um deles jogou os ossos limpos no chão, pisando-os em seguida.

— E que escolha eu tive? — resmungou, as botas arrastando pela terra. — A valquíria é a porra da parceira do Mestre-Espião, não sabem? Se ele já era letal antes, imagine agora que encontrou a parceira.

— Vai acabar se cagando daqui a pouco, Bran. — Um deles riu. — Já está me dando nos nervos toda essa ladainha sua. Pare de ser um merda e honre seu título de Oristian, pelo menos.

O tal do Bran bufou, ainda em pé, a mão pousada no punhal da espada em seu quadril.

— Só acho que devíamos seguir. Pelo menos tentar chegar até o outro grupo ao leste.

— Suas ordens são outras. Sua missão não envolve a montanha, nem a espada, agora fique quieto, ou enfiarei um desses galhos na sua bunda.

— Vocês estão loucos se acham que vamos sobreviver a isso. — O illyriano resmungou, a mão se firmando no cabo da espada. — Não escutam os boatos desse Grão-Senhor da Outonal? Para quem está trabalhando? No que ele está fazendo com as pessoas? No que está transformando-as?

Azriel se ajeitou no tronco silenciosamente, suas sombras o protegeram dos movimentos. Suas orelhas ficaram ainda mais atentas à informação que aquele illyriano deixava escapar.

O que ainda mastigava a carne, ergueu os olhos escuros para Bran, jogando outro osso na terra debaixo de seus pés. O illyriano que aparentava ser o líder da pequena legião se levantou de maneira prepotente, os Sifões roxo em suas mãos brilhando contra a luz da lua, uma amostra clara da hierarquia. Naquele momento, ele era o mais poderoso e o guerreiro mais bem sucedido, a palavra dele para os outros era lei.

— Você está à serviço do seu Lorde, Bran. — A voz do macho com dois Sifões era grave. — Está querendo deserdar? Quer se juntar com Balthazar e se esconder debaixo da asinha igual um covarde qualquer?

Bran travou o maxilar.

— Sente falta do amiguinho, é? Vai nos fazer testar sua lealdade de novo? — Os Sifões roxos reluziram uma luz fraca de cor púrpura. Um sinal de que o temperamento do illyriano estava mudando, acumulando o poder para que pudesse atacar se necessário.

— O que quis dizer com isso, Bran? — Outro sentado no tronco encarou o illyriano que ainda olhava para o líder deles naquela missão. — O que escutou sobre o Grão-Senhor?

— Nada, Samir. — Os Sifões brilharam novamente. — Bran está falando demais.

Mas o illyriano que aparentemente já tinha sido amigo de Balthazar desviou os olhos do líder para olhar para Samir, que permanecia com o cenho franzido e a expressão confusa. O líder travou o maxilar, fechando os punhos, dando mais um passo em direção ao illyriano.

— Você sabe, não é? — Bran voltou a olhar para o macho em sua frente, o rosto uma mistura de desafio e desilusão. — Você sabe desde o começo e não se importa... O que Devlon te prometeu, Adel?

— Do que Bran está falando? — O outro ao lado de Samir se levantou.

Suas sombras se agitaram, como se sentissem a tensão que se formava entre os illyrianos. Adel olhou sobre o ombro para os dois illyrianos atrás dele, os olhos brilhando em um comando silencioso. Fiquem quietos. Foi o que Azriel havia detectado naquele olhar.

— Estou falando daquelas criaturas que Devlon parece estar fazendo coleção. Do que elas são capazes de fazer com os soldados, como o Grão-Senhor está usando para obter controle a força. — Bran encarou o illyriano a sua frente com sangue nos olhos. — Como pode ter tanta certeza que Devlon não está infectado também? Que o Grão-Senhor não tem intenção de nos controlar também?

— Cale a boca. — Adel grunhiu para o macho, os Sifões reluzindo mais uma vez a luz roxa, iluminando o ambiente escuro.

— Não é de hoje que escuto que os feéricos inferiores estão sumindo na Corte Outonal. Que estão servindo de cobaia para os experimentos daquele maluco. — O macho cutucou, dando um passo para frente em direção ao líder. — Acha que somos o que para Beron se não uma raça inferior? Quem o garante que após nos usar, não seremos os próximos de cobaias? Ou você acha que existe alguma outra razão para ter decidido se aliar com Devlon?

Os olhos de Azriel saltaram.

Pela Mãe...

Naquela missão em que visitou Vallahan, ele tinha tido certeza que os gritos que havia escutado não pertencia a nenhuma besta. Beron estava realmente capturando feéricos inferiores? Aquele era o motivo deles não se incomodarem mais com a luz do sol? Por não estarem sendo criados a partir de apenas escuridão?

Não conseguia nem sequer duvidar daquela informação. Beron já havia provado diversas vezes o seu ódio por outras raças. Azriel devia ter feito aquela associação antes, devia ter imaginado que aquela seria uma opção para o Grão-Senhor.

Sentiu seu coração disparar contra o peito. Quanto tempo demoraria para que Beron começasse a ir atrás dos feéricos de outras cortes? Já tinha Tamlin e Thesan sob controle, não seria difícil se atrever a dar mais esse passo.

Azriel tentou se livrar do choque do que havia escutado, se concentrando na tensão que acontecia a alguns metros de distância debaixo dele.

— Pensei que o objetivo de seguir Devlon nessa rebelião era fazer de Illyria independente, era fazer de Illyria um território livre, mas aqui estamos o seguindo para o que me parece anos de escravidão e controle. — Bran cuspiu as palavras, olhando de cima para baixo para o illyriano em sua frente. — Você adora chamar aqueles dois de cadelas, mas olha só quem está agindo como uma...

Antes que o encantador pudesse se preparar para o que aconteceu em seguida, já era tarde demais.

Tudo que escutou foi a cabeça decepada do macho caindo contra o chão de terra, o corpo despencando segundos depois, manchando o local com o sangue que escorria do corte feito pelo líder. Azriel cerrou os olhos, observando o que restou de Bran, enquanto o macho com os dois Sifões roxos limpava o sangue na lâmina da espada com a mão.

O Mestre-Espião desviou os olhos para os dois machos atrás de Adel, que encaravam o illyriano com os olhos saltados e os corpos duros como pedra. O líder se virou, encarando os outros dois soldados com uma sobrancelha erguida.

— Mais alguém quer questionar os passos de Devlon ou os meus? — Ele fez questão de deixar a espada amostra, ainda com sangue do guerreiro manchando o prateado.

Os dois illyrianos que sobraram entortaram a boca, negando com a cabeça, voltando a se sentar com uma carranca no rosto, observando o corpo jogado do outro lado, a poça de sangue se acumulando debaixo do cadáver.

As coisas estavam se tornando mais fodidas a cada pequeno passo que davam. Era difícil estipular há quanto tempo Beron estava preparando aquilo, preparando o começo daquela guerra por todos aqueles anos. Isso tudo por poder, por território... O Deus preso naquele lago havia feito uma promessa vazia e o idiota não esperou para agarrar a oportunidade, como se Koschei fosse realmente cumprir qualquer que fosse o acordo que fizera com o governador da Outonal.

O Grão-Senhor estava liderando todos para um massacre imprescritível como uma marionete patética. Um tirano que levava seu povo para o declínio e um genocida que acreditava ser superior pelo sangue que corria em suas veias.

Ele deveria voltar para Casa naquele momento, repassar as informações para Rhysand e Cassian, e pensar em um jeito de driblar aquele feitiço em Vallahan, talvez rever aquele mapa que havia encontrado no escritório de Devlon.



𓆩*𓆪



Gwyneth se debruçava sobre livros novamente. Emerie e Nestha do seu lado na biblioteca privativa da Casa do Vento. Estavam exaustas devido ao treino longo e demorado daquela manhã, que havia se estendido até a tarde.

Não encontrou Azriel o resto do dia, desde aquela manhã. O seu peito apertava dolorosamente de saudade apenas pelas horas separados, mas os dois haviam concordado que focarem nos próximos passos e no trabalho ajudaria a diminuir os efeitos daquele frenesi que não aparentava cessar em poucos dias.

E a sacerdotisa conseguiu não pensar em seu parceiro por um certo período de tempo, enquanto treinava com as sacerdotisas, preparando para a possível batalha que lutariam na próxima semana. Também não se permitiu pensar durante seus estudos na biblioteca, com Emerie e Nestha do seu lado a ajudando.

— Acho que iremos precisar visitar a biblioteca. — Gwyn sussurrou, correndo os olhos pelos livros que já havia lido com Azriel naquela mesma biblioteca.

Ela olhou para o sofá, observando o tapete embaixo dele, onde ela tinha deixado Azriel tocá-la pela segunda vez, onde tinha praticamente implorado para que ele a tocasse de novo. Quando não entendia o porquê de desejar algo que há tão pouco tempo temia, quando não entendia porquê ansiava tanto pelas mãos do encantador em seu corpo.

Pôde jurar que por um momento conseguiu ver um reflexo da imagem deles ali. De como o toque de Azriel ainda era delicado e receoso, de como ele parecia ressentido por querer o mesmo que ela. Uma imagem totalmente diferente do macho que hoje puxava seu cabelo com força, a jogava contra a parede e a fodia em um depósito de limpeza.

Um sorriso de lado surgiu no rosto da sacerdotisa, ao mesmo tempo que forçava voltar a atenção para o livro em sua frente e dissipar as lembranças que pairavam em sua mente. Ela culparia o frenesi por aquele pensamento, mesmo sabendo que ela não estava sendo influenciada por ele naquele momento.

— Não sei do que lembrou quando olhou para aquele tapete, mas vou pedir que se controle porquê seu cheiro acabou de infestar cada canto desse cômodo. — Emerie olhou para ela com a sobrancelha arqueada, Nestha riu baixinho.

Gwyn sentiu as bochechas corarem, provavelmente deixando seu rosto mais vermelho que a capa do livro que a illyriana passava os olhos escuros. A sacerdotisa coçou a garganta se recuperando.

— Do que precisa na biblioteca? — A Archeron trocou de assunto, erguendo os olhos cintilantes em sua direção.

— Procurar outros livros. — respondeu Gwyneth. — Algo sobre o antigo Oráculo, ou algo que nos ilumine em relação ao que pode significar cada passagem daquela profecia.

— Sabe se sua irmã manifestou mais daquele poder sinistro? — Ems perguntou, fechando o livro.

— Não acho que Elain irá canalizar aquele poder de novo tão cedo... Ela ficou quase uma semana inteira exausta depois que o fizera. Feyre me disse que ela ficou um bom tempo se recuperando.

Gwyneth poderia imaginar. Era a própria Mãe se comunicando através dela, uma força como a da Deusa só poderia ser algo realmente devastador. Ela ainda engolia em seco ao lembrar daquela voz tão poderosa que ecoou através da garganta da clarividente, que usou o corpo da irmã de sua melhor amiga como um instrumento qualquer para proferir sua mensagem.

— O que sabemos até agora?

A sacerdotisa engoliu em seco repassando mentalmente as informações que tinham acumulado durante aqueles meses, depois repetindo-as para as amigas, deixando de fora apenas a importante informação de que seu parceiro era descendente do Deus da Morte ainda preso naquele lago. Que era descendente de um dos três grandes feéricos que havia protegido a montanha que hoje era insígnia da Corte a qual elas serviam.

Azriel ainda não tinha contado sobre aquela descoberta para ninguém além dela, e parecia não querer tocar no assunto por enquanto, mesmo que aquela informação pudesse ser crucial para que entendessem parte do que o futuro reservava para eles.

Gwyneth não iria contestá-lo, nem pressioná-lo. Ele lidaria com aquela verdade quando pudesse lidar, quando estivesse preparado para lidar com ela e aceitá-la. Mas, era inegável que o encantador tinha um papel importante naquela guerra, contra a Morte pura que chegava cada vez mais perto de se libertar e destilar caos pelo mundo.

Ela repassou os versos daquela profecia em sua mente. Leu tantas vezes o que havia escrito que acabou decorando cada palavra, em uma tentativa de entender o que significava, mesmo sabendo que Rhysand e Amren estavam trabalhando em uma maneira de decifrar as passagens enigmáticas.

As espadas e a adaga se encontrarão

Guiadas pela luz e a sombra de um coração

O herdeiro da Morte terás que seguir

Para o caos e o eclipse do mundo impedir

A herdeira da Vida terás que ajudar

Para o último suspiro da terra salvar


Aqueles primeiros versos ainda invadiam seu sono às vezes. E a sacerdotisa agora não tinha dúvidas que se tratava de Azriel, e se estivesse certa, dela também. Apesar de duvidar que era herdeira de qualquer coisa. Talvez... Talvez fosse uma analogia para os dons divergentes dos dois. Era luz que corria em seu sangue, e era escuridão que corria no sangue de seu parceiro.

Vida e morte. De alguma forma.

— Certo, então vamos antes que escureça e Clotho decida encerrar as atividades. — Nestha se levantou.


𓆩*𓆪


As três estavam paradas em frente a uma Clotho com um sorriso ameno estampado no rosto semi-tampado pelo capuz de sacerdotisa. Deuses, Gwyn se sentia tão estranha em pisar ali novamente sem suas vestes sagradas, sem estar carregando milhares de livros em sua mão ou morrendo de medo de Merril achá-la para aterafá-la ainda mais.

Ela gostava do seu antigo trabalho na biblioteca, gostava de pesquisar e de estar por dentro das escrituras de Merril, mas com aquela guerra, com todos os acontecimentos que se antecederam, Gwyneth não pôde negar que havia ficado um pouco aliviada por ter recebido a dispensa de Clotho.

Talvez, quando tudo aquilo acabar, quando puder de fato viver uma vida normal, em um mundo que não estivesse prestes a desabar em caos... Talvez ela pudesse voltar e tentar conciliar seu tempo com o trabalho na Corte.

O olhar da Grã-Sacerdotisa se sustentou nela, e por alguns segundos pôde jurar que viu uma pontada de orgulho brilhar naqueles olhos. Gwyn sorriu para a fêmea que havia a ajudado mais vezes do que se lembrava, para a fêmea que a incentivou toda vez que ameaçava desistir.

— Senti sua falta, Clotho. — disse sinceramente.

A caneta encantada da sacerdotisa logo escreveu em um papel: "Eu também, Gwyneth. Como posso ajudar vocês?"

Nestha cumprimentou a sacerdotisa com um aceno tranquilo, os olhos azuis acinzentados aparentando dizer o mesmo que Gwyneth. Emerie do seu lado esquerdo apenas repuxou os lábios para cima, um cumprimento tranquilo e educado.

— Sei que vai dizer que provavelmente conheço cada canto dessa biblioteca, mas... Existe algum livro ou escritura que possua mais informações sobre o antigo Oráculo? Algo sobre as antigas lendas desse mundo?

Gwyneth esperou que a caneta de Clotho parasse de escrever para ler para as amigas: "Os livros mais antigos ficam no nível seis, talvez possa achar algo que não tenha botado as mãos por lá."

A feérica olhou para Nestha, antes de adicionar: "Parabéns pela parceria, Nestha Archeron"

A amiga agradeceu Clotho, que voltou a olhar para Gwyneth, a pedra em seu capuz brilhando levemente. Sua caneta escreveu mais uma sentença, a qual Gwyn não demorou para pegar e ler, sentindo suas bochechas queimarem.

"Quando celebraremos a sua parceria, Gwyneth?"

Ela não se atreveu a perguntar como Clotho sabia sobre seu laço de parceria com Azriel, as notícias sempre corriam em sua direção de alguma forma, como se a Grã-Sacerdotisa soubesse de segredos que poucos sabiam, mesmo debaixo de tanta pedra. Clotho sempre teve uma aparência mais mística do que se mostrava.

— Ainda não tinha pensado em nenhuma celebração. — riu fraco, Emerie e Nestha ao seu lado também riram de leve. — Talvez depois de toda essa loucura passar, quem sabe?

A caneta de Clotho se arrastou pelo papel novamente, escrevendo uma oração esperançosa: "Que a Mãe lhe ouça"

— Obrigada, Clotho. — Os lábios de Nestha se curvaram para cima.

A governanta da biblioteca apenas acenou a cabeça em um sinal de reverência enquanto as três seguiam para as enormes escadas espirais, descendo e descendo e descendo. A cada passo que dava ali, as poucas sacerdotisas que ainda estavam fazendo algum tipo de turno as encaravam. A maioria sendo aquelas que ainda não se sentiam prontas para adentrar a nova geração de Valquírias.

Algumas provavelmente se perguntando se Gwyneth havia abdicado do seu título de sacerdotisa, mesmo sabendo que era impossível revogar o título depois que a Mãe o abençoava. Ela seria uma sacerdotisa para o resto de sua vida, mesmo não praticando tanto quanto antes.

— Vocês não sentem uma energia estranha nessa biblioteca? — Emerie abraçou os braços, os pelos se arrepiando. — Parece que quanto mais baixo, pior a sensação fica.

Gwyn sentia. Não uma energia estranha, mas desconhecida e curiosa. Como se algo estivesse observando, esperando por algum momento, alguma deixa. Mesmo sem a besta que antigamente se alojava no sétimo e último nível.

Quando finalmente chegaram no nível seis, Gwyneth tentou manter Emerie o mais longe possível da abertura para o nível sete, onde tudo que pairava era uma profunda e gélida escuridão.

— Não encare muito. — sussurrou, percebendo que a amiga illyriana olhava para a abertura, os olhos perdidos como se escutasse algo.

— Vocês não escutam nada? — Ems respirou fundo. — Toda vez que olho demais sinto que escutei o meu pai de alguma forma, o estalo do cinto dele...

Os olhos escuros da melhor amiga se tornaram soturnos. Nestha entortou a boca, como se sentisse algo também, como se sentisse atraída a descobrir o que pairava naquela escuridão, como se seu nome fosse sussurrado pelas frestas das pedras. Gwyneth apenas continuou guiando as amigas até as prateleiras, tentando mantê-las longe do que quer que fosse que ainda vivia ali embaixo.

As duas balançaram a cabeça, como se estivessem se empenhando para a mente voltar a funcionar corretamente. A sacerdotisa havia passado tanto tempo naquela biblioteca que já tinha se acostumado com as sensações estranhas, e apesar de estar acostumada, aquilo ainda não a impedia de se arrepiar toda vez que chegava perto demais da abertura ou da rampa para aquele poço de escuridão.

Ela nunca se aventurou para descobrir o que tinha escondido ali depois que a criatura tinha ido embora. Se havia outras histórias, outros livros...

Sacudiu a cabeça, tentando não se sentir influenciada a explorar.

A sacerdotisa apontou para as diversas prateleiras, recheadas de livros. As duas melhores amigas colocaram a mão na cintura, erguendo a cabeça para a enorme pilha.

— Então, mãos à obra. — Gwyneth resmungou, começando a busca por algum título que pudesse ajudá-las.


𓆩*𓆪


Elas devoraram os livros novamente, subindo um nível acima para se manterem longe do sentimento estranho que era estar muito perto daquele sétimo nível. Clotho havia avisado que elas poderiam usar a biblioteca até o horário que quisessem, mas que os turnos das sacerdotisas já estavam terminando e que a cerimônia das sete horas já iria começar.

As três apenas concordaram, agradecendo a governanta e permanecendo igual estátuas em uma mesa redonda do local. Trocavam poucas palavras umas com as outras, apenas pequenas observações e perguntas ocasionais.

Gwyneth lia um livro com o título de "O Número Divino", Emerie folheava uma porção de livros, mas a sua principal leitura era: "Os mistérios de Uma Terra Esquecida" e Nestha lia "Conquistadores de Mundos". Gwyneth já sentia a cabeça doer, e por um momento pensou em dizer para as amigas deixarem isso para outro dia, já que viajariam no dia seguinte.

Mas Emerie interrompeu seus pensamentos quando disse:

— Pelias é um nome familiar para vocês? — ergueu os olhos castanhos na direção delas. Nestha negou e Gwyneth tentou vasculhar algum lugar em sua mente, mas falhou. — Apareceu aqui em uma passagem sobre uma lenda antiga, dizendo que ele liderava seus homens como um verdadeiro conquistador, ninguém era páreo para sua força nas batalhas.

Ela arrastou o livro na direção das duas amigas, apontando para o escrito em questão. Gwyneth percebeu que o livro estava traduzido de forma confusa, como se o tradutor tivesse tido dificuldade com as palavras.

— Não me lembro desse nome. — Gwyn admitiu. — Não estava em meus estudos.

— Ele parece ter sido importante. Acho que atuava como um antigo General... — Emerie releu a página, franzido o cenho. — Acha que esse pode ter sido o General que traiu o Rei Fionn e atravessou por uma das fendas?

— Faz sentido. — Nestha sibilou, voltando a olhar para o livro em sua frente.

— Aqui cita que ele também tinha uma arma letal e poderosa. — A illyriana passou os olhos novamente. — Acham que pode ser a espada perdida? Narben?

Gwyneth entortou a boca. Toda vez que aquela espada era citada ela se lembrava do desenho marcado e tatuado nas costas de Azriel. Nas palavras que seu parceiro havia escutado através daquele antigo feérico: que deveriam encontrar a espada antes que fosse tarde demais. Mas, aquelas informações de nada ajudariam ela a descobrir onde a espada estava perdida, nem a dizer como conseguiria ela de alguma forma.

— Não sei. — Gwyn bufou um lamento. — Todas as lendas antigas parecem tão confusas, como se não tivesse algo que fosse completamente certo, como se não pudessem de fato contar a história verdadeira...

— Esse livro que estou lendo parece mais um monte de teorias. — Nes suspirou, negando com a cabeça. — Ou alguém que passou muito tempo obcecado por esses seres que criaram a raça feérica.

— O que diz?

— Que haviam sete "Conquistadores de Mundos", cada um com o poder de uma das sete estrelas da constelação conhecida como "Morada dos Deuses". — A Archeron continuou com o olhar fixo nas páginas amareladas. — Segundo ele, quando chegaram aqui a magia começou a se perder com o tempo, como se eles precisassem se alimentar do que o mundo oferecia. Precisou de sete fendas para que eles pudessem cair, pois uma só não aguentava o poder de todos eles.

— Esses conquistadores são os Daglan? Os Deuses e monstros que o Rei Fionn destronou? Que fez Theia e o seu General fugirem?

Nestha balançou a cabeça positivamente.

— Helion disse que Koschei é mais antigo que o oceano e mais letal que a própria Morte, que ajudou os Daglan a chegarem nesta terra antes dela ser conhecida como é hoje. Que ele e seus irmãos chegaram quando Prythian não era nada além de uma terra vazia pronta para ser conquistada. É isso que ele quer trazer de volta? Os Daglan?

— Mas, por qual motivo ele abdicaria de poder controlar Prythian ele mesmo? — Nestha perguntou. — Tudo acaba sempre voltado para o poder, para o domínio. Por que Koschei perderia a oportunidade de ter essa terra para ele?

— Talvez ele seja apenas uma marionete para quem realmente deseja o controle, para quem realmente precisa de força e magia... — Gwyn sussurrou, pensando.

— Conseguem imaginar algum tipo de poder parecido com os desses antigos seres? Achávamos que estavámos perdidos com Koschei, mas aparentemente ele é brincadeira de criança perto dessas coisas.

Emerie disse baixo, bufando.

— Tem alguma dica em qual lugar de Prythian estão localizadas essas sete fendas? — perguntou a sacerdotisa, voltando o olhar para a melhor amiga.

— Não. — Nestha folheou as páginas. — Por quê? No que estava pensando?

— Estou pensando que Koschei não pode ser morto. — Ela olhou para o livro nas mãos de Nestha. — Mas, talvez possa ser mandado de volta para o lugar de onde veio.

As duas amigas a encararam, os rostos eram um mistério o qual a sacerdotisa não conseguiu decifrar.

— Para isso precisaríamos abrir pelo uma das fendas. E não fazemos a menor ideia de como fazer isso.

— Deve haver algum jeito. — Emerie concordou. — Mas seria arriscado demais, e se ao abrir uma dessas fendas estivéssemos libertando algo terrível? Não sabemos quantos mundos existem por aí, nem a quantas criaturas diferentes e mortais podemos expor Prythian.

— São sete mundos. — sussurrou Gwyn. — Sete mundos, sete estrelas, sete fendas, sete cortes...

A cabeça de Gwyneth deu um nó, fazendo sua têmpora latejar com a dor. Ela moveu os olhos para o livro em sua frente. "O Número Divino". Seu coração bateu aceleradamente contra as paredes do seu peito. Sete. Sempre girava em torno do número sete. Pelo Caldeirão, era uma sacerdotisa, sabia o quanto o número significava para as divindades.

Ela ergueu os olhos acima dela, observando cada espiral das escadas e rampas que as levavam até o topo da biblioteca, voltando os olhos para a escuridão abaixo delas.

Sete níveis da biblioteca...

A pedra no busto de Gwyneth esquentou, aquecendo sua pele, emanando um brilho fraco contra o tecido de sua blusa, como se conseguisse traçar seus pensamentos. A sacerdotisa perdeu o fôlego por um momento, sentindo um arrepio estranho em sua nuca, como se algo espreitasse ali, curiosamente olhando para elas. De repente, o local aparentou estar mais gelado que o normal, esfriando a cada segundo, cada mísero segundo.

As amigas olharam para Gwyn, a boca entreabrindo para o brilho da jóia. Por muito tempo, a sacerdotisa achou que aquilo era um alerta para se manter longe daquele sétimo piso, mas agora parecia o contrário...

Parecia um aviso. Um aviso de que alguém as guiaria na escuridão abaixo delas.

A valquíria respirou fundo, antes de levantar e perguntar:

— Vocês confiam em mim?


𓆩*𓆪


— Estou cada vez mais convencida de que isso foi uma péssima ideia. — Emerie disse baixo, abraçando os braços. O frio ali naquele último piso era ainda mais gélido, como se a escuridão abraçasse as três.

Mas Gwyneth continuava determinada a continuar descendo a rampa, sentindo aquela pequena presença a guiar para mais fundo, mais fundo, e mais fundo. Quando já se era impossível enxergar algo, as três pararam. A jóia em seu peito brilhou e permaneceu brilhando, emitindo a luz como se em uma tentativa de iluminar o local para elas.

Nestha deu um primeiro passo, mas a sacerdotisa a parou.

— Não escutaram? — A Archeron olhou para elas. — Escutei sussurrar meu nome por entre as pedras.

— E você simplesmente decidiu seguir sem saber o que é? — Emerie tinha uma expressão encabulada no rosto. — Pelo amor da Mãe, Nestha, nem se sabe o que se tem aí embaixo, o que estamos procurando.

— Já estive aqui antes. — Os olhos azuis brilharam. — Talvez seja um sinal.

— E talvez seja uma armadilha. — A illyriana repreendeu entredentes. — Só espere por um momento. Gwyn?

Ela não escutava nada. Porém sentia, sentia uma energia inquietante a envolver, mas não parecia nada perigoso. Era quase como se seu corpo se sentisse compelido a seguir para dentro, mesmo não fazendo a menor ideia do que poderia estar escondido ali.

— Vamos. — Gwyneth arrancou a pedra da invocação de seu peito e a segurou fortemente na mão. A outra palma ela estendeu para Emerie ao seu lado, a illyriana pegou a mão da Archeron, apertando também. — Valquírias.

— Valquírias, porra. — Ems acenou com a cabeça.

E quando adentraram a escuridão, elas não temeram.

Gwyneth apertou a mão contra a palma da illyriana e deixou a pedra a guiar até o núcleo daquele lugar cada vez mais frio, cada vez mais gélido. A sacerdotisa fechou os olhos, se concentrando, sentindo aquela magia ainda desconhecida queimar como uma estrela em seu peito, fluindo por suas veias e bombeando ainda mais o seu sangue.

As amigas deixaram um suspiro abalado escapar e isso obrigou Gwyneth a abrir os olhos. Sua pele agora emanava aquela luz ainda muito nova para ela, iluminando o que antes não passava de escuro eterno.

A luz que fluía de seus poros e queimava seu peito como o sol de manhã não conseguia iluminar todo o local, mas as permitiam enxergar o núcleo do piso. Gwyn desviou os olhos para o mármore, percebendo o grande desenho de uma estrela de oito pontas abaixo de seus pés. Nestha do outro lado pareceu estremecer.

— Parece com as que eu vi entalhadas no chão da Prisão. — O corpo dela endureceu enrijecendo logo em seguida. — Escutaram?

Emerie negou com a cabeça, assim como Gwyneth. A sacerdotisa não tinha dúvidas de que a Archeron havia escutado seu nome novamente, pois no momento em que a amiga paralisou, Gwyn sentiu sua coluna arrepiar, sentindo novamente a presença de algo.

— Vamos continuar andando. — Ems apertou suas mãos. — Gwyn, ilumine o caminho.

Concordou, segurando fortemente as rédeas daquele dom, firmando-as para ter certeza que ele não se apagaria enquanto exploravam o sétimo nível. Os passos eram lentos, suas cabeças erguidas observando cada detalhe que a luz que saía do corpo de Gwyneth iluminava. Haviam prateleiras ali embaixo, alguns exemplares de livros que provavelmente não eram lidos há muito tempo, assim como outro amontoado de coisas. Artefatos, pinturas, móveis. A poeira se acumulando e fazendo o nariz de Gwyneth coçar.

— Nada neste mundo se oculta aos olhos dos Deuses, Gwyneth Berdara...

A voz sussurrou, e seu nome se arrastou como se tivesse sido cantado. O corpo de Gwyneth gelou como uma pedra, fazendo sua respiração encurtar, a presença pequena e curiosa ainda fazendo companhia, ainda as empurrando pelo caminho iluminado aos poucos. As amigas não pareciam ter escutado o que ela havia escutado, a voz baixa que tomou seus ouvidos e congelou seus sentidos por um momento.

— Vamos continuar. — Nestha incentivou, percebendo que ela tinha travado por alguns segundos.

A pedra ainda as guiavam até o final daquele enorme corredor que estendia o piso do nível sete. Gwyneth não contestou, nem deixou os sussurros que saíam entre aquelas pedras amendontrá-la. Seguiu adiante, deixando aquele brilho em seu sangue ditar seus passos, deixou que fosse atraída, sabendo que de alguma forma algo as observava e as protegiam.

Pararam quando enxergaram uma enorme parede de pedra que se alongava até o topo da biblioteca. Mas, ali no meio jazia uma rachadura. Fina, porém extensa. Estava selada, como se tivesse sido reparada novamente. Parecia ter sofrido algum tipo de impacto e rachado com o choque.

Dali um tipo de força estranha se emaranhava. O corpo de Nestha enrijeceu novamente, os poucos pelos do braço de sua amiga arrepiaram. Gwyneth se sentiu inquieta perto daquela rachadura, perto do que a pedra e aquela pequena presença aparentavam querer que elas vissem, mas Nestha... Nestha estava incomodada, o rosto todo contorcido em uma expressão quase dolorosa e angustiada.

Conseguiu escutar a saliva cortando a garganta da Archeron, Emerie segurando mais firmemente sua amiga.

— Acha que isso é...?

— Uma fenda. — Nes respondeu, respirando fundo. — Um portal.

A illyriana apertou o corpo de Nestha mais uma vez.

— Consigo escutar de novo... Os gritos, os lamentos. — fechou os olhos com força. — Os brados das pessoas desesperadas.

A pedra esquentou em sua mão, Gwyneth levou os olhos azuis para o brilho azul que se misturava com o brilho que ainda exalava de seu corpo. A sacerdotisa não entendeu quando deu um passo para frente, soltando a mão de suas amigas e caminhando em direção a enorme rachadura.

Emerie tentou puxá-la de volta, mas foi em vão, pois o corpo dela se mexia sozinho até a parede de pedra.

Não tinha controle, ou pelo menos, acreditava que não. E quando pousou a jóia que um dia pertenceu a Oleanna no meio da parede, quando descansou o artefato na rachadura, tudo que ela menos esperava é ter sido atingida por uma série de imagens, pela magia desenfreada que zumbia em seu sangue e em seus ouvidos.

Ela tentou se segurar, tentou permanecer intacta, mas era como se os flashes a atingissem como pedras. Passando por seus olhos tão rapidamente que foi quase impossível captar qualquer coisa. Então as cenas clarearam, e a sacerdotisa enxergou o primeiro flash e os seguintes que se sucederam.

O Caldeirão derramando a sua essência sobre o mundo, a imagem de feéricos caindo, sangue e cavalos, armaduras e espadas. Os Tesouros sendo mergulhados sobre o líquido divino do Caldeirão. Luz e sombra. Vida e Morte. Devastação e destruição. Os sons de gritos e prantos desesperados torcendo para que conseguissem fazer a travessia, o som alto que saía de algo parecido com uma corneta de guerra, um chifre curvado. A figura feminina de cabelos negros brilhando fortemente e cegando qualquer inimigo a sua frente. Três feéricos erguendo suas lâminas e escalando a montanha, derramando seu sangue sobre a pedra, enquanto a luz da estrela iluminava e selava.

— Nada neste mundo se oculta aos olhos dos Deuses.

A voz agora pertencia a uma mulher. A imagem da Alta-Sacerdotisa que possuiu aquela pedra por milênios se formando nos flashes rápidos. Gwyneth se sentia sendo sugada, a energia fluindo por seu corpo, tomando seu sangue e a fazendo queimar. Mesmo assim, não soltou a jóia, mesmo lutando não conseguia tirar a mão de onde corria toda aquela força.

Só soltou quando seu corpo foi arremessado para trás. Quando sentiu as costas baterem contra o piso gelado e quando ouviu os gritos desesperados de suas amigas. Mas, Gwyneth não conseguiu falar, não conseguiu se mover, nem sequer manter os olhos abertos enquanto sua consciência se esvaziava.

A última coisa que viu antes de seus olhos se fecharem e apagar completamente, foi a figura de um gato branco adentrando para escuridão.


𓆩*𓆪


Azriel voltou da Cidade Escavada para a Casa tremendo quando sentiu aquele aperto no peito, quando escutou a voz de Rhysand em suas paredes mentais dizendo um alto e claro: "Algo aconteceu".

Não se preocupou com a interrogação que precisava fazer, com o trabalho que ainda precisava acabar antes de repassar as informações para seus irmãos. Não. Nada daquilo importava, não quando Gwyneth estava em perigo.

Ele sentiu no mesmo momento, aquele laço se apertando e o avisando que algo havia acontecido com sua parceira. E nada o fazia parar de tremer enquanto corria para dentro dos corredores da Casa, os olhos perdidos e amedrontados. Se esquecendo completamente que precisava de ar nos pulmões, que precisava respirar para poder chegar até ela. Suas sombras se tornando cada vez mais agitadas e desesperadas.

Jurou que as pernas iriam ceder ao ver Nestha, Emerie e Cassian parados em frente à porta do quarto de Gwyneth, roendo as unhas e com as feições preocupadas. Rhysand também estava ali, conversando com os três ao lado de Feyre.

— Onde ela está? — A voz dele falhou ao erguê-la. — O que aconteceu?

— Azriel, se acalme. — Cassian foi o primeiro a ir de encontro a ele, domando o seu corpo. Azriel nem sequer sentiu o impacto contra o amontoado de músculos que era seu irmão.

— Ela está bem, Az. — Nestha chegou mais perto. Ele desvencilhou do amigo e encarou todos eles parados ali.

— O que aconteceu? — Os olhos avelãs desesperados passaramem cada um daqueles rostos.

Emerie foi a primeira a começar a explicar. Ele não absorveu quase nenhuma das informações, o corpo ainda tremendo e a mente ainda martelando contra suas têmporas. Nestha continuou a explicação, contando o exato momento em que o corpo de Gwyneth fôra arremessado para o chão poucos minutos depois dela aparentemente ter canalizado o poder da jóia.

— Ela bateu a cabeça com muita força e teve um sangramento nasal. Pedimos ajuda para Rhysand mentalmente assim que vimos o sangue se acumulando atrás da sua cabeça. Madja está analisando-a para checar se a pancada não causou hemorragia interna ou algo do tipo, mas ela está bem.

Azriel sentiu os joelhos estremecerem, o alívio chocando em seu corpo e o fazendo agradecer à Mãe por aquela benção. Emerie passou as mãos em seus ombros o tranquilizando enquanto ele puxava o ar de volta para seus pulmões. Estava prestes a dizer que queria vê-la, mas a porta do quarto se abriu revelando a curandeira oficial de Rhysand. A expressão no rosto era amena e tranquila, o que deixou Azriel ainda mais aliviado.

— Ela está bem. Foi só uma pancada forte, acredito que o sangramento nasal tenha sido pelo esforço ou pela onda de magia que a atingiu. — Madja olhou para ele, sabendo quem precisava ouvir aquelas palavras. — O corte na cabeça já está cicatrizado, ela ainda está dormindo e deve dormir por mais algumas horas, mas é somente isso.

Azriel suspirou, concordando com a cabeça.

— Você pode vê-la, Mestre-Espião. — respondeu, antes que ele pudesse perguntar.

— Obrigado, Madja. — escutou a voz de Rhysand em seguida, mas não ficou ali para escutar o que o irmão tinha a dizer.

Não se despediu de ninguém quando adentrou no cômodo e fechou a porta logo depois. Seus olhos ainda desesperados procuraram por Gwyneth no quarto, a encontrando deitada na cama em um sono tranquilo. Seu corpo só pareceu relaxar quando a viu ali, segura e bem.

Azriel nem conseguiu raciocinar todas as informações que havia recebido e provavelmente precisaria que o contasse de novo o que tinha acontecido naquela biblioteca, porque tudo que sua mente tinha captado envolvia apenas o fato de que Gwyneth estava bem. Deuses, achou que seu peito apertaria até quebrar em algum momento, o sufocando até não restar mais nenhum sinal de sanidade.

Caminhou em passos lentos até a cama, esquecendo completamente que tinha acabado de voltar de uma missão. Se deitou ali, ajeitando suas asas e puxando Gwyneth cuidadosamente até o seu peito. Ela resmungou se remexendo um pouco assustada, ainda adormecida. O encantador a abraçou, acalmando o que é que estivesse a perturbando dentro do sono.

— Sou eu, meu bem. — Ele sussurrou, suspirando ao sentir o cheiro de mar e lírio que tanto amava. Gwyneth envolveu suas mãos em seu torso, ficando ainda mais perto dele. — Sou eu...

Os músculos dela se relaxaram, aninhando em seu carinho. Azriel respirou fundo, beijando o topo de sua cabeça e fechando os olhos, deixando aquele calor que vinha de sua parceira irradiar para todo o restante de seus membros, os relaxando também. Aquele desespero que tomou seus sentidos já se extinguindo, dando espaço para que a paz e o descanso se instalassem.

Ele permaneceu de olhos fechados, passando as mãos no cabelo de Gwyneth, enquanto fazia uma prece silenciosa para que afastasse todo mal de perto dela, rezando para que deixassem Gwyneth intocada em toda aquela história. Pois ele definitivamente não aguentaria se algo mais sério acontecesse com ela. Não suportaria a dor nem o desespero.

Com aquele pensamento, ele permitiu ser levado pela exaustão também, segurando Gwyn contra o seu peito e as batidas de seu coração. 



Então, gente, é isso. Esse capítulo foi mais para movimentar o plot, então não teve muita interação Gwynriel. No próximo capítulo vamos conhecer um pouquinho mais da Corte Invernal, e eu realmente gostei do caminho que se seguiu, rs.

Enfim, se gostaram do cap, então deixem uma curtida e comentem bastante, juro que vocês não fazem ideia de como isso motiva a continuar escrevendo, e também ajuda a história a crescer e alcançar ainda mais gente. 

PS: Desculpa qualquer errinho e por favor me avisem se a história estiver ficando desinteressante, se existe algum ponto que vocês não gostaram. 

Beijinhos <3

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