Parte 8 - Ausência

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Auditório da Brown University, 2018

O auditório estava repleto, a presença imponente da Professora Lauren Jauregui preenchendo o espaço com uma aura de sabedoria e experiência. Os alunos, ávidos por conhecimento, ouviam atentamente enquanto ela discorria sobre a intersecção entre filosofia e literatura, um tema que lhe era caro e que havia moldado sua carreira acadêmica. Ao abrir o espaço para perguntas, um jovem estudante levantou a mão, sua expressão demonstrando um interesse genuíno e uma curiosidade intensa.

- Professora Jauregui, o que Deleuze dizia sobre a ausência dentro de sua filosofia e como a senhora vê isso refletido na literatura? - perguntou ele, sua voz ecoando no auditório silencioso.

Lauren pausou por um momento, refletindo sobre a profundidade da questão. Seus olhos brilharam com a luz do entendimento, e ela sorriu antes de responder.

- A ausência, dentro da filosofia de Deleuze, é um conceito bastante complexo e multifacetado. Deleuze não via a ausência como uma mera falta ou vazio, mas como uma presença potencial de algo diferente, uma abertura para a criação e transformação. Na obra dele, a ausência não é simplesmente a falta de presença, mas um espaço onde novas possibilidades podem surgir.

Ela fez uma pausa, observando a reação dos alunos, antes de continuar.

- Na literatura, isso se reflete de várias maneiras. Pensem, por exemplo, nas lacunas e silêncios em uma narrativa. Esses espaços não são apenas ausências de palavras ou eventos, mas oportunidades para o leitor preencher com sua própria imaginação e interpretação. A ausência, nesse sentido, é criativa e generativa, convidando o leitor a participar ativamente da construção do significado.

Lauren prosseguiu, sua voz carregada de paixão e conhecimento.

- Um excelente exemplo disso é o trabalho de Virginia Woolf. Em seus romances, especialmente em "Ao Farol", Woolf utiliza a ausência - a passagem do tempo, a morte de personagens - não como meros vazios, mas como momentos carregados de significado e potencial. Esses espaços vazios permitem ao leitor contemplar o fluxo da vida, a impermanência, e a própria natureza da existência. Woolf, assim como Deleuze, nos mostra que a ausência pode ser um ponto de partida para novas percepções e entendimentos.

A professora fez uma pausa, olhando para o auditório com um olhar penetrante.

- Deleuze nos desafia a ver a ausência não como algo a ser temido ou lamentado, mas como uma parte essencial do processo de criação. Na literatura, isso se traduz na capacidade de um texto de ressoar além de suas palavras, de criar significados e emoções no que não é dito, no que é deixado para o leitor descobrir e experimentar.

O auditório estava em silêncio, todos os olhos fixos em Lauren, absorvendo cada palavra. A profundidade de sua explicação parecia tocar algo essencial em todos presentes, uma compreensão mais rica do papel da ausência tanto na filosofia quanto na literatura.

Lauren continuou, com os olhos brilhando ao ver a resposta positiva do público.

- Portanto, a ausência, seja em Deleuze ou na literatura, não é um simples vazio. É um espaço de potencial, uma abertura para a criação e a transformação. E é essa capacidade de transformar ausência em presença, silêncio em significado, que torna a literatura e a filosofia tão profundamente interligadas e infinitamente fascinantes.

Os alunos começaram a aplaudir, reconhecendo não apenas a erudição de Lauren, mas também sua habilidade em tornar conceitos complexos acessíveis e relevantes. A pergunta sobre a ausência havia se transformado em uma aula sobre a essência da criação, um momento de aprendizagem que muitos ali levariam consigo muito além das paredes do auditório.

Enquanto o aplauso diminuía, uma nova mão se levantou no fundo do auditório. Quando Lauren olhou, seu coração quase parou. Era Camila. O tempo parecia desacelerar enquanto ela processava a presença inesperada. Camila, com um olhar determinado e uma leveza que Lauren conhecia bem, fez a pergunta que trouxe de volta uma onda de memórias e emoções.

- Professora Jauregui, - começou Camila, sua voz clara e firme. - A ausência de algo na vida pessoal dos autores pode fazer com que o eu lírico se torne mais melancólico? Ou será que nem sempre autores com problemas de melancolia deixam esse rastro de identidade em seus escritos?

Lauren ficou momentaneamente sem palavras, surpresa pela presença de Camila e pela profundidade da questão. Recuperando-se rapidamente, ela sorriu levemente, reconhecendo a importância da pergunta e a coragem necessária para fazê-la.

- Essa é uma excelente pergunta, Professora Cabello, - Lauren respondeu, seu tom ligeiramente mais suave, como se falasse diretamente com a amiga de longa data. - A ausência e a melancolia são temas profundamente entrelaçados na literatura. A vida pessoal dos autores, suas experiências e, claro, suas ausências e perdas, muitas vezes influenciam suas obras. Mas isso não significa necessariamente que todos os autores que experimentam melancolia deixem um rastro explícito disso em seus escritos.

Ela fez uma pausa, reunindo seus pensamentos.

- Pensemos em Emily Dickinson, por exemplo. Sua poesia muitas vezes reflete uma profunda melancolia e uma exploração do vazio e da ausência. Suas experiências pessoais de reclusão e perdas influenciaram claramente seu trabalho. Mas, ao mesmo tempo, sua escrita não é apenas um espelho de sua melancolia; é também uma busca incessante por significado, um diálogo contínuo com a ausência. No entanto, nem todos os autores lidam com a melancolia da mesma maneira. Virginia Woolf, por exemplo, tinha uma vida marcada por altos e baixos emocionais, mas sua obra vai além de suas próprias experiências de melancolia. Woolf usava sua escrita para explorar a mente humana, o fluxo do tempo e a complexidade das relações interpessoais. Em seus romances, vemos a presença da melancolia, mas também a presença da resistência, da busca por compreensão e do desejo de capturar a beleza efêmera da vida.

Lauren continuou, agora completamente imersa na resposta.

- A melancolia pode ser uma força criativa poderosa, transformando a ausência em algo tangível, algo que o leitor pode sentir e explorar. Mas a relação entre a vida pessoal do autor e sua obra é complexa e multifacetada. Nem sempre é direta ou óbvia. Muitos autores conseguem transcender suas próprias experiências, usando a melancolia como um ponto de partida para explorar questões universais, sentimentos compartilhados por muitos.

Ela olhou para Camila, sentindo uma conexão profunda naquele momento, como se suas palavras fossem uma ponte entre o passado e o presente.

- Em última análise, a ausência e a melancolia na literatura não são apenas reflexos da vida pessoal dos autores, mas também convites para os leitores se envolverem, refletirem e encontrarem seus próprios significados nos espaços entre as palavras.

O auditório estava em silêncio, absorvendo cada palavra. Camila sorriu, satisfeita com a resposta. Lauren, por sua vez, sentia uma mistura de alívio e emoção, ciente de que aquele momento havia trazido à tona não apenas uma discussão acadêmica, mas também uma reconciliação silenciosa de sentimentos e memórias compartilhadas.

O tempo passou rapidamente após a intensa troca de ideias entre Lauren e os alunos. A palestra de Lauren sobre a intersecção entre filosofia e literatura, especialmente a exploração de Deleuze e a ausência, tinha sido um sucesso retumbante. Os estudantes continuaram a fazer perguntas até o final, engajados e inspirados pelas discussões provocativas e insights profundos que Lauren havia compartilhado.

Finalmente, ao concluir a palestra, Lauren agradeceu a todos pela participação entusiástica e se despediu sob aplausos calorosos. Ela começou a arrumar suas coisas, ainda refletindo sobre a inesperada pergunta de Camila e a ressonância emocional que havia trazido.

Quando Lauren saiu do auditório, encontrou Camila esperando por ela no corredor. Camila estava relaxada, um sorriso acolhedor no rosto que fez Lauren sentir um calor familiar no peito. Era um sorriso que falava de anos de amor, companheirismo e aventuras compartilhadas.

- Lauren, você foi incrível lá dentro, como sempre. - Camila começou, seus olhos brilhando com genuína admiração.

Lauren sorriu, um pouco tímida sob o elogio, mas não resistiu a estender a mão e entrelaçar seus dedos com os de Camila. - Obrigada, meu amor. Foi uma surpresa agradável vê-la na plateia. Como você está?

Camila deu um passo mais perto, diminuindo a distância entre elas. - Estou bem. Junho está chegando, e eu queria saber o que você planeja para o verão. - disse ela, um toque de expectativa em sua voz.

Lauren levantou uma sobrancelha, intrigada. - Ainda não tenho planos definidos. Por que pergunta?

Camila sorriu, animada, e apertou suavemente a mão de Lauren. - Estou cheia de ideias para este verão. Uma delas é passar pelo menos 15 dias com nossos netos na Espanha, naquela casa de praia que vimos no airbnb. E, claro, você está convidada - brincou a senhora charmosa - Acho que um pouco de sol faria bem para você, ver se deixa de ser tão braquela.

Lauren riu, sentindo-se aquecida pela proposta e pelo toque carinhoso de Camila. - Isso soa maravilhoso, Camz. Faz tanto tempo que não tiramos um tempo para relaxar juntas. A casa de praia parece um lugar perfeito para isso.

Camila assentiu, sua expressão iluminada pela antecipação. - Exatamente o que pensei. Podemos nadar, explorar a área, talvez até ler um pouco juntas. Os meninos adorariam passar um tempo com você também.

Lauren sentiu uma onda de ternura ao ouvir isso. - Eu adoraria passar um tempo com minha família.- Camila colocou uma mão no ombro de Lauren, um gesto de amor e carinho. - Então está decidido. Vamos planejar tudo e garantir que este verão seja inesquecível.

Lauren olhou para Camila, sentindo uma profunda conexão e gratidão pela vida que construíram juntas ao longo dos anos. - Obrigada pelo convite, meu amor. Mal posso esperar para aproveitar esse tempo juntas.

Com um sorriso compartilhado, as duas avós caminharam juntas pelo corredor, discutindo os detalhes da viagem e sonhando com os dias ensolarados que as esperavam na Espanha. A promessa de um verão relaxante e cheio de risos era exatamente o que ambas precisavam, um lembrete de que, apesar dos desafios e das complexidades da vida, sempre havia espaço para o amor e a alegria compartilhada.

Ao chegarem ao estacionamento, Lauren parou e puxou Camila para um abraço apertado, sentindo o calor do corpo da esposa contra o seu. - Sabe, Camz, eu ainda me lembro da primeira vez que nos vimos na Brown, todos esses anos atrás. Quem diria que acabaríamos aqui, com uma vida tão cheia de amor e aventuras?

Camila riu, um som doce e familiar. - Eu também lembro, Lauren. E acho que, desde aquele primeiro olhar, algo dentro de mim soube que estaríamos juntas. Talvez não soubesse exatamente como, mas sabia que você seria parte da minha vida.

Lauren sorriu, inclinando-se para beijar suavemente os lábios de Camila. - E que vida incrível. Não mudaria nada. Mal posso esperar para passar o verão na Espanha com você e nossos netos.

Camila retribuiu o beijo, seus olhos brilhando com lágrimas de felicidade. - Eu também, Lauren. Será mais uma lembrança maravilhosa para adicionarmos à nossa coleção.

-

Meados de Dezembro de 1962

À medida que dezembro de 1962 se aproximava, um ar fresco de mudança começava a se instalar na Casa Lowell. Com a chegada do final do semestre, os preparativos para as férias e os exames finais ocupavam cada vez mais o tempo das estudantes. No entanto, uma mudança particularmente notável era a ausência cada vez mais frequente de Camila, que parecia estar passando um tempo considerável com Ariana.

As semanas que se seguiram à festa de Halloween haviam transformado sutilmente a dinâmica dentro da casa. Camila, uma vez sempre presente e vibrante nos encontros e conversas com as colegas de casa, agora era frequentemente vista saindo para estudar com Ariana ou participar de atividades no campus onde Ariana morava. As duas pareciam inseparáveis, compartilhando não apenas tarefas acadêmicas mas também muitos momentos de lazer.

Lauren observava essa mudança com um misto de resignação e melancolia. A proximidade que uma vez partilharam parecia agora distante, como se as memórias de risadas e conversas profundas fossem de uma época passada. Ela se esforçava para se concentrar em seus próprios estudos e na interação com as outras moradoras, mas a presença ausente de Camila deixava um vazio que não conseguia ignorar.

Era uma manhã fria de dezembro, e a casa estava particularmente quieta. A maioria das meninas havia saído cedo para aulas ou para a biblioteca, preparando-se para os exames finais. Lauren aproveitava a tranquilidade para ler na sala comum, envolta em uma manta e acompanhada apenas por uma xícara de chá fumegante.

Foi quando Dinah entrou na sala, segurando algumas cartas e pacotes que haviam chegado pelo correio. Com um sorriso, ela entregou a Lauren uma carta de seus pais, trazendo notícias de casa e desejos de sucesso nos exames. Enquanto Dinah se acomodava ao lado de Lauren, a conversa inevitavelmente se voltou para a nova rotina de Camila.

- Você notou como a Camila tem estado ausente ultimamente? - perguntou Dinah, tentando sondar os sentimentos de Lauren sem ser muito direta.

Lauren suspirou, marcando a página de seu livro antes de responder. - Sim, eu notei. Ela e Ariana parecem estar realmente próximas.

- Não gosto disso, eu sinto falta dela por aqui. - Dinah expressou, claramente compartilhando do sentimento de saudade que permeava a casa.

- Eu também sinto falta, - admitiu Lauren, permitindo-se um momento de vulnerabilidade.

Enquanto Lauren e Dinah compartilhavam um momento de reflexão sobre a ausência de Camila, a porta da sala comum se abriu de repente, e Bella entrou com sua energia caótica típica e um sorriso maroto. Ela se jogou no sofá ao lado delas, pegando a conversa no ar.

- Ah, estão falando da nossa querida Camila? - Bella perguntou, cruzando as pernas e ajustando seu suéter confortável. - Aposto que ela está de namorico lá pras bandas de Ariana.

A afirmação descontraída de Bella trouxe um misto de riso e desconforto. Lauren sentiu uma pontada no coração, mas manteve a expressão neutra, tentando não mostrar qualquer sinal de como aquele comentário realmente a afetava.

- Bella, não começa! - Dinah repreendeu levemente, embora com um sorriso indulgente. - Mas é, elas têm estado bastante próximas. É bom ver a Camila feliz, mas, nossa, como a casa fica quieta sem ela.

- É verdade, - concordou Lauren, forçando um sorriso. - Ela agita bastante a casa com suas músicas. Espero que esteja realmente feliz, seja lá o que estiver acontecendo entre ela e Ariana.

Bella, percebendo a leve mudança no tom de Lauren, inclinou-se para frente, curiosa.

- Lauren, você está bem com isso? Quero dizer, vocês estavam começando a ficar próximas, e para você como novata aqui deve ser estranho, né? - perguntou ela, sua voz cheia de genuína preocupação.

Lauren hesitou por um momento, escolhendo suas palavras com cuidado. - É um pouco estranho, sim. Mas mais importante é que ela está feliz. E isso é o que realmente importa, certo?

- Se minhas suspeitas continuarem a existir, eu creio que ela está muito feliz com os chás que anda tomando por lá- Bella respondeu rapidamente, querendo levantar o ânimo.

Dinah acenou, repreendendo Bella imediatamente. - Já deu sua hora, Isabella! Camila pode ter outras amigas além de nós, que história é essa de chá?

- Ah, claro, amigas - Bella riu, balançando a cabeça com descrença. - O chá da inocência que você ta fingindo que tomou! Me poupe Dinah Jane! Você viu como elas estão grudadas? E além do mais, Camila sempre volta desses encontros com um sorriso que não é só de quem estudou muito, se é que você me entende...

Lauren, sentindo a conversa tomar um rumo cada vez mais desconfortável para ela, notou que o momento era oportuno para uma retirada estratégica. As insinuações de Bella, embora feitas em tom de brincadeira, tocavam em um nervo sensível que Lauren preferia não explorar naquele momento, especialmente não na frente das outras.

- Eu preciso ir, meninas - disse Lauren, levantando-se com uma desculpa pronta. - Tenho aula agora e não posso me atrasar, especialmente porque é uma das aulas que compartilho com Camila.

Dinah e Bella perceberam a mudança sutil na expressão de Lauren e a urgência em sua voz. Dinah deu um leve aceno, compreendendo a necessidade de Lauren de escapar do tópico.

- Claro, Lauren, não queremos que se atrase. - Dinah disse, com um sorriso solidário.

Bella, por outro lado, parecia um pouco arrependida pelo rumo que a conversa havia tomado. - Desculpe se fui longe demais, - ela comentou, um toque de sinceridade em sua voz.

Lauren apenas sorriu levemente, acenando com a cabeça em reconhecimento ao pedido de desculpas de Bella, mas sem prolongar a conversa. Ela pegou seus livros e alguns materiais de estudo que já havia preparado para a aula, e com um último aceno para Dinah e Bella, deixou a sala comum.

Caminhando em direção à aula, a mente de Lauren estava tumultuada com pensamentos sobre Camila. A perspectiva de encontrá-la na aula, algo que normalmente seria um ponto positivo no seu dia, agora carregava uma carga emocional que Lauren ainda estava tentando gerenciar. A complexidade de seus sentimentos em relação a Camila, misturada com a ansiedade sobre como interagiriam após tantos dias com interações tão limitadas, deixava Lauren inquieta.

Ao se aproximar da sala de aula, Lauren respirou fundo, tentando recompor-se, relembrando a si mesma de que, acima de tudo, sua prioridade era manter uma relação cordial e amigável com Camila, independentemente do que mais estava acontecendo em sua vida pessoal. Preparar-se mentalmente para a aula tornou-se tanto uma necessidade acadêmica quanto emocional.

Na sala, enquanto o professor Schutz detalhava os parâmetros do novo projeto de metodologia de pesquisa, um burburinho crescia entre os alunos, que se movimentavam para formar grupos. Neste cenário, Camila, visivelmente inquieta, lançava olhares na direção de Lauren, esperando uma oportunidade para falar.

Assim que o professor concluiu suas instruções, Camila se aproximou rapidamente de Lauren, com uma expressão de expectativa misturada a uma leve tensão.

- Lauren, gostaria de se juntar ao nosso grupo para o projeto? - ela propôs, seu tom tentando mascarar a ansiedade. - Alguns amigos da república de Ariana também estão aqui, acho que poderíamos ter uma boa sinergia.

Lauren já havia se comprometido com outro grupo, e seu coração pesou ao ter de recusar o convite de Camila. Ela percebeu a fragilidade momentânea na postura de Camila e quis amenizar a situação.

- Agradeço o convite, Camila, mas eu e outros dois colegas, Alex e Jordan, já nos organizamos em um grupo. - Lauren explicou, sua voz suave. - Estou certa de que seu grupo será excelente.

A expressão de Camila oscilou brevemente entre desapontamento e compreensão antes de ela esboçar um sorriso.

- Entendo, tudo bem então. Boa sorte com o seu projeto. - Camila respondeu, rapidamente recuperando sua vivacidade habitual e se virando para integrar-se ao seu grupo.

Lauren observou de longe enquanto Camila se engajava com entusiasmo nas discussões com seus colegas. A descontração de Camila contrastava com a introspecção de Lauren, que lutava para focar na explicação do professor. Seus pensamentos vagavam, refletindo sobre a distância emocional que agora as separava, uma distância que parecia se aprofundar com cada escolha pessoal.

Enquanto o professor discorria sobre diferentes abordagens metodológicas, Lauren encontrava-se absorta em sua própria análise das dinâmicas humanas, observando Camila rir e colaborar com seus novos companheiros. A cena era agridoce para Lauren, que se alegrava pela felicidade de Camila, mas lamentava a crescente separação entre elas.

Ao término da aula, enquanto guardava seus materiais, Lauren sentia um misto de alívio e apreensão. Sabia que os desafios dos próximos dias não seriam apenas acadêmicos, mas também emocionais, exigindo dela uma fortaleza para manejar não apenas as exigências do curso, mas também os delicados fios das relações humanas. A jornada adiante prometia ser tanto enriquecedora quanto desafiadora, uma exploração contínua do equilíbrio entre coração e mente.

Após a aula de metodologia de pesquisa, Lauren sentia uma necessidade crescente de mergulhar em algo que pudesse acalmar sua mente e afastar os pensamentos turbulentos sobre Camila. Com esse objetivo, ela decidiu ir para a biblioteca, um refúgio onde esperava encontrar a serenidade necessária para se concentrar em seus estudos. Ao chegar, encontrou Ashley já imersa em pilhas de livros, estudando intensamente.

- Oi, Ashley - Lauren cumprimentou, sentindo uma onda de conforto ao ver uma amiga.

- Lauren! Que bom ver você aqui. - Ashley sorriu, acenando para o espaço ao seu lado. - Vem, senta aqui. Estou repassando algumas coisas sobre literatura medieval, pode me ajudar a entender melhor?

Lauren se acomodou ao lado de Ashley, grata pela companhia e pelo desvio que a literatura medieval oferecia. Juntas, elas passaram as próximas horas entre discussões sobre textos antigos e teorias críticas, uma interação que ajudou Lauren a se desligar das emoções conflitantes que a manhã havia trazido.

Quando o relógio marcou a hora do almoço, Lauren se despediu de Ashley e se dirigiu de volta à Casa Lowell. A caminhada de volta era tranquila, e o ar fresco do início da tarde ajudava a limpar sua mente. De volta à casa, após uma refeição rápida, ela decidiu que era hora de organizar sua agenda de estudos para as próximas semanas, planejando meticulosamente cada sessão de estudo e cada tarefa a ser cumprida.

Com a agenda organizada e a mente mais clara, Lauren sentiu uma súbita necessidade de ouvir a voz reconfortante de seus pais. Sabendo que o telefone da casa estava trancado e só disponível nos finais de semana - uma medida das professoras após excessos de ligações por parte de algumas das moradoras -, ela resolveu buscar alternativas. Pegou algumas fichas que tinha guardado e saiu em direção ao orelhão mais próximo.

Estar no orelhão, discando o número da casa de seus pais, trouxe uma sensação de alívio. Quando ouviu as vozes familiares do outro lado da linha, uma onda de tranquilidade e saudade a inundou. Conversar com eles não apenas a reconectou com suas raízes, mas também lhe deu a força necessária para enfrentar os desafios que o final do semestre prometia trazer.

A ligação foi um bálsamo para o coração de Lauren, que voltou para a Casa Lowell sentindo-se revigorada e mais preparada para as semanas de estudos intensos que a aguardavam. Aquele pequeno gesto de falar com seus pais havia reforçado a importância de manter-se conectada com seu suporte emocional, mesmo estando fisicamente distante.

Após a ligação reconfortante com seus pais, Lauren se sentia um pouco mais centrada. Ela guardou as fichas restantes no bolso e começou a caminhar de volta para a Casa Lowell, apreciando o ar fresco e a tranquilidade do campus. Chegando à entrada da casa, ela encontrou Camila, que parecia estar saindo.

- Lauren, oi! - Camila chamou, tentando soar casual, mas com uma nota de urgência na voz.

Lauren sentiu uma mistura de emoções ao ver Camila. Apesar da vontade de resolver as coisas, o turbilhão de sentimentos conflitantes a fez escolher a distância.

- Com licença, Camila, preciso correr pro meu quarto. - Lauren disse friamente, desviando o olhar enquanto passava por Camila em direção à escada.

Camila franziu a testa, claramente magoada, e deu um passo em direção a Lauren. - Lauren, espera. Podemos conversar? Eu...

Mas Lauren, sem olhar para trás, continuou subindo as escadas, ignorando o apelo de Camila. Seu coração batia rápido, e ela sabia que precisava de um momento para se recompor, longe da presença perturbadora de Camila.

Do outro lado da sala, Dinah, que estava sentada em um canto, observou a interação silenciosa. Viu a expressão triste e confusa de Camila enquanto Lauren desaparecia no andar de cima. A latina ficou parada por um momento, mordendo o lábio como se estivesse decidindo o que fazer, antes de finalmente se dirigir ao quarto que dividia com Dinah.

Dinah, percebendo a tensão no ar, permaneceu onde estava, observando em silêncio. Sentiu um aperto no peito ao ver o sofrimento evidente de Camila, mas sabia que qualquer intervenção agora poderia complicar ainda mais a situação. Ela resolveu dar espaço às duas amigas, esperando que, de alguma forma, as coisas pudessem se resolver com o tempo.

Lauren entrou em seu quarto, fechando a porta atrás de si e encostando-se nela, soltando um suspiro profundo. A conversa com seus pais havia trazido algum alívio, mas a interação tensa com Camila trouxe de volta toda a confusão e tristeza que ela tentava evitar. Precisava de um momento para se acalmar e organizar seus pensamentos antes de poder enfrentar qualquer outra coisa.

Enquanto isso, Camila subia as escadas lentamente, refletindo sobre a frieza de Lauren e tentando entender o que poderia ter feito para merecer essa distância. Sabia que precisava encontrar um jeito de conversar com Lauren, mas, por enquanto, o melhor era respeitar seu espaço e esperar que o tempo trouxesse alguma clareza para ambas.

Dinah, ainda observando a cena tensa que se desenrolava na entrada da casa, sentiu um impulso de seguir Camila. Não podia ignorar a tristeza evidente nos olhos de sua amiga, nem a rigidez na postura de Lauren. Sabia que algo profundo e complicado estava acontecendo entre as duas e, como boa amiga, queria ajudar.

Dinah, ainda observando a cena tensa que se desenrolava na entrada da casa, sentiu um impulso de seguir Camila. Não podia ignorar a tristeza evidente nos olhos de sua amiga, nem a rigidez na postura de Lauren. Sabia que algo profundo e complicado estava acontecendo entre as duas e, como boa amiga, queria ajudar.

Ela subiu as escadas silenciosamente, com passos leves, como se temesse quebrar o frágil silêncio que pairava no ar. Chegou ao quarto que dividia com Camila e encontrou a amiga sentada na beira da cama, olhando fixamente para o chão. Camila não notou sua chegada, perdida em pensamentos.

- Camila? - Dinah chamou suavemente, fechando a porta atrás de si.

Camila levantou a cabeça, seus olhos marejados revelando a vulnerabilidade que tentava esconder. - Dinah, eu... - ela começou, mas a voz falhou, a confusão e a dor transparecendo em cada palavra não dita.

Dinah se aproximou, sentando-se ao lado de Camila. - O que está acontecendo, amiga? Vi a forma como Lauren te tratou. Tem algo que você quer me contar?

Camila suspirou profundamente, como se carregasse o peso do mundo em seus ombros. Por um momento, parecia prestes a se abrir completamente, mas hesitou, as palavras presas na garganta. Dinah esperou pacientemente, dando-lhe o tempo necessário para encontrar sua voz.

- Dinah, eu não sei mais o que fazer. - Camila finalmente disse, sua voz um sussurro quebrado. - Estou confusa. Sinto que Lauren está me evitando, e não sei por quê.

- Mas você sabe que a Lauren gosta muito de você, Camila. - Dinah respondeu com ternura. - Deve haver algum mal-entendido. Você quer me contar o que realmente está acontecendo?

Camila olhou para Dinah, os olhos cheios de incerteza. Ela abriu a boca para falar, mas novamente as palavras pareciam escapar. Finalmente, respirou fundo, decidindo confiar na amiga.

- Eu... tenho passado muito tempo com Ariana. - Camila começou, sua voz hesitante. - Ela é incrível e me faz sentir coisas que nunca senti antes. Mas não é só isso...

Dinah permaneceu em silêncio, incentivando Camila a continuar.

- Eu sinto atração por pessoas, Dinah. Não importa o gênero. E... sinto algo por Lauren. - As palavras saíram apressadas, como se finalmente libertadas de uma prisão. - Mas tenho medo. Não sei nada sobre como ela se sente e, além disso, acho que Lauren me evita por preconceito.

Dinah franziu a testa, surpresa com a sinceridade da amiga. - Camila, você realmente acredita que Lauren é preconceituosa? Ela sempre pareceu tão aberta e amigável.

Camila balançou a cabeça, as lágrimas ameaçando cair. - Não sei mais, Dinah. Às vezes, acho que é tudo coisa da minha cabeça. Outras vezes, sinto que ela me odeia por eu ser assim.

Dinah colocou uma mão reconfortante no ombro de Camila. - Amiga, a única maneira de saber a verdade é conversando com ela. Lauren pode estar confusa ou assustada, tanto quanto você. Às vezes, as pessoas evitam quem gostam por medo de serem rejeitadas.

Camila olhou para Dinah, a dor e a confusão claras em seus olhos. - Eu nunca falei sobre isso com ninguém, nem mesmo com meus pais. Tenho medo do que eles possam pensar. Eles têm expectativas tão altas para mim...

- Seus pais te amam, Camila. - Dinah respondeu suavemente. - E eles querem que você seja feliz. Você precisa ser honesta consigo mesma e com eles. Sei que é assustador, mas é a única maneira de viver plenamente quem você é.

Camila assentiu lentamente, percebendo a sabedoria nas palavras de Dinah. - Tem razão, Dinah. Preciso falar com Lauren. Mas estou com tanto medo...

- Eu sei que é assustador, - Dinah respondeu, apertando o ombro da amiga em um gesto de apoio. - Mas você é uma das pessoas mais corajosas que conheço. Vai conseguir, eu tenho certeza.

Camila, ainda sentindo o apoio reconfortante de Dinah, decidiu que precisava falar mais sobre seus medos, sobre a complexidade de seus sentimentos e a realidade dura que enfrentava em 1962. Ela sabia que a sociedade ao seu redor era conservadora, e a aceitação dentro da academia não era garantia de segurança em todos os lugares.

- Dinah, eu estou com muito medo. - Camila começou novamente, sua voz trêmula mas determinada a continuar. - Mesmo que dentro da academia as pessoas possam ser mais abertas entre os amigos, ainda há muito conservadorismo. Pessoas de cursos mais tradicionais podem fazer da minha vida um inferno se descobrirem sobre mim e Lauren, se... se houver algo entre nós.

Dinah ouviu atentamente, a seriedade da situação refletida em seu rosto. - Camila, eu entendo seu medo. O mundo pode ser cruel, especialmente em tempos como estes. Mas você não pode deixar o medo definir quem você é ou com quem escolhe estar.

Camila assentiu, tentando absorver as palavras da amiga. - Eu sei, mas é tão difícil. E... por favor, Dinah, não conte isso para ninguém. Nem mesmo para as professoras. Eu não quero que mais ninguém saiba até que eu mesma esteja pronta para falar sobre isso.

Dinah soltou uma risada suave, quebrando um pouco da tensão no ar. - Camila, você é tão inocente às vezes. Você realmente acha que as professoras Heath e Vogel não são um casal?

Camila piscou, surpresa, e olhou para Dinah com incredulidade. - O quê? Você está brincando, né?

Dinah balançou a cabeça, ainda sorrindo. - Não estou, não. Elas são muito discretas, mas já ouvi conversas aqui e ali. Elas se mudaram para cá juntas, e quem prestou atenção já percebeu que elas são mais do que apenas colegas de trabalho.

Camila processou a informação, um pouco aliviada, mas ainda preocupada. - Mesmo assim, não é a mesma coisa. Elas são adultas, têm mais controle sobre suas vidas. Nós, por outro lado, estamos apenas começando nossas carreiras, e qualquer escândalo poderia arruinar nossas chances.

Dinah colocou uma mão reconfortante no ombro de Camila. - Você está certa. A situação é diferente para nós. Mas lembre-se, você tem apoio aqui. Não está sozinha. E talvez, se você se abrir para Lauren, possa descobrir que ela compartilha dos mesmos medos e sentimentos.

Camila suspirou, aliviada por ter desabafado, mas ainda carregando a incerteza sobre o futuro.
- Eu só espero que, quando eu falar com Lauren, ela entenda e não me rejeite. O medo de perder uma amiga e possivelmente ganhar uma inimiga me assusta mais do que qualquer preconceito externo.

Dinah apertou o ombro de Camila novamente, oferecendo um sorriso encorajador. - Você é forte, Camila. Enfrentar isso não será fácil, mas você consegue. E estarei aqui para te apoiar em cada passo desse caminho.

Camila sentiu-se um pouco mais fortalecida, ainda que os desafios adiante fossem assustadores. Sabia que a conversa com Lauren precisava acontecer, e que o medo não poderia ser um obstáculo insuperável.

Enquanto a noite caía, trazendo consigo o frio de dezembro, Camila se preparava mentalmente para o que precisava fazer. Com a ajuda de Dinah, ela encontrou uma nova coragem dentro de si, uma coragem necessária para enfrentar os preconceitos e lutar pelo que realmente importava: ser fiel a si mesma e aos seus sentimentos, não importa quão difícil pudesse ser.

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N/A: Desculpa a demora gente, eu sei que os caps são curtinhos, mas a intenção aqui é de ser isso mesmo, uma leitura mais suave, sem muita verborragia e excessos.

Espero que gostem e que possam divulgar pros friends.


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