𝟮𝟰. 𝗕𝗘𝗔𝗨𝗧𝗜𝗙𝗨𝗟 𝗡𝗜𝗚𝗧𝗛𝗠𝗔𝗥𝗘

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— O quê? — Gwyn sentiu sua garganta secar, engolir a saliva que se acumulou em sua boca se tornando mais difícil. — Isso... Isso é impossível.

— Ora, Ora... Quem diria. — A feérica pequena e aterrorizante sorriu, os olhos prateados tão medonhos quanto qualquer outra criatura noturna que Gwyneth já havia visto.

— Essa é a pedra de Oleanna, Gwyneth. — Helion afirmou. — É um artefato que por muito tempo ninguém se atreveu a descobrir onde estava.

Gwyn ainda estava petrificada. Sua mente vagou para seus dias em Sangravah, se lembrando da grande estátua da Alta-Sacerdotisa que enfeitava os jardins, se lembrando da cerimônias onde celebravam o que Oleanna havia sido, em como a feérica era abençoada pela própria Mãe. A valquíria não conseguiu pensar em nenhum motivo do porquê aquela pedra estaria com ela, nem como sua mãe havia conseguido a jóia.

— Oh, Céus... — Gwyneth sussurrou, sentindo suas pernas tremerem. — O que isso significa? Deuses, eu não posso ficar com ela, eu não posso ter...

— A pedra pertenceu à Oleanna, Gwyn, mas ela é sua agora, ela responde à você. — Helion respondeu, a jóia ainda em sua mão. — Eu sinto isso através dela.

Ela precisou se apoiar em uma cadeira para que não deixasse claro demais que a qualquer momento poderia cair. Mesmo assim, Nestha e Emerie se levantaram indo até ela, assim como Azriel.

— Sente-se, Gwyneth. — A voz de Rhysand invadiu seus ouvidos, o Grão-Senhor arrastou a cadeira para que ela pudesse se sentar. — Você está bem?

— Sim... — Não. Ela não estava. Sua cabeça parecia prestes a explodir em qualquer momento. — Estou bem.

Ela olhou para as três figuras que estavam em sua frente, deixando claro que não precisava da preocupação dos amigos. Cassian entregou um copo de água na sua mão, o sorriso amigável no rosto bonito e endurecido. Ela aceitou de bom grado, porém, realmente desejava que não estivessem todos olhando para ela, principalmente a fêmea pequena assustadora.

Amren a encarava como se analisasse cada célula de sua pele. A segunda no comando de Rhysand, parecia tentar ler a alma de Gwyneth como se fosse um pergaminho antigo.

— Dê um tempo, Amren. — Foi a voz de Azriel que tomou conta do cômodo.

Gwyn ergueu os olhos para o encantador, vendo-o encarar Amren com uma expressão séria e rígida, o corpo grande e musculoso parado naquela postura impecável.

A fêmea ergueu uma sobrancelha para o encantador de sombras, como se o desafiasse.

— Estou apenas observando-a, Azriel. — Amren voltou a olhar para Gwyn. — Não é um pouco suspeito que ninguém tenha, até hoje, reconhecido essa pedra? Que nenhuma sacerdotisa tenha percebido? Que a própria portadora dela não tenha reconhecido o artefato mais importante para o que as sacerdotisas são hoje?

Gwyn sentiu a insinuação nas palavras da fêmea, no pequeno veneno que ela havia destilado em meio às suas indagações pertinentes. Na desconfiança que se instalou no olhar da feérica.

O rosto de Azriel se tornou mais sombrio.

— Está insinuando algo, Amren? — A voz do encantador estava afiada como a lâmina que ele guardava ao lado de sua coxa.

— Basta. — Foi a Grã-Senhora quem interrompeu, o rosto antes doce agora envolto de uma autoridade notável, enquanto olhava para a segunda no comando e o Mestre-Espião.

Azriel respirou fundo, levando as mãos até as costas, respeitando os desejos de sua senhora. Amren, no entanto, ainda encarava o encantador com os olhos avaliadores, como se o analisasse também.

Feyre voltou o rosto para Gwyneth, as expressões bem menos severas agora.

— Gwyn, você realmente não sabia dessa informação?

— Não. — respondeu imediatamente. — Eu nunca soube disso, e ninguém com quem eu convivi pareceu notar também.

— As pedras da invocação são bastante parecidas, não existe, na verdade, nada que as diferencie uma das outras, a não ser o poder dentro delas. — O Grão-Senhor da Diurna começou. — Foi o que eu senti, por isso usei o feitiço para rastrear a história do objeto, mas sem isso, passaria despercebido para muitos.

— Mas, como Koschei sabe que essa pedra pertenceu à Oleanna? — Foi Morrigan que perguntou.

— Oh, Céus... — Elain sussurrou, se manifestando pela primeira vez.

— O que aconteceu? — Lucien perguntou, se virando para a parceira, que tinha os olhos perdidos na mesa, como se tentasse lembrar de algo.

Todos voltaram a atenção para a Archeron do meio, Gwyneth conseguiu enxergar o momento exato em que a saliva desceu na garganta da garota.

— Elain... — Rhysand a chamou. — O que aconteceu?

Lucien apoiou a mão nas costas da clarividente, que se ajeitou na cadeira.

— Quando nos esgueiramos perto do lago e Koschei conseguiu usar suas sombras contra nós e ativar os meus poderes... — Ela pausou, tentando de alguma forma puxar a memória do dia em sua mente. — Ele conseguiu ver alguma coisa, eu não sei o que era, não consegui enxergar as visões... Mas, vocês foram atacados logo depois, dois dias depois.

Elain juntou as mãos, nervosa.

— E se for isso? E se for a pedra? — A Archeron do meio respirou fundo. — E se eu tiver mostrado a jóia?

Todos se calaram.

Gwyn se lembrava daquela reunião onde Lucien havia descoberto que era herdeiro da Diurna, onde eles contaram da tentativa de ajudar a rainha mortal que se transformava em passáro de fogo de dia, mas que Koschei havia descoberto e atacado Elain.

Dois dias depois, ela e Azriel foram atacados.

— Então a pedra é mais poderosa do que imaginávamos. — Emerie disse mais para ela do que para o resto, o rosto amarronzado um pouco mais pálido agora.

— Oleanna ajudou Fionn a destronar os Daglan, foi ela quem criou os tesouros, foi ela quem colocou a intenção em cada objeto, que designou cada função. — Rhysand respondeu. — É incontestável que a pedra dela também carrega algo.

— É um artefato para o povo Estrelado também. — Helion respondeu.

— Oleanna era uma Estrelada? — Gwyn perguntou, engolindo em seco.

O Grão-Senhor da Diurna afirmou com a cabeça. Gwyneth deixou os olhos se perderem na parede. Por quê? Por que ela tinha aquela pedra? Como aquela pedra foi parar logo em suas mãos?

— E você é uma clarividente. — Helion se virou para Elain. — Precisa sair de perto das terras humanas, então. Koschei deve estar de olho em você, uma clarividente é tudo que ele precisa para levá-lo até o quarto tesouro. Não foram atacados novamente?

— Subi uma barreira de proteção na Mansão dos Exilados. — Lucien respondeu. — Mas passamos parte do dia inspecionando a Corte Primaveril.

— Não é o suficiente. — Helion negou com a cabeça. — Se ele ainda não arrumou alguma forma de tentar capturá-la, então está planejando.

Lucien suspirou. Nestha olhou para a irmã mais nova, provavelmente mordendo a língua para não dar uma opinião.

— Você precisa voltar para cá. — O macho ruivo olhou para a parceira, mas Elain negou com a cabeça imedietamente. — Helion está certo, você não está segura comigo. Pelo menos não agora.

— Não. — respondeu convicta. — Eu não vou voltar, estou ajudando Vassa e ainda têm toda situação com as Valquírias.

— Eu posso ajudar com as Valquírias. — O som da voz do Grão-Senhor da Diurna parecia um trovão retumbante. — Posso estudar a situação da rainha mortal também, mas você precisa ficar longe das Terras Mortais, não podemos nem pensar no que Koschei conseguiria com uma clarividente.

Elain suspirou como se estivesse exausta. Seu rosto mostrava compreensão, porém, era como se a garota estivesse cansada de terem todos dizendo o que ela deveria fazer, para onde ela deveria ir, como deveria agir.

— Elain... — Lucien começou.

— Eu sei. — interrompeu o parceiro. Os olhos castanhos se dirigindo para o Grão-Senhor da Diurna. — Eu sairei das Terras Mortais... Com a condição que você nos aceite na sua Corte, Senhor.

— Elain. — O filho de Helion a repreendeu, mas ela ainda encarava o Senhor do outro lado da mesa.

— Elain, não acho que... — Rhysand começou.

— Qual o seu interesse com a minha Corte, querida? — Helion cruzou as pernas, sorrindo para a parceira do filho.

— Se vai estudar a situação das Valquírias, então não fará sozinho. — Elain levantou o queixo. — Suponho que como Grão-Senhor você não poderá passar tempo considerável nas Terras Mortais para compreender a situação como um todo. Eu e Lucien estudamos o perímetro, entendemos cada canto do lago, descobrimos os horários que os cisnes estão dormindo, o horário que se alimentam, o horário em que acordam.

A Archeron do meio não desviou o olhar de Helion um segundo sequer.

— Além de estarmos estudando o feitiço há meses. Convivemos com Vassa diariamente. O Senhor pode conseguir quebrar o feitiço, mas sem nós o processo será bem mais lento. — A Archeron do meio se ajustou elegantemente na cadeira. — Eu sairei das Terras Mortais com essa condição.

Lucien não tirou os olhos da parceira, evitou olhar para o pai, que agora tinha um sorriso crescendo nos lábios carnudos, a expressão estampada no mais puro fascínio.

— Muito bem, senhorita. — respondeu. — Você e seu parceiro são bem-vindos na minha Corte.

Elain não pareceu surpresa com a decisão de Helion, como se já soubesse que aquilo aconteceria, como se soubesse as linhas daquele caminho e estivesse o ajudando a ser traçado.

— Vocês Archeron são criaturas muito atrevidas, não é mesmo? — Helion desviou os olhos da clarividente para encarar a Grã-Senhora e Nestha. — Que a Mãe abençoe vocês e essa ferocidade.

O macho riu em divertimento. Mas, o cômodo ainda parecia chocado com Elain se impondo para um Grão-Senhor, para a fêmea que se ergueu com aquelas palavras e para a garota tímida e recatada que morria com elas. Gwyn voltou os olhos para Nestha, e sabia o que ela estava pensando.

Que Elain prosperaria longe deles. Que o lugar da irmã, não era realmente ao lado dela ou de Feyre. E que Lucien, de alguma forma, havia conseguido florescer uma parte desconhecida da Archeron do meio, que nunca teria tido espaço para crescer na Corte Noturna.

— Certo. — Rhysand coçou a garganta. — Ainda precisamos lidar com a situação da pedra de Gwyneth, Eris me enfatizou que Beron está contando com a presença das Valquírias no baile.

— Não as leve então. — Amren disse. — Talvez seja mais seguro deixá-las aqui.

— Não. — Foi Emerie que respondeu. — Não vamos ficar aqui. Se Beron perceber que não estamos no Baile, pode simplesmente decidir mandar alguém aqui e aí estaríamos correndo risco de expor Velaris a um risco desnecessário.

Cassian concordou.

— Eu já havia falado com Rhysand, mas irei repetir. — Cassian agora possuía aquela voz severa que usava com seus soldados. — Estão se preocupando demais apenas com o que pode acontecer dentro do baile. Beron não irá repetir o que Amarantha fez, e todos os Grão-Senhores já desconfiam que seja uma armadilha.

O General apontou os fatos.

— Mas se esqueceram que as Cortes estarão vulneráveis sem seus governantes, que as cidades estarão, tecnicamente, indefesas. As bestas que atacaram Azriel, Gwyn, Nestha e Mor, estão sendo levadas para as fronteiras, estão sendo implantadas perto das Cortes por algum motivo.

O sifão vermelho de Cassian brilhou de leve, a luz batendo contra o rosto do General.

— É o momento perfeito para atacar o que quer que seja que estejam procurando nas Cortes, é o momento perfeito para que Beron continue levando parte dos seus soldados em busca da espada. — O General se encostou no encosto da cadeira, as asas fechadas. — Não adianta estarmos preparados para o que possa vir acontecer apenas no baile, temos que pensar no que pode acontecer durante, as Valquírias não comparecendo seria apenas mais um fator para motivá-lo a invadir fronteiras.

— Ele estaria declarando uma guerra contra todas as Cortes se fizesse isso. — disse Morrigan.

— Já estamos em guerra, Mor — Cassian olhou para a amiga.

O clima pareceu pesar um pouco mais.

— Não posso arriscar deixar Velaris desprotegida. — Feyre ergueu os olhos azuis cintilantes. — E não posso arriscar levar Nyx para um possível conflito.

— Está pensando em ficar aqui? — Rhysand murmurou.

— Não posso. — A Grã-Senhora respondeu. — Seria mais um motivo para aborrecer Beron. Mas, não podemos levar toda nossa Corte para o baile, temos que nos separar.

Feyre passou a mão na testa.

— Cassian e Azriel precisam nos acompanhar. — A Archeron mais nova suspirou. — As Valquírias também.

Rhysand e Feyre trocaram olhares rápidos, como se estivessem trocando palavras mentalmente. O Grão-Senhor voltou a olhar para o grupo, segundos depois.

— Amren e Morrigan. — Rhys bateu os dedos na madeira. — Vocês ficam.

Nenhuma das duas pareciam aborrecidas com a decisão e Morrigan tinha aqueles olhos castanhos brilhantes e determinados, como se fosse capaz de fazer tudo pela cidade, pelo seu lar.

— Ficarei nas Terras Mortais monitorando as atividades de Koschei com Vassa e Jurian.  — Lucien respondeu, mas não incluiu a parceira, provavelmente dando espaço para que ela decidisse por conta própria ou que seus Grã-Senhores decidissem o que fosse melhor para a Corte.

— Ficarei aqui. — Elain respondeu, olhando para as irmãs. — Cuidarei de Nyx e ficarei com as meninas.

O rosto de Feyre suavizou, e Gwyneth pôde jurar que viu lágrimas se acumularem debaixo daqueles olhos azuis acinzentados, como se a Grã-Senhora estivesse aliviada, agradecida, por ter seu filho seguro nos braços de alguém que confiava e amava.

Rhysand apertou a mão da parceira, um sorriso triste se apropriando de seu rosto lindo e imponente, os olhos também brilhantes com a água que se acumulava ali, provavelmente sentindo a dor torturante de ter que se separar do seu filho pela primeira vez, mesmo que fosse por poucas horas. O Grão-Senhor parecia sucumbir dentro de si uma angústia agoniante pensando no pior que poderia acontecer, talvez se lembrando do que foram os cinquenta anos longe de sua família. 


𓆩*𓆪





A reunião acabou com Rhysand explicando sobre a visita à Corte dos Pesadelos que aconteceria ainda hoje de noite. Algo que Gwyneth não estava nem um pouco preparada para ouvir naquele momento. Ela já havia escutado sobre a Corte de Pesadelos, já tinha escutado histórias sobre a Cidade Escavada, por mais secreta que ela fosse da população de Velaris.

Parecia um local que Gwyneth não gostaria de visitar nem em seus piores sonhos. Mas, ela era uma Valquíria e uma Legionária, aquele era o seu trabalho agora, um trabalho que fazia com honra e orgulho. Em algum momento, ela teria que fazer coisas que não seriam agradáveis, para ela e para outros, e precisava entender isso.

Parte dela ficou confusa, quando Rhysand explicou que quem ele era naquele lugar, não era nem um pouco parecido com quem era ali em Velaris, na Corte dos Sonhos. Na Cidade Escavada, Rhysand era e sempre fora o governante impiedoso e diabólico que muitos acreditavam que ele era. Mesmo agora, com Velaris exposta para o resto do mundo, ele ainda controlava a população da Corte de Pesadelos pelo medo e pela barbaridade.

E isso também valia para todos os membros de seu círculo, incluindo ela.

Ela tentou pensar naquela ideia enquanto mastigava o seu almoço, enquanto todos pareciam se distrair dos problemas e conversarem sobre qualquer outra coisa que não fosse a guerra que ficava cada dia mais real.

Gwyn conseguiria fazer aquilo. Pelo menos, faria o possível para conseguir.

— Não se preocupe com a pedra, querida. — Helion, sentado do seu lado, sorriu para ela de maneira reconfortante, interrompendo seus pensamentos.

Ela desceu os olhos para a jóia que agora pendia em seu busto.

— Eu realmente só queria entender, como e porquê, minha mãe tinha essa jóia. — Gwyn respondeu, partindo um pedaço de batata cozida.

— Posso tentar ajudá-la a descobrir. — O Grão-Senhor bebericou um pouco de vinho antes de continuar — Pode pensar que é bobagem, mas tem algo diferente em você, Gwyneth. Minha magia consegue sentir algo, uma familiaridade estranha a qual eu também preciso entender.

— Sua magia?

— Sim. — Helion respondeu, voltando a colocar a taça na mesa. — Minha magia responde a outros tipos de magia. Eu consigo sentir a magia de Rhysand quando ele está perto de mim, ou de Feyre, ou de qualquer um nesta sala, qualquer quantidade que seja, e de alguma forma sinto algo em você. Não é em porções grandiosas como a de Rhysand ou a de Feyre, mas sutil e leve, como uma gota.

Gwyn paralisou completamente.

— Eu não tenho magia. — Ela negou com a cabeça. — Sou descendente de uma ninfa d'água com um Grão-Feérico qualquer, não tive magia a vida inteira e não tenho agora.

Sua voz vacilou. A sacerdotisa tentou falar o mais baixo que conseguia, mesmo sabendo que os ouvidos feéricos captavam qualquer coisa.

— Acredite em mim. — Helion chamou sua atenção, fazendo com que ela voltasse a olhar para o rosto incrivelmente bonito e charmoso do Grão-Senhor. — Eu sinto você, Gwyneth Berdara. E a pedra sagrada de Oleanna não pararia na mão de uma feérica com uma linhagem qualquer.

Helion sorriu fraco. Gwyneth sentiu sua cabeça rodar, mas segurou firme naquela corda fina de razão que ainda balançava em sua mente, tentando não deixar que aquela sensação de que tudo entraria em colapso em algum momento, tomasse conta de seu corpo.

— Visite a Corte Diurna quando se sentir preparada para entender melhor quem você é, Gwyneth. — O Grão-Senhor tocou na sua mão. — Ficarei mais do que honrado em recebê-la.

A sacerdotisa respirou fundo, concordando de leve. Estaria mentindo se dissesse que nunca pensou em quem poderia ser seu pai. Sua mãe nunca falava dele, dizendo que não o conhecia o suficiente para contar qualquer coisa que fosse. Parte dela, por mais idiota que fosse, queria pelo menos saber como ele era. Se tinha sido um macho honroso, ou se havia sido alguém desprezível. Se ainda estava vivo, ou se havia morrido tão tragicamente quanto sua mãe.

Mas, ela sabia que ainda não estava preparada. A imagem que tinha da sua mãe como a fêmea incrível que tinha sido, era boa demais para ser estragada caso Gwyneth descobrisse alguma mentira ou alguma verdade sobre sua vida. Ela não precisava disso agora. Não precisava de mais uma coisa para adicionar na lista de coisas que precisava se preocupar, não com tudo que estava descobrindo.

Seus pensamentos foram interrompidos quando ela observou Azriel se levantar, o rosto preso no de Rhysand, como se algo tivesse acontecido. Ninguém pareceu perceber muito a movimentação entre os dois, mas Gwyneth sentiu algo diferente. 

O encantador pediu licença, se retirando da mesa e caminhando para os corredores. A sacerdotisa não pensou muito, quando se levantou e o seguiu.

— Azriel. — O chamou quando já estava longe o suficiente da sala, o encantador virou o rosto para a sacerdotisa, parando no meio do corredor. — O que aconteceu?

— Tenho uma missão. — respondeu.

— Agora?

— Sim. — O Mestre-Espião caminhou até ela. — Devlon está saindo do acampamento, eu preciso segui-lo.

— Você vai sozinho?

Gwyneth sentiu seu coração apertar. E se fosse uma armadilha? O quão perigoso seria aquela missão? Ela precisou respirar fundo tentando recuperar o ar que seus pulmões haviam perdido apenas de imaginar algo acontecendo com Azriel.

— Tome... Tome cuidado, por favor. — A voz de Gwyn saiu como um sopro, ela juntou suas mãos sentindo elas ficarem molhadas com o suor que se acumulava ali.

Algo no rosto de Azriel pareceu suavizar, como se ele escutasse aquelas palavras raramente.

— Gwyn... É uma missão simples. — O encantador chegou mais perto dela. — Já fiz missões bem piores do que seguir Devlon por aí.

Aquelas palavras não a tranquilizaram. Nada que ele falasse iria tranquilizá-la, por mais que ela desejasse que funcionasse. Só de imaginar que qualquer coisa poderia acontecer com ele, mesmo com a missão sendo "simples"... Ela simplesmente não conseguia.

Não conseguia colocar em palavras o quanto seu estômago revirava, o quanto suas mãos suavam e o quanto seu peito doía. Já era doloroso só de imaginar, ela não conseguiria aguentar se algo realmente viesse a acontecer.

Com ele sozinho.

— Não ligo se você já esteve em piores, Az, estou pedindo para que tome cuidado nessa. — A sacerdotisa respirou fundo. — Por favor. Por favor, tome cuidado.

— Eu tomarei. — O encantador tinha um sorriso contido nos lábios. — Não precisa se preocupar.

— Nunca irei deixar de me preocupar com você, Azriel. — Foi sincera. — Então, trate de voltar inteiro, com todas as partes do corpo no lugar.

O Mestre-Espião riu fraco. Mas ela não estava vendo a graça que o fazia sorrir daquela maneira.

— Irei fazer o meu máximo para voltar inteiro, Gwyneth. Com todas as partes do meu corpo no lugar, para que você continue a aproveitar dele da maneira que quiser. — Ele sorriu de lado, se inclinando de leve em sua direção.

— Prometa. 

— Eu prometo que voltarei inteiro para você, Gwyneth Berdara. — Os lábios se curvaram para cima, tão perto dela que precisou engolir em seco.

— Bom. — A sacerdotisa suspirou, tentando afundar aquelas palavras no fundo de sua mente, procurando algum conforto nelas, algo que a fizesse parar de sentir suas pernas tremerem com o medo. — Se quebrar a promessa, eu quebrarei você.

O encantador de sombras soltou um riso nasalado, negando com a cabeça.

— Tão agressiva... — A voz grave de Azriel tomou um tom tranquilo e felino, entrando pelo seus ouvidos e aquietando seu coração, que ainda batia desesperadamente contra as paredes de seu peito.

E antes que ela pudesse pensar em uma resposta afiada, o encantador colou seus lábios em um selinho longo e sereno, os dedos largos tocando seu queixo de leve. Tão delicado que Gwyneth poderia derreter com o quão quente seu peito ficou.

Azriel partiu o selinho, o rosto agora bem mais tranquilo.

— Preciso ir. — Sua voz saiu como um sussurro. — Te vejo mais tarde, Berdara.

Ele recuou um passo, passando a mão no seu rosto e virando de costas em direção ao quarto, provavelmente para se armar e vestir o couro mais trabalhado. Gwyn engoliu em seco, tentando afastar aquela sensação horrível que se apropriava do corpo.

Azriel olhou para trás, encontrando seus olhos antes de entrar no quarto. Fique tranquila. Era o que ele parecia dizer com aquelas íris avelãs tão apaixonantes.

Mas, não. Ela não ficaria. Não ficaria tranquila até saber que ele estava bem e seguro. Não até vê-lo ao seu lado novamente.

E enquanto fazia seu caminho de volta para sala, Gwyn tocou no amuleto em seu busto, na pedra que diziam conectá-la com a Mãe, fazendo um único pedido silencioso:

Traga ele de volta para mim.





𓆩*𓆪


Azriel já seguia Devlon e dois de seus homens há algum tempo. Talvez mais de meia hora. Suas sombras precisaram fazer um esforço maior para escondê-lo, já que os machos voavam bem no alto.

O Mestre-Espião precisou se esgueirar pelas sombras na maior parte do tempo, voando baixo quando dava, acompanhando os illyrianos no alto. Apesar dos diferentes climas que sentia, enquanto passava entre Cortes e outros territórios, ele mesmo assim sentia calor com o couro grudado em seu corpo e com seus sifões esquentando toda vez que ele precisava acumular um pouco mais de poder.

Os machos alados mergulharam silenciosamente perto de uma das florestas que faziam divisa com a Corte Invernal e a Corte Outonal, o clima naquele lugar era confuso para se dizer o mínimo.

Quando Devlon e seus soldados aterrissaram, Azriel subiu até um dos galhos mais altos, se camuflando em suas sombras para observar o movimento. Os três illyrianos agora aguardavam, provavelmente por um dos capangas de Beron.

Então, três machos da Outonal surgiram. Um deles sendo o filho de Beron que Azriel havia visto naquele dia na fronteira de Refúgio do Vento. O encantador se esgueirou mais perto, observando as figuras elegantes de paletós de tons terrosos diante daqueles machos brutos e parrudos, usando couros de guerra, como se estivessem preparados para derramar sangue a qualquer momento.

— Dissemos para vir sozinho. — O filho de Beron olhou para Devlon com desprezo.

— E eu não sou estupido o suficiente para isso, por mais que você acredite que sim. — O Lorde respondeu.

Desconfiança.

A fraqueza daquela aliança.

Nenhum deles confiaria um no outro a ponto de contar todos os planos. Isso vinha de ambas as partes. Todos estavam inteiramente interessados apenas no benefício que aquela aliança traria, o que significava que tinham um elo fraco e inconsistente, que poderia ser quebrado com qualquer micro sinal de que o plano não sairia da maneira que esperavam.

Eles não falaram mais nada, enquanto entravam mais adentro da floresta. Azriel desceu mais um pouco, suas sombras o rodeando para escondê-lo, enquanto os seguia silenciosamente.

Quando os seis machos pararam na frente de uma caverna fechada por uma enorme rocha, o encantador sentiu a necessidade de chegar mais perto. O filho de Beron cortou a palma da mão, posicionando-a em cima da pedra. Um feitiço de proteção.

A pedra se arrastou, revelando a entrada iluminada por tochas. Eles entraram e antes que a abertura pudesse fechar completamente, Azriel mandou algumas de suas sombras acompanharem os machos, e quando a parede se fechou novamente...

Uma parte dele estava lá dentro.

Ele voltou a subir para uma das árvores. As sombras que ficaram com ele envolveram seu corpo e sua visão. Agora com os olhos tomados pela névoa negra, Azriel conseguia enxergar onde suas sombras estavam. A imagem não era clara, pois aquele truque o esgotava rápido demais e duraria o tempo que o poder que ele havia acumulado em seus Sifões voltassem ao normal.

O lugar era apenas iluminado pelo fogo das tochas, ele conseguia escutar mais vozes à medida que eles adentravam na caverna. As sombras se esgueiraram perto de Devlon, e Azriel conseguiu sentir de leve a desconfiança que ainda pairava no corpo do illyriano.

Quando aparentemente chegaram no local, suas sombras rastejaram para o teto da caverna, onde ele conseguia ver melhor o ambiente como um todo. Uma mesa de pedra estava instalada bem no meio, nos cantos três celas flamejantes, onde três daquelas criaturas de Koschei estavam presas. Todas elas tentando se soltar das correntes de fogo que as prendiam, os urros de dor quando tentavam fugir ou se soltarem, mais parecidos com uma mistura de rugidos de todas as outras criaturas que ele já havia visto em toda sua vida.

No centro, Beron, com mais alguns de seus homens, e sentado do seu lado, um macho de cabelos loiros dourados que Azriel conhecia muito bem.

Tamlin.

Seu sangue ferveu como se estivesse em um caldeirão de água ardente.

— Pensei que tinha deixado claro que você tinha que vir sozinho, Devlon. — Beron tinha o tom de voz afiado como uma lâmina.

Devlon não o respondeu, ao invés disso, olhou para as criaturas presas nas celas flamejantes.

— E eu pensei que tinha deixado claro que não levaria mais nenhuma dessas coisas para o meu acampamento. — O Lorde disse entredentes.

Beron riu fraco. Azriel desviou os olhos para o Grão-Senhor da Primaveril. Algo não estava certo ali. Ele não duvidava que Tamlin se juntaria com Beron, ou até mesmo Koschei. Porém, o macho estava rígido demais, imóvel demais. Não parecia sequer respirar direito.

— Bom, eu creio que vai sim, Lorde Devlon. — O Grão-Senhor da Outonal sorriu, um sorriso perverso e traiçoeiro. — Eu deixei bem claro quais eram as minhas condições para essa aliança e você está começando a se provar bastante inútil.

— E até hoje parte do que você prometeu, não foi cumprido. Eu tenho grupos se rebelando agora, tenho guerreiros se revoltando contra o próprio acampamento. — Devlon retrucou.

— Precisamos entrar na montanha e precisamos da pedra no topo de Ramiel. — O filho de Beron respondeu. — Faça avanço nesses tópicos que garantimos aquietar os grupos rebeldes, além de garantir a independência de Illyria

— É impossível tirar aquela pedra do topo de Ramiel, ela foi selada com um feitiço de sangue há muitos séculos atrás. É preciso do sangue do mesmo sangue que selou a montanha para que seja possível movimentar a pedra. — O Lorde enfatizou. — Também já esclarecemos isso da última vez. E agora eu irei esclarecer novamente, que não levarei mais dessas criaturas para dentro de Illyria.

Devlon abriu suas asas.

— Além disso, como conseguiria conter um grupo de rebeldes? Já fizemos o que poderia ser feito. — O illyriano cruzou os braços.

— Dessa forma. — Beron olhou para o Grão-Senhor da Primaveril. — Levante-se.

Tamlin levantou no mesmo segundo, sem hesitar. O corpo duro com a pedra que cercava aquela caverna. As sombras chegaram mais perto do macho, e a imagem tremeu de leve, mas Azriel conseguiu enxergar perfeitamente.

Os olhos completamente pretos do Grão-Senhor. Por um segundo, Azriel perdeu o fôlego. Beron estava controlando Tamlin, era por isso que seus espiões não conseguiam rastrear o macho, era por isso que a Primaveril estava jogada aos cacos.

Depois do fiasco que Tamlin se tornou após a guerra, ninguém imaginou que ele de alguma forma poderia ter sido capturado, todos imaginaram que o macho tinha simplesmente desistido e se transformada para sempre naquela besta incapaz de raciocinar corretamente. Mas, ali estava ele, recebendo ordens de Beron igual um cão qualquer.

O Grão-Senhor piscou os olhos e o preto sumiu, voltando para os olhos esmeraldas conhecidos. Porém, o macho não havia voltado a ser ele mesmo. Não reagiu, não se moveu. Apenas ficou ali parado como uma estátua.

— Quer soldados completamente fiéis à você, Devlon? — O Grão-Senhor da Outonal tombou a cabeça de lado. — Posso ajudar caso cumpra o que foi combinado.

— Se não? — O Lorde illyriano ergueu uma sobrancelha.

— Se não, você será o meu soldado fiel. — A voz de Beron saiu de seus lábios como um veneno antigo. — Parece bom para você, Lorde?

A imagem tremeu, sentindo seus sifões piscarem. Um aviso.

Ele deixou as sombras se dissiparem, encontrando um dos soldados de Beron apontando uma flecha de freixo para a árvore que ele estava. Ele levantou voo assim que dispararam a flecha, planando no céu e mergulhando como um falcão até o chão onde os homens estavam.

Desembainhou a Reveladora da Verdade, ele não conseguiria atravessar corretamente depois de ter usado demais o poder para enxergar dentro da caverna, mas não poderia sair e deixar aquele homem vivo com a possibilidade dele dizer para Beron que o Mestre-Espião havia vindo fazer uma visitinha.

O soldado da Outonal disparou outra flecha, a qual Azriel desviou com facilidade, batendo as asas e voando até um dos homens com rapidez, em sua direção, o derrubando com a força das suas asas.

O macho caiu no chão e Azriel aproveitou para retirar a espada longa do seu coldre, se firmando no chão e a ajustando na mão. Ele correu até o macho caído que já se levantava, deslizando em cima das folhas de outono que caíam no chão da floresta, O encantador atacou usando a espada longa, o soldado desviou, aproveitando o tempo para pegar a própria espada no coldre de sua coxa.

O tilintar das lâminas uma contra a outra era o único som que se misturava com o barulho dos pássaros. Azriel rodou seu corpo, usando o cotovelo e as asas para estabilizar o homem, e quando finalmente conseguiu imobilizá-lo, o encantador passou a lâmina da Reveladora da Verdade contra a garganta do macho, soltando-o logo em seguida, deixando que ele agonizasse enquanto partia para o segundo que se aproximava deixando o antigo posto. O Mestre-Espião atacou, entrando em combate com aquele que não parecia usar arco, batendo a espada contra a dele.

Girou, rodando Reveladora da Verdade na mão. Seu corpo parou de frente para as costas do soldado, e quando o macho se preparava para virar mirando a lâmina bem na membrana de suas asas, Azriel não gastou tempo e enfiou a sua espada na costas do macho, perfurando toda carne até o final de seu peito.

Quando sentiu o último suspiro, ele arrancou a espada, fazendo com que o som da lâmina passando contra os órgãos do sujeito fosse a última coisa que ele escutasse. O corpo inerte e morto caiu no chão, sujando as folhas amareladas com o sangue escuro.

O encantador caminhou com rapidez até o corpo, o pegando com os braços fortes, suas sombras o ajudando a sustentar o peso morto, enquanto caminhava até o outro macho com a garganta aberta. Ele usou a outra mão para pegá-lo e com certa dificuldade se lançou no chão. Suas sombras fazendo o máximo para ajudá-lo a carregar aqueles corpos.

Ele voou até o perímetro do mar, que não era muito longe de onde estava, jogando os corpos no oceano, os desovando ali. Ele passou o rosto na mão, sentindo borrar os respingos de sangue no seu rosto, enquanto assistia os corpos caírem diretamente nas ondas que se formavam ali. Ele sentiu o couro ainda mais quente devido ao sangue pegajoso que escorreu em seu corpo, fazendo com que ele fizesse uma careta de desgosto.

Seus sifões brilharam, como se avisasse que o poder já havia se acumulado novamente e com isso, ele usou as sombras para atravessar diretamente na varanda da Casa do Rio. Quando sentiu seu corpo cair na pedra do local, ele deixou as sombras se dissiparem.

Antes que pudesse se estabelecer, ele sentiu um corpo se chocar contra o dele. Braços envolveram seu torso, o rosto colado no peito sujo de sangue. Quando ele abaixou os olhos conseguiu enxergar os cabelos ruivos e o cheiro de mar e lírio que ele conhecia tão bem.

— Gwyn...

Ele estava tão sujo e suado... Tentou afastá-la de leve para que ela não se sujasse com o sangue daqueles estranhos, e parte dele estava se desesperando um pouco ao pensar que ela estava o vendo daquela forma, banhado com o sangue que ele havia acabado de matar.

Mas, ela não se afastou, e como se tivesse entendido o que ele havia pensado ela respondeu:

— Eu não ligo. — Ela respirou fundo. — Só me abrace, por favor...

Então, ele fez. Envolveu Gwyneth nos seus braços e suspirou.

Aliviado.

Pela primeira vez, ele se sentia completamente aliviado de ter voltado vivo de mais uma missão, como se finalmente tivesse um motivo a mais para desejar viver.

Estava aliviado de ter cumprido sua promessa e ter voltado diretamente para os braços dela.


𓆩*𓆪


Estava quase na hora de descerem para a Cidade Escavada. Azriel tomou um banho quente, precisando relaxar os músculos e se desligar por um momento da realidade, do que havia descoberto e do que teria que falar para Rhysand muito brevemente.

Também tentava não pensar no que teria que fazer naquele lugar desprezível. Que teria que lidar com Keir e sua Corte de idiotas.

Mas, pelo menos ele tinha a imagem de Gwyneth na sua cabeça para tranquilizá-lo. E quando sua mente vagava para a sacerdotisa, era como se mais nada importasse. Como se o mundo deixasse de existir e ela fosse a única coisa existente.

Ele estava doente. Tinha certeza. Pois, aquilo não poderia ser normal.

Quando descobriu que Gwyneth ficou ali na varanda, treinando e esperando-o voltar da missão, ele pôde jurar que sentiu algo se aquecer em seu interior. E enquanto ele a repreendia por ter feito isso, ela simplesmente continuava dizendo com todas as letras que faria de novo, que esperaria dias se fosse o caso.

O encantador não sabia dizer se alguma vez na vida, ele se sentiu da maneira que estava se sentindo agora, mas duvidava que alguém tivesse feito por ele o que Gwyneth fez.

E enquanto vestia a armadura em frente ao espelho, enquanto prendia os sete sifões pelo corpo, tudo que ele conseguia pensar era em como desabaria se Gwyn começasse a ver ele com outros olhos depois do que tivesse que ver naquele lugar. Se presenciasse uma das coisas que ele fazia naqueles calabouços, se escutasse um dos gritos que ele arrancava da garganta das pessoas quando desferia dor no corpo delas.

Ele precisava deixar claro para Gwyn que aquela era a parte dele que ele não se orgulhava. Precisava deixar claro que aquele não era ele de verdade, por mais que ele tivesse acreditado piamente durante séculos que ele era exatamente daquele jeito.

Ele acabou de colocar as armas nos lugares certos e saiu do quarto, caminhando em direção ao de Gwyneth, ela provavelmente estava acabando de se arrumar, mas ele não se importava, Azriel só precisava que ela o escutasse.

Parou na porta de Gwyn, batendo na porta três vezes. Esperou alguns segundos, depois conseguiu sua voz abafada dizer pelo outro lado da porta:

— Sim?

— Sou eu, Gwyneth. — Azriel respondeu. — Posso conversar com você por alguns minutos?

— Pode entrar. — Ela respondeu, a voz um pouco mais distante que o normal.

Ele abriu a porta, mas não encontrou Gwyneth no quarto. Fechou a porta, franzindo o cenho, observando todo aquele quarto enorme por algum sinal da sacerdotisa. Azriel notou que a porta do banheiro estava fechada.

— Estou acabando de me arrumar e já saio. — respondeu.

— Posso voltar em outro momento se for melhor. — O encantador colocou as mãos no bolso do traje, balançando o corpo de leve enquanto andava pelo quarto.

— Não precisa. — A risada fraca dela soou do outro lado da porta do banheiro. — Pode conversar comigo, estou ouvindo.

— Certo. — Ele respirou fundo. —  Gwyn, você sabe que não precisa fazer isso se não quiser, não é? Quero dizer... Você não precisa interpretar nenhum papel, sua presença já é o suficiente.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos.

— Por que todo mundo acha que estou com medo?

— Eu não disse que você está com medo... Eu só estou preocupado com o que você pode presenciar lá. É diferente de tudo que você viu aqui em Velaris, e eu falo sério. Inclusive eu.

— Está preocupado com o que vou achar de você? — A voz de Gwyn saiu mais leve. — Eu sei que é um papel, Azriel. Não estou preocupada com isso.

— Eu gostaria de esclarecer isso da melhor forma possível. — Ele olhou em volta do quarto de Gwyneth, percebendo alguns detalhes que antes não havia, pequenas coisas que agora faziam daquele quarto mais a sua cara.

— Está esclarecido. — respondeu um pouco mais alto. — Eu sei separar trabalho e vida pessoal, Azriel.

— Tudo bem. — O encantador respirou fundo, se sentando na ponta da cama, encarando a porta do banheiro, as mãos ainda dentro dos bolsos. — Se você diz...

Ela ficou em silêncio novamente, antes de dizer:

— Você acha que eu não consigo interpretar um papel, Azriel?

— Eu não disse isso. — olhou para o teto. — Só estou me certificando que você entendeu tudo completamente.

— Eu entendi. — A voz de Gwyn soou mais dura e rígida. — E eu consigo perfeitamente interpretar o papel que eu preciso interpretar, Encantador.

Ótimo, tinha conseguido estressá-la, quando tudo que queria era tranquilizá-la. Talvez era melhor que ele ficasse calado.

Escutou o barulho da tranca do banheiro e quando Gwyneth abriu a porta do banheiro, quando Azriel viu a silhueta contra a luz, ele jurou que poderia cair para trás com a visão que teve.

Que a Mãe o levasse pois ela o mataria naquela noite.

Sua boca entreabriu, e ele precisou respirar fundo quando ela caminhou até ele em passos lentos.

Gwyn vestia um vestido preto liso de alças grossas que se cruzava no seu pescoço. O decote V chegava quase um palmo acima do seu umbigo, deixando seus seios em destaque, permitindo que ele conseguisse enxergar parte de um desenho abaixo do seu seio esquerdo, quase o fazendo engasgar com a própria saliva.

Aquele era o local da sua tatuagem? Deuses, ele iria precisar de outro banho, dessa vez bem gelado.

Azriel continuou descendo os olhos pelo corpo da valquíria, observando as ombreiras ornamentadas e douradas como o sol que enfeitavam os seus ombros expostos. Para a cintura marcada pelo vestido e pelo cinturão dourado da mesma cor que as ombreiras, o tecido que escorria para o meio de suas pernas expostas por duas fendas de cada lado.

Deixando aquelas coxas deliciosas e fartas amostra.

Era escandaloso.

E ele nunca imaginou que veria Gwyneth vestida daquela forma.

Mas, o que era mesmo arrasador era aquele rosto perfeito. Ele poderia venerá-la ali mesmo naquele chão, pois Gwyn parecia realmente uma deusa.

Os lábios estavam pintados de um vermelho vivo, e o seu cabelo ruivo estava preso em um rabo de cavalo alto, que deixava suas orelhas pontudas expostas, ornamentadas pelo acessório com formato de asas de pégaso que cobria a ponta das orelhas.

— Eles precisam que eu seja má? — Ela ergueu uma sobrancelha, parando na frente de Azriel. — Então eu serei, é simples assim, Encantador. É o meu trabalho.

Ele não conseguiu se conter, seus olhos praticamente a devoraram, e ele não conseguiu proferir uma palavra que fosse.

— E eu me considero muito boa no que eu faço.

Gwyn apoiou o salto na sua coxa, fazendo o tecido revelar ainda mais do que não devia. O suficiente para ele ver a adaga que ele havia dado para ela, guardada em um coldre dourado. 

Ele subiu os olhos do salto apoiado em sua coxa, até os olhos azul-mar de Gwyneth que o encarava de cima para baixo. E ela não precisou falar nada, pois notou naquele momento que os saltos estavam desamarrados.

Passou os dedos pela panturrilha de Gwyn, sentindo a textura macia de sua pele leitosa, pegando as fitas finas soltas do sapato, transpassando-as pela sua canela, e as amarrando. Azriel não se conteve e passou as mãos pela panturrilha da sacerdotisa, subindo devagar até a sua coxa farta.

Mas ela desceu o pé, levando o outro até a sua outra coxa, colocando o pé um pouco mais acima do esperado, perto do volume que já se fazia mais presente em suas calças do traje mais trabalhado.

Ele fez o mesmo que havia feito com o outro pé, levando os olhos para os de Gwyn que o encarava com uma confiança que fez seu corpo tremer e arrepiar em resposta. Quando ele finalizou de amarrar os cordões, depositou um beijo em sua perna, enquanto suas mãos passeavam de leve pelas coxas.

— Você não acha que eu consigo ser má, Encantador? — A voz de Gwyn saiu como um encantamento, bagunçando seus sentidos e o enfeitiçando.

Aquele era um tipo de tortura que ele não se importava. Poderia passar anos, séculos, sendo torturado daquela forma que Gwyneth o torturava agora.

— Eu acho... — Foi tudo que ele conseguiu formular. — Eu acho que você consegue tudo que quiser.

Respirou fundo, sentindo o cheiro dela inundar suas narinas, o fazendo fechar os olhos.

Deuses, as coisas que ele deixaria Gwyneth fazer com ele...

— E se eu for má com você? — Os dedos esguios da valquíria deslizaram pelo seu rosto, parando ali em seu queixo, o erguendo de leve.

Fazendo com que o encantador voltasse a abrir os olhos e encarasse o rosto magnífico. Ela desceu a perna lentamente. O Mestre-Espião tentou olhar para aquele movimento tão tentandor, mas os dedos de Gwyn se firmaram ali, não o deixando desviar o olhar do dela.

Suas sombras passearam entre eles, passeando nos espaços das pernas de Gwyneth, fazendo seu vestido balançar de leve.

— Então foi porque eu mereci. — Ele a respondeu. Os lábios dela se curvaram para cima, em um sorriso provocativo que fez com que ele mordesse os lábios.

— Tão obediente... Onde está a sua língua afiada agora, Encantador?

Ela repetiu as palavras que ele havia usado com ela, o que fez um sorriso de lado surgir no rosto do encantador, enquanto observava o rosto de Gwyneth chegar cada vez mais perto do seu.

— Vai estar aonde você quiser que ela esteja... — sussurrou, sentindo a respiração pesar.

Ela colou seus lábios no dele, um sopro de um beijo, um selinho torturante que o fez salivar e desejá-la mais do que já desejava, o fez queimar mais do que já queimava por ela. Respirou fundo, sentindo a saliva descer cortando sua garganta, quando ela beijou seu pescoço, provavelmente deixando uma marca com aqueles lábios vermelhos como sangue.

Gwyneth se ergueu novamente, soltando seu queixo e se virando de costas. O decote a deixava amostra até um pouco acima daquela bunda espetacular, tirando a continuação das duas alças que se cruzavam no seu pescoço e ali nas suas costas, que também precisavam ser amarradas até se encontrar naquele cinturão dourado em sua cintura.

Ele se levantou, sentindo o pau pulsar contra a calça. Passou a mão na curva da sua lombar, sentindo a pele contra os dedos. Pegou as alças, ajustando-as no cinturão e apertando um pouco mais. Quando terminou de ajeitar o vestido, suas mãos desceram até a cintura de Gwyneth, a puxando até grudar seus corpos, até sentir as costas de Gwyn encostarem no seu peito.

O encantador passou o nariz na curva do pescoço de Gwyneth, memorizando o cheiro do perfume, memorizando a sensação da sua pele contra a dele. Depositou um beijo ali, subindo até a orelha da sacerdotisa.

— Você me faz querer mais de você toda vez que eu te olho. — sussurrou, contra seu ouvido.

Ela virou de frente para ele, com um sorriso perverso que ele nunca tinha visto no seu rosto.

— E hoje você vai continuar olhando, Encantador. — Os dentes brancos e brilhantes de Gwyn surgiram em sua boca.

A sacerdotisa soltou as mãos do Mestre-Espião da sua cintura, recuando um passo e caminhando até a porta. Ele ficou ali parado, observando aqueles quadris desfilarem até a saída, ainda vidrado demais para se movimentar.

— Vem, vamos nos atrasar. — Gwyn abriu a porta, saindo do quarto.

Azriel exalou um longo suspiro, passando a mão no rosto e tentando fazer com que sua mente esquecesse tudo que havia visto para que seu pau tivesse um descanso na calça.

Que a Mãe o salvasse, pois ele não tinha certeza se aquilo era apenas um papel que a sacerdotisa estava interpretando.

E no fundo, ele rezou para que realmente não fosse.


NÃO IA TER CAPÍTULO HOJE MAS SOUND OF SHADOWS BATEU MAIS DE 30K HOJE E EU VIM TRAZER UM CAP DE AGRADECIMENTO!

Muuuito obrigada pelo carinho, pelos comentários, pelo o tempo que vocês tiram para ler e elogiar a minha história, eu sou grata demais por isso, pois é por vocês que eu continuo postando e gostando tanto de escrever sobre esses dois.

Eu espero que vocês tenham gostado do capítulo, e eu peço desculpas pelo horário, mas é isso! DE NOVO, MUITO OBRIGADA GENTE EU AMO VOCÊS! <3

Lembrando, se gostarem do capitulo então comentem bastante e curtem também, assim a história continua crescendo e me motiva demais a continuar. É ISSO, ATÉ O PRÓXIMO FAMÍLIA!


PS: Desculpa qualquer errinho.

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