Capítulo 11 - Palavras não ditas

Màu nền
Font chữ
Font size
Chiều cao dòng


E mais uma vez Melanie caiu de costas na cama com o corpo absolutamente dolorido, calos nos pés e nas mãos e talvez ainda mais suja do que Ben (o que era algo digno de nota). Quanto tempo havia passado? Umas três semanas talvez? Era difícil marcar o tempo, seus dias eram divididos entre treinamentos de magia, esgrima, combate, passeios com Elizabeth e Arthur, visitas a casa de Dom, chás agradáveis com o rei e tantas outras coisas.

Agora deitada em sua cama, olhando para o teto ela simplesmente não conseguia pensar em mais nada, somente queria tomar o banho que Doris preparara para ela e ir dormir, levantou-se de sua cama e tirou as roupas de couro pesadas, antes que pudesse ir até a banheira viu de relance o livro, por um momento o pegou em sua mão, pensando se não deveria lê-lo, fazia muito tempo que ela só escrevia nele.

Suas mãos folhearam as páginas, seus olhos correram as palavras sem realmente lê-las, até que sua visão começou a embaçar pelo cansaço e suas mãos não aguentavam nem sequer o peso do livro, logo o guardou e foi para o seu aguardado banho.

Naquela mesma noite, Melanie foi surpreendida em seu quarto por Doris que carregava um amontoado de tecidos verdes, descobriu ao deixa-la entrar que se tratava de um vestido que usaria no baile para a escolha da noiva de Arthur. Durante as semanas Mel estava tão absorta em seu treinamento que havia se esquecido do baile, Doris a fez vesti-lo para ajustar ao tamanho de Melanie quando se viu no espelho e não conseguia lembrar quando foi que se sentiu tão bonita, notou o quanto seu corpo já havia mudado devido ao treinamento de Dom, tinha ganhado mais massa e curvas, deixando de ser totalmente reta. Quando Doris foi embora, finalmente pode refletir sobre o motivo do baile.

Arthur... por que ela se sentia triste com a aproximação do baile? Por que sua respiração fraquejava quando pensava nele? Fechou os olhos e tentou se lembrar de outra pessoa, de outras características, tão diferentes as quais ela pensou um dia amar, Will... será que se Melanie tivesse ido embora antes ela ainda estaria apaixonada por Will, será que eles talvez estivessem juntos a essa altura? Melanie não sabia dizer, somente sabia que seu coração estava dividido, confuso e dolorido, e se ela ficasse? E se... não, tirou essas ideias da cabeça, esse não era seu tempo, não era sua realidade e Arthur iria ter uma noiva dentro de dois dias, conforme-se.

Pela segunda vez estava começando a se apaixonar por alguém que nunca iria ter. Virando-se na cama com um sentimento de vazio, Melanie tentou dormir.

***

No dia que antecedia o baile Melanie foi dispensada do seu treinamento físico, tendo somente as aulas de Merlin pela manhã.

"Está com alguma preocupação?"

Já era a terceira vez que Merlin tinha que lhe chamar a atenção, de fato não prestava muita atenção, sua cabeça viajava em outro lugar.

"É sobre o baile, é que..."

Não terminou a frase, mesmo assim parecia que Merlin sabia exatamente do que se tratava.

"Oh, vocês jovens, complicam tudo, seria tão mais fácil se admitissem logo de uma vez."

Sem prestar atenção Mel concordou.

"Sim, seria mais fácil, tão mais fácil se ele..."

De repente Mel arregalou os olhos, assustada com aquilo que quase confessará em voz alta.

"Quer dizer, ah, deixa pra lá."

Merlin a olhou desconfiado.

"Ora, tudo bem, vamos encerrar essa aula por hoje, você não consegue se concentrar de qualquer forma."

Suspirando por ser verdade, mesmo que ela não quisesse admitir, concordou pegando o livro.

"Tudo bem, talvez eu use este tempo para ler um pouco."

Mel seguiu em direção a porta, assim que a abriu para sair viu Ben encostado na parede ao lado da porta, se esforçando para fazer sua melhor expressão de tédio.

"O que faz aqui?"

Ele a olhou parecendo sonolento.

"Esperava você."

"Posso saber o por quê?

Ben desencostou da parede parando a sua frente.

"Por ordens é claro, vou ser sua escolta hoje."

"Desde quando preciso de escolta para andar dentro do castelo. E além disso, você não deveria ser a escolta do Arthur?"

"Bem, desde que o castelo será invadido por diversas pessoas que não conhecemos, e que talvez estejam curiosas em saber quem é a nova aprendiz de Merlin. E Arthur está bem protegido junto do rei e de Dario recebendo os convidados."

Melanie entendeu, então os convidados já estavam chegando para o baile do dia seguinte, parecia que alguns iriam se hospedar no castelo aquela noite. Sua expressão era vaga e um tanto tristonha, até se esqueceu que Ben estava lá, ele entretanto tinha total consciência daquela expressão e sentia-se de fato triste por ela.

"Mel? Olá! Estou falando com você, então o que quer fazer hoje?"

Saindo do torpor Melanie perguntou.

"Sim, o quê?"

"Onde você quer ir?"

Ela olhou para o livro, pensando que não queria correr o risco de encontrar nenhum convidado ficando andando pelo castelo, entretanto também não queria ficar trancada em seu quarto.

"Não sei bem. Só queria ler um pouco na verdade."

Ben sorriu.

"Tudo bem, se você quiser nós podemos ficar no seu quarto, eu não tenho nenhum problema com isso."

Novamente o sorriso convencido e o flerte, Mel queria ficar irritada, mas não conseguia mais ver Benjamin como antes, agora ele parecia até diferente, como se tudo que ele dissesse só fosse uma mera máscara para esconder quem ele era realmente, ela sorriu, e Ben por um momento entendeu errado chegando a ficar surpreso.

"Tentador, mas não obrigada. Não quero ficar no castelo."

Ben bufou voltando a sua expressão entediada.

"Que seja, nós podemos ir naquele lugar que você e Arthur vão sempre, estou um pouco cansado e não vejo problema em tirar uns cochilos enquanto você fica lendo."

A ideia agradou a Melanie.

"Tudo bem, concordo, vamos logo então."

"Não tão rápido, estou aqui esperando a manhã inteira sabia? Vamos comer algo antes, estou faminto."

Os dois seguiram até a cozinha para pegar algo para comer, Mel sabia que Ben não tinha bom humor quando estava com fome.

Por mais que Ben e Mel tivessem evitado ao máximo aqueles corredores que sabiam que os hóspedes estariam e passado rápido pela cozinha, ainda não conseguiram evitar uma pequena comitiva que chegava ao castelo naquele instante.

Dois cavaleiros, um velho homem rico e uma dama saiam de uma carruagem, ela era de fato bonita com olhos cor de mel, quase dourados e cabelos loiros e encaracolados como os de Elizabeth e um corpo escultural coberto com um vestido soberbo que marcava bem a cintura.

Mel sentiu-se pequena e insignificante com seu vestido simples perto da mulher que parecia mais velha que ela, olhando de esguelha para Ben, ela esperava que ele ficasse encantado com a visão, ou mostrasse pelo menos um sorriso, mas não o fez, andou ao lado de Mel como se não visse mais ninguém, sua expressão não se alterou com a passagem da mulher, nem ligou quando esta torcer o nariz para as roupas dele, que como sempre estavam sujas de terra e o rosto parecia ter tido o mesmo tratamento e ignorar Melanie como se não fosse ninguém.

Mel nunca pensara nisso, mas pensando bem, nunca o vira realmente limpo por assim dizer, Ben andava sempre desleixado e sujo, como se não quisesse que ninguém o visse de verdade debaixo de toda aquela sujeira. De certa forma Mel entendia o porquê e até respeitava isso.

Chegando ao estábulo real, Mel percebeu que não sentia mais o cheiro forte, ou eles haviam limpado, ou ela já estava se acostumando com o cheiro, o que não sabia se era bom ou ruim. Com ajuda de Ben, Mel conseguiu preparar seu cavalo, era um corcel bege quase dourado como Aslan com crina, cauda e focinho preto, ao qual ela dera o nome de Spirit, enquanto ele preparava o seu Boris, que era o irmão mais novo de sagaz (apropriado), antes dela subir em suas costas Spirit sempre abaixava a cabeça para Mel e ela o acariciava com sua testa, Ben sorriu com a cena, gostava da forma com que ela tratava os animais.

Juntos seguiram para a margem do rio onde se encontravam as flores perto da cachoeira, como disse antes, assim que desceu do cavalo Ben se acomodou na relva e fingiu dormir, Mel sentou-se apoiando as costas em uma árvore próxima, encostou a cabeça na árvore e olhou o céu por um momento, sorrindo.

Pegou o livro de dentro do saquinho e o destrancou como já estava mais do que acostumada a fazer, foi folheando até chegar aquele momento, já não estava com tanta paciência para ler todas as suas observações (que aliás eram extremamente descritivas) então fez uma leitura dinâmica, pulando algumas partes, mas quando começou a parte do baile e viu a palavra beijo e Arthur próximas uma da outra, parou de ler no mesmo instante fechando o livro bruscamente, chegando até a assustar Ben em seu cochilo falso.

Suas bochechas queimaram, seu coração acelerou, será? Será que aquele seria seu pri... balançou a cabeça tentando tirar esses pensamentos que só a perturbavam, respirou fundo novamente e pegou o saquinho que guardava o livro, dentro dele também estava o estojo que Merlin lhe dera, e como percebeu que não teria mais coragem de ler, Mel pegou seu material e começou a desenhar.

Ela já tinha feito alguns desenhos, todos ricamente trabalhados com luz e sombras, utilizando somente o grafite, tinha desenhos dos príncipes, de Elizabeth, de Merlin, do rei, dos cavalos e agora ela começaria a desenhar Ben deitado na relva imóvel, ele seria um bom modelo.

Ficou assim por horas, somente desenhando quando Ben resolveu levantar, se aproximando de Melanie sem ela notar, ele agachou ao seu lado próximo a ela para ver o que estava desenhando, ela somente o notou quando este falou perto de seu ouvido.

"É muito bonito."

Virando o rosto para a esquerda Mel viu o rosto de Ben próximo ao seu, ele contemplava o desenho com um sorriso simples e sincero que aparecia raramente. Ele virou seu rosto para o dela, olhos nos olhos.

"Você desenha muito bem, capta exatamente o que vê, é lindo."

Ela ficou vermelha, sem graça abaixou o rosto novamente para o desenho.

"Obrigada."

Mesmo Melanie que nunca teve atração de fato por Ben sentiu seu coração acelerar e sua pele ferver, sua mão não estava mais firme para segurar o grafite. Ben olhou para o céu.

"Acho que devemos ir."

Levantando-se ele estendeu sua mão para Mel e a ajudou a se erguer, suas pernas no entanto não estavam preparadas, por terem ficado muito tempo na mesma posição estavam dormentes, fraquejaram a tombando para frente em cima de Ben, que pareceu nem sentir o peso a mais em seu peito, ele a segurou sem ao menos tombar um pouco para trás.

"Ei, vai com calma eu não vou fugir."

Suas mãos estavam pousadas no peito de Ben, por causa do terreno ela estava na mesma altura que ele, seu nariz tocando o dele, a mão de Ben repousava em sua cintura, com o susto Mel o empurrou quase caindo para trás e Ben a equilibrou novamente.

"Você não precisa ficar constrangida assim toda vez, nem sempre eu falo sério."

Mel o olhou apertando os olhos, irritada.

"É mesmo? Então você deve ser um ótimo ator."

"Não, talvez, bem para certas coisas sim, ou talvez eu só não seja muito bom em esconder o que sinto."

Seu olhar para Melanie era intenso, ele sempre a provocava assim, a deixando irritada, revirando os olhos suspirando, Mel o deixou ali e foi em direção a Spirit, com toda a raiva que sentia naquele momento, conseguiu subir na sela, sem olhar para trás aguardou impaciente Ben subir em Boris e avançou assim que ele já estava quase pronto.

Ben a ultrapassou sorrindo e mesmo não querendo Mel sorriu de volta, sua raiva já se dissipando dentro de si. Ela gostava tanto de cavalgar, de sentir o vento refrescante em seu rosto, a fazia se sentir muito bem.

Quando chegavam perto do estábulo e desceram dos cavalos guiando-os, Ben parou abruptamente a sua frente.

"Acho melhor você seguir para o castelo, deixe que eu os leve."

"Não tudo bem, eu posso levar Spirit, além disso quero escová-lo um pouco."

"É que eu... acho melhor."

Foi então que Mel a viu, a mesma mulher que passara por ela, estava na porta do estábulo parecia que estava esperando alguém, antes que Mel conseguisse dizer algo, Arthur saiu de lá sorrindo para a mulher que tinha quase sua altura, sendo somente alguns centímetros mais baixa, estendeu o braço para ela e os dois saíram caminhando de volta para o castelo.

"Mel..."

Ben tentou dizer, mas ela não deixou seguindo resignada para o estábulo, seus olhos queimavam querendo derramar lágrimas, mas ela as segurou, Ben a seguiu. Ela não devia sentir aquilo, ela não queria sentir aquilo, ela não queria se machucar novamente.

Eles chegaram ao estábulo, Mel levou Spirit até o seu lugar tirando a pesada sela e pegando a escova mecanicamente sem ver o que estava fazendo, enquanto escovava sua visão embaçava cada vez mais, gotas escorriam pelo seu rosto sem ela querer, uma mão pousou sobre a sua que segurava a escova.

"Vá com mais calma, não desconte sua raiva nele."

Parando Mel respirou fundo, Ben soltou sua mão, ela abaixou o braço ficando imóvel.

"Olha, ele tem que fazer isso com todos, mostrar o castelo e tudo mais, é seu dever como príncipe, você não deve ficar assim..."

"Eu sei Ben, além disso não tenho motivos para me importar, não se preocupe."

Ben suspirou.

"Você acha que dizendo isso você vai deixar de sentir? Você acha que mentir pra si mesma resolve alguma coisa? Acredite, não resolve, eu sei."

Por um momento Mel se lembrou da história de Ben e sentiu-se mal, aquilo não chegava nem perto de ser doloroso como um dia fora para Ben.

"Desculpe, eu sei que é ridículo agir dessa forma. Desculpe mesmo Ben, mas uma coisa você tem que admitir que não tem possibilidade alguma de nós... entende, como você disse como príncipe ele já tem seu dever e eu tenho o meu."

Enquanto enxugava as lágrimas com as mangas, em um movimento inesperado, Ben a puxou em um abraço, por um tempo Mel repousou a cabeça em seu peito se acalmando, ele acariciava seu cabelo e beijou sua testa, dizendo que tudo daria certo no fim, as vezes Ben tinha seus momentos, agia como Dom, a confortando como um irmão mais velho.

"Eu sei, algumas coisas não são justas nessa vida."

"Nem me diga."

Eles riram, Ben se afastou enxugando o restante das lágrimas de Mel.

"Tudo bem?"

"Vai ficar."

Depois de escovarem seus cavalos os dois seguiram juntos para o castelo, rindo e se divertindo como velhos amigos.

***

Melanie acordou vidrada, olhando imóvel para o teto da cama, já fazia isso há horas, foi dormir tarde (pelo menos ela pensou ser tarde) tendo uma noite conturbada de sonhos, pesadelos, fazia algum tempo que não tinha sonhos assim, na verdade desde que chegara.

Pensando melhor, era estranho aqueles sonhos sombrios voltarem, infelizmente, nem sonhos sombrios e pesadelos estranhos conseguiam desviar Melanie da sua atual preocupação, uma que ela queria ignorar veementemente e mesmo assim não conseguia.

Arthur.

Uma careta, agora já estava na fase dois, primeiro era a negação, depois era admitir e fazer caretas ao lembrar dele, ela temia a chegada do terceiro passo. Felizmente Doris a interrompeu quando bateu à porta para despertá-la, pois naquele dia Mel pediu para Doris servir seu café da manhã em seu quarto, não querendo comparecer ao desejum oficial do rei, onde todos os hóspedes que chegaram, até agora, para o baile estariam.

Com o tempo livre, Mel resolveu estudar um pouco, claro que em seu quarto não poderia executar todos os feitiços, mas podia fazer algumas coisas, entretanto não teve muito tempo para isso, logo Elizabeth batia em sua porta.

"Mel, Mel, por que não foi ao café da manhã."

"Desculpe Lize, eu..."

"Você tinha que ter ido! Arthur ficou rodeado de três garotas chatas, que só apertavam minhas bochechas!"

De fato as bochechas de Elizabeth estavam com pequenas manchas vermelhas, Melanie riu de sua expressão irritada.

"Você tinha que ter ido! Você mostraria como você é melhor que elas!"

"Lize querida, você não pode pensar assim, não julgue as pessoas, talvez elas somente pareçam ruins, mas você pode se surpreender."

"Mas, mas, você não as viu! Tinha uma mulher de olhos dourados que dava medo."

Mulher de olhos dourados, seu sangue chegou a ferver, Mel sorriu forçada dessa vez.

"Tenho certeza que nada é tão ruim quanto parece."

"Mas, eu não quero! Eu não... eu não quero, eu... quero que você se case com Arthur!"

Aquilo a surpreendeu como uma bofetada, Melanie ficou vermelha.

"Ora Lize, eu não posso, é difícil, entende... eu nem se quer sou candidata a noiva, eu sou uma aprendiz de Merlin, não sou qualificada."

A pequena criança parecia não ceder as suas desculpas.

"Você gosta dele, certo?"

Seus olhos se arregalaram por um momento com a pergunta.

"Sim, não, quer dizer, eu gosto como eu gosto de você."

Revirou os olhos.

"Arthur disse o mesmo."

"Disse o mesmo?"

"Sim, exatamente a mesma frase."

Disse Elizabeth já na porta, acenando para Melanie ela se retirou.

"Como assim? Ela disse isso a ele?!"

Falando em voz alta para si mesma, colocou suas mãos no rosto e caiu de costas na cama com um pequeno estrondo, oh cara, já estava começando a ficar com medo daquela pequena cupido pestinha.

***

Já faziam pelo menos três horas, Melanie tinha certeza disso, mas será possível que se arrumar para um baile na idade média demorava tanto assim?! Melanie achava que não, pensava que Doris que era muito cautelosa e perfeccionista.

Seu estômago estava tranquilo até Doris anunciar que já estava na hora, uma última olhada no espelho e um deslumbre, o vestido era perfeito e o cabelo caia em cascatas com tranças ao redor como uma coroa, adornadas com pedras verdes, esmeraldas, depois disso suas pernas tremiam, seu estômago embrulhava, suas mãos suavam frio, Mel sentiu-se mal enquanto caminhavam pelos corredores.

A ansiedade que sentia aumentou a medida que fora chegando perto do grande salão, pois nos corredores já se encontravam convidados que estavam chegando, Melanie avistou a grande porta, nela estavam o rei e os príncipes, exceto Dom, cumprimentando a todos que passavam, assim que chegou mais perto Arthur a viu, foi o primeiro, mesmo tentando não esboçar nenhuma reação, Mel percebeu que ele respirou fundo pela surpresa e segurou a respiração, eles se encararam, os olhares de ambos não demonstravam sentimento algum, o que talvez significasse muito mais do que se demonstrassem algo.

Elizabeth foi a segunda a vê-la e correu em sua direção quebrando o protocolo da realeza, Mel olhou preocupada para o rei que sorriu consentindo, assim que Lize a alcançou ela a abraçou, apertando-a forte na cintura, Mel abaixou e retribuiu o abraço enquanto olhares hostis e indignados eram dados a ela pelos convidados que presenciavam a cena.

Ao chegar a porta, Mel cumprimentou como todos faziam.

"Altezas... Majestade."

Fez uma reverencia a todos, Arthur era o único que parecia evitar olhar para ela, Mel se preguntava se ele ainda segurava a respiração, enfim dirigiu-se com um suspiro para o salão enquanto Lize a levava a reboque quando adentrou o grande salão, Mel tinha de admitir que era um lugar deslumbrante.

Um grande candelabro de ferro talhado, com velas acesas encontrava-se suspenso no meio do salão, entretanto não era o ponto alto da decoração, o salão de pedra adornava-se com tecidos leves coloridos, que pendiam nas paredes ao redor e onde também tinham mais candelabros com velas, três grandes mesas estavam dispostas formando um U onde o centro era destinado a pista de dança, e para completar uma música suave instrumental tocava ao fundo.

A noite começou com um grande jantar e continuou com todos se preparando para dançar, o humor de Melanie não era dos melhores, durante o jantar a mulher de olhos dourados não saiu do lado de Arthur, Melanie nem teve a chance de falar com ele, nem sabia se a tinha notado.

O pior foi quando Dom e Marion insistiram que Melanie fosse se apresentar a noiva de Dario, Lady Julianna, tinha a altura de Melanie era esguia com um longo cabelo preto reluzente e estava conversando com Arthur e a mulher estranha, quando se aproximou percebeu que ela era mais velha, aparentava já ter uns 25 anos, era ainda mais arrogante de perto, quando Arthur a viu respirou fundo novamente, se esforçando para não esboçar mais nenhuma reação,  Mel estava com um vestido verde que Doris escolhera e era particularmente bonito, adornado com diversas pedras, a cor realçava a beleza peculiar de Melanie de uma forma única.

As apresentações foram breves, Mel descobriu que o nome da mulher de olhos dourados era Lady Catelynn e Marion teve de se retirar para se sentar devido ao peso de quase oito meses de gestação, a música mudou e todos se preparam para dançar, Dom que já havia voltado depois de acompanhar a espoja tirou Lady Julianna para dançar, enquanto Lady Catelynn praticamente arrastava Arthur sem ele pedir e por fim, sem esperar, Dario a chamou.

"Fico lisonjeada, mas não sei dançar, eu..."

"Não se preocupe, eu a conduzirei."

"Mas..."

Dario estendeu a mão, relutante Mel a segurou, ele a levou até a pista de dança e se posicionou como os outros casais, Mel fez o que as damas faziam, ficando na mesma posição, percebendo seu nervosismo, Lady Catelynn sorriu arrogantemente para Melanie, como se ela estivesse com patins de hóquei em cima de um lago congelado onde estava prestes a cair.

Sorrindo a encorajando, Dario a guiou pelo salão. Começou com alguns passos à frente, uma reverência, dois passos para trás, um cumprimento, um para o lado, um para o outro, uma levantada e um giro, troca de parceiros.

Mel não sabia que a dança trocava de parceiros, mas não teve tempo de pensar, logo estava sendo girada para outro par de mãos que lhe seguravam. Mais um giro, outro parceiro, mais um giro, um giro, Arthur.

Quando finalmente caíram juntos, Arthur e Melanie se encararam por um milésimo de segundo antes de Arthur finalmente tomar sua posição, segurando com sua mão direita a mão esquerda de Melanie e com o seu braço esquerdo na cintura dela.

Com os outros parceiros a dança pareceu passar rápido demais, mas não com Arthur, com ele parecia que o tempo se esquecia de correr.

"Você fica linda com verde."

Mel corou, Arthur sorriu achando extremamente encantador.

"Obrigada."

Arthur sorriu fracamente franzindo as sobrancelhas, como se relutasse em dizer algo.

"Mel...nós, bem... não falamos sobre...eu queria..."

Ela aguardou, nem lembrando mais de dançar, mais parecia ser arrastada por Arthur.

"Sim?"

Ele ergueu o olhar em direção ao dela.

"Eu só não..."

Pela primeira vez Arthur parecia nervoso e impaciente consigo mesmo. Seu olhar era intenso quando se aproximou mais.

"Mel...eu... queria"

Arthur não precisava dizer, o olhar consternado a encarava, quase encostando sua testa na dela, os cabelos loiros caiam-lhe na frente dos olhos, fazendo sombras dançarem em seu rosto, aquele olhar a paralisou no lugar, sugou toda a sua respiração a deixando sem ar. O que ele estava querendo dizer? Onde ele queria chegar? Ele não poderia... não poderia... não... Melanie não conseguia acreditar naquele olhar e ao mesmo tempo ela ansiava tanto por ele, ansiava por um toque, pela carícia, por um beijo.

Sua mão direita repousou sobre seu rosto onde somente o polegar acariciou sua face, ela respirou fundo se preparando, os dois tinham esquecido completamente onde estavam, por que estavam, os motivos se perdiam na leve brisa que vinha das sacadas ao redor do salão. Tudo parecia um sonho, algo tão surreal, que não poderia ser real.

E não foi.

A música parou, todos pararam, eles teriam de decidir agora, era o último segundo antes de alguém notá-los naquela posição, Mel o olhou em lamento, ela não poderia continuar com aquilo, não poderia, ela não ficaria. Fechando os olhos respirou fundo saiu lhe dando as costas, Arthur por um momento terrível ficou parado a observando ir, ele tivera uma única chance e a tinha perdido, agora o que lhe restava era cumprir com seus deveres de príncipe, algo em seu peito se rasgou, entretanto, não pode ficar tranquilo muito tempo com sua dor, pois Lady Catelynn o tocou em seu braço, o chamando para ir a algum lugar, Arthur estava tão entorpecido que somente a deixou guiá-lo sem mesmo prestar atenção para onde ia.

***

A temperatura pareceu aumentar ao decorrer da noite, Melanie sentiu-se sufocada, tinha de sair dali, enfim, conseguiu escapar e se esgueirou para uma das sacadas, entrou depressa para ninguém perceber e a seguir, mas parecia que alguém já tinha pensado nisso, pois a sua frente estavam Arthur e Lady Catelynn, ele segurava em seus ombros e ela estava com os braços entrelaçados ao redor de seu pescoço, os dois estava envoltos em um beijo.

Saiu quase correndo e esbarrando nos convidados, foi direto para a outra sacada que ficava do outro lado do salão, só parou quando suas mãos tocaram na pedra gélida e seu corpo bateu bruscamente quase a derrubando, ficou ali somente sentindo a brisa fria lhe atingir, o salão poderia estar quente, mas do lado de fora estava frio, frio como o inverno que se aproximava ou talvez fosse somente a sensação daquele sentimento ruim.

Dessa vez as lágrimas não vieram, ficou somente ali, imóvel, olhando para o nada, para o breu da noite à frente, exceto pela lua, que ironicamente estava cheia de vida e nem as nuvens que a cobriam conseguiam esconder seu brilho.

Estando tão entorpecida, não o ouviu se aproximar, somente percebeu sua presença quando sentiu o toque lhe percorrer o braço dos ombros ao cotovelo, onde se afastou bruscamente empurrando as mãos ao seu redor.

"Como vai pequena bruxa, não se esquecera de mim, certo?"

Correl a agarrou em um aperto forte. Como pudera se esquecer dele! Não sabia com quem estava mais indignada, com ele ou com ela mesma por não ter prestado atenção.

"Me. Solte. Agora."

Dessa vez foi diferente, não foi como a primeira vez que o encontrará, sua fala era firme, não era a mesma garota que chegou ali, agora já pensava em diversas formas que poderia queima-lo.

"Quando vai aprender que eu não obedeço a mulher alguma."

Um tapa. Ele a acertou em cheio pegando-a de surpresa, sentiu sua pele do lado esquerdo do rosto arder e ser esfolada pela pele áspera de sua mão, Correl sempre fora ameaçador desde que o conhecera, entretanto parecia somente pose, nunca pensou que ele a machucaria de verdade.

"Não tenho mais tempo para joguinhos, me entregue o maldito livro, ou..."

"Como ousa me ameaçar dessa forma, você tem ideia dos meus poderes agora, Correl, sabe que posso incinerá-lo vivo!"

Melanie gritou tudo de uma vez, fazendo com que Lorde Correl ficasse surpreso por um momento, que passou rápido, pois ele apertou seu braço direito novamente com o dobro de força a puxando para ele já pronto para lhe bater pela segunda vez.

"Ora essa! Se não é Correl meu parceiro de copo!"

Um Ben entrou pela sacada meio alterado segurando, derramando, uma taça de vinho. Melanie nem sequer o tinha visto no baile a noite toda.

"Olhe só Benjamin! Parece que se divertiu sozinho hoje."

"E você parece fazer o mesmo!"

Mel sentia a respiração pesada a suas costas, gritaria para Ben não sair quando ele já tinha virado de costas para eles, o que felizmente não precisou fazer, pois Ben girou nos calcanhares de volta em sua direção.

"Entretanto... temo que escolheu a pessoa errada para se divertir esta noite."

Em um instante sua voz voltou ao normal, sóbria, séria, ameaçadora, ele se postou ao lado de Melanie e sorriu largamente para Correl.

"Caso não saiba, ela é protegida do rei e dos príncipes, sem contar Merlin e caso nenhum esteja presente, como agora, automaticamente ela passa a ser MINHA responsabilidade, então se o senhor não quiser ter o mesmo charme que eu, sugiro que NUNCA mais ouse tocar em um único, que seja, fio de seu cabelo, muito menos lhe bater novamente, caso contrário não vou ameaçá-lo, deceparei suas mãos sem aviso, estamos entendidos?"

Ben disse tudo ao mesmo tempo em que, em um movimento tão rápido que Melanie não acompanhou, deixou a taça cair no chão derramando o conteúdo vermelho como sangue ao passo que uma adaga já estava em sua mão sobre o pulso de Correl que agarrava o braço de Melanie, ela chegou a se assustar ao notar que já vertia sangue da lâmina onde cortava o pulso de Correl. Ben havia feito isso sorrindo largamente, ele definitivamente era diferente de Arthur, onde um era calmo e sereno, o outro era perigoso e destrutivo.

Correl sorriu da mesma forma que Ben, os dois ficaram naquele impasse durante o que pareceu um minuto inteiro, o sangue escorria pela faca e Correl parecia não se importar, finalmente depois da situação ficar quase insuportável, ele a soltou abaixando a mão, Ben continuou na mesma posição por um tempo, depois que Correl se afastou, ele também abaixou a mão, os dois viram o cavaleiro se afastar com um sorriso de quem sabe algo que eles não gostariam de saber.

Ben não se moveu mais, ficou parado no mesmo lugar, exceto pela expressão, seu rosto estava franzido de desgosto, ainda parecia tenso. Mel tentou voltar a respirar calmamente.

"Parceiros de copo, heim?"

Ben saiu do torpor com a tentativa de Melanie de descontrair o ambiente, voltando a ter uma expressão um pouco menos preocupada, o que era melhor, pois a outra expressão não combinava com ele, virou-se para ela.

"O que posso dizer? Momentos ruins, companhias ruis."

Deu de ombros limpando sua adaga e a guardando em algum bolso escondido. Mel se surpreendeu quando o viu de frente, seu cabelo estava limpo e sedoso, apesar de ainda bagunçado, sua face não tinha nenhuma mancha e as roupas eram elegantes sem nenhum vestígio de lama. Isso a desconcertou, quando os olhos azuis-cobalto a encararam a fazendo esquecer por um instante o que acontecera.

A olhando preocupado Ben segurou suavemente em seu rosto o virando para ver melhor onde estava arranhado pelo tapa de Correl, se aproximou para isso, a deixando ainda mais sem graça.

"Desculpe por isso, eu deveria ter chegado antes, Arthur me avisou para ficar de olho em Correl e tinha razão eu não deveria ter me afastado tanto."

Arthur.

Melanie abaixou o olhar tentando impedir de seu rosto mostrar como o nome a afetava, mesmo assim uma parte dela ainda insistiu em notar que Arthur se lembrou de quando Correl a provocou e quis que ela fosse protegida, isso significava que ele se importava com ela, entretanto ela se lembrou do beijo e tentou tirar esses pensamentos da cabeça, pois não significava nada ele se importar, talvez só estivesse cumprindo o seu dever.

Notando sua reação, Ben levantou seu rosto a puxando ainda mais para frente em direção a ele.

"Aconteceu mais alguma coisa, não foi? Mel me diga, alguém fez algo contra você?"

Por um momento Mel deixou transparecer o sentimento em sua expressão, por um único momento deixou Ben ver o que ela sentia, sua dor. Ela poderia dizer a ele o que acontecera, mas não quis, estava cansada demais para falar sobre isso. Somente balançou a cabeça afirmativamente, sabendo que Ben não se convenceria se ela dissesse o contrário.

"Mel, pode me dizer, está bem?"

Melanie nunca vira Ben agir nem falar com tanta ternura e suavidade como naquele momento, estava acostumada com seu jeito rude e seus flertes, aquela atitude a surpreendeu e com a nova percepção de sua aparência a deixava ainda mais constrangida e talvez de certa forma confusa. Ben suspirou acariciando sua face com o polegar antes de soltá-la gentilmente a deixando abaixar a cabeça novamente.

"Tudo bem, vamos te tirar daqui."

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen2U.Pro