Os fios da minha raiva são vermelhos. São finos fios, cortantes, discretos. Mas são fios de raiva. Eles seguem os caminhos por onde passei, indignada, sendo apenas gente que sou. E eles percorrerão o mundo todo, se o mundo todo não mudar. E se eles sobreviverem ao tempo, e se essa minha raiva sobreviver milênios, eles serão uma das 7 não-maravilhas do mundo, acumulando poeira, como qualquer cacareco. Mas se eles sobrevivem um tempo razoavelmente inferior, e talvez mais apropriado, eles provavelmente me cobrirão com o seu explendor, e eu serei um todo vermelho vivo, da mais pura e sincera expressão da experiência humana. Que ódio!

Os fios da minha raiva são vermelhos. Vermelhos como deveriam ser, se acumulam nos cantos mais inapropriados do mundo, me fazem adoecer. Se eles se acalmarem, se tornarão violetas, diluídos no azul das coisas da terra, mas ao contrário do lugar-comum, de que roxo é uma cor amena, minha raiva virará decepção ou qualquer coisa parecida, mas igualmente sem força.