𝟰𝟳. 𝗞𝗜𝗡𝗚𝗗𝗢𝗠 𝗔𝗦𝗛𝗘𝗦

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Gwyneth segurava o corpo de Azriel com força. 

Ele estava destruído. A sacerdotisa não fazia a menor ideia de como estava conseguindo sustentar o peso e não fazia a menor ideia de como conseguiriam sair dali em segurança. Não com o som dos navios aportando na costa, com os gritos dos guerreiros ferozes de Rask e Vallahan se aproximando deles, se aproximando daquelas florestas.

Com a possibilidade de mais monstros que aportavam daquela caravela alcançarem eles. 

O coração da valquíria estava descontrolado, a adrenalina ainda no pico, mas não o suficiente para cessar aquela incerteza que corria em suas veias. 

O fato de não ter certeza se saíria viva dali, se seu parceiro saíria vivo dali.

— Azriel, por favor. — Gwyn parou, respirando ofegantemente. Sabia que Azriel estava tentando, sabia que o encantador lutava para dar os passos.

Ela escutou o estrondo dos exércitos atracando, se organizando para correr até o castelo, escutou o brado agudo das bestas que se preparavam junto com eles. O seu parceiro grunhiu, apoiando a mão em uma árvore e respirando fundo.

— Você... Você precisa tentar nos atravessar novamente... Precisamos sair daqui. — disse Gwyneth em meio a pausas. As sombras de Azriel enrolaram em seus braços, como se estivessem se preparando.

O encantador negou com a cabeça, o rosto travado em uma expressão que era composto por nada mais além de descrença e medo. Pela primeira vez na vida, Gwyneth estava vendo medo brilhar nas orbes castanhas de Azriel.

— Você não devia ter vindo... Não devia, Gwyneth... —sussurrou com dificuldade, engasgando em meio às palavras.

O som das bestas começaram a se tornar cada vez mais presentes, e junto com elas os guerreiros dos territórios feéricos mais afastados. 

Aqueles que lutaram ao lado de Hybern e agora lutavam ao lado de Koschei e Beron. 

Gwyneth engoliu a raiva que sentiu ao escutar aquelas palavras saindo dos lábios de seu parceiro.

— Eu prometi para você que sempre te acharia, Azriel. — Gwyn respondeu com a voz firme. — Não há tempo para lamentações, nem tempo para questionar minhas atitudes... Precisamos sair daqui.

— Eu — pausou, olhando para trás, para onde os barulhos continuavam a se aproximarem. — Eu estou muito fraco. Mas você ainda consegue sair daqui, Gwyneth.

— Eu não vou a lugar nenhum sem você! — aumentou o tom de voz, a respiração se tornando ainda mais caótica. — Pare de dizer bobagens!

A cada segundo que se passava Gwyneth sentia a tensão gritar dentro dela. Não sabia o que fazer, não fazia a menor ideia de como sair dali, como tiraria Azriel dali em segurança sem colocá-lo em perigo de novo, sem fazer ele encarar mais uma legião de criaturas e homens. Aquela sensação de impotência estava começando a tomar o seu sangue e se espalhar pelas suas entranhas.

O seu cavalo ferido ainda estava a metros de distância, não fazia ideia se ele aguentaria carregar ela e Azriel, e mesmo se conseguisse, para onde iriam? Com o domo selado, os dois apenas se transformariam em um prato cheio para as criaturas de Koschei naquele campo aberto.

Estava sem saída. Estavam encurralados.

Azriel pareceu sentir a insegurança que escorria de seus poros, pois levou a mão trêmula até a dela, olhando para trás novamente quando os gritos e os passos se tornaram mais perto do que antes. O seu parceiro a apertou, voltando a olhar para ela com os olhos cansados e pesados.

— Gwyneth...

— Não! — gritou, com lágrimas nos olhos. Já sabia o que Azriel iria falar. — Eu não vou sair daqui sem você, Azriel. Eu não vou.

Ela segurou o corpo de seu parceiro novamente. Não sabia o que faria, não sabia para onde iriam, mas precisavam sair dali, precisavam pelo menos chegar até o cavalo. Gwyneth voltou a andar, firmando os passos na neve, sentindo o peso de seu parceiro em todos os músculos de seu corpo. Azriel grunhiu, forçando os próprios passos, tentando aliviar.

— Gwyn, por favor. — murmurou entredentes, como se tentasse aguentar a dor. — Por favor.

O encantador implorou. Estava implorando para que ela desistisse daquela ideia, que desistisse de levá-lo junto com ela, mas Gwyneth negou com a cabeça, segurando as lágrimas em seus olhos ardentes. Ela não tinha chegado tão longe apenas para abandoná-lo, não seria capaz... Apenas ideia de deixá-lo ali fazia seu estômago revirar, fazia todo seu corpo se retrair.

A valquíria firmou o passo, se lembrando do peso que Emerie precisou carregar ao subir com ela naquelas montanhas, se lembrando de como sua amiga havia sido forte para as duas. Gwyneth precisava ser forte como Emerie havia sido, precisava ser forte para ela e seu parceiro.

Avistou o seu cavalo agitado a alguns metros, respirando em alívio. Mas o suspiro foi em vão, pois logo atrás, Gwyneth conseguiu escutar os barulhos dos galhos se quebrando, o urro das bestas que pareciam mais ferozes que aquelas que havia lutado para chegar até ali. Gwyn acelerou o passo, Azriel usou as pernas com mais precisão, forçando o próprio corpo a aguentar.

Mas, não foi o suficiente. Elas eram mais rápidas que a sacerdotisa, mais ágeis que seu parceiro ferido.

Sentiu um impacto forte no seu corpo, a jogando alguns metros de distância, o relincho do seu cavalo tomando seus ouvidos junto com o som ensurdecedor daquelas criaturas.

— Gwyneth! — foi a voz de Azriel que ela escutou, enquanto rolava na neve.

Antes que pudesse raciocinar e tentar se levantar, sentiu seu tornozelo ser envolvido na armadura, o gelo daquele toque passando pelo material e se apropriando de sua pele, fazendo-a gemer de dor. Gwyneth sentiu seu corpo ser arrastado, o rosto queimando contra a neve, enquanto sua mente ficava nebulosa, tentando focar.

Escutava os passos das outras bestas continuando a correr em direção à Corte de Kallias. Gwyneth grunhiu a cada galho que sentia atingir seu rosto. Não pensou em mais nada quando forçou seus braços para trás e puxou sua espada de suas costas com rapidez, mergulhando naquele brilho que cantava em seu interior, puxando aquele cordão do controle do seu poder que pedia para ser liberto para o mundo.

Gwyn se afogou naquela sensação, e rugiu alto quando sentiu suas veias queimarem, quando sentiu aquela luz se espalhar pelo seu corpo, tomando a espada a qual ela golpeou com dificuldade no braço que a envolvia. Quase perdeu o resto do fôlego quando sentiu a carne daquelas criaturas mais consistente do que antes, e precisou de mais força para que conseguisse finalmente machucar a besta, fazendo-a gritar ao ter o braço cortado.

Gwyneth se pôs de pé rapidamente com dificuldade, sentindo o sangue escorrer do rosto machucado. A criatura desmembrada abriu a boca com dentes podres e pontudos e gritou recuando. Ela não esperou e o golpeou novamente, uma sequência de golpes perfeitos com sua espada, sentindo outras se aproximarem. Gwyn conseguiu girar a espada brilhante na cabeça daquele que a atacou, virando rapidamente para perfurar a outra que se esgueirava na suas costas, fazendo a criatura gritar, o sangue negro escorrendo pela ferida aberta na pele necrosada.

Nada de poeira. Nada de se transformarem em pó. Não igual aqueles que lutou mais cedo.

A sacerdotisa notou a diferença ao se pôr a correr de volta para o local que havia sido atacada, fugindo. As outras bestas correndo em sua direção e em direção ao domo.

Notou a forma em que pareciam maiores, mais resistentes e mais... humanóides que os outros. A textura de seus corpos gosmentos ainda eram os mesmos, o aspecto também, mas estavam diferentes. O brilho ainda os incomodava e os repelia, mas a carne era mais resistente, mais difícil de penetrar, mais...mais tangível.

Azriel tinha razão. De alguma forma haviam conseguido aprimorá-los, e como um dos navios vinham de Vallahan ela só podia imaginar que aquela era a nova leva do exército de Koschei.

Escutou um grunhido alto e correu mais rápido, o brilho em sua pele se tornando mais forte, impedindo que outras chegassem perto demais. Ela ainda não tinha total controle do seu poder, e já estava mais fraca do que antes, o que a impedia de se concentrar em manter ele constante, em manter ele brilhando fortemente.

Quando chegou no local, conseguiu enxergar Azriel lutando. Exausto, mas ainda lutando em meio a gritos e urros, como se procurasse forças dentro de si mesmo para se manter em pé. As duas espadas comuns illyrianas não brilhavam, e os cortes nos corpos das criaturas eram superficiais, voltando a se fechar em questão de segundos no momento em que eram abertas. Mesmo assim, Azriel se forçava a lutar, a desviar das garras negras que tentavam mobilizá-lo, se provando ser o guerreiro primoroso que Prythian temia.

Mas, mesmo lutando... mesmo dando tudo de si, o Mestre-Espião ainda estava terrivelmente fraco, parecendo até mesmo perturbado, seus Sifões sem sinais de que iriam canalizar o seu poder novamente, suas sombras apesar de estarem o ajudando, também não estavam fortes o suficientes e aparentavam estarem desnorteadas perto daquelas criaturas.

Por esses motivos, Azriel foi incapaz de notar as outras que rastejavam em sua direção, prontas para imobilizá-lo.Gwyneth correu até lá grunhindo de raiva, sentindo uma adrenalina descomunal impulsionando seus movimentos. Aquele laço gritando dentro dela: parceiro, parceiro, parceiro. A sacerdotisa tomou impulso e escorregou propositalmente no chão nevado e desnivelado, deslizando até acertar a espada nas canelas da criatura, queimando a carne podre. O berro de dor tomou seus ouvidos e a fez levantar no mesmo momento, girando a arma em outra delas, passando a lâmina no estômago de uma e a partindo em duas.

Aquele poder ainda desconhecido rugiu dentro de seu corpo, se fazendo mais presente que antes, repelindo as bestas que seguravam Azriel, soltando-o no mesmo segundo em que Gwyneth golpeou uma primeira vez. Algumas das criaturas fugiram, se pondo a correr em direção à Corte.

A sacerdotisa correu até seu parceiro, segurando-o antes que ele pudesse cair no chão novamente. Sua perna continuava péssima, a ferida ainda estava aberta. Gwyneth segurou o corpo de Az, as sombras fracas envolveram seu corpo, envolvendo o brilho que ela ainda emanava.

Azriel grunhiu se forçando a ficar de pé, piscando fortemente e encarando seus ferimentos. Gwyn engoliu em seco, quando os olhos deles voltaram para os seus. As bestas ainda espreitavam, mas desistiam de chegar perto com o poder de Gwyn ainda emanando luz como o sol em uma manhã muito ensolarada, como uma estrela cadente rompendo pelo céu. Gwyneth sentia seu corpo enfraquecer com a quantidade de poder que empunhava, o peito ardendo com a sensação de usá-lo daquela maneira pela primeira vez. Forte o bastante para deixá-la tonta.

Ela conseguia escutar o exército de feéricos de Vallahan e Rask se aproximando com suas cornetas e gritos de guerra, fazendo seu coração acelerar. O seu poder não iria os impedir de atacar igual fazia com as criaturas. Seriam muitos deles contra os dois. E por mais que fossem guerreiros condecorados, não conseguiriam lutar com uma legião de homens completamente sedentos por sangue. Não com ela e Azriel já enfraquecidos e cansados.

Rhysand! Gritou dentro de sua mente. Era sua única saída e rezou para que funcionasse, para que ele escutasse. Rhysand! Por favor, precisa nos tirar daqui. Estou com Azriel... Não conseguimos...

Não conseguiu formular as palavras direito conforme sentia o seu poder exigir tudo dela. Engoliu em seco, encarando o rosto de seu parceiro, vendo seus olhos cansados, porém determinados. Ele lutaria até a morte. Ela sabia disso. E não poderia permitir... Não poderia...

Gwyneth! Rhysand respondeu, a voz um pouco desesperada dentro de suas paredes mentais. Graças à Mãe, vocês estão vivos.

Rhysand, Azriel está muito fraco e ferido, eu... Eu não sei quanto tempo consigo segurar meu poder sem exigir tudo de mim. Precisa nos tirar daqui. Você... Você consegue atravessar? Consegue vir até aqui e nos atravessar? Gwyn soou desesperada. Piscou lentamente, respirando fundo, sentindo sua cabeça latejar. Seu peito queimava, seu corpo inteiro parecia arder. Azriel mesmo fraco a segurou firmemente. Por favor!

Eu... Eu não consigo. A barreira é feita com os poderes dos outros Grão-Senhores, ela consegue burlar esses feitiços simples... O único jeito é... Rhysand também parecia amedrontado. O quão machucado Azriel está?

Muito. Foi tudo que ela conseguiu responder, sentindo os músculos tremerem ao segurar as rédeas do seu poder com força, ao escutar os passos duros e rápidos se aproximando, marchando sincronizadamente, os gritos acompanhando. Rhysand, não temos muito tempo, os navios atracaram... Eles estão vindo e eu não consigo segurá-los. Não vamos conseguir lutar com um batalhão.

— Gwyn. — Azriel firmou-a, mordendo as bochechas internas. — Gwyneth...

A voz de seu parceiro era vacilante, tomando seus ouvidos, fazendo-a sacudir a cabeça. Foi só quando saiu daquele estado de transe em sua mente que percebeu que estava com os olhos fechados. O brilho em sua pele se tornou inconstante, e seu corpo amoleceu, as pernas bambas ameaçando a jogar no chão.

Gwyneth?

Gwyn foi incapaz de responder, sua mente estava completamente nebulosa, suas vistas estavam turvas. Ela percebeu a respiração de Azriel se tornar mais irregular, usando de toda sua força para mantê-la em pé.

— Gwyn, fique aqui...Fique comigo. — sua mão trêmula bateu de leve em sua bochecha, a impedindo de fechar os olhos. Sua pele ainda brilhava, menos do que antes.

As cornetas soaram novamente, quase estremecendo seus tímpanos, fazendo-a perceber que eles estavam mais perto, muito mais perto. Os gritos e as marchas também. E quanto mais próximos ficavam, mais Gwyneth percebia que eram muitos.

Por cima dos sons ela escutou um farfalhar.

E quando seu corpo amoleceu por completo, quando o brilho em sua pele se extinguiu e sua visão escureceu quase que inteiramente, Gwyn ouviu o rugido alto invadir seus ouvidos, sentindo seu corpo ser retirado do chão no mesmo segundo. Se forçou a abrir os olhos, percebendo que Azriel estava voando.

Com dificuldade, mas estava voando. Usando de toda sua força para subir o mais alto que conseguia, os braços escorrendo sangue enquanto tremia ao segurar seu peso. A valquíria respirou ofegantemente, os olhos pesados, enquanto Azriel subia e tentava fazer o possível para voar para longe dali, em direção ao domo, em direção à Corte.

Seu parceiro grunhia a cada bater de asas, o maxilar travado com tanta força que Gwyn conseguia enxergar as veias de seu pescoço em destaque, enquanto firmava Gwyneth para que ela não caísse. E quando a sacerdotisa abaixou o olhar pesado para o chão, foi que ela se deu conta de que haviam escapado da Morte.

Pois o chão branco não era mais o destaque, e sim a maré de homens e bestas que corriam em direção à cidade, determinados a destilar caos e manchar aquele chão de vermelho.


𓆩*𓆪


Rhysand engoliu em seco. A respiração estava completamente irregular. Suava por debaixo daquela armadura, sentindo o corpo tremer. Ele encarou os seus companheiros, enquanto observava as bestas se aproximarem. Sedentas pelo sangue inocente, famintas pela carne daquelas centenas de legiões que Kallias encarava ao lado de seu General, ao lado de sua parceira.

Feyre ao seu lado pareceu sentir o desespero do Grão-Senhor. Rhys apertou sua mão, ainda sentindo a dor e aflição na voz de Azriel que ecoou em sua mente.

Seu irmão. 

Sua família.

Ele já havia feito muitas coisas inomináveis, mas aquela... Aquela que estava prestes a fazer provavelmente entraria na lista das piores. 

O Grão-Senhor sabia daquilo, tinha consciência daquilo ao ver os rostos de milhares de homens, ao ver o rosto de seus colegas Grão-Senhores, ao ver o rosto soturno de Kallias ao montar no seu cavalo ao lado de sua esposa e encarar o mar de criaturas que chegavam cada vez mais perto do domo que protegia à sua Corte, que protegia à sua cidade, disposto a morrer por eles.

— Rhysand? — Feyre o chamou, segurando um arco flamejante em suas mãos tatuadas.

Morrigan olhou para ele, trajando duas espadas e o couro de batalha. O coração de Rhysand bateu mais fortemente ao notar o rosto preocupado de Cassian, o rosto dolorido do seu irmão ao olhar para fora daquele domo e imaginar Azriel ali, ao imaginar Gwyneth ali. Emerie e Nestha sustentavam aquela mesma dor, perguntando se os amigos estavam bem, perguntando se haviam conseguido escapar.

Aquela era sua família.

Azriel era sua família.

Rhysand encarou Morrigan de volta, puxando-a para mais perto.

— Tire Nyx e Alba daqui. — sussurrou, a voz firme. — Atravesse para Velaris.

— O quê? Rhysand! — os olhos da prima saltaram.

— É uma ordem, Morrigan. — Rhys tinha o peito subindo e descendo rapidamente. — Leve-os daqui.

Mor engoliu em seco, olhando em volta, observando Viviane subir em seu cavalo e colocar o elmo em sua cabeça. Os Grão-Senhores pareciam tranquilos, se preparando para a guerra, porém sabendo que o escudo segurariam os homens por tempo suficiente.

Feyre o olhou, os olhos azuis cinzas e cintilantes confusos e assustados.

Não tinha tempo para avisá-la. Não teria tempo para explicá-la.

— Leve-os daqui assim...assim que eu descer a barreira. — disse, em um tom firme, atraindo a atenção de Cassian que o olhou aturdido. Morrigan negou com a cabeça desesperadamente.

— Rhys...

— Não é um pedido. — interrompeu, fazendo sua parceira o encará-lo.

Morrigan olhou de relance para Viviane e Kallias novamente, antes de voltar para ele, exalando um longo suspiro e concordando com a cabeça. A sua prima se afastou um pouco, dando passos para trás. Rhysand caminhou em direção à Cassian, a armadura em seu corpo rangendo.

Segure qualquer um que tentar me impedir. Disse na mente do General. Cassian o olhou, as feições eram um mistério quando seu irmão concordou, engolindo o bolo formado em sua garganta.

Quando deu outro passo sentiu a mão de sua parceira o segurar.

Eles estão perto demais. A voz doce, porém firme de Feyre ecoou em suas paredes mentais. Não iremos conseguir subir outra a tempo de impedi-los.

É meu irmão, Feyre... Rhysand respondeu, sabendo em seu âmago que estaria colocando muita coisa em jogo ao fazer aquilo. Não vou deixá-lo. Não consigo...Não posso.

Feyre não disse mais nada ao encarar seu rosto, ao ver a tristeza explícita ali. Soltou a sua mão, respirando fundo ao acenar para ele em entendimento.

Rhysand olhou para as centenas de soldados antes de dar mais um passo, encarou Kallias vestindo seu elmo e segurando sua espada prateada em mãos. O Grão-Senhor da Invernal pareceu notar que estava sendo observado, pois voltou o olhar para o Grão-Senhor da Noturna, os olhos azuis brilhantes sendo a única coisa que ele conseguia enxergar através do capacete de urso que o amigo usava.

Kallias cerrou-os, como se percebesse que algo estava errado.

E no momento em que Rhysand sibilou uma "desculpa", ele soube pela expressão alarmada no rosto do Senhor Invernal que ele não tinha mais um amigo.

Mas evitou pensar nisso quando ergueu a mão em direção à barreira e sentiu aquele poder descomunal acumular em suas veias, quando sentiu aquele poder que corria tão contidamente em seu corpo...se libertar.

— Rhysand! — Kallias gritou com toda a força e raiva que havia em seu corpo, atraindo a atenção dos Grão-Senhores, dos soldados e do restante de sua Corte.

Morrigan atravessou em seguida, o rosto ainda um retrato da dor em ter que deixar a amiga e a Corte para trás, mesmo sabendo que estaria protegendo a sua primogênita.

O Senhor da Corte bateu as rédeas no cavalo, grunhindo em fúria ao galopar em sua direção, no mesmo momento em que o poder acumulado de Rhysand bateu contra a energia que haviam subido, fazendo toda a proteção vacilar, estremecendo até mesmo o chão. Todos os seus aliados ficaram atônitos ao perceber o que estava prestes a acontecer, e o grito do General do exército de Kallias os alertaram quando outra rajada do poder de Rhysand atingiu o domo, reagindo contra o poder da barreira e estremecendo a estrutura novamente.

E quando o Grão-Senhor da Noturna disparou uma terceira rajada, o domo vacilou, abrindo a primeira fenda e se dissipando aos poucos.

A energia se desmanchou por completo, a magia sumindo para o vazio.

O cavalo de Kallias empinou no momento em que os urros das bestas se tornaram mais altos, fazendo-o puxar as rédeas e firmar o animal.

Tarquin ainda parecia em choque quando se virou para o exército que se aproximava, botando o elmo dourado entalhado com escamas de peixe que brilhavam contra a luz do sol. Kallias voltou os olhos apavorados e raivosos para o mar de bestas na linha de frente, se estendendo até a legião com centenas de homens segurando bandeiras com as insígnias de Rask e Vallahan, entoando os seus gritos de guerra.

Não havia mais tempo.

Eles lutariam.

— POSIÇÕES! — Kallias gritou ao puxar o seu cavalo e voltar para a infantaria de seu exército. O líder dos Vikarianos gritando a ordem ao se preparar também. — FLECHAS!

A voz de Kallias ecoou quando ele a ampliou o suficiente para todo seu exército escutar.

Os arqueiros no alto do palácio miraram as lanças para o céu.

O herdeiro da Diurna ao seu lado encarou o meio-irmão e depois Rhys quando o Grão-Senhor abriu suas asas e o encarou de volta, vestindo o próprio elmo de asas de corvo, o peito subindo e descendo com uma certa velocidade.

O Grão-Senhor da Noturna olhou para os céus, observando a figura alada que se aproximava, Azriel despencava com Gwyneth em seu colo, enquanto batia as asas com dificuldade. Rhysand olhou para Feyre por um segundo, antes de se lançar no céu em direção ao irmão no momento em que o líder dos Vikarianos abaixou o braço em um comando para os arqueiros atirarem.

Flechas e mais flechas voaram pelo céu em perfeita sincronia. Rhysand voou mais rápido e sentiu o baque do seu corpo contra o de seu Mestre-Espião, sentindo uma flecha passar de raspão em seu braço quando segurou seu irmão. As flechas atingiram os alvos, perfurando a carne dos soldados da linha de frente do inimigo,atrás das bestas que rastejavam, manchando de vermelho o chão branco do campo aberto, mas não impedindo as criaturas de continuarem seguindo em direção à Corte.

E Rhysand atravessou com Azriel e Gwyneth para a varanda enorme do palácio no momento em que o General de Kallias gritou em pleno pulmões.

Uma ordem que todos sabiam o que significava.

O grito seguiu por outros dos soldados, os Vikarianos urrando em sincronia.

E o Grão-Senhor da Noturna fez uma prece silenciosa para que a Mãe o perdoasse quando o exército da Corte Invernal se pôs em movimento, galopando com os cavalos e correndo diretamente para o embate que marcava, efetivamente, o começo daquela guerra.


𓆩*𓆪


O corpo inteiro de Gwyneth doía. Mas ela se forçou a ficar de pé, as pernas ameaçando deixá-la cair enquanto escutava os gritos e os grunhidos do conflito que acontecia bem debaixo do seu nariz. Ela encarou Azriel exausto e acabado apoiado na parede da varanda, os ferimentos deixando toda a imagem ainda mais nauseante. Ela cambaleou até o parceiro, chorando de alívio ao notar que ele estava seguro... Acabado, porém seguro.

Ele precisava de uma curandeira. 

O mais rápido possível.

Rhysand encarou os dois, trajando a armadura completa illyriana. O seu Grão-Senhor avaliou os dois, notando os estragos. As feições no rosto de Rhys eram doloridas, sabia que por pouco o irmão não estaria ali, sabia que poderia ter o perdido. 

Gwyneth negou com a cabeça ao ver o cunhado engolir a saliva e respirar fundo.

— Você...

— Vocês estão seguros. — Rhysand afirmou, encarando Azriel outra vez e respirando fundo. — Vocês estão seguros.

Gwyneth sentiu que ele repetiu aquilo mais para ele mesmo do que para ela, como se tentasse se convencer de que tudo aquilo havia valido a pena, mas Gwyn não conseguiu suportar quando percebeu o que Rhys havia feito, no que o seu Grão-Senhor havia posto em risco apenas para salvá-los.

Rhysand estendeu as asas atrás dele. O som da batalha continuava do outro lado, fazendo os pelos de Gwyneth se arrepiarem. Seus olhos marejaram, enquanto colocava a mão em cima do peito de Azriel.

Milhares iriam morrer. Milhares iriam sair dali feridos.

Tudo isso apenas para que ela estivesse ali. Estivesse ali em cima, inútil e incapaz de ajudá-los, incapaz de lutar ao lado deles. Ela negou a cabeça para Rhysand novamente, desacreditada e atônita.

— Rhysand...

Vocês são minha família. — sussurrou o Grão-Senhor caminhando para trás até o parapeito da varanda, acenando com a cabeça quando desembainhou a espada illyriana em suas costas. — Eu não abandono a minha família.

Mas a sacerdotisa conseguia enxergar a dor em suas feições mesmo usando aquele elmo. Rhysand sabia que não tinha feito a melhor escolha, mas parecia ter sido a única para ele. Gwyneth não teve chance de respondê-lo, pois o seu senhor se jogou aos céus, batendo as asas e seguindo para a batalha.

Azriel grunhiu, voltando ao estado normal de consciência. Gwyneth passou a mão em seu rosto, observando os ferimentos e os cortes. Eles estavam vivos... mas a que custo? A que custo estavam ali no alto daquela torre, enquanto outros se matavam naquele campo?

Ela beijou os lábios do seu parceiro, se afastando para se aproximar do parapeito com dificuldade. Quase caiu ao abaixar os olhos para o campo nevado que já não parecia mais uma paisagem bonita e invernal. 

O chão estava banhado de vermelho, haviam corpos jogados e caídos, pedaços de membros e entranhas esparramados pelo chão nevado e sujo. 

Escudos, lanças e armas quebradas. 

Cavalos estavam no chão, enquanto outros continuavam sua corrida pelo campo, com seus guerreiros golpeando fortemente os inimigos.

Gwyn observou um Vikariano empalar um soldado de Rask com a lança afiada, usando o corpo do macho para acertar outro que corria em sua direção, retirando a lança e fincando naquele que havia o atacado. Mas não foi rápido o suficiente para se defender da criatura que atacou suas costas, a boca grande se fechando no pescoço despido do macho, rasgando sua pele e a sua aorta, derramando mais sangue enquanto o guerreiro desfalecia no chão.

Era uma das coisas mais horríveis que ela já vira. Pior do que o que havia vivenciado em Refúgio do Vento. 

Gwyneth procurou pelas seus amigos, encontrando primeiro Cassian na linha da frente, duas espadas na mão enquanto incorporava o General que ela conhecia.

A energia dos seus Sifões envolviam suas duas espadas, e Cassian as manejava com perfeição. Duas criaturas saltaram em sua direção, o corpo grande do illyriano desviou ao se abaixar e rodar a espada em seu corpo podre, não esperando para golpear o outro, cortando a cabeça com facilidade. Cassian gritou quando impulsionou seu corpo para frente, voltando a correr quando soldados de Vallahan se aproximaram, e ele não parou enquanto golpeava e cortava, os golpes com uma precisão assustadora e o corpo seguindo uma dança que Gwyneth nunca havia visto.

Ele era uma nota e a batalha era a sua partitura. 

Cassian conseguia fazer aquilo se tornar bonito, fazia aquilo se transformar em arte. Já havia o visto em ação, mas em um campo de batalha... em um conflito como aquele... Seu amigo e treinador era mais que um guerreiro, era uma entidade viva, era a encarnação de um Deus da guerra.

Seu coração palpitou ao procurar por Emerie e Nestha naquele mar de sangue. Encontrando-as ainda em cima de seus cavalos, lutando lado a lado como haviam aprendido. A espada de Nestha brilhava e cantava ao bater contra as criaturas e as tornarem em pó, Ataraxia fazia soldados recuarem, os olhos prateados de Nes provavelmente os faziam correr, como se tivessem ouvido falar sobre os rumores da reencarnação do que seria a Morte, do que seria o fim para aqueles que a encarassem de perto.

Nestha manejava a espada com tanta perfeição quanto seu parceiro, se transformando em puro ódio e fúria quando os atacava, cortando-os a cabeça e perfurando o corpo. Gwyneth perdeu o fôlego ao ver a espada curta que Emerie usava.

Era uma das armas de Nestha, a última que ela havia Feito. 

O objeto brilhava nas mãos de Ems enquanto a illyriana incorporava a guerreira que havia nascido para ser.

Gwyn quase desceu quando uma das criaturas atacou o cavalo de sua melhor amiga, a jogando no chão ensanguentado e a fazendo rolar, mas Emerie levantou com rapidez e segurou a arma Feita em suas mãos, correndo em direção às criaturas e executando um corte perfeito ao girar a espada e perfurar seu estômago, depois virar seu corpo em um circuito perfeito, desembainhando sua espada illyriana no momento em que um guerreiro de Rask a atacou. As armas tilintavam uma contra a outra, mas Emerie ainda tinha a vantagem. 

A illyriana desviou dos golpes e atacou no segundo em que o soldado levantou o braço para golpeá-la com a espada. A lâmina de Emerie atravessou o peito do guerreiro, espirrando sangue no rosto de sua amiga.

A valquíria retirou a lâmina com rapidez, estendendo a mão no ar no segundo em que observou Nestha se aproximar com o cavalo. A Archeron do meio segurou o braço da amiga e a puxou, Emerie subiu na garupa de Nes, se ajustando na sela enquanto respirava profundamente.

Gwyneth sentiu uma faísca de orgulho queimar em seu interior.

Kallias e Viviane lutavam lado a lado, congelando soldados e lançando espetos de gelos que formavam com as mãos em uma magia hipnotizante. Ela observou outra figura alada illyriana cortar pelo céu, apenas para se dar conta que se tratava de sua Grã-Senhora, que rodeava um círculo de criaturas com o fogo que herdou da Corte Outonal.

Do outro lado, Eris e Lucien sustentavam uma barreira, suas magias se misturando. 

Luz e fogo, queimando aqueles que chegavam perto demais. 

Rhysand também estava no céu, ajudava varrendo homens com seu poder noturno, transformando-os em pó em questão de segundos, mesmo assim o Grão-Senhor parecia cansado, como se usar o seu poder para derrubar a barreira com a força de outros Grãos-Senhores havia o deixado um pouco afadigado.

E por mais que estivessem lutando bravamente e que a neve fosse um fator de vantagem para eles, o lado inimigo ainda parecia estar se saindo melhor pelo o uso daquelas bestas demoníacas que estripavam e possuíam tudo que viam pela frente, conseguindo fazer com que soldados voltassem contra o próprio exército.

Tarquin e Varian estavam no flanco direito, vez ou outra os soldados se afogavam na água que o Senhor da Estival projetava em suas gargantas, mas as criaturas não eram muito afetadas e circulavam o príncipe da Estival. Tarquin gritou ao ver Varian encurralado, correndo em direção ao amigo, varrendo com água aqueles que chegavam perto demais. 

Gwyneth sentiu o peito se comprimir, mesmo assim Varian não parecia assustado, e bravamente ergueu a espada, mesmo sabendo que de nada adiantaria.

Tarquin continuou correndo, tentando limpar com golpes e magia aqueles que chegavam ao seu alcance, o rosto era uma expressão entre o desespero e a determinação. Cassian virou o rosto no mesmo segundo ao escutar os grunhidos do Grão-Senhor, notando Varian encurralado.

O General deu um impulso em direção aos céus, voando até Varian, os sete Sifões brilhando simultaneamente. Ele pousou no chão em um baque surdo, a energia vermelha formando uma esfera perfeita, jogando as criaturas para longe. 

Gwyneth respirou aliviada, mas a sensação não durou muito, pois escutou o grito de alerta de alguém e Varian não teve tempo para se preparar, muito menos Cassian quando um ardamor saltou nas costas do príncipe, as garras longas perfurando seu estômago, atravessando-o.

— Varian! — Tarquin gritou em plenos pulmões, o grito tão doloroso que qualquer um no campo conseguia sentir.

— Não! — Gwyneth gritou desesperada, se segurando ao mármore.

O rosto de Tarquin ficou pálido ao assistir o amigo ser empalado. 

Cassian gritou ao erguer os punhos e jogar a energia vermelha na criatura, repelindo-a. O ardamor retirou as garras, e naquele momento, Gwyn conseguiu enxergar o rasgo na barriga do príncipe, nas suas entranhas escapando para fora.

O rosto dele estava paralisado na mesma expressão de choque. A sacerdotisa sentiu vontade de vomitar ao ver Varian cair em cima de Cassian, o illyriano o segurando firme ao gritar por ajuda no meio do campo de batalha, arrastando o corpo semi-inconsciente de Varian no chão, o sangue deixando um rastro pelo caminho.

Rhysand parou de voar no mesmo momento, as expressões completamente atônitas ao ver o irmão carregando o príncipe, ao mesmo tempo que usava a espada para golpear. Tarquin correu rapidamente até Cassian, grunhindo de raiva em uma altura quase ensurdecedora ao abrir espaço com golpes e magia. Rhys voou até o irmão, olhando para o Grão-Senhor da Estival que apenas acenou com a cabeça quando o Senhor da Noturna ajudou Cassian a segurar Varian, antes de pegar o príncipe e atravessá-lo.

A sacerdotisa não fazia ideia para onde Rhysand tinha ido com o amante de sua segunda no comando, mas sabia que não era bom, sabia que o ferimento tinha sido grave. Tarquin ainda parecia desolado quando se virou, encarando o campo e percebendo o mesmo que Gwyn: a maior baixa estava sendo deles.

E Gwyneth sentiu que precisava descer, sentiu que precisava estar ali com eles. Notando os rostos sujos de suas amigas e o esforço que todos faziam ao darem a vida naquele local. Sabia que poderia não sair vitoriosos daquele conflito. 

Olhou para Azriel, ainda apoiado na parede, em um estado entre o consciente e o incosciente.

Mas antes que tomasse a coragem necessária para descer, ela escutou um barulho estrondoso vindo do céu a alguns metros de distância. As pessoas no campo também pareceram notar.

Era como uma corneta de guerra, porém mais grave e mais melodiosa. Alguns soldados olharam para cima, curiosos com o som que entoou novamente pelos céus, e Gwyneth segurou o fôlego ao enxergar flechas descendo das nuvens e acertando com exatidão os alvos escolhidos, acertando soldados de Rask e Vallahan.

Um brado melodioso longo e agudo ecoou por cima das nuvens e quando essas dissiparam, a sacerdotisa achou que poderia cair para trás com a imagem que tomou seus olhos. 

Uma legião alada surgiu aos poucos, descendo com todo vigor em sincronia para o campo de batalha.

Na frente, liderando-os, Gwyneth observou um macho com asas de pena e pele amarronzada, entoando mais uma vez aquele brado que parecia o canto de um anjo, sendo acompanhado em seguida pelas centenas de machos e fêmeas atrás deles. Sentiu sua coluna estremecer ao notar a força que tinham no olhar.

Era o companheiro de Thesan.

Era a legião de peregrinos que desciam em direção ao campo ensanguentado para completar os seus exércitos. 



IHUUUUU QUEBRA O PAU DOIDO! 

Enfim, espero que tenham gostado do capítulo meus amores, igual eu disse no último, escrever batalhas sempre são um desafio para mim, mas eu até que gostei de como essa saiu, eu espero que vocês tenham gostado também. 

Como sempre falo aqui, se estão gostando da história, por favor comentem bastante e deixem um favorito, isso ajuda a história a crescer e me motiva a continuar escrevendo. :)

Sem muito enrolação por aqui, então quero apenas agradecer pelo carinho e dizer que sou muito grata a todo mundo que acompanha as minhas loucuras fantasiosas e se fazem presentes aqui. Amo vocês <3 

Beijos e até a próxima! 

PS: Desculpa qualquer errinho. 

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