Esse ano fiz dois cursos. Um para estudar cinema, o outro, poesia. No primeiro eu olhava os espaços vazios entre os diálogos, no segundo, os espaços vazios entre os versos. Tem poeta moderno tal Goddard, que faz flashs entre frases. Aí precisei assisti-lo só para entender o que eram os tais recortes que me faziam querer completar aquela poesia complexa.

Esses dias estava escrevendo, troquei um z por s, acho que estava cansada demais para Letras. Às vezes estou cansada demais para Letras, mesmo isso sendo o que mais gosto de fazer. No tempo de ócio criativo, escasso, fiz os cursos. Escrevi pouco. Nem lembro se pensei. Porque geralmente penso quando escrevo. Agora faço texto de muitos pontos. Pausas para tomar fôlego da vida. Antes era diferente, fazia apostos olímpicos, sem perder minha oração principal. Agora sou curta e grossa, mesmo não sendo concisa. Pelo menos acho que não.

Voltando aos cursos. Os fiz. Não virei cineasta. Nem roteirista. Acho que sou prolixa para roteiros, eles parecem tão perfeitos, de uma forma matemática, sem mais, nem menos. Pensei até em ser poeta, incomodada com as rimas não intencionais da minha prosa. Mas poeta fala tudo que deve, na medida certa, sem mais, nem menos. Mas acho que sou prolixa demais para a poesia.

Quase fui poeta e cineasta... Fora isso, quase fui perita criminal, apenas no instante em que pensei que seria boa ideia começar a estudar de novo, e fora dos meus parâmetros de costume. E quase fui mestranda. Mestranda na minha área, tudo dentro dos conformes.

Quase fui poeta, cineasta, perita criminal e acadêmica das Letras. Em vez disso sou eu.