𝟱𝟯. 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗𝗟𝗜𝗡𝗘

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Um dia depois estavam na Corte Diurna. Após contarem para Rhysand, o Grão-Senhor decidiu que não poderiam demorar para irem até a corte do Quebrador de Feitiços, cada minuto que se passava era precioso agora, cada suspiro era essencial.

Gwyneth observou o rosto do seu Grão-Senhor mudar completamente após Azriel notificar para ele o que foi contado para eles dentro daquela caverna. Era a primeira vez que via o rosto de Rhysand transparecer medo de verdade. Os Daglan — seja lá o que foram, ou que eram — de alguma forma conseguiu despertar um terror palpável em seu cunhado, e se até mesmo Rhys parecia assustado, ela sabia que a situação era pior do que esperavam.

Koschei era história para criança dormir perto dos Conquistadores, perto da devastação que os Daglan trouxeram para o mundo.

Com aquela revelação, os Grão-Senhores deram apenas algumas horas para se prepararem para sair da Corte, deram apenas algumas horas para que engolissem qualquer que fosse o medo que ainda pairava no ar, para que pudessem seguir para a Corte Diurna.

E depois que estavam prontos no dia seguinte, Rhysand, Feyre, Morrigan e Azriel se separaram para atravessar com a primeira legião de Valquírias pela manhã. Nestha, Emerie e Gwyneth usaram daquelas horas antecedentes para conversarem com as meninas, as três assumindo pela primeira vez o papel que fôra designado pelos seus Grão-Senhores, o papel de Legionárias da Corte Noturna, o papel de comandantes de uma parte do exército da Corte que serviam.

O papel de líderes da primeira legião de Valquírias renascidas.

Gwyneth não conseguiu não sentir orgulho quando notou o rosto determinado de cada uma das guerreiras. Todas elas dispostas a saírem da biblioteca, saírem de casa, para lutar e proteger a Corte, proteger as pessoas que não podiam se defender, proteger aqueles que eram aquilo que elas tinham sido um dia: indefesas, vulneráveis e assustadas.

Não mais.

Gwyn não conseguiu notar nenhuma daquelas coisas ao observar o rosto de Roslin, de Deirdre, de Ananke, de Ilana ou de Lorelei. Nenhuma de suas antigas colegas acólitas transmitiam fraqueza, medo ou hesitação.

Tudo que Gwyn via eram guerreiras... Tudo que via eram Valquírias, prontas para cumprirem o seu dever.

E quando atravessaram para Corte Diurna, nenhuma delas abaixaram a cabeça enquanto caminhavam pelo enorme acampamento montado na fronteira da Diurna, nenhuma delas abaixaram a cabeça para os olhares dos exércitos de outras Corte sobre elas, para os olhares curiosos e julgadores dos Precursores da Escuridão.

Rhysand e Feyre estavam na frente, a segunda segurando o primogênito no colo. Nenhum dos dois usavam os trajes de governadores, nenhuma coroa à vista. Seus dois senhores optaram por trajarem os couros illyrianos, optaram por se vestirem como os guerreiros que também eram.

Azriel e Morrigan caminhavam ao lado deles um pouco atrás, os dois com punho na espada, os dois vestindo o mesmo couro. Seu parceiro tinha o rosto completamente sério, as sombras acompanhando seus passos enquanto ondulavam entre seus braços e pernas — mesmo que a mais rebelde delas estivesse ali, enrolada na ponta da mecha de cabelo acobreado da valquíria.

Um pouco mais atrás estavam elas. Nestha no meio, Emerie ao lado direito e Gwyneth do lado esquerdo. As valquírias atrás delas, marchando com a postura ereta e atenta, enquanto sentiam o ar diferente da Corte Diurna.

A grama debaixo das botas dela era fofa e o sol brilhava no céu limpo, oferecendo uma manhã bonita e muito agradável. Se não fosse, é claro, pela atmosfera arrepiante de guerra. O cheiro de suor, de comida sendo feita, o barulho de pessoas treinando e trabalhando.

Nunca tinha estado em um acampamento de guerra, nunca tinha vivido aquela sensação de se preparar para o pior. Gwyneth não conseguiu evitar de olhar para Azriel em sua frente, não conseguiu conter o pensamento de que aquilo provavelmente não o afetava em nada, já que havia vivenciado diversas vezes.

Tudo que ela queria era que seu parceiro não precisasse passar mais por aquele tipo de agonia, a tristeza e a dor que a guerra trazia com ela, a incerteza de um futuro, de paz e abrigo.

Dali não dava para se ver muito do lar de Helion, apesar das duas cachoeiras distantes serem enxergadas de longe, o sol brilhava entre elas. A Corte era montanhosa, não tanto quanto Velaris, mas o suficiente para presenteá-la com uma vista distante e maravilhosa da cidade envolta de cadeias de montanhas.

Pararam de caminhar quando Rhys e Feyre fizeram também, sendo recebidos por um macho de pele amarronzada e olhos dourados como ouro derretido. Possuía armas no corpo alto e robusto. Usava uma couraça no peitoral da mesma cor que os olhos, e nas pernas um tipo de túnica branca masculina estendia até as alturas do joelho, assim como grevas também douradas nas canelas.

Nada parecido com o estilo da Corte que ela pertencia, na verdade eram quase o oposto um do outro.

O macho de cabelos pretos e lisos, fez uma pequena reverência à Rhysand e Feyre, não tão baixa, o que significava que o feérico provavelmente possuía alguma patente alta no governo de Helion.

— Bem-vindos, senhores — O acampamento voltou a se dispersar, Gwyneth ainda não tinha visto Mahara ou Balthazar, nem o exército da resistência. — Sou Ândonidas, General das forças de Helion.

Ele retirou a mão da espada, colocando ambas atrás do corpo grande.

— Meu Grão-Senhor está esperando pelos senhores e sua Corte no palácio de Solaria.


𓆩*𓆪


Gwyneth, Emerie e Nestha esperaram as valquírias se estabelecerem na tenda montada para elas, antes de seguir caminho até a cidade, para onde Helion e o restante da Corte aguardavam.

Nestha estava um pouco nervosa, pois Cassian ainda não tinha chegado com o restante do exército illyriano, mas Rhysand acabou a tranquilizando dizendo que ele estaria ali daqui  poucas horas e que tinha conversado com o General mentalmente. Feyre não quis atravessar sem elas, então enquanto Gwyn, Emerie e Nestha ajudavam o restante das valquírias a se estabelecerem, a Grã-Senhora decidiu conferir o batalhão de Mahara ao lado de Morrigan, Rhysand e Azriel também aproveitaram para inspecionar o de Keir, para terem a certeza de que estava tudo certo antes de seguirem para a Corte Diurna.

Uma sombra de Azriel permaneceu ali, ondulando perto de seus cabelos e ela sabia que provavelmente tinha sido um comando de seu parceiro — ela nem sequer sabia que as sombras de Az conseguiam ficar um pouco mais distante dele, mas imaginou que por ser parceira dele, elas acabavam abrindo exceção para ela.

O toque gelado da sombra não a incomodava e Gwyn quase se inclinou contra ela, apenas para sentir o conforto de ter parte de Azriel junto à ela.

Quando acabaram, Nestha avisou Feyre mentalmente e logo os quatros estavam ali, se separando para atravessá-los. O General da Corte Diurna seguiria sozinho, como ele iria Gwyneth não sabia dizer.

— Tudo bem? — Azriel perguntou quando chegou perto dela, a mão grande tocando a sua cintura de leve.

Gwyneth estava prestes a responder que sim quando o baque surdo no solo chamou a sua atenção. Ela virou o rosto para trás dando de cara com um enorme cavalo alado, abrindo as asas grandes e impecáveis, abaixando a cabeça quando Ândonidas o elogiou e o acaricou, passando a mão no pelo branco e sedoso.

— Pela Mãe — Foi a voz de Emerie que tomou o seus ouvidos. — Um pégaso!

Algumas outras pessoas no acampamento paravam para ver a criatura rara, maravilhados. Gwyneth não conseguiu dizer nada enquanto observava o macho subir no cavalo com facilidade, tinha certeza que seus olhos brilhavam ao vê-lo.

Era lindo. E por Deuses... Gwyneth nunca achou que veria um tão de perto.

Nestha sorriu para a amiga e Azriel do seu lado soltou uma risada fraca. O dedo do seu parceiro tocou em seu queixo, e foi só quando ele o forçou de leve que Gwyn notou que sua boca estava aberta, não disfarçando o seu fascínio pela criatura. Feyre apontava para o cavalo para que Nyx pudesse vê-lo, e o pequeno herdeiro riu com alegria, alheio dos motivos do porque estavam ali.

— É lindo — sussurrou, o General de Helion arrumou as rédeas em suas mãos e em um comando, o pégaso bateu as asas.

Passou voando por cima dela, em uma graciosidade que quase ameaçou fazê-la abrir a boca outra vez. Seu parceiro abriu um sorriso leve no rosto, voltando a colocar a mão na sua cintura sobre o couro de combate.

— Nunca tinha visto um?

— Se o mini pégaso que a Casa conjurou conta como um, então sim — Gwyneth desviou os olhos do cavalo alado para encarar seu parceiro.

Nestha e Emerie riram, como se também tivessem se lembrado do caos que havia sido aquela noite .

— Aliás, sinto saudade dele — Nestha disse. — Ele era adorável, apesar de gostar mais da Gwyn do que de mim.

Gwyneth soltou uma risada fraca, ainda observando o pégaso bater as lindas asas em direção ao palácio. Emerie parou ao seu lado, também observando-o, quase com o mesmo encanto que ela.

— Bom, creio que já podemos ir — disse Rhysand, voltando para eles. — Helion já abaixou as barreiras, estamos liberados para atravessar.

Concordaram. Nestha pegou a mão de Feyre, depois de apertar de leve o nariz do sobrinho. Morrigan ofereceu o braço para Emerie e Azriel deixou as sombras envolverem os dois, antes de pegar sua mão e entrelaçar seus dedos. Gwyn  sentiu seu corpo caindo no vazio, envolvido por aquele toque gelado confortante.

Só sentiu os pés firmes no chão depois que as sombras se dissiparam, relevando o interior de uma das salas mais bonitas que ela já havia posto os olhos. As paredes brancas e lisas, os ornamentos dourados que envolviam as enormes colunas do cômodo, o piso de mármore também branco... Tudo ali era lindo.

Estava tão focada nos móveis e em toda decoração que nem sequer notou as estantes abarrotadas de livros. O acervo de Helion era tão grande que as estantes chegavam a encostar no teto. E foi só quando ergueu os olhos que notou a clarabóia arredondada que ornamentava o ponto mais alto do teto, permitindo que a luz do sol passasse de maneira extremamente calculada, iluminando cada canto do local e destacando aquilo que merecia ser destacado.

No centro, havia uma mesa grande e redonda, feita do mesmo material que as colunas brancas e douradas, uma grande insígnia de sol no centro dela. O símbolo da Corte de Helion.

Sentado na cadeira da ponta, estava o Grão-Senhor da Diurna. Elegante como sempre, vestindo suas habituais roupas brancas, o bracelete de cobra adornando o braço musculoso, sem sinal de coroa, mas longas tranças grossas caíam de lado do seu ombro, enfeitadas com anéis de ouro na ponta.

O sorriso felino de Helion se fez presente, deixando o macho ainda mais bonito. A pele negra brilhando com o raio de sol que recaía sobre ele. Gwyneth quase arquejou ao ver quem se sentava do seu lado.

A mãe de Lucien. A Senhora Outonal.

Bom, Gwyneth não tinha certeza se poderia chamá-la daquela forma, já que Kendra não parecia nada com a mulher que ela havia visto naquele baile. A mulher estava radiante, corada e saudável, os olhos vermelhos contrastando com o vermelho fogo do cabelo, que caía em ondas bem definidas atrás de seus ombros expostos.

Kendra vestia um vestido branco ombro a ombro, com detalhes dourados que remetiam ao fogo de sua família.

Ela não era mais Senhora Outonal. Não. O anel em seu dedo anelar, com metais específicos da Corte de Helion, deixava claro que a feérica nascida no fogo não desejava nunca mais carregar aquele título.

Ela era uma rainha agora. Uma que Beron nunca teria tido coragem de forjar.

— Acho que não me vesti corretamente para a ocasião — Rhysand brincou, caminhando até o amigo, no momento em que tanto Helion quanto Kendra se levantaram. — Obrigado por me receberem em sua Corte.

— Todos sabem que eu sempre serei o mais bem vestido de nós dois — Helion brincou, aceitando o cumprimento de Rhysand, batendo em suas costas logo depois. — Talvez fique atrás apenas de meu filho.

Escutar Helion chamar Lucien de filho parece ter alterado algo na sala, como se ainda não estivessem acostumados com a facilidade em que havia aceitado aquele fato, com a facilidade que tinha se posto na vida do filho. Kendra sorriu, cumprimentando Feyre e Nyx.

Morrigan abraçou o amigo de leve e felicitou Kendra pela união, antes de voltar a ficar ao lado de Rhysand e Feyre. Azriel, no entanto, permaneceu ali ao seu lado, com os braços atrás das costas, enquanto Helion caminhava até Nestha, o mesmo sorriso no rosto — o mesmo que Nes sempre ignorava.

Ele a cumprimentou com um beijo na mão, fazendo o mesmo com Emerie, e quando chegou em Gwyn, Helion sorriu abertamente, pegando em sua mão e olhando de esgueira para Azriel.

— Eu beijaria sua mão, Gwyneth — riu fraco. —, mas não quero ter que colocar o bonitinho em uma cela.

Azriel apenas encarou o Grão-Senhor, os olhos avelãs brilhando atrás do rosto sério, apenas um sorriso de canto repuxou os lábios de seu parceiro. Helion voltou a olhar para Gwyn.

— Parabéns pela parceria — Gwyneth corou quando Helion ignorou o olhar de Azriel e beijou sua mão, ela notou o momento em que o encantador conteve o grunhido. — Calma, garotão.

Helion riu, soltando a mão dela e olhando para o Mestre-Espião.

— Sou um macho casado agora — pausou, o sorriso ainda presente enquanto analisava o rosto do encantador. — Não fique tão triste com essa notícia, Azriel.

Seu parceiro revirou os olhos, ainda quieto, o que fez Rhysand e Feyre rirem, junto com Morrigan. Kendra apenas ignorou com diversão e disse:

— É um prazer receber vocês. — Um sorriso alargando em seus lábios. — Por favor, sintam-se à vontade, não temos intenção de fazer nada muito formal.

— Estou apenas esperando Lucien e Elain e começaremos — Helion caminhou até a esposa e envolveu a mão grande na cintura da fêmea. — Sentem-se por favor, o almoço será servido daqui a pouco.

As janelas amplas estavam abertas, o que permitia que uma brisa fresca entrasse no cômodo. Rhysand e Feyre caminharam ao lado de Helion e Kendra, conversando distraidamente, o mais velho fazendo uma piada com Rhys que arrancou uma risada sincera de Feyre e um rolar de olhos do Grão-Senhor da Noturna. Eles se sentaram lado a lado, com Nyx sentado no colo da mãe. Morrigan ao lado de Feyre.

Azriel arrastou a cadeira para ela se sentar, fechando as asas quando ela arqueou uma sobrancelha para ele em divertimento. O seu parceiro apenas deu de ombros e se sentou ao seu lado, ajeitando as asas de uma maneira confortável. Nestha e Emerie se sentaram logo depois, nas cadeiras de frente para os dois.

— Ele é lindo — Kendra disse, sorrindo para Nyx. — Que a Mãe abençoe a família de vocês.

A voz de Kendra era complacente, quase dolorida enquanto olhava para o bebê no colo de sua Grã-Senhora. Gwyn imaginava que a senhora já devia ter passado por muitos horrores envolvendo seus filhos, afinal já havia perdido três deles.

— Obrigada — Feyre sorriu, apertando a mão de Rhysand sobre a mesa. — Não queria trazer ele, mas não podia deixá-lo, espero que entendam.

— Não há problema nenhum — Helion disse.

O Grão-Senhor iria dizer mais alguma coisa, mas foi interrompido pelo som da porta se abrindo. Gwyneth desviou o olhar para o barulho. Lucien empurrava a porta com uma das mãos, enquanto a outra segurava uma série de livros. Ele a segurou por um momento, apenas para dar passagem para que a parceira passasse, segurando outros tomos.

Os dois estavam belíssimos, como sempre. O príncipe um pouco mais casual do que normalmente ficava, usando uma túnica branca solta, uma calça da mesma cor. Um cinto de couro rodeava a cintura dele, com algumas facas e adagas postas do lado. Lucien tinha o cabelo vermelho solto, porém algumas tranças pequenas adornavam a lateral dele.

Elain, que já era bonita, parecia ficar ainda mais bonita ali. Ela tinha o cabelo dourado preso em uma trança que se alongava até a sua lombar. Vestia um vestido branco, com estampa floral de detalhes bem leves de dourado, os ombros estavam desnudos, na orelha usava delicados brincos de pérola.

— Perdão pelo atraso — A Archeron do meio sorriu, gentil e educada como sempre. A princesa caminhou até a mesa e colocou os livros na superfície dela, olhando de ombro para Lucien, que fechava a porta. — Parece estar virando um hábito.

O herdeiro apenas bufou uma risada, colocando os livros ao lado da pilha de Elain. O rosto da Archeron parecia um pouco irritado, mas conteve um sorriso quando Lucien cutucou sua costela. O sorriso leve no rosto de Lucien sumiu aos poucos quando ele olhou para todos, cumprimentando com um aceno de cabeça.

A postura imponente emergiu e o príncipe perguntou, a voz séria:

— Já começaram?

— Estavámos esperando vocês — Helion disse. — Ayla e Ândonidas não participarão.

— Certo, então... — Lucien virou para Rhysand. — Algum avanço?

— Você ficaria surpreso.


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— Isso é ruim — Helion disse. — Se for verdade... É pior do que imaginávamos.

— Quer dizer que você estava certo, no final — Lucien disse, olhando para o pai. — Quer dizer que Koschei só está querendo trazer eles de volta, querendo cumprir o dever que lhe foi dado, que o deu a liberdade.

— Sobre o Inferno... — O Grão-Senhor da Noturna continuou. — Eu devia ter ligado os pontos.

— Então você já sabia da existência do Inferno?

Foi Nestha que perguntara.

— Muito pouco — murmurou. — Apenas boatos que foram espalhados por séculos, alguns dos meus estudiosos e historiadores já chegaram a procurar por mais evidências, mas... É difícil quando a história contribuiu para que isso permanecesse muito bem guardado.

— Então, Koschei quer se libertar por causa disso? — Morrigan perguntou — Só consegue trazer os Daglan de volta se estiver livre?

— Basicamente.

A voz de Elain tomou o cômodo, todos a encararam, as bochechas ficaram um pouco mais rosadas, mas a feérica continuou explicando:

— Estar preso impede ele apenas de fazer o bruto, mas ele conseguiu muitos feitos, mesmo estando preso, usando pessoas como Beron para conseguir o que queria — A Archeron entortou a boca, olhando para a mãe do parceiro, Kendra apenas sorriu de leve para ela, um indicativo de que ela poderia continuar. — Koschei não contou tudo que pretendia fazer para Beron, ele apenas deixou que o Grão-Senhor se encantasse pela palavra de que conseguiria expandir a Corte Outonal, que o transformaria em Grão-Rei dessas terras.

— Estúpido — xingou Morrigan, cruzando os braços.

— Bom, tudo agora faz mais sentido. — A voz de Helion invadiu seus ouvidos. — As bestas, as motivações de Koschei, a profecia... De qualquer forma, a nossa maior preocupação segue sendo manter Koschei dentro do lago.

— O que descobriram em relação a isso? — perguntou Rhysand.

Lucien se levantou, abrindo um livro com a aparência antiga e mofada. Um livro de feitiços pelo visto.

— É um feitiço antigo, feito por uma feérica estrelada. — Ele soprou algumas páginas, a poeira fazendo com que o nariz de sua parceira se engurasse. — Em quase todas as visões, Elain enxerga uma caixa preta, uma caixa que Koschei parece ter muito apreço.

Todos mantiveram a atenção no herdeiro.

— Quando Elain começou a treinar seus poderes, as visões começaram a ficar mais claras e ela conseguiu enxergar parcialmente a feérica que o prendeu no lado. — pausou, olhando para a parceira.

A Archeron continuou:

— Toda vez que me forçava a voltar nessa visão, ela me dava a mesma coisa. A caixa, a feérica e a insígnia da Corte Noturna. As três estrelas. A do meio piscando de forma mais brilhante. Nessa mesma ordem.

— Arktos, Carynth e Oristes?

Rhysand foi quem perguntou, Elain apenas confirmou com a cabeça.

— Há poucas semanas atrás, a visão se alterou. — Ela continuou. — Depois da estrela, eu vi três armas: duas espadas e uma adaga... a adaga de Azriel. No final a silhueta da feérica erguia uma delas, brilho emanando dela.

— Narben e Gwydion — Gwyneth sussurrou, do seu lado, os olhos saltando de leve. Azriel concordou, engolindo em seco. A pedra no busto de sua parceira se iluminou atraindo a atenção de Helion. — Qual era a ordem?

— Uma espada de obsidiana que emanava um tipo de escuridão gélida a esquerda, a maior delas no centro, brilhando e cantando, um brilho puro e branco e por último... A Reveladora da Verdade, com a lâmina de obsidiana envolta de sombras.

— As mesmas ordens das estrelas — disse Azriel, baixinho.

Suas sombras rondaram em volta do seu corpo, como se dissessem que ele havia matado a charada. A pedra no busto de Gwyn se iluminou de novo. Azriel voltou a olhar para sua parceira, antes de dizer:

— Se a feérica erguia a maior delas, ela erguia Gwydion — E se seguissem a ordem, se a visão de Elain significasse o que ele estava pensando, então a terceira estrela... — O nome dela é Carynth, ela erguia a espada, erguia Gwydion.

— Mas Gwydion pertencia a Fionn, como teria parado nas mãos de uma feérica que não fosse da sua linhagem?  — perguntou Rhysand.

— A questão era que ela era da sua linhagem — disse Lucien. — Meu pai encontrou um livro que datava a linhagem dos feéricos estrelados, que desenhava toda a árvore genealógica, começando por Fionn e Theia.

O príncipe olhou para o pai, Helion apenas estalou os dedos e um livro grande e com a aparência mais velha do que o outro que Lucien abrira caiu em cima da mesa, as páginas folheando sozinhas até parar em uma em específico.

— Fionn não teve apenas duas filhas — O Grão-Senhor da Diurna apontou para o livro. — A linhagem continuou fora do casamento... Fionn tinha uma bastarda.

O cômodo ficou em silêncio. Elain continuou:

— No livro o nome dela e da mãe dela está meio apagado, como se alguém tivesse decidido arrancá-las da história também. Mas... A linhagem é clara. Fionn teve uma filha bastarda e essa filha bastarda ergueu a espada em algum momento, antes dela desaparecer.

— Foi essa filha bastarda que prendeu Koschei no lago, foi ela que replicou esse feitiço. — Lucien colocou o livro na mesa. — Um feitiço que envolve sangue e alma. Ela despedaçou qualquer que fosse feito a alma dele em três pedaços, a maior parte está na caixa que ele tem tanto apreço, as outras duas... As outras duas partes não sabemos onde pode estar e é isso que Elain está tentando descobrir agora.

— A outra parte do feitiço envolve o sangue do próprio Koschei — Helion explicou. — Foi assim que ela o selou no lago, derramando o sangue dele e recitando as palavras antigas daquele livro.

— Mas e as valquírias e Vassa? Por que mantê-las no lago, porque amaldiçoá-las?

Feyre ninou um Nyx no colo. Azriel pôde jurar que viu a expressão no rosto de Lucien mudar para algo como tristeza ao escutar o nome da Rainha, como se estivesse ressentido por ainda não ter solucionado o problema.

— Existe uma brecha no feitiço, uma ponte que a filha de Fionn não conseguiu fechar por completo. — Elain apoiou as mãos na mesa. — Mesmo que tenha prendido a matéria física de Koschei, ele ainda consegue sussurrar pelas sombras, pelo vento, ainda consegue tecer encantamentos... E qualquer coisa que morre ou apodrece naquele lago é uma fonte de energia para ele.

— Mas depois que se decompõe já não tem mais utilidade para ele, então ele notou que quando se trata do lago, as coisas tem mais utilidade quando permanecem vivas — Lucien explicou. —  Porque se os mantém vivos, então tem do que se alimentar o resto da vida, tem o que mantê-lo forte.

— Algumas valquírias tiveram uma missão nas Terras Humanas contra a ameaça da guerra...

O murmúrio saiu de Gwyneth, que segurava a pedra de sacerdotisa no punho, uma tentativa de impedir que a luz continuasse brilhando. Sua parceira tinha os olhos perdidos na mesa como se estivesse se lembrando dos estudos árduos que havia feito sobre as antigas guerreiras.

— Sim, mas na verdade era apenas uma armadilha. Koschei estava enfraquecendo e aliados haviam lhe contado sobre o grupo de guerreiras que estava dizimando guerreiros, que estava avançando em tropas inimigas com facilidade — Lucien explicou. — Então os aliados de Koschei as atraíram para o lago, o intuito de Koschei era matá-las e afundá-las no lago, para que ele pudesse sugar a vida delas e se fortalecer por mais alguns anos, mas...

— Foi nesse momento que ele percebeu que elas seriam mais úteis vivas — Emerie completou o raciocínio, Helion afirmou com a cabeça. — Era por isso que receberam ordens para não nos matar... É por isso que deixaram Nadia viva.

Azriel se lembrou de quando havia interrogado a garota illyriana que havia perdido o companheiro nos calabouços de Devlon. Lembrava de ter escutado o capanga do lorde illyriano dizer que não podia matar ela, que Devlon queria ela viva, que Beron queria ela viva. Queria as valquírias vivas.

O sangue de Azriel esquentou.

— Ele precisava de algo para disfarçar, para manter as valquírias ali sempre com ele, precisava de algo para encobrir o cheiro delas, a verdade — Helion continuou, o olho ainda fixo no livro de linhagem feérica. Azriel de alguma forma sabia que o Grão-Senhor não tinha dito tudo. — Os cisnes eram o disfarce perfeito.

— E ninguém realmente desconfiou por todos esses quinhentos anos.

Nestha suspirou horrorizada.

— Isso não explica Vassa — Rhysand olhou para Helion. — Vassa não foi transformada para sempre, ela ainda se transforma em mulher à noite... Koschei permitiu que ela saísse.

— Vassa foi vendida para ele.

A atenção voltou para o filho de Helion, ainda em pé. Todos sabiam daquele fato, de que Vassa tinha sido entregue pelas irmãs.

— A verdade é que Koschei é um bom barganhador e consegue aliados fiéis prometendo algumas poucas coisas — Lucien continuou. — As irmãs de Vassa precisavam se livrar dela para não estragarem a aliança com Hybern, e não pensaram duas vezes em entregá-la para ele. Ele fez um acordo com elas... Manteria Vassa no lago, contanto que elas entregassem parte da alma delas para que ele usasse em algum momento.

— E ele usou — Nestha disse baixo, o rosto preso em uma expressão perturbada. — Usou e controlou a rainha para procurar pelos Tesouros Nefastos, para coletá-los para ele.

Helion concordou. A cabeça de Azriel rodou, as coisas começando a se tornarem cada vez mais claras. O plano de séculos de Koschei finalmente vindo à luz, tudo isso para se libertar e trazer os mestres os quais ele devia de volta para Prythian, para que eles pudessem voltar a drenar a magia.

— Mas meu pai — Feyre engoliu em seco. — Meu pai barganhou com Koschei para levar Vassa para a guerra, para me ajudar, para nos ajudar... O que ele prometeu para Koschei? O que ele sabia?

Sua Grã-Senhora havia perguntado mais para ela do que para qualquer outra pessoa no cômodo. Helion se ajeitou na cadeira, olhando para a esposa, para o filho, para a parceira dele, antes de finalmente voltar para Feyre.

— Tem algo que você precisa saber. — O tom era sério quando os olhos dourados se direcionaram para Nestha. — Que vocês precisam saber.

Helion se levantou, levando o livro mais para o centro da mesa. Feyre olhou atordoada para o amigo, Rhysand encarou o Grão-Senhor da Noturna com o cenho franzido. As sombras de Azriel sussurraram em seu ouvido de que seu irmão e senhor não sabia do que Helion estava falando — apesar de sua mania irritante de esconder tudo deles.

— Esse livro estava esquecido há muito tempo em uma das minhas bibliotecas, só o achamos porque ele — Helion suspirou. —, ele possui uma magia e cataloga a linhagem estrelada continuamente, sozinho, como se tivesse sido encantado para isso, para continuar a contar a história real de alguma forma.

O cômodo continuou completamente em silêncio.

— Há cinco meses atrás, um dos meus estudiosos o encontrou lacrado. E só o encontrou porque o livro literalmente quis ser encontrado. Ele tremeluzia e cantava, brilhando. — O Grão-Senhor encarou Feyre, ainda confusa, encarou Nestha, visivelmente perdida. — Eu não consegui abrí-lo de primeira, precisei de todos esses meses, estava selado e lacrado com um feitiço poderoso.

Por algum motivo, Azriel sentiu o coração acelerar.

— Bom, ele está aberto agora — Rhysand quebrou o silêncio.

— Sim — Helion ainda estava sério, quando folheou para a última folha. — E esse é o último nome escrito, há cinco meses atrás.

Os olhos de Rhysand e Feyre arregalaram completamente, e em um instinto de proteger seus senhores, Azriel se levantou, Nestha se levantou logo atrás dele. Emerie e Gwyneth ficaram atentas, mas todos paralisaram quando Feyre colocou a mão na boca e sussurrou:

— É o nome do Nyx — Ela encarou Rhysand, que ainda estava petrificado no lugar. — É o meu filho.

Azriel caminhou até seus Grão-Senhores trêmulos, os olhos avelãs colaram na última página do livro, no único nome,  onde a tinta mágica havia escrito com todas as letras: "Nyx Archeron".

— Então eu pesquisei, puxei a linha que o nome de Nyx levava e... — O livro folheou sozinho novamente, fios dourados surgindo entre eles. — Fionn e Theia tiveram duas meninas, uma fez a travessia com a mãe, a outra de alguma forma conseguiu voltar para o mundo de origem.

Rhysand encarou o amigo, o rosto completamente atônito.

— A filha que voltou — Helion pegou um fio dourado que saía do livro e o puxou. O livro parou em uma folha exata. Uma folha onde a linhagem da família do pai de Rhys apareceu. —, deu origem a sua linhagem, Rhysand.

Feyre engoliu em seco, segurando Nyx com mais força no colo.

— A filha bastarda de Fionn, a que prendeu Koschei no lago  — O Grão-Senhor da Diurna puxou outro fio, um oscilante e vacilante, aquele que tinha sido propositalmente apagado. As folhas folhearam mais devagar, como se o livro procurasse pela conexão, e quando parou, quando abriu a página. Nestha se levantou rapidamente, se pondo atrás de Feyre. —, a linhagem aos poucos se perdeu entre os humanos, mas...

O sobrenome "Archeron" estampado no livro seguindo o fio que conectava até a filha de bastarda de Fionn, fez Feyre e Nestha estremecerem. Helion encarou as duas, depois levou os olhos para Elain, que não parecia tão surpresa quanto as duas irmãs.

— O pai de vocês de alguma forma sabia que o sangue de vocês carregavam linhagem feérica, sabia que carregava linhagem feérica poderosa. — O Grão-Senhor da Diurna dirigiu o olhar para Feyre. — Foi isso que ele ofereceu para Koschei, foi o conhecimento da linhagem de vocês. Era o destino de vocês três se tornarem feéricas...

Azriel nunca tinha visto Rhysand tão petrificado. Helion ajeitou a postura, engolindo em seco.

— Vocês são descendentes de Fionn — A voz era imponente. — Vocês fazem parte da linhagem de estrelados e Nyx... Nyx é o primeiro a carregar a linhagem há mais de 29 anos.

— Vinte e nove anos? — perguntou Nestha, trêmula e confusa.

— Quem?

Rhysand perguntou, a voz rouca.

Azriel sentiu o coração galopar em seu peito, e como se uma chave tivesse virado em sua mente ele voltou os olhos para a sua parceira. A pedra em seu busto emanou uma luz forte azulada e brilhante. Gwyneth a segurou com força, voltando a olhar para ele no mesmo segundo, os olhos azuis assustados. O encantador sentiu o choque que ela sentiu, quando Helion encarou Gwyneth e disse:

— A descendente de Oleanna.





EITA QUE VAI PRECISAR DE ALGUNS SEGUNDOS PARA DIGERIR ISSO AÍ EIN! Mas eu entendo caso me julgarem, eu sou louca e minha cabeça funciona de maneiras perturbadas, e é por isso que eu entrego essas maluquices para vocês!

Enfim, não vou falar muito, vou deixar vocês colocarem a cabecinha para funcionar e é isso. Peço desculpa pela demora, mas esse capítulo precisava de muita atenção, e caso tiver algum errinho, me perdoem.

Enfim, se gostarem gente, por favor comentem bastante e deixem um favorito, isso MOTIVA MUITO. De novo, muito obrigada pelo carinho, amo vocês, e me sigam no twitter e no tik tok o user é anewritter. Beijinhos <3

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