Ousado Amor

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Ousado Amor

Scrisă de: VictorieLopes

"Há sempre alguma loucura no amor. Mas há também alguma razão na loucura." - Friedrich Nietzsche

Parte 1: Penumbra

Reino de Valência

Século XIX

Um mês havia se passado. As pessoas ainda corriam pelo reino e pelo palácio; ainda se perguntavam quem foi o assassino do rei Dimitri Volkov.

Aos trinta e sete anos, morto à sangue frio; ao menos, era o que diziam aqueles que viram o corpo. O funeral foi digno de um rei: música fúnebre, flores lindíssimas, lágrimas e longos discursos por parte da nobreza.

Não fazia parte daquilo. Não era esposa de um duque ou filha de um conde; estava longe de possuir o sangue real. Minha função era servir bebidas e reverenciar àquelas pessoas como se fossem Deus. Naquele dia, minha função também foi ser egoísta o suficiente — comigo mesma — e sufocar a dor lancinante que consumia cada canto do meu ser.

O funeral do rei Dimitri foi suficientemente triste, entretanto, a penumbra que estava instalada dentro de mim, sobressaía ao pranto de qualquer um que estivesse dentro do salão real.

E não! Eu não estava exagerando.

— Valentina Deveraux! Estou falando com você. — Senhora Natasha gritou.

Meu pensamento estava distante. Ainda presente naquele dia negro. O mesmo dia em que o rei Dimitri foi assassinado.

— Perdão, senhora Natasha. O que dizia? — Pisquei algumas vezes e voltei minha atenção para a mulher a minha frente.

— Seja mais atenta, da próxima vez. — Seu olhar reprovador foi indiferente pra mim. — Leve o chá para o príncipe Klaus. Ele está no escritório do nosso digníssimo e falecido rei. Que Deus o tenha. — Senhora Natasha estampou uma expressão triste, através de um suspiro.

— Sim senhora. — Engoli em seco e peguei a bandeja.

Saí da cozinha e me dirigi até o escritório do rei. Teria que subir alguns lances de escada. Já estava acostumada com aquilo tudo. Trabalhava no palácio há sete anos. Fiquei no lugar de mamãe, depois que ela se foi.

As pinturas da família real, espalhadas pelas paredes já não me chamavam mais atenção. Quando cheguei próximo ao escritório, vi a porta entre aberta. Estranhei a ausência de guardas. O rei tinha sido assassinado e o príncipe — único herdeiro do trono — arriscava sua segurança, ficando à mercê de qualquer perigo. Cautelosa, aproximei-me da porta. Meu coração palpitou forte no peito, assim que ouvi sua voz.

Naquele momento, pude entender o motivo do rei estar "desprotegido". Arthur Fontaine estava com ele.

Parte 2: Memórias do coração

Da janela, observava a lua cheia. Pensava nele. Era inevitável não pensar. Em pouco tempo, estaríamos juntos, contemplando a beleza da lua.

Mamãe ficaria no palácio aquela noite. Apesar de estar sozinha, não sentia medo. A felicidade instalada em mim era algo sublime.

Assustei-me quando o vi na janela. Logo soltei um riso baixinho.

— Donzela. — Ele sorriu.

— O que faz aqui? Está maluco?

— Não aguentei a saudade.

Suas palavras me desarmaram. Ele pulou a janela e aproximou-se de mim. Seus braços envolveram-me e ele beijou-me com paixão. Sabíamos que era errado. Porém, literalmente, no calor do momento, não fomos capazes de resistir à concupiscência de nossa carne. Amamo-nos como se fosse a primeira e a última vez.

E, de fato, foi.

Bati na porta. Entrei, assim que ouvi a permissão do príncipe. Como imaginava, nossos olhares atraíram-se imediatamente. Ele parecia surpreso e carregava consigo mais uma gama de emoções que não era capaz de definir se eram boas ou ruins.

Reverenciei o príncipe e larguei a bandeja sobre a mesa do escritório, conforme sua ordem. — Está tudo bem, senhor Fontaine? — Príncipe Klaus questionou.

Ouviu-se o silêncio, por alguns instantes, enquanto me dirigia à saída.

— Sim, alteza.

Deixei o escritório em passos ligeiros. Procurava respirar e inspirar, manter-me calma. Entretanto, era impossível. Depois de quase onze anos, ele resolveu voltar. Era crucial que não deixasse sua presença me afetar. Eu deveria ficar tranquila. Por ela.

Depois de chegar à cozinha, ajudei a fazerem o jantar. Fiquei a maior parte do tempo calada. Meus colegas de trabalho sabiam o porquê e não ousavam me perguntar nada sobre o ocorrido. Ouvia a conversa de todos. Diziam que o príncipe Klaus chamou Arthur Fontaine para encontrar o assassino do rei Dimitri.

Arthur Fontaine — de acordo com meus cálculos — tinha 29 anos e uma mira excelente. Cresceu brincando com facas, espadas e arcos-flecha. Há onze anos, partiu de Valência, junto com o pai, o qual trabalhava como justiceiro. Pelo visto, Arthur seguiu o mesmo caminho.

— Valentina. — Dafne chamou-me. — Como Rose está? — Podia sentir a cautela em cada uma de suas palavras.

Suspirei pesadamente.

— Destruída. — Abaixei o olhar. — Mas vamos sobreviver a tudo isso. Tenho fé que sim. — Tornei a encará-la.

— Você é forte, mulher. Mais do que imagina. — Dafne deu dois tapinhas em meu ombro.

E, diferente do que ela disse, sabia muito bem até onde minha força era capaz de ir.

Assim que entrei em casa, dispensei Margareth, a cuidadora. Já eram quase dez horas e Rose já dormia. Dei um beijo em minha menina. Ela continuou com os olhinhos fechados. Tão pequena, mas já havia enfrentado muitas coisas.

Nossa casa era pequeníssima. A cozinha era simples, assim como nosso quarto e o minúsculo banheiro. Foi o que herdei de mamãe e o que ela conquistou com o suor de seu rosto, lavando o chão e servindo chá no palácio. Meu pai morreu de pneumonia quando eu tinha seis anos.

Éramos apenas Rose e eu. Há muito tempo. Os comentários e os olhares que alguns me lançavam por ser mãe solteira já não me afetavam mais. Tinha que ser forte e dar uma vida digna a minha filha.

O fogo ainda estava aceso. Comi o que sobrou da sopa e procurei me aquecer. Foi o instante em que a saudade bateu. Não levou muito tempo para que as lágrimas silenciosas rolassem, levando-me — mais uma vez — ao apogeu da dor e do desespero.

— Você não mudou nada.

Assustei-me ao ouvi-lo. Embora o fato dele ter entrado sem que eu percebesse não tenha me surpreendido. Seu trabalho envolvia se esconder nas sombras.

— Não tem o direito de entrar na minha casa desta forma. — Ficamos frente à frente.

— Eu entendo que sinta raiva, mas...

— Raiva? Ah, me poupe, Arthur! Você me usou e sumiu. Por quase onze anos. Me deixou sozinha e sem honra. — Interrompi-o. Naquele momento, chorando por mais motivos do que gostaria.

— Meu pai precisava de mim.— Sua voz elevou-se.

— Fala baixo.— Falei entre dentes. — Eu também precisava de você... — Enxuguei meu rosto.

— Às vezes, temos que fazer algumas coisas que não queremos por aqueles que amamos. — Respirou fundo. — Você não entenderia.

— É aí que você se engana. — Olhei no fundo de seus olhos. — Entendo mais do que você imagina.

— Valentina... — Engoliu em seco. — Ainda amo você. Nunca deixei de amar. — Ele tentou tocar meu rosto, mas o afastei.

— Ficou quase onze anos me amando à distância? — Crispei os olhos.

— Jurei a meu pai que seguiria seus passos e faria justiça. Você sabe muito bem como minha mãe morreu. Sabe que foi por isso que meu pai entrou nessa vida. Ela foi assassinada sem dó nem piedade. Faço isso por amor, pra tentar proteger pessoas.

Apesar de não querer, entendia o significado de cada uma das suas palavras. A mãe de Arthur foi assassinada por saqueadores, dentro da própria casa. Os homens abusaram dela. Arthur tinha apenas oito anos e viu tudo.

Ele tocou meu rosto. Fechei os olhos e procurei descansar meu coração revolto. Uma tarefa quase impossível.

— Eu precisei de você. — Disse, ainda de olhos fechados.

— Estou aqui agora.

Pude sentir sua respiração aproximar-se de meu rosto. Não demorou muito para que ele unisse nosso lábios. Arthur Fontaine beijou-me com a mesma paixão de antes. Talvez, ainda mais avassaladora.

Afastei-me quando percebi que aquilo não era certo.

— Não voltou por minha causa.

— O príncipe me contratou para encontrar o assassino do rei Dimitri. Mas, devo admitir, que será mais difícil do que imaginei. — Passou as mãos pelos cabelos, freneticamente, parecendo pensar. — O assassino foi profissional. Não havia nada que pudesse incriminar alguém. O reino também estava em paz com os reinos vizinhos. Não faço ideia de quem foi ou o porquê.

— Valência está um caos. As pessoas estão cada vez mais pobres; eram vítimas do rei. Por mais desumano que soe, ele mereceu aquela flecha em seu peito.

A raiva saiu explícita em cada uma das minhas palavras. Junto do arrependimento em dizê-las. Respirei fundo, sentindo o olhar incrédulo de Arthur sobre mim.

— Como sabe que o rei foi morto com uma flecha? — Ergueu as sobrancelhas.

— Ouvi no palácio. Todos sabem que aquelas paredes têm ouvidos. — Dei de ombros. — Está mentindo. Posso ter ficado muito tempo longe, mas ainda sei quando mente. Nos conhecemos desde crianças.

— O que está sugerindo? — Abri a boca em espanto.

— Os únicos que viram o corpo na cena do crime foram o príncipe Klaus, e dois guardas. Ele me garantiu que ninguém soube a forma como o rei foi assassinado, Valentina. — Suas palavras eram carregadas de desespero.

Meus olhos marejaram.

Parte 3: Ousado amor

— Majestade, aqui está o chá. Precisa de mais alguma coisa? — Indaguei.

— Na verdade, você seria algo muito prazeroso neste momento, mulher.

Senti nojo quando ele tentou me agarrar à força. Ele podia ser o rei, mas não permitiria que ele fizesse aquilo comigo. Mordi sua boca quando ele tentou me beijar. Ele gemeu de dor. Aproveitei sua distração e dei um tapa em seu rosto.

— Nunca mais faça isso, cretino. — Vociferei.

— Saia daqui. Mas saiba que vai se arrepender disso.

E me arrependi amargamente.

Naquele fim de tarde, estava chegando perto de casa quando avistei o tumulto. Em frente a minha casa. Corri. Quando meus olhos contemplaram àquela cena, gritei. Senti meu coração quebrar como vidro. Ajoelhei-me diante do corpo de Adeline. Minha filha estava com uma flecha atravessada em seu peito. Rose, chorava inconsolável, diante do corpo da irmã gêmea.

Ninguém soube me dizer de onde tinha vindo a flecha. Suspeitaram que foi um acidente. Entretanto, quando a flecha foi retirada do corpo de minha menina, pude ler as palavras "disse que se arrependeria". Foi o suficiente para eu saber quem tinha feito aquilo.

Naquela noite, depois de sepultar minha filha, deixei Rose com Margareth e fui para o palácio. Mamãe foi uma das empregadas de confiança da antiga rainha, portanto, ensinou-me todas as passagens secretas. Foi por uma dessas passagens que cheguei ao quarto do rei.

Ele estava dormindo. Tranquilo.

Não hesitei em enfiar em seu peito a mesma flecha que ele mandou acertar a minha filha.

Seus olhos se abriram por alguns instantes. A última coisa que ele viu e ouviu, foi a mim. Dizendo que o amor leva-nos a cometer loucuras. E que, no fim das contas, foi ele quem mais se arrependeu.

— Meu Deus, Valentina! Foi você.

Soltei o pranto que estava preso. Busquei conforto nos braços de Arthur, mas ele não retribuiu o abraço.

— Mamãe, está tudo bem?

Sequei meu rosto com a manga do vestido. Rose estava na porta do quarto. Olhava-nos assustada. Fui até ela e a abracei.

— Está sim, meu amor. — Beijei o topo de sua cabeça. — Rose, este é o senhor Arthur Fontaine. Um velho amigo da mamãe. Arthur, esta é Rosalie, minha filha.

Arthur olhou-me perplexo, porém, sorriu para Rose.

— Você é uma moça muito bonita, Rosalie. Quantos anos tem?

— Dez anos, senhor. — Minha filha respondeu. — Iria achar minha irmã, Adeline, muito bonita também. — Rose estampou uma expressão triste, partindo meu coração novamente.

Se é que isso fosse possível.

— E onde ela está? — Arthur perguntou.

Engoli o choro. Ele percebeu.

— Ela morreu. Levou uma flechada no peito. Eu vi tudo, mas não pude ajudar.

— Não foi culpa sua, princesa. — Apertei-a contra mim. — Já expliquei que, assim como você, sua irmã era muito especial. E Deus resolveu levá-la para pertinho dele. E deixou você comigo.

— Eu te amo, mamãe.

— Também amo você.

— Vou dormir. — Ela bocejou. — Boa noite, senhor Fontaine.

— Boa noite, Rosalie.

Esperei Rose deitar-se e fechei a porta do quarto. Arthur olhou-me. Provavelmente, buscando encontrar a saída daquele labirinto.

— Fui levar o chá para o rei. Ele tentou me agarrar e eu não permiti. Dimitri disse que eu me arrependeria. — Voltei a chorar. — Quando estava chegando em casa, minha filha estava morta, com uma flecha no peito. E o pior de tudo é que estava escrito: disse que se arrependeria.

Então, Arthur me deu o abraço mais acolhedor que eu poderia ganhar. Ele tentava formular palavras, mas nada saía.

— Então... Você entrou no palácio e matou o rei. Presumo que usou as passagens secretas que sua mãe lhe mostrou quando trabalhava lá; me falou sobre elas

quando namorávamos... O que fez foi loucura! Você se vingou por sua filha. — Concluiu. — Não foi loucura... Nem vingança. Foi amor. Amor de mãe. — Corrigi-o.

— O príncipe não vai parar, enquanto não encontrar o culpado. Inclusive, ele vai emitir um decreto para ninguém deixar a cidade, enquanto o assassino não for encontrado e morto. — Arthur afagava meus cabelos.

— Se algo acontecer comigo, prometa que cuidará de Rosalie. Afinal, assim como Adeline, ela também... Ela também é sua filha.

Mirei o fundo de seus olhos. Pude ver que Arthur já imaginava aquilo, mas só esperava minha confirmação.

— Ela tinha o nome da minha mãe.

Nunca mais imaginei vê-lo daquela forma: chorando; inconsolável; quebrado. Ficamos as próximas horas abraçados. Chorando por nossa filha, até que adormeci em seus braços.

Acordei com Rose me sacudindo. Já era manhã. Levantei-me e não havia sinal nenhum de Arthur. De certa forma, temia por meu futuro. Pelo futuro de Rose.

Margareth chegou para ficar com ela e fui para o palácio. Chegando lá, podia notar os funcionários cochichando pelos cantos.

— Dafne, o que aconteceu? — Questionei a minha colega.

— Encontraram o assassino do rei. Vai ser morto daqui a pouco, em frente ao palácio. Meu coração bateu depressa. Segui, junto dos outros funcionários, para frente do palácio. Mais uma vez, eu quis gritar, ao sentir uma dor que não matava, mas que doía como se eu fosse morrer.

Vê-lo com a corda no pescoço despedaçou-me. Seus olhos, como sempre, encontraram os meus, em meio à multidão que se formava.

— Povo de Valência. — O príncipe Klaus chamou atenção de todos. — Eis o assassino do nosso amado rei, Dimitri Volkov. Arthur Fontaine confessou que matou nosso amado rei, procurando pelas joias da coroa. Agora, ele pagará por isso.

Não houve tempo de uma despedida ou um último beijo. Não tive como dizer que também o amava. Arthur Fontaine tinha o doloroso costume — ao menos pelo meu ponto de vista — de partir da minha vida sem me dar a chance de dizer adeus.

Entretanto, o que mais doía, era saber que ele nunca retornaria.

Disse à senhora Natasha que estava passando mal e fui para casa. Precisava ver Rose. Precisava sentir que ainda estava viva. Margareth foi embora, deixando apenas minha menina e eu.

— Mamãe, o papai pediu pra eu entregar pra você, depois do meio dia.

Assustei-me com suas palavras e com o papel que estava em suas mãos.

— O que está dizendo, Rosalie?

— O Arthur. Antes de ir embora, ele me deu um beijo, disse que me amava muito e que era meu pai. Também disse que sempre estaria comigo, mas como eu tinha a senhora, ele ia ficar junto da Adeline, mas eu não podia chorar ou ficar triste.

Abracei minha filha, como se estivesse abraçando Arthur e Adeline também.

Desdobrei o papel, sentindo emoções demais para um ser humano só.

"Valentina, sei que não tivemos a história que merecíamos. No entanto, posso dizer que nossa história de amor foi bela, única e tragicamente épica. Cuide de Rosalie, ela é uma menina incrível. Espero que me perdoem por não ter feito parte disso, por não ter sido o pai que deveria. Perdoe-me por ter partido sem dizer adeus. Amanhã, quando estiver lendo isso, saiba que tudo já estará resolvido. Você e Rose poderão viver em paz. Deixei uma generosa quantia dentro do baú da lenha. Tenham uma boa vida, sigam em frente. Se não desejarem fazer isso por mim, façam por Adeline. E nunca esqueça, meu amor, eu ainda te amo e cometeria qualquer loucura — por você e por nossas filhas — em nome deste ousado amor." 

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