Capítulo 10 - O braço direito de Arthur

Màu nền
Font chữ
Font size
Chiều cao dòng


Quando Melanie retomou sua aula no dia seguinte, Merlin parecia um pouco menos humorado do que sempre se apresentava, suas aulas foram um tanto mais mecânicas e rigorosas, a impressão que dava não era que ele estava bravo com Melanie ou que ela estivesse fazendo algo errado, não, era somente que ele queria muito que ela aprendesse tudo aquilo rápido, queria que ela dominasse a magia o melhor e mais rápido possível.

A semana passou voando, Mel nem viu que já tinha chegado a sábado, somente percebeu isso quando Arthur a esperava perto dos estábulos, após ela terminar as aulas com Merlin, para a sua aula de equitação, não que fosse realmente uma aula nem nada, mas desde que ela conseguira montar em um cavalo sozinha ela queria cavalgar cada vez mais.

Entretanto não era somente em equitação que tinha melhorado, na magia também, eles já tinham passado das vibrações para magia elementar, naquela mesma semana Mel descobrira qual era o seu elemento dominante a partir de um teste onde Merlin colocara algo representando cada elemento e ela teria de tenta mover algum deles, o elemento dominante seria aquele ao qual ela dominaria primeiro, e claro que o primeiro a se manifestar teria que ser o mais perigoso e destrutivo, pois Melanie descobrira que tinha aptidão para o controle e criação de fogo.

De fato, fora uma surpresa quando as mangas do seu vestido junto com metade da mesa (e o que estivesse nela naquele momento) ardessem em chamas, por sorte era Merlin o seu professor e em um único movimento apagou o fogo com um forte vendaval. Quando tudo passou Melanie estava com braços chamuscados, um cabelo bagunçado que apontava para todas as direções e em parte também queimado e uma expressão de total êxtase.

Nada mais importava, nem a ardência que começava a irritar a pele de seus braços, nem as mechas de cabelos chamuscados e nem o fato de quase ter tocado fogo em tudo, pois o que mais importava naquele momento era que tudo aquilo era real, que ela era uma aprendiza de feiticeira e que ela podia usar magia. Aquela de fato fora uma semana interessante.

É claro que quando chegou para encontrar Arthur com aqueles braços enfaixados, por ele mesmo no dia anterior, com as bochechas vermelhas devido a sua pele sensível de tanto que ela invocara o fogo naquele dia, ele não estaria lá muito animado para deixá-la subir em cima de um animal que podia derrubá-la e piorar o seu estado ao menor movimento errado, mesmo assim, ele permitiu quando Melanie insistiu em ir.

"Mas Arthur, eu estou bem, você mesmo cuidou dos meus ferimentos, sabe que não é nada demais."

Ele balançou a cabeça.

"Não, já não basta tudo isso? Como você pode ser tão imprudente, você não tem consciência de si mesma? Ou dos seus limites?"

Por mais que parecia bravo, ele dizia aquilo com um sorriso escondido que ela fez questão de retribuir.

"Tudo isso faz parte do treinamento, você sabe muito bem, e o que são esses machucados em suas mãos?"

Ela pegou em sua mão direita a qual tinha alguns arranhões e hematomas, que subiam pelo seu braço, o que eram resultado de seus treinos com Dom, que logo lembrava ele, Melanie também participaria, e Arthur não estava nem um pouco ansioso para vê-la passar por isso, se bem que, seria ele pessoalmente que trataria seus ferimentos, e bem ele começava a apreciar esses pequenos momentos, como aquele que acontecia naquele instante onde Mel o tocava e só depois percebia que sentia vergonha a respeito disso, sua pele queimava e seu rosto pálido se tingia em vermelho, enquanto seus olhos se abriam e piscavam assustados por um momento até ela desviar o olhar.

E novamente ela o fez, ficou ainda mais vermelha e desviou o olhar soltando sua mão e já começando a desviar do assunto.

"Bem, então o que está pensando em fazer?"

"Quero te mostrar onde sei que crescem algumas ervas selvagens, aquelas que usamos essa semana, falei com Merlin e ele achou uma boa ideia."

"Tudo bem então... eu ainda não vou poder cavalgar sozinha, certo?"

"E cada dia mais esperta."

Ele se inclinou rapidamente, enquanto dizia, em sua direção a pegando de surpresa, seus olhos na direção dos dela, ele piscou com o olho esquerdo e sorriu, jogou as luvas para ela, em seguida colocou a sela em Dama e subiu ágil como sempre, estendeu a mão para Melanie subir e como já se acostumara com os vestidos e cavalos, não fora difícil fazê-lo, sentou-se de lado segurando firmemente na cintura de Arthur.

Os portões abriram para eles passarem, foram pegando velocidade rapidamente, indo em direção a floresta perto do rio, na verdade adentraram um pouco na floresta chegando a uma cachoeira de tamanho considerável, com bordas íngremes que não poderiam ser escaladas, em volta da cachoeira havia flores lindas, que chegavam até o pequeno penhasco, Arthur parou e Mel desceu admirada com o local.

Seguiu em frente enquanto Arthur ia até uma árvore amarrar as rédeas de Dama, abaixou para sentir o cheiro das flores, o barulho da água caindo impediu que Mel visse que um outro cavalo parou ao lado de Arthur, somente quando o homem já havia descido e amarrado o cavalo ela o viu.

Ele estava de costas para ela, parecia que não a tinha visto abaixada, a visão do homem novo não seria nada demais se não fosse por uma particularidade que ele carregava consigo, sua mão direita mexia e balançava no ritmo da conversa que ele parecia ter com Arthur, que também ria de algo, já a mão esquerda não existia, seu braço acabava um palmo depois do cotovelo, deixando uma protuberância arredondada no fim.

Mas na verdade aquilo não a surpreendeu de fato, estava acostumada a lidar com diferenças, sempre fora boa em aceitar e não fazer as pessoas se sentirem envergonhadas ou constrangidas, ela sempre agia da mesma forma com todas as pessoas, afinal essa fora uma lição passada pelo seu pai que ela guardaria para sempre.

Se aproximou devagar e quando Arthur a viu acenou para se aproximar mais, o estranho então se virou para ela, se tratava de um rapaz de talvez 20 anos, ele vestia roupas parecidas com as de Dom com marcas de terra e desgaste fazendo-o parecer mais velho, trazia consigo uma espada do lado esquerdo, diferente de Melanie ele não parecia se preocupar em não demostrar surpresa, seus olhos se abriram e a olharam de cima a baixo, Mel agradeceu em silencio por usar uma capa no momento, que escondia todo o seu corpo.

"Ela é realmente diferente, não? Chego a me sentir comum perto de você."

Seu tom parecia de insulto, entretanto ele completou.

"Mas... tem razão, os olhos são, de fato, encantadores."

Era raro Arthur se envergonhar, mas dessa vez foi sua a vez de ter bochechas coradas, enquanto o outro rapaz abaixava segurando na mão de Melanie e a beijando delicadamente.

"É um prazer, Milady. Sou Benjamin, vice na liderança dos exércitos do reino comandados pelo príncipe Dominicius e no momento escolta pessoal desse príncipe mimado e desleixado que sai sozinho em tempos de talvez uma guerra eminente, que lhe acompanha."

Disse a última parte debochando de Arthur e piscando para Melanie, tinha um jeito arrogante e convencido de ser, seus olhos nunca pareciam se curvar, sempre encarando de frente sem demonstrar o mínimo de vergonha. Arthur se recompôs e o apresentou.

"Com 'escolta pessoal' ele quer dizer melhor amigo. Mel eu ainda não tinha tido a chance de lhes apresentar, pois aparentemente, Ben estava em uma missão e voltou hoje. Não se preocupe se sua primeira impressão seja de que este homem é arrogante e convencido, você estará completamente certa."

Melanie ria enquanto Arthur demonstrava seu belo sorriso cordial zombeteiro, Ben se aproximou colocando o braço direito em volta do pescoço de Arthur, eles riam enquanto tentavam se enforcar, Mel gostou de ver aquela parte de Arthur.

"Me apresente direito à bela dama."

Arthur fez sinal de rendição.

"Tudo bem, tudo bem, Mel conheça o meu braço direito."

"Literalmente."

Completou Ben fazendo piada consigo mesmo, Arthur revirou os olhos. Soltando Arthur e assumindo uma postura mais séria, Ben continuou.

"Na verdade Dom me mandou, ele está preocupado, você sabe..."

Parou encarando Melanie como que dizendo o porquê de ela ainda estar ali, deveria se retirar e deixar os homens conversarem, mas ela não saiu.

"Não se preocupe, Ben, pode dizer, Mel é aprendiz de Merlin e participou do último conselho, você pode contar tudo na presença dela."

"Mesmo? Uma bruxa então? Tudo bem, se você diz. Dom me mandou para observar o avanço dos saxões e descobrir onde estão seus acampamentos e em quanto tempo chegariam aqui."

"E você conseguiu?"

Arthur perguntou um pouco preocupado, já Ben respondeu com toda a confiança do mundo.

"O que você acha? Sim, é claro que descobri e é isso que me preocupa, Arthur, eles estão perto demais, escondidos na floresta, pude ver seu acampamento principal, mas não consigo dizer a extensão do exército, estão muito organizados, não parecem estar sozinhos."

"E não estão."

Mel atreveu-se a dizer, Ben a encarou esperando ela continuar, não parecia ser do tipo paciente, então ela se apressou para concluir.

"Eles estão sendo manipulados por Mordred."

O nome causou certo arrepio até em Ben que parecia inabalável.

"Isso explica muito. Então é por isso que você está aqui certo? Não será uma batalha somente travada por homens, haverá magia."

Melanie acenou concordando.

"Isso muda tudo e torna tudo mais perigoso."

O seu tom era sombrio, a ponto de assustar Mel de certa forma, Arthur o repreendeu com o olhar, aparentemente ele poderia dizer tudo na frente dela, mas devia tentar amenizar as palavras, por mais que Ben não concordasse com isso, pois nunca gostou de tornar as coisas mais fáceis, sempre fora de dizer a verdade diretamente, mas por consideração ele aliviou a expressão tentando corrigir o tom sombrio.

"Oh, mas não se preocupe, nós temos Merlin, ele é o mais poderoso e agora ele está ensinando a senhorita, com dois magos e eu e Dom na liderança dos exércitos não temos o que temer."

Ben não sabia ser sutil, sempre fora exagerado.

"Ele tem razão, não temos que nos preocupar."

Arthur sorria, mas não era sincero.

"Tudo bem então, agora que voltei, irei acompanhá-los no que quer que vocês vieram fazer aqui..."

Ele olhou em volta para bela paisagem.

"Bem, e o que vieram fazer aqui?"

Um sorriso sarcástico e um pouco desonroso apareceu em sua face, Mel e Arthur entenderam a insinuação ficando os dois constrangidos.

"Nós.... bem... estamos...aqui..."

"Nós.... bem... estamos...aqui..."

Os dois disseram juntos tropeçando nas palavras, até Mel parar para Arthur concluir.

"Viemos fazer o que você mais aprecia... colher plantas medicinais e analisar como crescem e são cultivadas."

No começo da frase Ben mostrou interesse quase dando tapinhas nas costas de Arthur como que dizendo bom trabalho, mas quando Arthur falou das plantas ele parou aborrecido no meio do movimento, revirou os olhos dizendo.

"Você e suas plantas, se precisarem de mim, apreciarei a paisagem de olhos fechados ali na relva... se bem que a paisagem possa não ser tão ruim de olhos abertos."

Se referiu a Melanie na última frase bem no momento que ela retirava a capa dos ombros para poder se mexer melhor, ficou vermelha tentando ignorar o flerte, Arthur nem se importou, então Mel também não, pelo que parecia Ben era um galanteador de primeira.

Enquanto Arthur conduzia Mel pelas flores, Ben deitou-se na relva como havia dito e pareceu pegar no sono.

"Não ligue para o jeito dele, ele não é realmente assim, só faz as pessoas acreditarem que ele é arrogante e insensível."

"Ele faz isso muito bem, devo dizer."

"É eu sei."

Ele sorriu.

"Vocês são amigos a muito tempo?"

"Sim, desde crianças, sabe Dom o salvou quando criança e praticamente o criou, ele é mais velho que eu, mas nós somos amigos desde de que me lembro."

Mel olhou de relance novamente para Ben, e percebeu que suas pálpebras não estavam totalmente fechadas, ele parecia relaxado, mas atento, talvez Arthur tivesse razão e ele não fosse tão despreocupado quanto se portava, nem tão confiante que dormiria deixando eles desprotegidos, não, ele era cuidadoso demais para isso e o quanto ele não demonstrava somente mostrava o quanto ele se importava com a segurança do amigo e não deixaria que nada acontecesse a eles.

Respirando fundo Melanie pensava no que acabara de ouvir, olhou para o céu, Arthur parou ao seu lado a imitando.

"O que você vê?"

"Eu não sei, talvez o amanhã, o tempo e como ele passa rápido."

"Eu vejo a mudança."

Mel sorriu.

"Sabe, como tudo muda e nunca volta a ser o que era antes, nossa vida é como as nuvens, sempre muda, independentemente de você querer ou não e quando a mudança acontece temos que nos preparar para nunca voltar a ser como era antes, pois o padrão de nuvens nunca se repetira."

"Visão interessante, chega a ser poético."

Ele virou para ela rindo.

"Não sou bom com poesia."

"Mas tem belos pensamentos."

"Obrigada."

Olhos nos olhos, pela primeira vez desde que chegou ali, nunca algo foi tão real quanto aquele momento, quanto àquela expressão sincera naqueles olhos a cada dia mais familiares.

***

As semanas passaram rápidas e por mais que a presença de Ben fosse de certa forma irritante, Melanie já estava se acostumando com o seu tipo de humor negro e o conheceu ainda mais quando finalmente chegou a terceira parte de seu treinamento, enfim a magia começava a exigir cada vez mais de seu corpo, já tinha emagrecido um pouco e isso não era bom, a cada dia parecia estar mais fraca mesmo se alimentando bem, pois Doris nunca a deixava se esquecer de nenhuma refeição.

No primeiro dia de treinamento Mel ficara preocupada, pois não tinha nada além de vestidos para vestir, sabia que não podia treinar com as longas saias, já era mais do que difícil cavalgar com toda aquele tecido, o que seria dela então tendo que empunhar uma espada?

Felizmente Merlin havia pensado nisso, pois quando Doris chegou para ajuda-la trouxe roupas diferentes, um conjunto de couro escuro, uma espécie de jaqueta e calça e um par de botas grossas, acompanhados de uma camisa quase como a que Arthur vestia, a jaqueta era longa passando da cintura, com uma tira fina de couro prendeu o cabelo em um rabo de cavalo firme.

Enquanto seguia pelos corredores ia repassando suas aulas mentalmente, agora já podia controlar todos os elementos, uns melhores do que outros, como o fogo por exemplo, foi o seu primeiro elemento e agora ela já o dominava podendo manter desde uma pequena chama acesa em um único dedo até incendiar os braços em grandes labaredas sem se queimar, também conseguia atear fogo em objetos a longa distância.

O ar também foi mais fácil, quase que automaticamente, ela podia manipular o vento, diminuir ou aumentar os gases como oxigênio ou gás carbônico, conseguindo assim ou elevar o oxigênio de um lugar fechado a tornar o ar mais rarefeito impedindo a respiração, o que de fato era muito útil, principalmente debaixo da água.

Oh sim água, parecia que não era o elemento forte de Melanie, definitivamente, ela não conseguia dominar muito bem, seu treino começará com um simples copo com água sobre a mesa e terminará em um rio, onde ela tinha que fazer a água passar pelos seus diversos ciclos, estava tendo um pouco de dificuldade com a parte da solidificação, mas Merlin a tranquilizava dizendo que todos tinham um pouco de dificuldade em controlar o elemento oposto ao seu dominante.

Enfim a terra, por mais que fogo fosse o seu elemento dominante, Melanie gostava mais de lidar com a terra, a capacidade de criação a fascinava, quando conseguiu fazer sua primeira árvore crescer e gerar frutos chegou a ficar emocionada, o elemento terra, a conectava a tudo que tinha vida, ela sentia a força vital vinda da fauna e flora, via suas auras, as sentia.

Entretanto mesmo que agora fosse iniciar a parte do treinamento físico, ainda tinha muito o que aprender sobre magia, a parte elementar ainda não havia terminado, ela abrangia um leque muito grande e ainda teriam os feitiços e encantamentos mais complexos, sem contar que ainda nem tinha chegado a parte de magia de cura, por enquanto ainda estava terminando seus estudos medicinais.

Respirando fundo, Melanie percebia que ainda teria um longo caminho pela frente.

Após o café seguiu com Arthur para a parte de trás do castelo, onde nunca tinha estado, lá estava uma campina envolta pelo grande muro que protegia a toda Camelot, na campina dezenas de homens treinavam, recebia olhares curiosos, surpresos e interessados, mesmo assim tentava seguir impassível ao lado de Arthur.

Os homens pareciam estar separados em grupos, uns dentro de uma grande cabana eram os ferreiros que faziam espadas e armaduras, outros treinavam combate corpo a corpo, um grupo ao longe tinha grandes arcos que atiravam em alvos difíceis de serem vistos, percebeu que aquele grupo estava sendo comandado por Dario, que se mostrava um exímio arqueiro, já o grupo que Arthur se dirigia com Melanie estava usando espadas e escudos.

Uma aglomeração surgiu a frente, com dois homens no centro, espadas e escudos em mãos, lutavam habilmente, um deles era grande não somente em músculos mas em gordura, já o outro parecia forte e maciço, entretanto menor e mais magro, mesmo assim o grandão estava perdendo. A luta não durou muito mais tempo, o mais magro girou o corpo e deu uma finta poderosa, depois fez o grandão cair de joelhos e estava acabado, todos urraram e aplaudiram o campeão que jogou o escudo no chão fincando a espada na terra e com braços abertos cumprimentou a multidão com aquele sorriso convencido de sempre.

Mel ficou surpresa por ver que se tratava de Ben, só quando ele jogou o escudo no chão que percebeu que se tratava dele, ele estava como sempre ela o via, com roupas sujas de terra e o rosco com riscas de suor que escorria pela sujeira, o cabelo arrepiado e para cima como se tivesse levado um choque, tinha de admitir que ele era surpreendentemente bom, entendia agora o porquê de ser convencido.

Quando se aproximaram mais Ben finalmente os viu.

"Arthur, você demorou um pouco hoje, então viu como eu acabei com o Dowey? Esses bastardos insistem em tentar lutar comigo, mesmo sabendo que..."

Ben a viu, primeiro veio o olhar confuso, depois um sorriso que pela primeira vez parecia sincero.

"Melanie? Realmente é você? Essas roupas caíram-lhe muito bem."

"Como vai Ben, eu não pensei que você lutasse assim, sempre achei que você só era convencido, não pensei que fosse tão bom de verdade."

Pela primeira vez Ben ficou sem palavras, Mel se aproximou do escudo agachou e tentou erguê-lo somente para perceber que era pesado demais para ela. Ben abaixou a seu lado e o girou para mostrar onde ele prendia o braço.

"Este escudo foi adaptado para mim, veja aqui, estas fivelas travam ele em meu braço."

Erguendo o escudo Ben indicou que ela colocasse o braço nas fivelas.

"Tente segurá-lo, perceba que ele ficara fora do lugar para você."

Melanie segurou e percebeu que ele estava certo, o escudo era grande mas não a protegia na posição certa, além de ser muito pesado para ela, pois Ben ainda a estava ajudando a segurar uma parte do peso.

"Os escudos são padrões, mas tem de ser ajustados para cada pessoa, o seu por exemplo, terá de ser menor e mais leve, para assim você conseguir lutar com ele."

Arthur explicava para ela.

"Temos aqui dois tipos de escudos."

Arthur pegou um escudo comprido que se encontrava ao lado deles.

"Este serve para formações de ataque onde formamos uma barricada impenetrável, note que ele é grande e mais fino, quase pegando o corpo inteiro."

Arthur abaixou e o escudo o escondeu por completo. Mel buscava em sua mente os filmes que já vira onde eles usavam este escudos.

"E temos esse outro, que é um escudo de combate."

Ben pegou seu escudo e colocou no braço esquerdo, parou em posição de combate. Arthur continuou.

"Ele é menor e mais prático, para poder se movimentar melhor."

"E as espadas?"

Perguntou interessada no assunto.

"Bem existem muitos tipos, como espadas de cavalaria, de combate de perto como esta, onde é afiada dos dois lados."

"Uma espada de dois gumes."

Arthur acenou positivamente enquanto pegava a espada encravada na terra, Melanie quase riu da cena simplória.

"Esta pode ser usada tanto com uma mão, como o Ben utilizou, como com duas para deixar o golpe mais poderoso."

Ben se preparou para aparar o golpe e Arthur, segurando a espada com duas mãos, golpeou com força o escudo, causando um barulho agudo de metal contra metal.

"Vamos, tente segurá-la."

Arthur entregou a espada a ela, com as duas mãos Mel tentou levantá-la, mas não conseguiu, fazendo a ponta descer rapidamente. Arthur se posicionou atrás dela e segurou a espada por cima de suas mãos, a ajudando a levantar e depois a movimentando em diversos ângulos enquanto explicava como se chamava os golpes, mas ela nem conseguia prestar atenção, a aproximação a pegou de surpresa, a deixando sem jeito.

"Ora, vejo que já estão mostrando para Mel o equipamento."

Dominic seguia na direção deles com espadas de madeira em mãos, Arthur se afastou pegando a espada das mãos de Melanie, que lamentou internamente, ficando sem graça com isso.

"Então está pronta para começar com o treinamento? Não pense que vou pegar leve com você, Merlin me incumbiu de deixá-la mais forte, e é exatamente isso que farei."

Mel olhou para um Dom decidido que chegava a ter um brilho nos olhos, ele não estava brincando, realmente não pegaria leve, pobre Melanie onde ela havia se metido?

***

E aquele dia foi duro, Melanie não sabia o que doía mais quando finalmente chegou a seu quarto para descansar, naquele mesmo dia, depois de todo treinamento ainda fora visitar e conhecer a esposa de Dom, Marion, uma mulher alta e forte, com longos cabelos castanhos encaracolados e sardas nas bochechas arredondadas, que lhes ofereceu um belo jantar, Ben também foi junto e agia como se já fosse de casa, ajudando a arrumar a mesa e a guardar tudo.

Mel viu como ele agia perto de Dom, era uma relação de pai e filho, o modo como eles conversavam e como Ben era protetor perto de Marion não a deixando carregar nada pesado, de certa forma era fascinante observar Ben, Mel ficava admirada com a destreza e com a facilidade que ele fazia tudo, mesmo com suas limitações, ele nunca agia com pena de si mesmo.

Enquanto Dom conversava freneticamente com Arthur sobre algo haver com o exército, Marion se retirou para dormir e Mel ficou na sala de jantar com Ben, este por sua vez estava distraído, encarando um pequeno berço à esquerda, seu olhar era terno e suave, algo que Melanie nunca esperaria ver vindo dele, ela se pegou sorrindo e quando ele se virou sua expressão endureceu.

"O que foi?"

Ele exigiu.

"Pare com isso, não precisa agir assim somente para se mostrar forte, eu vi como você olhava para o berço."

Ben olhou meio sem graça e suavizou a expressão novamente.

"Tudo bem, desculpe, é reflexo entende. Desde criança a tendência é que as pessoas sintam pena de mim, e eu passei a agir assim para todos ficarem bravos comigo, então não se lembrariam de sentir pena, mas aqui com Dom eu posso ser eu mesmo, ele e Marion nunca me trataram diferente dos outros, sempre tiveram respeito por mim."

"Entendo."

Olhando para seus olhos multicoloridos e sua pele sem cor, Ben percebeu que ela devia saber o que era ser tratada diferente.

"Desculpe..."

Sorriu.

"Sabe, que quando eu era criança foi eu que ajudei a juntar esses dois?"

Ele apontou para Dom que ainda conversava com Arthur.

"É mesmo?"

Mel sorriu duvidando.

"Sim, eu que levava os bilhetes românticos e as flores que Dom mandava, se você quer saber, eu posso ser considerado um poeta, muitas daquelas cartas fui eu quem ajudou Dom a escrever, sou praticamente um cupido, sou bom em juntar as pessoas. Por isso fico muito feliz por eles, e pelo bebê que está vindo"

Agora Mel teve que gargalhar, Ben era tudo menos a imagem que ela tinha formulada em sua cabeça de um cupido, e com aquele jeito grosseiro era meio difícil de imaginar.

"O que foi, não ria, estou falando a verdade!"

Ele mesmo ria junto com ela.

"E se quer saber já tenho até meus próximos alvos em vista."

Encarou Melanie zombeteiro e apontou a cabeça na direção de Arthur, Mel o olhou e Arthur sorriu, o que deixou ela mais sem graça. Tentando disfarçar ela continuou.

"Mesmo? Mas e você senhor cupido? Nenhuma dama está sendo agraciada com os seus sentimentos mais românticos e profundos?"

Seu olhar ficou vazio por um momento, Mel lamentou ter feito a pergunta, pois isso pareceu trazer lembranças ruins, ele balançou a cabeça como que para tirar alguma ideia da cabeça e disse com um sorriso fraco.

"Bem, talvez."

Seu olhar foi diferente de todos os outros que Melanie já vira, infelizmente não teve muito tempo para pensar sobre isso, pois Dom e Arthur terminaram sua conversa e foram até eles para irem embora. Todos se despediram de Dom e saíram da casa em direção ao castelo.

Esticando o braço e espreguiçando enquanto bocejava Ben perguntou.

"Acho que não precisam de mim para chegar a seus quartos, certo? Então se não se importam, vou para casa, estou meio cansado hoje. Boa noite, Mel, Arthur."

Ben saiu em direção ao outro lado enquanto os dois caminharam sozinhos novamente para o castelo.

No segundo dia, pela primeira vez desde que chegara, Mel teve de ser acordada por Doris, seu dia começaria cedo pelas aulas de Merlin e logo depois iria ser treinada por Dom.

A manhã pareceu correr e pela tarde lá estava ela novamente, treinando com espadas de madeira e correndo ao redor do campo com sacos de farinha nas costas, sério aquilo realmente era necessário? Melanie achava que não.

Enquanto treinavam, por mais que Ben parecesse duro e arrogante, Mel via como ele era gentil com seus companheiros lhes trazendo água, lhes ajudando a carregar pesos que pareciam um fardo grande demais, corrigindo posições na espada, Mel via o porquê dele ser vice na liderança, todos pareciam gostar e respeitar ele assim como Dom.

"É diferente depois que você o conhece, não é."

Arthur sentou-se a seu lado, enquanto eles descansavam um pouco.

"Sim, não consigo mais vê-lo como antes."

"Ele tem um bom coração, principalmente com tudo que lhe aconteceu."

"Eu sei."

"Não estou falando do braço dele, e bem, nem da família que o abandonou a própria sorte, mas sim dela... Ele devia ter uns 15 anos e eu devia ter uns nove na época, não me lembro bem, nem entendia estas coisas direito, mas Ben se apaixonou por uma mulher mais velha que ele e ela estava prometida a outro homem."

Melanie aguardou a continuação da história.

"Foi algo doloroso para ele, pois ela também o amava, não sei realmente o que deve ter doído mais, acho que se ela não correspondesse seria melhor."

Melanie aquiesceu.

"O que seria melhor, nunca sentir ou sentir e sofrer por isso quando o perder?"

"Sim, acontece que o homem ao qual ela estava prometida descobriu e foi atrás dele, Marion tentou escondê-lo, mas Ben não aceitou e foi enfrentar o homem, que quase o matou, ele ainda não era bom com uma espada como agora e com somente uma mão estava em desvantagem, Dom não conseguiu chegar a tempo, quando o homem foi dar o golpe final em Ben, a mulher prometida colocou seu corpo na frente para protegê-lo e a espada perfurou seu coração."

Uma lágrima escapou e escorreu pela face de Mel.

"O homem ficou devastado e fugiu, nunca mais foi visto, já Ben ficou com a amada nos braços até seu último suspiro. Logo depois descobrimos que ela estava esperando um filho dele, ele perdeu tudo que tinha recuperado naquela noite e mesmo assim conseguiu seguir em frente, por isso toda a preocupação com todos, ele não admiti, mas não quer perder mais ninguém, não se ele puder protegê-los."

Mel tentou respirar fundo para não chorar, era uma história trágica, ás vezes ela se esquecia em que época se encontrava e que coisas assim podiam acontecer o tempo todo, amores proibidos, corações prometidos, vidas interrompidas. Agora entendia o motivo do olhar de Ben para o berço, ele perdera um filho que nunca chegou a conhecer, nem conseguia imaginar isso, como poderia? Ben era um ano mais novo do que ela quando tudo aconteceu, ela não poderia imaginar sentir um filho em sua barriga naquele momento, muito menos perdê-lo, involuntariamente sua mão repouso em seu ventre imaginando a sensação.

Arthur com toda a sua delicadeza capturou a lágrima que caia de seu rosto e acariciou sua bochecha com o polegar secando outras que estavam por vir, Mel sorriu com o toque fechando os olhos, quando os abriu descobriu Arthur ainda olhando para ela, sua mão pairava ao lado do seu rosto, ela desceu até seu maxilar, Arthur a encarava sério, com olhos bem abertos e uma respiração pesada, ao entender o que viria a seguir, Mel prendeu a respiração arregalando um pouco os olhos, quando...

"Vamos lá sem preguiça vocês dois, ainda não acabamos aqui."

Dom apareceu na frente deles, parecia que não tinha percebido o quão próximos estavam, Mel levantou num salto, enquanto Arthur suspirava e levantava com sua paciência inquebrável. Entregou-lhes suas espadas de madeira e recomeçaram com o treinamento.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen2U.Pro