Dois

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Os seus olhos estavam se abrindo lentamente. Dentro de si mesmo, era como se o tempo estivesse ligeiramente quebrado ou perdido em algum escuro e nebuloso abismo da existência, e como se estivesse regressando lentamente como o bom filho que regressa à casa. A luz de mel intensa do dia, entretanto, inundou de repente o seu rostro, com o seu brilho de exaustivo descobrimento da vida. Os sons das pessoas e do ambiente em geral, no entanto, chegaram a os seus ouvidos pouco a pouco e em forma de pequenos e confusos murmúrios. Então, depois de alguns segundos de consciência nos qualis ele ou ela houvesse podido ouvir o som da brisa entre as pétalas das flores que em outono caem no chão, supondo que ele ou ela houvesse estado no lugar para fazê-lo, foi quando apareceu a primeira certeza: ele ou ela, ou quem quer que fosse, estava viajando em um trem. Disso não havia dúvida. Ao lado dele (ou ela) estava uma janela pela qual se via uma paisagem repleta de árvores com uns exóticos vestuários de essências verdes e infinitas. Além disso, o veículo no qual viajava, fazia um som leve, muito típico de um trem, e muito parecido ao do rugido de um modesto e sedoso rio.

"Quem sou eu? Quem diabos sou eu? ", foi a primeira coisa que ele se perguntou depois de descobrir que era um homem, um homem que, por alguma razão ou outra, viajava em um trem. Nesse momento, as águas enervantes do seu ser foram um redemoinho de vertigo insaciável e pulsátil dentro do seu próprio ser ele, um redemoinho único, um redemoinho com uma força impetuosa e avassaladora. "Quem sou eu? Quem sou eu?", ele se perguntava de novo e de novo e de novo, como se os batimentos do seu coração se tornaram suficientemente fortes e desesperados como para dizer-lhe a sua verdadeira identidade.

Agora bem, não sabemos se transcorreram dois ou três minutos depois daquilo, ou talvez mais, a única certeza é que depois de chorar um pouco e em silêncio, de chorar com a alma em uma insuficiente e ambígua profundidade da existência, ele, é dizer, o homem que tinha despertado recentemente em um trem sem memória alguma sobre si mesmo, retirou as suas mãos do seu rosto, em onde ele as tinha levado em um pequeno e compreensível gesto de angústia. Nesse instante, sobre uma tabela que estava ao frente dele, uma folha de papel com algo escrito sobre ela, chamou poderosamente a sua atenção.

Ele tomou aquela folha e começou a lê-la, sem saber que ao fazê-lo, um temor de limites insuspeitos invadiria cada uma das fibras e os nervos do seu corpo. Claro, aquela folha era uma nota para ele. Uma nota realmente misteriosa. Uma nota cujas linhas diziam o seguinte al mesmo tempo que beijavam os contornos de alguma desconhecida complexidade:

Talvez você esteja se perguntando, o meu caro amigo, quem você é, por que não lembra nada sobre si mesmo e por que está viajando só em um trem. Sabe?, o único certo que pode te dizer é que você nunca poderá obter uma resposta para aquelas básicas perguntas, se você não logra cumprir antes uma série de passos que indicaremos em seguida:

A primeira coisa que se deve fazer é continuar viajando no trem. Se você baixa dele, ou se você comenta com alguém a situação na qual está, pedindo ajuda para encontrar de alguma forma a sua identidade, o que seria em vão, o meu amigo, uma pessoa que está vigiando de forma discreta, despercebida e silenciosa, te disparará naquele momento, por isso, de ser você, eu pensaria duas vezes antes de querer sair deste interessante jogo. Agora, a próxima coisa que se deve fazer é procurar neste trem uma mulher muito atrativa que está vestida com um traje vermelho de uma peça, um traje elegante e muito ajustado ao corpo. Mais exatamente uma menina que você deve levar ao vagão número três deste trem antes das três da tarde. É necessário que te diga que somente se você lhe conta a ela de forma poética, de forma engenhosa e de forma única, as maravilhas da paisagem que se ve através das janelas deste trem ilustre no qual você está, você poderá convencê-la para que te acompanhe. Finalmente, eu te advirto que se você não quer perder a sua vida desde já, você tem que queimar agora mesmo esta folha, utilizando para isso a chama de uma vela que está muito perto de você. Boa sorte.

Usando a força que chegava um tanto desbocada desde o seu centro vital, para tomar um pouco de alento e esperança, aquele homem sem memória de si mesmo se levantou da cadeira na qual estava sentado, e saiu ao corredor do vagão daquele trem no que ele, sem saber por que, viajava. Um homem de gravata, chapéu e vestuário formal passava por alí, é dizer, por aquele corredor, razão pela qual o nosso amigo sem memória aproveitou para perguntar a hora. "São as duas e meia da tarde", respondeu aquele homem em traje formal que casualmente passava por alí. E foi então quando algumas gotas de suor perolado, produto dos nervos, começaram a cruzar a frente do nosso amigo sem memória.

Ele começou então a procurar, de forma ansiosa, à menina atrativa do treje vermelho. Nessas, ele deu de frente com um espelho e viu nele o reflexo de um homem de aspecto muito jovem, muito elegante e bonito de uns 30 anos. Aquela imagem de si mesmo lhe agradou bastante, de fato, muito. Depois disso, é dizer, depois de contemplar a sua figura naquele espelho, ele continuou procurando à mulher do vestido vermelho, isso, no último vagão do trem.

Duas e quarenta e duas da tarde, o nosso amigo sem memória tinha chegado ao último vagão do trem, sem encontrar à mulher que devia encontrar, o que significava que ela, é dizer, a linda, atrativa e desconhecida menina do vestido vermelho, estava em um dos três primeiros vagões do trem, nos quais, é necessário dizer, ele não tinha procurado. Para piorar a situação, ele estava no vagão número oito do trem, por essa razão ele teve que empreender uma carreira para ir o mais rápido possível aos vagões três e dois. Sim, a situação era demasiado escura, era demasiado nebulosa, era um túnel de segredos indecifráveis além desta vida.

No vagão número três, lamentavelmente, ela tampouco estava, e tudo parecia ir caminho ao limbo mais escuro e nefasto porque, e se ela, a atrativa menina do vestido vermelho, houvesse estado no vagão cinco ou seis, mas ao momento do nosso amigo passar por alí ela houvesse estado, por exemplo, no banheiro? Claro, isso seria terrível, o que fazer ou como agir diante de um desafortunado acontecimiento como aquele?

Sim, se não houvesse sido porque no vagão número dois o nosso amigo, graças a um efeito favorável do destino ou da providência ou de um enigma passional e infinito de um distante sonho, ou quem sabe o que outra coisa, de repente, encontrou à mulher que procurava tão ansiosamente, e a qual, devemos dizer neste ponto, parecia muito bela enquanto lia um jornal, tudo houvesse sido, realmente, muito escuro. Um limbo de sinergia opaca e sem nenhuma pulsação de vida.

 Agora, como ela, é dizer, a bela menina do traje vermelho, viajava sozinha, o nosso amigo sem memória se sentou em frente dela e saudou-a com grande tranquilidade, isto é, como se nada, e ao mesmo tempo que tentava ocultar todos os seus nervos e toda a sua ansiedade. A adrenalina que percorria o seu ser em grandes quantidades ajudou a aguçar cada um dos seus sentidos. Claro, afinal de contas, a sua vida, a sua própria vida, dependia de que tudo saísse bem.

— Desculpe, você tem horas? - lhe perguntou a ela depois de um longo instante de silêncio no qual ele esteve pensando o que dizer, e ao mesmo tempo que pensava em como conquistar às horas e como entrar na luz misteriosa de uns olhos de grande sensualidade e de fogo eterno.

 — As duas e cinqüenta da tarde. - respondeu ela.

 "É agora ou nunca. Não há tempo para ir mais lento", pensou ele, o nosso querido amigo sem memória.

 —Você sabe o que é o melhor deste belo passeio neste fabuloso trem?

— O que é? - se interessou ela, afortunadamente, e enquanto retirava os olhos do jornal que estava lendo.

 — Esta esplêndida e maravilhosa paisagem que podemos ver correr que através desses cristais... Sabe?, há coisas que só podem ser vistas a esta velocidade; como aquela tranquilidade perene com a que as árvores, as flores cheias de perfume, essas montanhas pensativas que não nos querem revelar os seus pensamentos, uma nuvem de olhar misterioso e fugaz e toda a erva daquele lugar de sonhos intensos que ocupa o pensamento desta vida.

— E você diz que também a erva?

— Pois... Já que você se ve interessada neste tema, eu quero dizer, na verdade, que ir a esta velocidade é como se um fosse, em parte, como a brisa.

— Como a brisa?

— Sim, claro. Porque só a brisa conhece os gestos verdes e sublimes das florestas, devido a que ela se move através da essência mais excelsa e quotidiana do infinito cada dia. Além disso, eu acho que todos os desejos que ela leva se desnudam na bela e inigualável natureza. Sim, eu acho que é assim, que a brisa se desnuda e se reconhece nela, na natureza. E em todas e em cada uma das palpitações da vida natural.

A mulher do traje vermelho observou por uma das janelas do trem e contemplou a paisagem. Depois de alguns segundos, os seus olhos se encheram de uma exótica mistura de doçura, beleza e vida.

— Vem, vem comigo. - lhe pediu então, muito de repente, o nosso amigo sem memória à bela e jovem mulher de vestido vermelho.

Ele não demonstrou nenhuma emoção ou alguma dúvida ao fazer aquela petição, da mesma forma na qual ela não demonstrou nada quando se levantou da cadeira na que estava sentada para acompanhá-lo, para acompanhar àquele homem de misteriosa poesia.

Duas e cinqüenta e sete da tarde, tanto a mulher do traje vermelho como o nosso amigo sem memória chegam ao vagão número três, onde um dos empregados do trem lhes disse que alguém lhes tinha reservado um pequeno e confortável quarto privado para eles dois. Nem a mulher do traje vermelho ou o nosso amigo sem memória perguntaram nada naquele momento, naquele momento de magia indecifrável e de mistério com os olhos de uma bela vida. Eles simplesmente entraram ao quarto e depois de uns segundos incertos de silêncio e incerteza, mas também de paixão, nos quais ambos pareciam estar examinando a figura do outro, ou talvez algo muito mais profundo, e enquanto esperavam que algo acontecesse, ou talvez, enquanto eles dois reconheciam o espírito do outro, a sensualidade se tornou infinita e a potência incomensurável das suas almas começou a operar. Ele se aproximou dela e ela dele e depois daquilo se beijaram. Pouco depois chegaram as carícias, umas carícias por todo o corpo, umas carícias com as quais, aqueles dois amantes arrastaram pequenas extensões de uma vida cheia de palpabilidade e eternidade. E assim, pouco a pouco, o amor e a paixão se condensaram naquele pequeno mas confortável quarto de um trem. Ele jurou então para ela um amor intenso, um amor infinito, um amor único, um amor sempre lúcido e passional, ao mesmo tempo ela correspondeu lhe para ele com um sorriso eterno de mulher apaixonada e um abraço de entrega, de absoluta e plácida entrega.

Passados alguns segundos de eternidade passional, é dizer, depois de muitos minutos de doçura e de jogar na pele do outro, ele lhe confessou a ela que havia despertado naquele trem sem memória de si mesmo, e sem mais indicações que as de encontrá-la a ela e levá-la até esse vagão. Ela, por sua vez, lhe confessou a ele que ela também tinha despertado alí, isto é, naquele trem, sem memória e com uma folha na qual recomenda-se, se ela queria viver, como que fizesse, até as três da tarde, que leia um jornal. Também se le dizia alí, que esperasse um homem de traje que devia acompanhar somente se ele falaba com ela da paisagem que se olhava fora do trem, em uma forma absolutamente bela e poética. Tão poética como uma vida de suaves e doces paixões.

— Não posso acreditar tudo isto. - sussurrou ele—. Tudo isto é realmente raro e incomum. Mas o mais raro e incomum de tudo é que eu me sinto como se te conhecesse desde sempre.

— O mesmo me acontece. - disse ela, pouco antes de que um empregado chamasse à porta do quarto onde ambos estavam nus, para dar-lhes uma nota.

Uma nota a qual o nosso amigo sem memória leu em voz alta e que, enquanto evaporava as circunvoluções imprecisas do tudo e da nada, dizia:

Eu quero que lhes informar hoje que, apesar de que vocês dois nunca tinham se encontrado antes, as suas almas já tinham se amado intensamente nos abismos mais profundos do infinito e em várias oportunidades. Vocês não sabem isto, mas, em grande parte, tem sido por causa da sinergia de grande intensidade passional dos seus corações, por causa da música do mistério e por causa de uma alma com luz de lua, que vocês estão neste momento neste trem que viaja freneticamente em direção à sublime infinito que mencionei anteriormente. Agora bem, o que eu quero dizer é que se vocês querem podem recuperar todas as suas lembranças, para aquilo só deverão descer na próxima parada deste enigmático trem, embora lamento dizer, queridos amigos, que se tomam essa opção, serei forçado a enviar alguém para arrebatar-lhes a sua vida. Mas nem tudo é tão sombrio e escuro. Há outra opção. Sob uma das cadeiras deste quarto há uma soma considerável de dinheiro e alguns documentos provisórios com umas identidades falsas que poderiam servir no futuro. Se vocês decidem tomar esta opção e seguir juntos e vivos, tudo o que devem fazer é continuar no trem até a última parada. Não é mais, os meus queridos amigos. A decisão está nas suas mãos. Boa sorte.

— O que você diz? - ele perguntou-lhe a ela quando ela terminou de ler a nota.

Ela, então, virou-se para olhar para a paisagem exterior que podia ser vista através de uma janela do trem e, com os seus olhos cheios de vida, disse:

— Eu digo que é muito bonito e romântico observar uma paisagem como esta desde um trem que viaja em direção ao infinito.

— Sim, eu concordo, disse o nosso amigo sem memória depois de uns segundos de tempo inexorável e de meditação silenciosa, e enquanto esboçava um grande sorriso de felicidade.

O infinito, por sua vez, parecia estar se transformando no aura fascinante que surge desde os mais profundos e abismados anseios de querer afogar a eternidade em uma pele cheia de ternura.

Eu acho. - continuou ele—, que só posso saber quem sou realmente, se eu estou agora e sempre contigo. É dizer, se sempre tenho a oportunidade de adivinhar-me a mim mesmo sobre a tua pele cheia de vida. 

— Eu digo o mesmo —disse ela pouco antes de começar um jogo do amor cuja paixão seria incalculável, tão incalculável como o mesmo infinito.

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